Estado da Arte
Mucuna pruriens (L.) DC (Leguminosae)
Mucuna pruriens (L.) DC (Leguminosae)
Resumo
A Mucuna pruriens é uma leguminosa nativa da Índia e Antilhas e todos os seus órgãos possuem valiosas propriedades farmacológicas, tanto que é tradicionalmente usada como planta medicinal para o tratamento de várias enfermidades, que inclui desde doenças parasitárias até distúrbios fisiológicos. Seu principal componente é a L-DOPA e os extratos de sementes com altos teores desta substância são bastante empregados no tratamento da Doença de Parkinson. Além disso, são também ricos em alcalóides, cujas funções farmacológicas são objetos de intensas investigações. Este trabalho tem como objetivo compilar as informações a cerca das aplicações medicinais da Mucuna pruriens e discutir as possíveis aplicações farmacológicas desta planta.
- Unitermos:
- Mucuna pruriens.
- Potencial Farmacológico.
- L-Dopa.
- Doença de Parkinson..
Abstract
Mucuna pruriens is a legume native to India. All parts of the plant have valuable pharmacological properties and are traditionally used for various treatments ranging from parasitic diseases to neurolophysiological disorders. The major component is L-DOPA and seed extracts with high levels of this substance are extensively used in the treatment of Parkinson’s disease. Besides, the plant is also rich in alkaloids, whose pharmacological functions are the object of research. This paper aims to compile information about the medicinal applications of Mucuna pruriens and discusses the possible pharmacological applications of this plant in the treatment of parkinsonism, Diabetes, hypercholesterolemy, male sexual dysfunction among other diseases.
- Key Words:
- Mucuna pruriens.
- Pharmacological Purposes.
- L-Dopa.
- Parkinson Disease..
Introdução
Mucuna pruriens (L.) DC é uma planta medicinal que pertence à família Fabaceae (Leguminosae), subfamília Faboideae e é muito popular na Índia para o tratamento de diversas doenças. Seus nomes populares são Velvet bean, Cowhage, “atmagupta” na Índia e no Brasil é mais conhecida como mucuna-anã ou mucuna rajada. É originária das regiões tropicais da Índia e das Antilhas, é endêmica na Índia, América Central e em regiões tropicias da América do Sul. É um arbusto anual de escalada que pode chegar a mais de 15 metros de altura. Suas folhas são pontuadas a ovaladas e suas inflorescências, de coroas roxas ou brancas, possuem de 15 a 32 cm de comprimento e que apresentam de duas a três, ou muitas flores (FIGURA 1). Suas vagens com cerca de 10 cm de comprimento possuem até sete sementes, que apenas quando jovens são totalmente recobertas por pêlos. Estas sementes são achatadas, elipsóides e pequenas e quando secas são brilhantes e tem coloração negra ou marrom. A coloração das sementes das diferentes espécies de Mucuna e seu padrão de coloração é uma importante característica fenotípica de identificação. Os pêlos das vagens são alaranjados e causam intenso pruridro quando em contato com a pele e mucosas, e as principais substâncias relacionadas a este prurido incluem uma pequena proteína, a mucunaína, e a serotonina que é também um neurotransmissor do Sistema Nervoso Central (SNC). Os arbustos de Mucuna também são utilizados como cobertura vegetal em várias partes do mundo especialmente entre os agricultores de subsistência (BUCKELS, 1995). Além disso, a M. pruriens está na composição de mais de 200 formulações de drogas indígenas, sendo também utilizada na medicina Ayurveda, a medicina tradicional da Índia (MANYAM, 1990; ATHIYANARAYANAN; ARULMOZHI, 2007). Manuscritos em sânscrito datados de 1.500 d.C. descreveram o uso de atmagupta para várias enfermidades e textos antigos da Ayurveda discorreram sobre a Kampavata, uma doença do Sistema Nervoso com sintomas muito semelhante à Doença de Parkinson, que respondia com sucesso ao tratamento com atmagupta e, atualmente, na Índia a mucuna é usada no tratamento desta moléstia (VAIDYA et al., 1978; MANYAM, 1990).
Todos os órgãos da M. pruriens possuem valiosas propriedades medicinais (CAIUS, 1989). Seus componentes principais são L-DOPA e os alcalóides bioativos como mucunina, mucunadina, mucuadinina, prurienina e nicotina, além de outros componentes como o β-sitosterol, glutationa, lecina, ácidos venólico e gálico. As sementes de Mucuna pruriens são particularmente muito conhecidas por apresentarem grande quantidade de L-Dopa (3,4-diidroxi-L-fenilalanina), um neurotransmissor em potencial usado no tratamento da Doença de Parkinson (NAGASHAYANA et al., 2000).
A Doença de Parkinson e seu tratamento quimioterápico
A Doença de Parkinson (DP) é uma desordem neurológica degenerativa e progressiva do SNC que acomete principalmente o sistema motor do indivíduo. O parkinsonismo é uma síndrome clínica caracterizada por expressão facial diminuída, deficiência do equilíbrio postural, bradicinesia, lentidão da movimentação voluntária, marcha festinante, rigidez muscular e tremor ondulante em repouso (STANDAERT; YOUNG, 1996). Essa síndrome pode ser induzida por drogas que afetem esse sistema, principalmente os antagonistas da dopamina, a reserpina e toxinas como o 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetraidropiridina (MPTP) e acomete indivíduos de idade mais avançadas. Esse tipo de distúrbio motor é também observado em inúmeras condições que têm em comum o comprometimento do sistema dopaminérgico nigroestriado (GIROLAMI, 1996). Do ponto de vista fisiopatológico ocorre uma redução na atividade dopaminérgica no núcleo estriado, pois é observada uma intensa degeneração dos neurônios pigmentados da substância negra do mesencéfalo que se projetam para o corpo estriado, estrutura dos núcleos da base constituída pelo núcleo caudado e putâmen. Estes neurônios produzem dopamina que é liberada na sinapse (OBESO et al., 2000). Nestes neurônios do corpo estriado localizam-se os receptores dopaminérgicos. A razão pela qual ocorre a degeneração dos neurônios dopaminérgicos ainda é objeto de intensas investigações moleculares. Acredita-se que a α-sinucleína, uma proteína predominantemente neuronal que esta mutada em portadores de DP e, portanto, exibe estrutura tridimensional anormal, forma agregados fibrilares denominados de corpos de Lewy que se acumulam nos neurônios e impedem a transmissão do impulso nervoso, perturbam a fisiologia neuronal, induzem ao estresse oxidativo, ao dano mitocondrial e inibição dos proteossomas (UPS) (FIGURA 2) (SINGHAL; LALKAKA, 2003).
mento da DP (JENNER, 2003). As abordagens terapêuticas existentes visam diminuir os sintomas e incluem a terapia medicamentosa e a cirúrgica, que é realizada como última alternativa. Os tratamentos de primeira linha são a levodopa; a bromocriptina, lissurida, pergolida e paramipexol que são agonistas de receptores de dopamina (D-2), portanto dopaminomiméticos, e podem ser associados com a levodopa (BRAVO; NASSIF, 2006). Já os de segunda linha incluem os anticolinérgicos centrais como o biperideno, e metixeno e o triexifenidil que exercem seus efeitos bloqueando a transmissão colinérgica central da acetilcolina (KOROLKOVAS; FRANÇA, 2002). O tratamento de terceira linha inclui inibidores da catecol-O-metiltransferase (COMT) como a benserazida, entacapona e talcapona que são eficazes somente quando administrados em conjunto com a levodopa, pois catalisam a metilação da levodopa a 3-metildopa (KAAKKOLA; GORDIN; MANNISTO, 1994). O uso da levodopa geralmente melhora os sintomas da doença, pois é convertida em dopamina, no cérebro, pela dopa-descarboxilase, restaurando assim o equilíbrio entre a inibição e a excitação no núcleo caudado no putâmen. A administração de dopamina não exibe o mesmo efeito, pois, não atravessa a barreira hematoencefálica como faz a levodopa (HAUSER, 2010). Normalmente, para o tratamento da DP, a levodopa é prescrita associada a um inibidor da descarboxilase periférica. Desta forma, previne-se a degradação de levodopa pela dopa-descarboxilase na mucosa intestinal, onde inicia o seu metabolismo. Além disso, a dopamina liberada na circulação pela conversão periférica da levodopa causa efeitos indesejados (CHANÁ, 2009).
Grande parte da levodopa administrada isoladamente é metabolizada em dopamina antes de atingir o cérebro pela dopa-descarboxilase, de modo que uma pequena porção da droga inalterada atinge a circulação cerebral (MEINCKE; KOSINSKI, 2010). Normalmente para o tratamento da DP, a levodopa é prescrita associada a um inibidor da descarboxilase periférica, sendo as mais usuais a carbidopa e a benserazida (STOWE et al., 2010). A presença desse inibidor disponibiliza a levodopa para o cérebro em 75 - 80%, para que esta tenha o efeito terapêutico desejável. No cérebro, ela é convertida em dopamina, nas terminações pré-sinápticas de neurônios dopaminérgicos do estriado. A dopamina produzida é responsável pela eficácia terapêutica do fármaco na DP e, após sua liberação, é transportada de volta aos terminais dopaminérgicos pelo mecanismo de captação présináptica ou é metabolizada pelas ações da monoamino oxidase (MAO) e da COMT (KASSUBEK et al., 2010).
Mucuna pruriens e a Doença de Parkinson
Devido ao seu alto teor de L-Dopa em suas sementes, a M. pruriens é tradicionalmente utilizada, como tônico para os distúrbios do sistema nervoso. Por este motivo, existem diversos estudos sobre o emprego desta planta no tratamento da DP (KATZENSCHLAGER, 2004). Interessantemente, a L-dopa foi primeiramente isolada das sementes de M. pruriens em 1937 e coincidiu com o mesmo período do reconhecimento científico do valor desta substância no tratamento de DP, renovando, portanto, o interesse nas plantas ricas em Levodopa (MISRA e WAGNER, 2007). Estudos clínicos envolvendo portadores da DP tratados com doses diárias de aproximadamente 45 g de extrato seco de sementes de Mucuna (contendo cerca de 1500 mg de L-dopa) demonstraram uma melhora significantiva no parkinsonismo (MANYAM, 1990; HUSSAIN; MANYAM, 1997). Num estudo clínico randomizado, controlado e duplo-cego, pacientes de DP apresentando curta duração de resposta a levodopa e discinecia, foram tratados com extrato seco de sementes de M. pruriens, que continham doses de L-dopa semelhantes à terapêutica convencional. Após poucas semanas de tratamento com os extratos, a qualidade do sistema motor melhorou, os níveis plasmáticos de L-dopa e de outros neurotaransmissores se restabeleceram com mais rapidez e se mantiveram mais estáveis ao longo do tratamento com Mucuna do que quando comparados com o tratamento convencional com L-dopa e carbidopa e finalmente a discinesia desapareceu (KATZENSCHLAGER et al., 2004). Isso comprovou a superioridade terapêutica dos extratos de sementes de Mucuna para o tratamento de casos humanos de DP em relação a drogas sintéticas. A Mucuna pruriens é muito mais eficaz que a L-Dopa para o tratamento da DP de modelos animais, quando administrada sozinha. Mesmo as frações de sementes livres de L-Dopa apresentam atividade antiparkisoniana significativa (KASTURE et al., 2009). Possivelmente, os extratos de Mucuna apresentam outras substâncias, diferentes da L-Dopa, que melhoram a fisiologia do SNC ou mesmo do aparelho locomotor. Além disso, doses equivalentes ao peso em gramas do pó de extratos seco de Mucuna pruriens e L-Dopa, apresentam atividades semelhantes com relação à modulação das vias dopaminérgicas e à presença de outros constituintes que contribuem para melhorar a atividade antiparkisoniana e a maior tolerabilidade dos animais (HUSSAIN; MANYAM, 1997).
O fator limitante da administração prolongada de Levodopa são os importantes efeitos adversos que incluem flutuações motoras e discinesia tardia, que compreendem movimentos repetitivos involuntários nas extremidades. É sabido que esta substância induz a ativação da cascata das caspases e o aumento da produção de radicais livres de oxigênio em cérebros de camundongos, levando a peroxidação de lipídeos de membrana e ao dano ao DNA, causando assim a morte dos neurônios (SPENCER et al., 2002). A tolerância dos portadores de DP ao tratamento com extratos de Mucuna é muito maior do que a observada com as preparações padronizadas de L-dopa, pois é conhecido um importante efeito neuroprotetor destes extratos (RAJAESHWAR et al., 2005; THARAKAN et al., 2007). Os extratos secos de M. pruriens aumentam a atividade do complexo mitochondrial I no cérebro, mas não afetam a atividade da MAO. Ao contrário do tratamento da Levopoda sintética, o tratamento com extratos secos com Mucuna pruriens restaura os níveis endógenos de Levodopa, dopamina, norepinefrina e serotonina na substância nigra. Outra observação importante é que a nicotinamida adenina dinucleotídeo e a coenzima Q-10, que exercem um benefício terapêutico na DP, são importantes constituintes dos extratos secos de Mucuna (MANYAM et al., 2004). Outro aspecto importante é a alta atividade antioxidante observada em extratos metanólicos das suas sementes, que está relacionada ao alto teor de compostos fenólicos, protegendo assim do dano neuronal causado por radicais livres do oxigênio (RAJAESHWA et al., 2005). Estes extratos foram capazes de impedir, em modelos animais, o dano ao DNA induzido pelo tratamento com Levodopa (THARAKAN et al., 2007). Portanto, tais evidências reforçam o benefício que os extratos secos de Mucuna pruriens para restauração funcional dos neurônios dopaminérgicos degenerados na substância negra.
Outras aplicações da Mucuna pruriens
A Mucuna pruriens é encontrada no uso tradicional de muitas doenças e, além das sementes, as raízes, caules e folha são também utilizadas para diferentes fins. Sua raiz é amarga, termogênica, emoliente, estimulante, laxante, afrodisíaca, diurética, emenagoga, anti-helmíntica, frebrígufa e tônica. Suas folhas são consideradas afrodisíacas, anti-helmínticas, tônicas e são utilizadas em úlceras, inflamações, cefaléias e debilidades gerais (SATHIYA-NARAYANAN; ARULMOZHI, 2007). A ação de Mucuna pruriens sugere importantes efeitos hipoglicemiantes e hipocolesterolêmicos em ratos normais, pois os níveis plasmáticos dos períodos pós-prandiais de açúcar e de colesterol em ratos alimentados com sementes de M. pruriens foram reduzidos, em 39% e 61% em ratos normais sem a suplementação com Mucuna, respectivamente (PANT et al., 1968). O efeito hipoglicemiante das sementes de Mucuna pruriens também foi descrito em outro estudo, usando tanto ratos normais quanto diabéticos A administração oral de extrato aquoso de M. pruriens em ratos normais demonstrou significativa diminuição da glicemia após cerca de 2 horas de sua administração. Já em ratos diabéticos a estabilização dos níveis de glicose aconteceu após 21 dias de administração oral diária do extrato. Um grande número de minerais essenciais esta presente em Mucuna pruriens tais como sódio, potássio, cálcio, zinco, magnésio, fosfato, ferro, cobre, magnésio e cromo. Esses minerais estão associados com o mecanismo de liberação de insulina e com a ativação do fator de tolêrancia de glicose em diferentes modelos animais (ANUSHA et al., 2008). Extratos alcoólicos de sementes de Mucuna pruriens também exibiram atividade hipoglicemiante em ratos sadios e diabéticos. A máxima atividade anti hiperglicemiante ocorreu na 6ª semana de administração de doses de 200 mg/kg/dia. Em ratos com diabetes crônica, a glicose no plasma foi diminuída em 40.71%, 45.63%, 50.33% e 51.01% em, respectivamente, 1, 2, 3 e 4 meses de administração do extrato alcoólico (RATHI et al., 2002 a, b). Estes estudos demonstraram que os extratos de Mucuna têm importantes efeitos do controle da glicose no sangue.
A atividade anticâncer foi obtida com extratos metanólicos de Mucuna pruriens em camundongos albinos com carcinoma de Ehrlich. Foram administradas as doses de 125 e 250 mg/kg de extrato durante 14 dias de tratamento, que iniciou após 24 horas de inoculação do tumor no animal. O extrato causou a diminuição do volume do tumor e da contagem das células viáveis, aumentou o tempo médio de sobrevida dos animais, e normalizou as taxas hematológicas que estavam alteradas devido ao tumor - como a taxa de hemoglobina, glóbulos vermelhos e brancos (RAJESHWAR et al., 2005a). Além disso, o tratamento com extratos de Mucuna diminuiu a taxa de lipoperoxidação hepática, aumentando os níveis de glutationa, superóxido desmutase e catalase; estes importantes componentes que decompõem os radicais livres. Estes resultados sugeriram que o extrato metanólico de sementes de Mucuna pruriens exibiu significativos efeitos anticancerígenos e antioxidantes em camundongos (GUPTA et al., 1997).
O efeito de extratos de sementes de Mucuna pruriens na ativação de protrombina in vitro de Echis carinatus também foi descrito. Echis carinatus, uma serpente comumente encontrada na Índia, possui em seu veneno uma mistura de proteínas que afetam a cascata de coagulação, causando severos sangramentos e hemorragias em suas vítimas. O aumento da atividade anticoagulante foi encontrado. Foram injetadas doses de 21 mg/kg de extrato de Mucuna e doses letais mínimas de veneno em oito ratos, com os resultados sendo obtidos 24 horas após a inoculação. Os resultados mostraram que o efeito protetor só foi evidenciado em ratos nos quais a administração do extrato foi feita aproximadamente 24 horas depois da injeção do veneno (GUERRANTI et al., 2001). Outro trabalho também relatou a atividade de extratos de sementes de Mucuna pruriens contra doses letais de venenos de diferentes espécies de cobras. O pré-tratamento com Mucuna pruriens foi efetivo para a proteção do veneno da espécie Naja sputatrix, e moderadamente efetivo para o veneno de Calloselasma rhodostoma, porém nada significativo foi visto para as outras espécies testadas (TAN et al., 2009).
A atividade antimicrobiana foi estudada incubando diferentes espécies e cepas de bactérias gram positivas e gram negativas, como Staphylococcus aureus 8531, Staphylococcus aureus ML 174, Staphylococcus aureus ML 152, Bacillus pumillus 8241, Bacillus cereus, Es-cherichia coli 51, Escherichia coli 54B, Vibrio cholera 14035, Vibrio cholera 1353 e Vibrio cholera 226101 em placas de agar com discos contendo extratos metanólicos de Mucuna pruriens (RAJESHWAR et al., 2005b). O extrato apresentou um bom spectro de inibição para todos os microorganismos testados, exceto Staphylococcus aureus ML 152 e Vibrio cholera 14035. Os resultados obtidos neste trabalho indicaram que os extratos metanólicos de Mucuna pruriens apresentam um potencial antimicrobiano bastante relevante.
O Ichthyophthirius multifiliis é um importante protozoário ciliado ectoparasito causador da “doença dos pontos brancos” que se aloja na epiderme e brânquias de peixes, impactando negativamente em sua produção para o consumo. Portanto, estratégias mais econômicas e que visam o controle deste parasita têm sido investigadas, como a utilização de produtos naturais. Os extratos metanólicos de folhas de Mucuna pruriens apresentaram um potencial efetivo contra infecção deste protozoário em peixes dourado, quando se observou uma redução de 90% no número de I. multifiliis após o tratamento com banho de extrato de M. pruriens na concentração de 150 mg/L; e de 100% de mortalidade de l. multifiliis usando-se 200 mg/L (EKANEM et al., 2004). Por outro lado, num estudo para avaliar o efeito anti-helmíntico da ingestão de sementes de Mucuna pruriens na infestação de Haemonchus contortus em ovelhas, não foi observado nenhum resultado significativo com o uso desta planta (HUISDEN, 2010).
A Mucuna pruriens era muito utilizada antigamente para o tratamento das desordens sexuais masculinas. O efeito do extrato etanólico de sementes de Mucuna pruriens foi estudado no acasalamento, na libido e na potência sexual normal de ratos albinos. Os animais foram divididos em um grupo controle e outros quatro grupos tratados, por 45 dias, com doses diferentes de extratos: 150 mg/ kg (Grupo II), 200 mg/kg (Grupo III), 250 mg/kg (Grupo IV) e o Grupo V recebeu o citrato de sidenafil (5 mg/kg), que é comumente usado no tratamento da disfunção eréctil no homem. Os resultados indicaram que este extrato apresentou um significante e sustentável aumento em todos os parâmetros estudados em camundongos normais em relação ao grupo controle, como acasalamento, libido e potência sexual, na dose particular de 200 mg/kg, sem afetar o comportamento normal. Por outro lado, os resultados obtidos com os extratos foram menos importantes quando comparados aos animais tratados com o controle positivo (SURESH et al., 2009). O efeito de Mucuna pruriens na fertilidade masculina também foi estudado em humanos. É sabido que homens com baixa fertilidade apresentam diminuição de testosterona e hormônio luteinizante (LH), tanto no plasma quanto no líquido seminal, e uma baixa de dopamina, noradrenalina e adrenalina no sangue e também baixa contagem e motilidade de espermatozóides. O tratamento com cápsulas de sementes secas de M. pruriens promoveu uma melhora significativa nos níveis de testosterona, LH, dopamina, adrenalina e noradrenalina em homens inférteis, reduzindo também os níveis de hormônio folículo estimulante e prolactina. Adicionalmente, o número de espermatozóides, bem como sua motilidade, foi normalizado nos homens que anteriormente exibiam baixa fertilidade. Isso significa a melhora na infertilidade dos homens após o tratamento de M. pruriens, comprovando sua eficácia nas disfunções sexuais masculinas (SHUKLA et al., 2009).
Considerações finais
A Mucuna pruriens tem sido utilizada por séculos na medicina tradicional Indiana por apresentar importantes efeitos farmacológicos que incluem atividades hipoglicemiantes e hipocolesterolêmicas, anticâncer, neutralizadora de venenos de peçonhas, antimicrobiana; sendo também usada no tratamento das desordens sexuais masculinas. Atualmente, os estudos bioquímicos, fitoquímicos e clínicos mais detalhados têm comprovado a sua grande eficácia, e ainda hoje ela é amplamente usada para tratar o parkinsonismo e a infertilidade masculina. Muitas de suas ações farmacológicas ainda estão sob investigação, e muitos outros estudos clínicos complementares estão em andamento.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CIEE pela bolsa de estudos Natália N. M. Vidal e ao Valério F. M. A. pela cessão da foto de M. pruriens.
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