Artigo de Pesquisa
Etnobotânica sobre plantas medicinais na localidade do Jombe I - Conda, Cuanza Sul - Angola
Ethnobotanyc of plants medicinal in the Jombe I - Conda, Cuanza Sul - Angola
Resumo
Angola é um estado rico em diversidade cultural e em recursos florísticos. Todavia, o conhecimento autóctone e a conservação destes recursos carecem de estudos profundos, por esta razão tem sido preocupação da comunidade científica tornar este conhecimento empírico em científico. Assim, partindo dos aspectos botânicos, ecológicos e culturais, desenvolveu-se de setembro de 2019 à março de 2020, um estudo etnobotânico no Jombe I, Conda, Cuanza-Sul, Angola - cujo objetivo foi recolher informação etnobotânica, das plantas medicinais utilizadas nesta localidade. Baseou-se na Etnografia, Antropologia e Botânica, combinando as técnicas de entrevista, observação participativa e herborização. Realizou-se 17 entrevistas que resultaram a percepção de 94 etnoespécies. Os informantes foram as autoridades tradicionais, Ervanários aposentados, parteiras tradicionais e as entidades eclesiásticas. Este trabalho resultou na coleta de 76 espécies de plantas, para identificação científica e herborização no ISPCS. Destas, 69 foram identificadas. Estas pertencem a 33 famílias e 29 taxas. A Fabaceae (42%), Asteraceae e Malvaceae (12,12%) foram as famílias representativas. A Steganotaenia araliacea (92,31%), Chenopodium ambrosioides (84,62%) e Guazuma ulmifolia (61,54%) foram as espécies mais citadas. Quanto ao uso medicinal a Cochlospermum angolense, Chenopodium ambrosioides e a Steganotaenia araliácea são as mais utilizadas.
- Palavras-chave:
- Etnobotânica.
- Plantas medicinais.
- Terapia.
- Conhecimento local.
- Conservação florestal.
- Jombe I.
Abstract
Angola is rich in both cultural diversity and forest resources. However, autochthonous knowledge and the forest resources conservation need to be studied. So, it has been the scientific community concern and related institutions to make this empirism in scientific knowledge. Starting from the botanical, ecological and cultural aspects, an ethnobotanical study was developed from september 2019 to march 2020 in Jombe I, Conda, Cuanza-Sul, Angola - which objective was to collect ethnobotanical information of medicinal plants used in this locality. The methodology was based on Ethnography, Anthropology and Botany, combining interview techniques, participatory observation and herborization of the collected flora. There were 17 interviews resulting in 94 ethnoespecies for various applications. The informants were the traditional authorities, retired herbalists (over 80 years old), traditional midwives and the ecclesiastical entities. This work resulted in the 76 plants collection, for scientific identification and herborization (ISPCS). Of the 76 species, 69 were identified, representing 33 botanical families and 29 taxa. Fabaceae (42%), Asteraceae and Malvaceae (12.12%) were the most representative. While Steganotaenia araliacea (92.31%), Chenopodium ambrosioides (84.62%) and Guazuma ulmifolia (61.54%) were the most cited species. For medicinal use, the Cochlospermum angolense, Chenopodium ambrosioides and Steganotaenia araliaceae are the most used.
- Keywords:
- Ethnobotany.
- Medicinal plants.
- Therapy.
- Local knowledge.
- Conservation strategies.
- Jombe I.
Introdução
Angola inclui-se entre os países da África Austral com maior biodiversidade, albergando diferentes espécies faunísticas e florísticas com um património genético e endémico extraordinariamente invejável como são os casos da Palanca-negra-gigante (espécie faunística encontrada na Província de Malanje) e a Welwitschia mirabilis (espécie florística encontrada no Namibe) e outras que ainda carece de ser bem conhecida e estudada.
As exuberantes florestas tropicais de Angola são ricas em espécies utilizadas pelas populações de diferentes formas (alimentação humana e animal, matéria prima para construção, combustíveis domésticos, artesanato, medicamentos, entre outras), e são consideradas recursos suplementares aos mercados locais para o suprimento das necessidades das populações regionais.
No Cuanza-Sul, em particular, é notório um elevado grau de ameaça à biodiversidade, incluindo, nestas, as espécies endémicas e/ou autóctones, que deveriam estar entre as prioridades de conservação dos ecossistemas, pelo governo de qualquer nação.
No Município da Conda, Cuanza-Sul, Angola é urgente a realização de estudos botânicos e ecológicos, uma vez que os diversos ecossistemas existentes vêm sendo fortemente ameaçados devido à exploração desorientada do carvão, lenha, agricultura itinerante, pecuária, incêndios e, principalmente, as queimadas. Aliado aos estudos botânico e ecológico, também é necessário estudo de cariz social e antropológico, para que estes estudos possam vir a contribuir na preservação da biodiversidade local, principalmente sobre espécies de plantas com potencial medicinal.
A Etnobotânica é uma disciplina científica que proporciona métodos e ferramentas bem adaptadas aos estudos botânicos, ecológicos e antropológicos, pois permite estudar os conhecimentos autóctones e, concomitantemente, conhecer estado de conservação da biodiversidade local. Este trabalho objetivou-se em realizar um estudo etnobotânico sobre plantas medicinais conhecidas e utilizadas na localidade do Jombe I, Município da Conda, centrando-se principalmente em aspetos botânicos, ecológicos e culturais das mesmas.
Materiais e Métodos
Esta pesquisa desenvolveu-se de setembro de 2018 à março de 2020, de acordo com as seguintes etapas: pesquisa bibliográfica e seleção de metodologias, eleição dos informantes e contacto com os mesmos, entrevistas, trabalho de campo ou recolha de espécies e saberes, organização, tratamento e análise de dados e redação do trabalho.
O trabalho desenvolveu-se no Bairro Jombe I, pertencente ao Município da Conda, Província do Cuanza-Sul. A Conda possui uma extensão territorial de 2.090 Km2 e localiza-se na parte Leste da Província, limitado, a Norte pelo Município do Amboim; a Sul pelo Seles; a Este pelo Ebo; e a Oeste pelo Sumbe[1]. O Jombe I dista aproximadamente 41 Km da Comuna Sede da Conda e 41 Km da Comuna Sede do Sumbe (FIGURA 1).
Na localidade do Jombe I observa-se uma variedade de subgrupos com características próximas tanto de um como de outro (Kamoseles, Kamumboins e kamussumbe), diversificando as línguas e culturas. Estes subgrupos possuem características fonéticas e linguísticas diferentes dos outros, permitindo que uma mesma espécie de planta tenha diferentes nomes comuns de acordo com cada dialeto.
Por exemplo, a Steganotaenia araliacea, no Jombe I é conhecida como Omondola em Umbundo, Upondola em Kimbundu e Zenze em Ngoia. Selecionou-se esta área devido (i) à inexistência ou poucos estudos etnobotânicos prévios nesta região; (ii) necessidade urgente de registrar e estudar um património cultural em rápido declínio. Aliando a estes pressupostos, salienta-se nesta região: existência de diferentes grupos étnicos (dialetos e culturas), elevada pressão que se exerce sobre as florestas fomentando uma desvalorização dos conhecimentos tradicionais.
Recolha de informação etnobotânica
Para realização do presente trabalho, empregou-se a metodologia recomendada por vários autores [2,3,4], usadas em Ciências Sociais (Etnografia e Antropologia) e Naturais (Biologia e Botânica). Esta, permitiu obter as caraterísticas socioculturais dos informantes e as caraterísticas botânicas. Por tratar-se de um estudo piloto na área de estudo, escolheu-se a entrevista informal. Esta técnica permitiu sobretudo, uma análise qualitativa.
Para escolha dos informantes foi utilizada a técnica de amostragem dirigida, ou seja, não é aleatória, porque se procurou entrevistar as pessoas detentoras de diferentes graus de etnoconhecimento e que consentiram em ser entrevistados. Para tal, o primeiro contato foi com os responsáveis do Bairro, onde lhes foi fornecida a carta de solicitação da presente pesquisa. Depois, foram realizadas entrevistas aos Ervanários com mais de 80 anos de idade. Aqui, depois da primeira entrevista aplicou-se a metodologia de seleção do tipo bola-de-neve. No total foram entrevistados 13 informantes (TABELA 1).
Tipologia de informantes | Número de indivíduos |
Autoridades tradicionais | 2 |
Idosos que outrora exerciam as práticas de Ervanário | 3 |
Ervanários em exercício | 5 |
Parteiras tradicionais | 4 |
Autoridades eclesiásticas | 3 |
Total | 17 |
Fonte: dados das entrevistas. |
Recolha, herborização e identificação de material vegetal
Depois das entrevistas fez-se a recolha das plantas para serem identificadas, classificadas e herborizadas. Nesta fase, também, aproveitou-se para: observar e registar as características dos principais agroecossistemas da área de estudo; identificar os locais de ocorrência e os habitats das espécies referidas nas entrevistas; compreender os critérios usados pelos informantes para reconhecer as plantas no campo e; descrever as especificidades da sua recolha e utilização.
As espécies recolhidas foram identificadas utilizando a literatura da especialidade, ajuda de especialistas e a comparação com exemplares de herbário do ISCED-Lubango, onde estão conservadas diversas amostras de várias regiões de Angola. Depois de realizada e confirmada a identificação das espécies, as mesmas foram herborizadas e depositadas no Instituto Superior Politécnico do Cuanza Sul (ISPCS).
Sistematização, categorização e tratamento dos resultados
Para a sistematização, categorização e tratamento dos resultados, recorreu-se ao Programa Microsoft Office Excel, versão 2007, que permitiu utilizar também estatística descritiva básica. Os principais resultados tratados com o auxílio deste Programa foram:
- Lista de plantas e as respectivas nomenclaturas popular, número total de espécies e principais famílias botânicas;
- Enfermidades, partes de plantas usadas e recomendações de uso;
- Características dos informantes e número de Plantas Medicinais (PM) citadas por informante.
Resultados e Discussão
As 17 entrevistas etnobotânicas relativas ao uso de PM permitiram inventariar 94 espécies de plantas com fins medicinais (TABELA 2). Nesta localidade, as plantas são maioritariamente conhecidas pelas línguas maternas (Umbundo, Kuimbundo e Ngóia). Os resultados obtidos indicam que o uso de plantas medicinais ainda é uma opção para a prevenção e tratamento de diversas patologias pelos habitantes locais. Além dos usos medicinais os interlocutores conhecem algumas espécies com importância eco-cultural, biopesticidas, entre outras.
Identificação das espécies
A TABELA 2 reúne a identificação botânica de algumas das espécies recolhidas e que na fase de identificação possuíram características e condições para a identificação. Os nomes vulgares estão escritos em línguas nacionais que os informantes atribuíram. As espécies com mais de um nome vulgar foram ditas pelos informantes em mais de um dialeto. Estas espécies encontram-se ordenadas por ordem descendente do número de citações nas entrevistas.
Código no herbário | Espécie (nome vulgar) | Nº de Citações | Famílias | Nome científico |
F-PM41-2019 | Omondolwa (U), Zenze (Ng) ou Upondola (K) | 12 | Apiaceae | Steganotaenia araliacea Hochst. |
F-PM19-2019 | Uti Maria (U), Santa Maria ou Mãe Maria | 11 | Amarantaceae | Chenopodium ambrosioides L. |
F-PM52-2019 | Mutamba (K e Ng) ou Okueno io Yinamã (U) | 8 | Tiliaceae/ Malvaceae | Guazuma ulmifolia Lam. |
F-PM05-2019 | Ombanga (U), Mulolo (U), Dolo (U) Kuimbangambanga (Ng), ou Banga-Banga (K) | 7 | Fabaceae | Piliostigma thonningii Milne-Redh. |
F-PM57-2019 | Ocutui Congungo (U) | 7 | Asparagaceae | Sansevieria trifasciata Praim. |
F-PM42-2019 | Onindie (U) ou Nindie (K) | 7 | Lamiaceae | Clerodendrum sp. |
Ombombo Omupu (U), Hewaielela (K) ou Ofefe (Ng) Comercialmente conhecida de Burututu | 7 | Planta não colhida | ||
F-PM67-2019 | Peque (K) | 6 | Olacaceae | Ximenia sp. |
F-PM14-2019 | Cambangata (K) ou Ucuriungo (U) | 6 | Euphorbiaceae | Cf Phyllantus |
F-PM39-2019 | Ilavi- Eielavi, Otjilavi, Mulav (U) ou Nday (Ng) | 6 | Rubiaceae | Gardenia volkensil K. Schum. |
F-PM74-2019 | Cassamnhambei Canene (K) | 6 | Amaranthaceae | Cf Celosia |
F-PM45-2019 | Culiassuco (K) (Coração de Deus) | 6 | Capparaceae | Boscia urens welw. |
F-PM66-2019 | Lumonó (K e Ng) (Ricino) | 5 | Euphorbiaceae | Ricinus communis L. |
F-PM06-2019 | Hoxiwiyiawuiya (U) | 5 | Cf Sapindaceae | |
F-PM35-2019 | Ochiau (U) ou Chiau (K) (Pau salvador) | 5 | Cf Anacardiaceae | |
F-PM36-2019 | Cacundwa (U) | 5 | Thymelaeaceae | Gnidia glauca Fresen. |
F-PM69-2019 | Eó io Mbov (K) | 4 | Fabaceae | Abrus precatorius L. |
F-PM18-2019 | Ozamba io ciandindi (U) | 4 | Fabaceae | |
F-PM53-2019 | Ongica ia Congo (K) (Comida dos caçadores) | 4 | Lamiaceae | Hyptis /Ocimum |
F-PM15-2019 | Ucutumue (K) | 4 | Asteraceae | Cf Vernonia |
F-PM64-2019 | Ochitundo (U) (mulembeira) | 4 | Moraceae | Ficus sycomorus L. |
F-PM46-2019 | Jamba yiawecanga (K) | 4 | Fabaceae | Dolichos antunesii Harms |
F-PM33-2019 | Kotiquitiqui (K) | 4 | Fabaceae | Cf Eriosema |
Ucungunza (U) | 4 | Planta não colhida | ||
F-PM16-2019 | Ondembi lomundo (U) | 4 | Lamiaceae | Salvia officinalis L. |
F-PM09-2019 | Ohóngoo (U) | 3 | Cf Guttiferae | |
F-PM08-2019 | Octhimengãcunde (U) | 3 | Sapindaceae | Paullinia pinnatta L. |
F-PM11-2019 | Ojamba umunduia (U/K/Ng) | 3 | Fabaceae | Indigofera antunesiana Harms |
F-PM72-2019 | Ocipemecembambi (U) | 3 | Não foi possível identificar | |
F-PM48-2019 | Eliassongue/Meliassongue (K) | 3 | Fabaceae | Acacia sp. |
F-PM53-2019 | Jamba io Vilimbe (K) ou Jamba um malombe (Ng) | 3 | Não foi possível identificar | |
F-PM13-2019 | Issacu (K) Ossacu/Assacu (U) | 3 | Poaceae | |
F-PM03-2019 | Uti io Ngaiaua (U) ou Uti io Ngaiaue (U) (Goiabeira) | 3 | Myrtaceae | Psidium guajava L |
F-PM04-2019 | Hipapa (K) | 3 | Fabaceae | Cf Eriosema |
F-PM24-2019 | Etumba Ezay (U) | 3 | Asteraceae | |
F-PM68-2019 | Utiopita (K) ou Otiopita (Ng) | 2 | Hypericaceae | Sorospermum sp. |
F-PM61-2019 | Ongueve (U) | 2 | Fabaceae | |
Heequete (U) | 2 | Planta não colhida | ||
F-PM37-2019 | Onduta canene (U) | 2 | Geraniaceae | Pelargonium sp. |
Chitetanhoe (U) | 2 | Planta não colhida | ||
F-PM24-2019 | Onduta catito (U) | 2 | Cf Tiliaceae | |
F-PM31-2019 | Ombungulo (U) | 2 | Guttiferaeae | |
F-PM30-2019 | Cambinga-Cambe (K) | 2 | Cf Olacaceae | Cf Ximenia |
F-PM01-2019 | Hoequembia catito (U) | 2 | Tiliaceae | Abutilon sp. |
F-PM12-2019 | Ecuio (U) | 2 | Moraceae | Ficus welwitschii Warb. |
F-PM-172019 | Icacuenha (K) | 2 | Ranunculaceae | Clematis welwitschii Kuntze. |
F-PM62-2019 | Humonono (K) | 2 | Cf Apocynaceae | |
F-PM73-2019 | Uyengio/Olonsha (U) ou Uchia (K) | 2 | Rubiaceae | |
F-PM44-2019 | Nganga (K) | 2 | Strychnaceae | Strychnos sp. |
F-PM20-2019 | Umbwa (K) (Pau ferro sem pico) | 2 | Fabaeae | Cassia/Senna sp. |
F-PM47-2019 | Ongucuty (K) (Pau ferro com pico) | 2 | Fabaceae | |
F-PM65-2019 | Ojamba io mandioca (U e K) (mandioca silvestre) | 2 | Euphorbiaceae | |
Muonõnõlo ikengue (K) | 2 | Planta não colhida | ||
F-PM28-2019 | Uti Hombo (U) | 2 | Cf Boraginaceae | Cf Ehretia |
Uteleuegué io ndandy (K) | 2 | Planta não colhida | ||
F-PM26-2019 | Chimiongue (K) ou Ondembi io tito (U) (Arcanjo) | 2 | Verbenaceae | Lippia sp. |
F-PM22-2019 | Lambumbulo (K) | 2 | Não foi possível identificar | |
F-PM51-2019 | Uti essongó (K) | 2 | Rhamnaceae | |
F-PM54-2019 | Mucuja (K) ou Mucunguja (K) | 2 | Não foi possível identificar | |
Uteleuegué (K) (milho de onça) | 2 | Planta não colhida | ||
F-PM76-2019 | Candaw (U) ou induta (Ng) | 1 | Thymelaeaceae | Gnidia polystachya P. Bergius. |
F-PM34-2019 | Omia (U), Monambimbi (Ng) ou Himia (K) | 1 | Ochnaceae | Ochna schweinfurthiana Hoffm. |
F-PM38-2019 | Ochiteta (U) | 1 | Asteraceae | Vernonia amygdalina Delile |
Ônguenha (U) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM70-2019 | Onuenwe-Welume (U) | 2 | Solanaceae | Solanum incanum L. |
F-PM29-2019 | Ucucayangue (U) | 1 | Asparagaceae | Asparagus sp. |
F-PM32-2019 | Indevó (U) ou Hendev (K) | 1 | Apocynaceae | |
Ossesse (U), Muaiandu (K), Mulungo (Ng) ou Muaiandu (K) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM23-2019 | Opitambovó (U)/Caiaquiawila (K) | 1 | Celastraceae | Gymnosporia sp. |
Utata (K) ou Omutate (U) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM21-2019 | Izombe (K) | 1 | Não foi possível identificar | |
Limi liombwa (K) (Pata de cão) | 1 | Planta não colhida | ||
Omako (K) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM10-2019 | Hoequembia inene (K) | 1 | Planta não colhida | |
F-PM40-2019 | Unuenue-Wecai (U)/Lunuené (K) | 1 | Tiliaceae | |
Ondongó (U) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM56-2019 | Uti Ala (U) | 1 | Loganiaceae | Strychnos pungens Soler. |
F-PM55-2019 | Ongoi Ochicutacuta (U) | 1 | Vitaceae | Cissus petiolata Hook. |
F-PM50-2019 | Mupuma (K) | 1 | Plumbaginaceae | Plumbago zeylanica L. |
F-PM49-2019 | Ngando Yawiquengue (K) | 1 | Não foi possível identificar | |
F-PM71-2019 | Owelele (K) Ulili (U) | 1 | Fabaceae | Senna occidentalis L. |
Ucuriongo Yaquenga (U) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM59-2019 | Mucundi (K) | 1 | Menispermaceae | Cissampelos mucronata Rich. |
F-PM43-2019 | Chissongo (K) | 1 | Cf Asparagaceae | |
F-PM60-2019 | Pacuto (K) | 1 | Nyctaginaceae | Boehravia coccinea Mil. |
F-PM07-2019 | Catelia (K) Peti (Ng) Omety ( U) | 1 | Combretaceae | |
Ondingue eliengue (U) | 1 | Planta não colhida | ||
Ochingando (U | 1 | Planta não colhida | ||
Otchindondoe (U) | 1 | Planta não colhida | ||
F-PM75-2019 | Onjilo-onjilo (U) | 1 | Asteraceae | |
F-PM02-2019 | Hiteteme (K) | 1 | Não foi possível identificar | |
F-PM27-2019 | Onamela catito (U) | 1 | Fabaceae | |
F-PM58-2019 | Pau Mbanze (K) | 1 | Fabaceae | Senna singueana Delile |
Legenda: Cf: Dúvida na classificação. |
Das 94 etnoespécies inventariadas, 69 foram identificadas (21, apenas, chegou-se até a família) botanicamente, 18 não foram recolhidas e 7 não foi possível fazer identificação (FIGURA 2). Das 69 plantas identificadas, 19 (27,54%) chegou-se apenas ao nível de género e 29 (42,03%) ao nível da espécie.
As 18 espécies referidas, mas não recolhidas, deve-se ao desaparecimento das mesmas nos respectivos habitats (de acordo com os informantes). Isto acontece devido à exploração, sem controle, dos recursos florestais (ex: lenha e carvão), más práticas agrícolas, queimadas e incêndios nos locais de ocorrência. Devido a isso, torna-se evidente a importância da conservação destes ambientes, assim como, a melhor avaliação quanto aos tipos de estratégias de conservação que devem ser implementadas nestas localidades.
Importa salientar que algumas plantas citadas apenas por Ervanários aposentados, não foram colhidas por motivo da pouca mobilidade destes informantes que não puderam deslocar-se aos locais onde ocorrem estas espécies.
Das espécies não recolhidas, a Ombombo Omupu (U) Hewaielela (K) Ofefe (Ng), é uma das mais emblemáticas nesta localidade, pelos seus reconhecidos usos terapêuticos e, deste modo, as mais citadas pelos informantes. Segundo a nomenclatura e as etnocaraterísticas designadas pelos informantes, e confrontando com algumas literaturas, esta tem o nome científico Cochlospermum angolense, família Cochlospermaceae [5,6].
Sendo uma planta autóctone de Angola, carece de uma gestão estratégica, estudo farmacológico científico e divulgação das suas potencialidades como planta medicinal.
Quanto às 7 plantas não identificadas taxonomicamente, tal deveu-se à falta de bibliografia, e/ou ausência de aspetos morfológicos, entre os quais folhas, flores, frutos, e nas amostras, importantes para uma correta identificação. Por outro lado, o fato de não constarem exemplares no herbário do ISCED - Lubango, em alguns dos casos não foi possível chegar à identificação por comparação.
Famílias botânicas Recolha de informação etnobotânica
As espécies identificadas estão distribuídas por 33 famílias botânicas. As famílias que reúnem maior diversidade de espécies (FIGURA 3) são as Fabaceae (42,42%), Asteraceae e Tiliaceae (1Cf) com 12,12%, seguindo-se as Euphorbiaceae, Lamiaceae e Asparagacea que representam 9,1% das famílias encontradas.
No rastreio etnobotânico de Videira, Pedro e Nery[7], a família Fabaceae foi também a mais representada. Estes dados podem indiciar a predominância desta família nesta região, outrossim, pode ser que as espécies desta família são de fácil identificação nos lugares de ocorrência ou, ainda, possuem melhores efeitos terapêuticos que as outras.
Ainda é possível observar na TABELA 2 que as espécies com maior número de citações foram a Omondolwa/Zenze/Upondola (Steganotaenia araliacea) com 12 citações, Uti Maria (Chenopodium ambrosioides) citada em 11 entrevistas e Mutamba/Okueno ou Yinamã (Guazuma ulmifolia) com 8 citações. Estas espécies, além de reunirem maior número de citações enquadram-se também entre as que possuem maiores aplicações terapêuticas referidas pelos interlocutores.
A nomenclatura das espécies, nesta localidade, é um assunto a ser estudado com profundidade, pelo fato de os informantes conhecerem as espécies em seus próprios dialetos. Entretanto, quando bem analisado percebe-se a lógica destas nomenclaturas. Geralmente as plantas são conhecidas tendo em conta os seguintes critérios:
Habitats: Onjilo-onjilo refere a (as) planta (as) que se encontra ao redor do caminho. A nomenclatura baseada nos habitats acontece também com tantas outras espécies como são os casos de Ucuriongo Yaquenga e Ngando e Yawiquengue;
Fisionomia da planta: Ocuti Congungo (S.trifasciata);Ocuti quer dizer Orelha e Congungo significa Veado. Culiassuco (Boscia urens) é uma palavra composta por Cul-Coração-ia-de-ssuco Deus, que significa Coração de Deus;
Nome em Português da planta ou árvore: Uti Maria (Chenopodium ambrosioides) e Uti io Ngaiaue (Psidium guajava).
Em diversas ocasiões procurou-se conversar com a camada juvenil desta localidade, onde constatou-se que muitos destes falam pouco ou nenhuma língua nacional. Sabendo que as plantas são conhecidas por diferentes grupos linguísticos que as designam com nomes distintos, e que, no futuro, as gerações mais novas serão responsáveis pela gestão e manutenção destes ecossistemas, o fato de desconhecerem os dialetos locais e os habitats das plantas é muito preocupante.
Estes aspetos abrem portas para diferentes estudos botânicos, com objetivo de fazer corresponder todos estes nomes vulgares aos nomes científicos, regulados pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN) de plantas, pois de acordo com Aguiar[8] os nomes científicos são mais precisos do que os nomes comuns devido à sua universalidade, monónima e monossemia.
Categorização de espécies por uso medicinal
As aplicações terapêuticas das espécies inventariadas constituem um património de alto valor, se for estudado cientificamente e aplicado na indústria farmacêutica e medicinal. O inventário permitiu identificar plantas com aplicações terapêuticas relacionadas com 13 subcategorias medicinais (FIGURA 5). Existem tipologias de etnodoenças que carecem ainda de abordagens científicas, como são os casos de tala, sale, ndondeça e outras.
Das 94 etnoespécies citadas, 33 (34,74%) foram citadas por apenas um informante e 26 (27,37%) por dois destes. Estes resultados não são considerados menos importantes, muito pelo contrário, por corresponderem a informação única, que está concentrada num só informante com intervenção ativa na comunidade. Porém, são conhecimentos que correm o risco de extinção.
Agroecossistemas: espaços, usos e valorização da flora
Estas plantas 24,5% foram encontradas dentro floresta, 5% na floresta e encostas montanhosas, 13, 8%, nas encostas ou rebacheiras, 4% encontram-se nas margens dos rios, 2% no caminho, 1% que germina e desenvolve nos abrigos das térmites (Salalé), 4,3% encontram-se nos caminhos das lavras, as restantes, podem ser encontradas em qualquer destes lugares.
A gestão do ecossistema nesta região é de extrema importância e de carácter urgente, visto que os potenciais habitats encontram-se muitas vezes evadidos, reduzindo o número de espécies ou até correndo risco de extinção.
Conhecimento dos informantes e uso medicinal das espécies
Além das aplicações terapêuticas, os informantes salientaram os habitats e distribuição das espécies que conheciam, características que as assemelham ou as diferenciam de outras espécies, partes usadas e não só. Importa salientar que, apesar de existir diversidade de línguas nesta localidade, os etnoconhecimentos não diferem muito de informante para informante, ocorrendo apenas que um informante pode dominar melhor que outro, devido à idade e tempo de convivência com a flora local e a longevidade nos cuidados com as plantas (FIGURA 6).
Na TABELA 3 estão registradas as diferentes aplicações terapêuticas que os informantes atribuem as espécies, bem como o órgão da planta que é usado para o tratamento ou prevenção de doenças e/ou sintomas. Muito destes conhecimentos, foram também foram citados nos 2 rastreiros etnobotânico [6,7].
Espécie nome vulgar | Indicação terapêutica | Parte usada |
Omondolwa (U) Zenze ((Ng) Upondola (K) | Tosse, mina tradicional, epilepsia, tensão alta, febre, paludismo, afrodisíaco, etc. | Folhas, casca e raiz |
Uti Maria (U) Santa Maria ou Mãe Maria | Baço, dor de barriga, oxiúro, febre, gripe, cefaleia, gota, paludismo, dor de parto, etc. | Folhas, caule e raiz |
Mutamba (K e Ng) Okueno io Yinamã (U) | Contra parasitas do cabelo (piolhos), antimicótico (tinha do cabelo), cura ferida, lavagem do couro cabeludo, atenuar a dor durante o parto etc. | Raiz, folhas e casca do caule |
Ombanga, Ombanga, Mulolo e Dolo (U) Kuimbangambanga (Ng) Banga-Banga (K)) | Hemoglobina e hepatite | Folhas, flores, frutos, raiz e casca |
Ocuti Congungo (orelha de Veado) | Dores nas costelas, dor nos músculos, pontada, etc. | Tubérculo |
Onindie (U) Nindie (K) | Mina tradicional e inflamações nos joelhos. | Folhas e raiz |
Ombombo Omupu (U) Hewaielela (K) Ofefe (Ng) Comercialmente chama-se Burututu | Diarreia, malária, hepatite, epilepsia, dor de dente, tifo, prisão de ventre, ndondeça (subida dos testículos), cólica, problemas sexuais, paludismo, etc | Folhas, flores, frutos casca e raiz |
Peque (K) | Regulador do período menstrual, antiabortivo, hemorragia nasal (ochitondo) e sarampo | Raiz folhas e casca do caule |
Cambangata (K) Ucuriungo (U) | Regulador de período menstrual | Raiz |
Ilavi Eielavi, Otjilavi, Mulav (U) Nday (Ng) | Dor de barriga, tosse, dor de peito, tensão alta, feridas crónicas e articulações das crianças. | Folhas frutos e raiz |
Cassamnhambei Canene (K) | Hemoglobina e dor de parto | Raiz e folhas |
Culiassuco (K) (Coração de Deus) | Feridas crónicas, dor de peito, giba, pontada, reumatismo, sale e hemorragia | Raiz e folhas. |
Lumonó (K e Ng) (Ricino) | Cólica, hepatite e tensão alta | Folhas e raiz |
Hoxiwiyiawuiya | Diarreia e anemia | Raiz, folhas e casca. |
Ochiau (U), Chiau (K) | Mina tradicional (tala), desmaio, infeção, gripe dor de cabeça, febre, reumatismo, etc. | Raiz e casca |
Cacundwa (U) | Tosse, peito, reumatismo e epilepsia (Gota) | Raiz e caca do caule |
Eó io Mbov (K) | Epilepsia, malária, problemas mentais, etc. | Folhas e raiz |
Ozamba io ciandindi (U) | Regulador de período menstrual (ausência prolongada) | Raiz |
Ongica ia Congo (K) (Comida dos caçadores) | Dor de bexiga e sarampo | Raiz |
Ucutumue (K) | Dor de bexiga e ndondeça | Raiz |
Ochitundo (U) mulembeira | Tensão baixa e dor de cabeça constante | Raiz e folhas |
Jamba yiawecanga (K) | Paludismo e cefaleia | Folhas |
Kotiquitiqui (K) | Potência sexual, tosse, dor de bexiga e dor nos testículos | Raiz e casca |
Ucungunza (U) | Hepatite, baço, ausência de menstruação, feridas crónicas | Raiz e folhas |
Ondembi lomundo. (U) | Tosse, gripe, febre e cefaleia | Folhas e ramos |
Ohóngoo (U) | Interrompe o sangue em feridas novas, hepatite, diarreia e baço | Casca, raiz e folhas |
Octhimengãcunde (U) | Dor de barriga e ndondeça (subida dos testículos) | Raiz |
Ojamba umunduia (U, K e Ng) | Tosse, sale (Doenças suscetível aos membros de família com parceiro (a) ou pais infiéis no relacionamento), epilepsia, potência sexual, e outras | Raiz |
Ocipemecembambi (U) | Tensão alta e afrodisíaca | Raiz |
Eliassongue/Meliassongue (K) | Cólica | Raiz |
Jamba io Vilimbe (K) Jamba um malombe (Ng) | Afrodisíaco e infertilidade masculina | Raiz |
Issacu (K) Ossacu ou Assacu (U) | Diarreia, maculo, gripe, etc | Raiz e caule |
Uti io Ngaiaua (U) Uti io Ngaiaue (U) (Goiabeira) | Dor de dente, dor de barriga, diarreia, cólica, etc. | Raiz e folha |
Hipapa (K) | Dor de bexiga e ndondeça | Raiz |
Etumba Ezay (U) | Dor de bexiga nas mulheres gestantes e queimaduras | Folhas e raiz |
Utiopita (K) Otiopita (Ng) | Reguladores no período menstrual, dores de bexiga nos homens e cólicas fortes | Folhas e ramos |
Ongueve (U) | Sífilis e regula o aparecimento irregular da menstruação | Cascas e folhas |
Heequete (U) | Dor de dente, diarreia e sífilis | Raiz e Casca do caule |
Onduta canene (U) | Elimina sangue nas feridas, regula o período menstrual em excesso, epilepsia e vertigens | Raiz e Casca |
Chitetanhoe (U) | Afrodisíaco | Raiz e folhas |
Onduta catito (U) | Elimina sangue nas feridas, regula o período menstrual em excesso, epilepsia e vertigens. | Raiz e Casca |
Ombungulo (U) | Reumatismo, sarampo, dor de barriga, dor de peito, etc. | Folhas e raiz |
Cambinga-Cambe (K) | Dor de estômago | Raiz e folhas |
Hoequembia catito (U) | Dor de estômago | Raiz e corda do caule |
Ecuio (U) | Falta de sangue nas crianças que resulta em inflamação, fraqueza do espermatozoide. | Folhas e raiz |
Icacuenha (K) | Elimina sangue nas feridas novas. | Folhas e raiz |
Humonono (K) | Afrodisíaco, aleitamento materno, sífilis, gonorreia | Folhas e raiz |
Uyengio, Olonsha (U) Uchia (K) | Dor de barriga e ndondeça (subida dos testículos) | Raiz |
Ganga (K) | Oxiúro (maculo), diarreia e tifo | Folhas, raiz e casca. |
Umbwa (K) (Pau ferro sem pico) | Infeções e inflamações | Raiz, casca e folhas |
Ongucuty (K) (Pau ferro com pico) | Dor de dente | Raiz, casca e folhas |
Ojamba io mandioca (U e K) | Prisão de ventre, febre tifoide e gonorreia | Raiz e folhas |
Muonõnõlo ikengue (K) | Dor de coluna, rins e é afrodisíaco | Raiz |
Uti Hombo (U) | Hemoglobina | Raiz |
Uteleuegué io ndandy (K) | Dor de cabeça, peito, reumatismo infeções | Tubérculo |
Chimiongue (K) Ondembi io tito (U) (Arcanjo) | Paludismo e cefaleia | Folhas |
Lambumbulo (K) | Inflamação, bicha, cólica e congestão | Raiz |
Uti essongó (K) | Gonorreia | Raiz |
Mucuja (K) Mucunguja (K) | Hepatite e corta sangue em feridas novas | Folhas e raiz |
Uteleuegué (K) (milho de onça) | Inflamações e tala | Tubérculo |
Candaw (U) Induta (Ng) | Corta sangue nas feridas, regula o período menstrual em excesso, epilepsia e vertigens | Raiz e Casca |
Omia (U) Monambimbi (Ng) Himia (K) | Hemoglobina, briosa (hepatite) | Raiz e Casca do caule |
Ochiteta (U) | Epilepsia, tosse, dor de barriga | Raiz e Casca |
Ônguenha (U) | Diarreia | Cascas, raiz e folhas |
Onuenwe-Welume (U) | Afrodisíaco | Folhas |
Ucucayangue (U) | Dor de bexiga e tensão alta | Folhas |
Indevó (U) Hendev (K) | Aleitamento materno e bichas nas crianças | Raiz e Casca |
Ossesse e Omusene (U) Muaiandu e Muaiandu (K) Mulungo (Ng) | Tosse, epilepsia, cabeça forte e dor de barriga. | Raiz |
Opitambovó (U) Caiaquiawila (K) | Ausência de menstruação | Raiz |
Utata (K) Omutate (U) | Mina tradicional | Raiz e casca do caule |
Izombe (K) | Infertilidade feminina | Raiz |
Limi liombwa (K) (Pata de cão) | Dor de cabeça, peito, reumatismo e infeções | Raiz |
Omako (K) | Infeções | Raiz e casca |
Hoequembia inene (K) | Dor de estômago | Raiz e corda do caule |
Unuenue-Wecai (U) Lunuené (K) | Baço, lambeli (fezes amarelas das crianças) e nguja (ausência de Iodo). | Raiz e frutos |
Ondongó (U) | Sarnas e maculo | Folhas |
Uti Ala (U) | Corta sangue em feridas novas. | Folhas |
Ongoi Ochicutacuta (U) | Dor de dente | Raiz e casca |
Mupuma (K) | Baço | Cascas, raiz e folhas |
Ngando Yawiquengue (K) | Anti-aborto | Raiz |
Owelele (K) Ulili (U) | Paludismo e cefaleia | Folhas |
Ucuriongo Yaquenga (U) | Cefaleia, dor de peito, reumatismo, etc. | Raiz |
Mucundi (K) | Hepatite e hemorragia | Raiz e casca |
Chissongo (K) | Regulador do período menstrual, antiabortivo, hemorragia vaginal e pontada | Raiz, folhas e casca do caule |
Pacuto (K) | Hepatite (Briosa) | Raiz |
Catelia (K) Peti (Ng) Omety (U) | Reumatismo e dor do peito | Raiz |
Ondingue eliengue (U) | Infeções da pele, reumatismo e dor de peito | Raiz e casca do caule |
Ochingando (U | Epilepsia | Raiz |
Otchindondoe (U) | Dor de bexiga e atenção alta | Folhas |
Onjilo-onjilo (U) | Baço | Frutos |
Hiteteme (K) | Epilepsia | Raiz |
Onamela catito (U) | Afrodisíaco | Raiz |
Pau Mbanze (K) | Afrodisíaco | Raiz |
Património biocultural e potencialidades de valorização
Somadas aos usos medicinais algumas espécies são usadas para:
Efeitos culturais: Mucuja (U) ou Mucunguja (K) (Cissampelos mucronata) é planta mágica utilizada para evitar mãos sonhos aos (as) viúvos (as);
Alimentação humana: As vagens de Octhimengãcunde (P. pinnatta) constituem o suprimento alimentar, substituindo o feijão comum. A raiz de Kotiquitiqui usa-se para produzir a Kissangua. Das folhas de Ondembi lomundo (S. officjinalis) faz-se o chá;
Higiene: As raparigas lavam a cabeça com a seiva de Mutamba (G. ulmifolia) para manter liso e brilhante o cabelo, além desta, as folhas de Ossesse/Mulungo/Muaiandu é utilizada para a lavagem de utensílio doméstico substituindo o sabão.
Conclusão
O trabalho permitiu registar e documentar 94 etnoespécies de plantas medicinais, as respectivas nomenclaturas (em três dialetos) e os respetivos usos medicinais. Os ervanários aposentados possuem melhores conhecimentos etnobotânicos.
Das 94 plantas referidas, apenas 76 foram recolhidas e herborizadas e conseguiu-se confirmar a identificação botânica de 69 plantas.
As espécies identificadas agrupam-se em 33 famílias botânicas. As com maior número de espécies foram as Fabaceae com 42,42%, Asteraceae e Tiliaceae com 12,12%, ao passo que, com maior número de citações foram S. araliacea com 92,31% das citações.
As espécies com mais usos medicinais foram a C.angolense, seguido da C. ambrosioides e a S.araliacea.
Doenças ligadas ao aparelho reprodutor, digestivo, respiratório, mina tradicional, problemas relacionados com a menstruação e articulações musculares, são as que o seu tratamento mais depende destas plantas.
A nomenclatura destas espécies nos diferentes dialetos é baseada em diferentes critérios como habitat, fisionomia da planta, nome em Português da planta ou árvore, característica da seiva e doenças associadas, entre outros.
Relativamente aos habitats de ocorrência verificou-se que estão sendo mal explorados. Se não houver uma intervenção governamental com urgência, este tipo de exploração resultará na extinção de várias espécies, principalmente as autóctones e as endêmicas.
Agradecimentos
Agradeço ao Instituto Superior Politécnico do Kwanza Sul pelo apoio oferecido no decorrer desta pesquisa.
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