Plantas medicinais nativas brasileiras: por que conservar e preservar?

Bettina Monika Ruppelt
OrcID

Resumo

Em 05 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas durante a Conferência de Estocolmo, na Suécia, através da Resolução XXVII de 15 de dezembro de 1972. Todos os anos, nesse dia, diversas manifestações ocorrem em todo o mundo relembrando ao público, em geral, a importância e a necessidade da preservação do meio ambiente.

Não podemos deixar de mencionar os trinta anos da Conferência ECO-92, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 2022, durante a qual foi estabelecida a Convenção de Diversidade Biológica (CDB). O Brasil, como signatário e o país com a maior biodiversidade do mundo, tem assumido uma série de compromissos baseados nos três pilares da CDB: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos.

As plantas medicinais nativas brasileiras, distribuídas nos seis biomas terrestres, são usadas há séculos pelas comunidades tradicionais e têm sido, muitas vezes, o único recurso terapêutico acessível a população.

Embora o Brasil sendo um país mega diverso rico em conhecimento tradicional a cerca do extrativismo, cultivo e uso terapêutico das plantas medicinais, poucos são os medicamentos fitoterápicos, produto tradicional fitoterápico e fitofármacos oriundos de plantas brasileiras com registro na ANVISA. Dentre os fitoterápicos registrados podemos citar a Mikania glomerata, Schinus terebinthifolius e Cordia curassavica.

Mikania glomerata Spreng, conhecida como guaco, guaco-liso, guaco-cheiroso e coração-de-jesus. Tradicionalmente, a folha é usada na forma de infuso e xarope no tratamento de doenças respiratórias como: asma, gripe, resfriado, tosse e bronquite. Estudos pré-clínicos apontam ação expectorante como uma das possíveis justificativas para o uso do guaco no tratamento das doenças respiratórias. Os estudos clínicos de fase I de dois xaropes compostos de guaco e outras plantas medicinais mostraram-se seguras em indivíduos saudáveis[1].

Schinus terebinthifolius Raddi, conhecida como aroeira-da-praia, aroeira-aroeira-pimenteira, e aroeira-vermelha. Tradicionalmente, o decocto das cascas é usado como banho de assento após o parto, como anti-inflamatório e cicatrizante. O infuso dos frutos e das folhas é usado para lavagem de feridas e úlceras. O estudo clínico de fase I utilizando o extrato aquoso de folhas apresentou boa tolerabilidade quando aplicado sobre a pele. O estudo de fase II utilizando o gel de aroeira no tratamento de vaginose bacteriana indicou a segurança e a eficácia do produto. Além de sugerir potenciais efeitos benéficos na flora vaginal[2].

Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult., conhecida como erva-baleeira é uma planta nativa brasileira encontrada no litoral do Ceará ao Rio Grande do Sul. Tradicionalmente é usado como analgésico, anti-inflamatório e anti-úlcera. Estudos pré-clínicos têm confirmado a atividade anti-hipertensiva analgésica, anti-inflamatória e anti-úlcera do extrato hidroalcóolico 70% das folhas. Os estudos clínicos de fase I, II e III comprovaram a ação anti-inflamatória e tolerabilidade do creme contendo 0,5% de óleo essencial padronizado em 2,3-2,9% de α-humuleno. O lançamento do Acheflan®, pelo Laboratório Aché, foi um marco histórico para a indústria nacional de medicamentos. Vale ressaltar que, todas as etapas de pesquisa, ensaios clínicos e de desenvolvimento foram realizadas por instituições de pesquisa nacional[3], para esse medicamento fitoterápico e o consumido dentro da sua categoria.

A biodiversidade brasileira é uma rica fonte de recursos para o país, não somente para a indústria de medicamentos fitoterápicos, mas também pelas oportunidades que representam sua conservação, uso sustentável e patrimônio genético. No entanto, as queimadas e o desflorestamento que tem ocorrido nos biomas brasileiros, são uma ameaça a descoberta de novos medicamentos de origem da biodiversidade brasileira. Quantas espécies de plantas, animais e micro-organismos podem ter sido extintas sem ao menos terem sido descritas e pesquisadas?

Cabe a nós proteger os recursos naturais, permitindo sua exploração e sua utilização de forma racional e sustentável, a fim de garantir sua disponibilidade para as futuras gerações e manter intocável as áreas de conservas ação ambiental.

Referências

  1. Brasil. Informações Sistematizadas da Relação Nacional de Interesse ao SUS: Mikania glomerata Spreng, Asteraceae (Guaco) [Internet]. Ministério da Saúde, editor. Brasília: Ministério da Saúde. 2018; 1-92 p. Available from: [http://editora.saude.gov.br].
  2. Brasil. Informações Sistematizadas da Relação Nacional de Interesse ao SUS: Schinus terebinthifolius Raddi, Anacardiaceae (Aroeira-da-praia) [Internet]. Ministério da Saúde, editor. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. 1-81. Available from: [http://editora.saude.gov.br].
  3. Gilbert B, Favoreto R. Cordia Verbenacea DC. Boraginaceae. Rev Fitos [Internet]. 2012; 7(01): 17-25. Available from: [https://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/133/131].

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Como Citar

1.
Plantas medicinais nativas brasileiras: por que conservar e preservar?. Rev Fitos [Internet]. 30º de junho de 2022 [citado 19º de abril de 2024];16(2):154-5. Disponível em: https://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/1482

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