ETNOFARMACOLOGIA / ETHNOPHARMACOLOGY
Plantas Medicinais Cultivadas e Utilizadas na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), Porteirinha, MG
Medicinal Plants Used in Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida Association (ACEBEV), Porteirinha-MG
Resumo
O conhecimento sobre uso tradicional de plantas medicinais pode auxiliar na descoberta de princípios ativos com alguma ação farmacológica. O objetivo deste trabalho foi levantar informações sobre as plantas cultivadas e utilizadas para fins medicinais na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), no município de Porteirinha, MG. Realizou-se uma entrevista semi-estruturada e diálogos informais com a Irmã Mônica, freira fundadora e responsável pelo local, para obtenção das informações. Este estudo mostrou que são cultivadas na ACEBEV 74 espécies medicinais, distribuídas em 33 famílias, destacando-se a Asteraceae (15 spp.) e Lamiaceae (15 spp.). As plantas medicinais são manipuladas de forma artesanal e comercializadas como medicamento natural. Os usos mais descritos estão relacionados às doenças infecciosas, da pele e tecido sub-cutâneo, transtornos do sistema nervoso e transtornos do sistema gastrintestinal. Aloe vera (2,0), Ricinus communis (2,0) e Kalanchoe brasiliensis (2,0) apresentaram os maiores valores de Importância Relativa. Os resultados do estudo mostram a importância da ACEBEV para a população local, tanto como apoio à saúde quanto para valorização e preservação dos recursos na região.
- Palavras chave:
- planta medicinal.
- etnobotânica.
- Asteraceae.
- Lamiaceae.
- Cerrado..
Abstract
The study about traditional use of medicinal plants can help in the discovery of active principles with some pharmacological activity. The aim of this study was gather information about the plants grown and used for medicinal purposes at Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), locally known as ACEBEV, in the municipality of Porteirinha, MG. It was used a semi-structured interviews and informal dialogue with the Religious Mônica, known as Sister Mônica, founder and responsible for ACEBEV in order to obtain the information. This study registered 74 medicinal species, distributed in 33 families, standing out Asteraceae (15 spp.) and Lamiaceae (15 spp.). Medicinal plants are manipulated in a handmade product and marketed as natural. The most common uses are related to infectious diseases, diseases of the skin and sub-cutaneous tissue, nervous system disorders and disorders of the gastrointestinal system. Aloe vera (2.0), Ricinus communis (2.0) and Kalanchoe brasiliensis (2.0) showed higher relative importance. The results show the importance of ACEBEV for the local population, both as support for health and for recovery and preservation of resources in the region.
- Keywords:
- Medicinal Plants.
- ethnobotany.
- Asteraceae.
- Lamiaceae.
- Brazilian Cerrado..
Introdução
A constante elevação de preços dos medicamentos industrializados e a ocorrência de efeitos colaterais provocados pelos mesmos, a resistência bacteriana a antibióticos, a divulgação das vantagens da fitoterapia e a busca por uma forma de vida mais natural somados com a desarticulação de políticas públicas relativas ao atendimento das necessidades básicas de saúde das populações periféricas, são responsáveis pelo aumento do consumo de espécies medicinais pelas populações (Azevedo e Silva, 2006; Martins et al., 2000).
Mas apesar de o uso terapêutico ser largamente difundido, somente há poucos anos os estudos de identificação de espécies medicinais tem sido realizados em Minas Gerais e na região do Cerrado e o conhecimento tradicional de grupos sociais que fazem uso das plantas é uma importante fonte para a descoberta de princípios ativos vegetais capazes de exercer uma ação farmacológica no combate a várias enfermidades (Vieira e Martins, 2000).
No Norte de Minas Gerais ainda são raros os estudos que foquem o conhecimento popular e, por isso, devem ser estimulados, pois trata-se de uma região carente, do ponto de vista sócio-econômico, e castigada pela seca, levando muitas comunidades ao uso tradicional de plantas para o tratamento de doenças. Além disso, o município de Porteirinha, localizado nesta região, apresenta como bioma um ecótono entre Cerrado e Caatinga, possuindo uma grande biodiversidade pouco estudada.
A Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), localizada neste município, foi fundada em 1998 pela freira Porcina Amônica de Barros, conhecida como Irmã Mônica. Esta iniciou um trabalho de assistência aos doentes e crianças desnutridas, com remédios caseiros, segurança alimentar e orientação às famílias, tanto urbana quanto rural, devido às necessidades locais.
Muitas enfermidades eram conseqüências da má alimentação e do uso de águas poluídas, assim, iniciou-se um trabalho de conscientização e orientação na produção de gêneros alimentícios com agricultores familiares, através de oficinas na zona rural. Com o envolvimento da população, após seis anos de trabalho, fundou-se a associação com o apoio da Prefeitura e a criação de uma “Farmácia Viva”, cujo objetivo é cuidar da saúde utilizando espécies vegetais.
Segundo Nogueira (2007), o conhecimento popular nasce do contato direto ao longo do tempo, utilizando uma linguagem particular, individualizada, local ou regionalizada, ampla e rica na diversidade peculiar e, diante das informações acima, o objetivo desse estudo foi levantar informações sobre as espécies cultivadas e utilizadas para fins medicinais na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV).
Material e Métodos
O estudo foi realizado na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), localizada no município de Porteirinha, Norte de Minas Gerais, a 582 Km de Belo Horizonte, onde inicialmente foram realizadas visitas destinadas ao entrosamento e ao consentimento formal para a realização do estudo. Para obtenção de informações sobre as plantas medicinais cultivadas e utilizadas na Associação, suas indicações terapêuticas, seus usos e preparos, realizaram-se entrevistas com a irmã Mônica, utilizando um questionário semi-estruturado e diálogos informais, de junho a outubro de 2008.
As espécies indicadas como medicinais foram coletadas, com o auxílio da informante, e levadas ao Laboratório de Botânica da Faculdade de Saúde Ibituruna, Montes Claros (MG), para identificação taxonômica.
As indicações terapêuticas das plantas medicinais da ACEBEV foram enquadradas nos seguintes Sistemas Corporais (Almeida e Albuquerque, 2002): doenças infecciosas (Dl); doenças parasitárias (DP); doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e do metabolismo (DGNM); doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos (DS); doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo (DSO); doenças da pele e tecido celular subcutâneo (DPTS); transtornos do sistema visual (TSV); transtornos do sistema nervoso (TSN); transtornos do sistema circulatório (TSC); transtornos do sistema respiratório (TSR); transtornos do sistema gastrintestinal (TSGI); transtornos do sistema geniturinário (TSGU); afecções não definidas ou dores não definidas (AND); doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Calculou-se a importância relativa (IR) das espécies citadas com base na proposta de Bennett e Prace (2000), na qual o valor “2” é o máximo que pode ser obtido por uma determinada espécie. As espécies que obtiverem os valores mais altos são consideradas as mais versáteis e indicadas para um maior número de sistemas corporais. O uso desta técnica permite identificar a espécie mais importante, quando ela é mais versátil (Silva e Albuquerque, 2004). A IR é calculada utilizando a fórmula IR= NSC + NR IR é a importância relativa, NSC o número de sistemas corporais obtido pela razão entre o número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie (NSCE) e o número total de sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil (NSCEV). O NP é a razão entre o número de propriedades atribuídas a uma determinada espécie (NPE) e o número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV).
Resultados e Discussão
Cultivo
As plantas medicinais da ACEBEV são cultivadas em canteiros em um quintal, onde está situada a sede da associação. Não é utilizado nenhum adubo químico, somente adubo orgânico e para o combate às pragas e doenças que agridem as plantas utiliza-se o método da homeopatia.
A forma de cultivo de plantas medicinais e aromáticas é muito importante, pois está relacionada com a qualidade do material vegetal. As plantas cultivadas estão sujeitas à condições ambientais desfavoráveis, aos parasitas animais e vegetais e aos predadores (Carvalho et al., 2005). A homeopatia é uma alternativa compatível com a visão orgânica, holística, sistêmica e ecológica, que utiliza preparados para estimular as defesas naturais dos organismos (Andrade, Casali e De Vita, 2001). Esta técnica foi oficializada na agropecuária orgânica, pelo Ministério da Agricultura, em 1999 (Rossi, 2008).
No local, a água da chuva é aproveitada através de calhas que captam e abastecem uma caixa de 200 mil litros e a água é utilizada para lavar panelas, copos e materiais utilizados na elaboração dos medicamentos é reaproveitada, passando por uma canaleta, duas caixas com areia e brita além de duas caixas com carvão vegetal e é enviada para uma cisterna onde é utilizada para irrigação superficial.
Plantas medicinais da ACEBEV
A entrevista semi-estruturada realizada com a Irmã Mônica revelou uma relação de 74 espécies de uso medicinal cultivadas na ACEBEV, distribuídas em 33 famílias botânicas, destacando-se as famílias Asteraceae (15 spp.) e Lamiaceae (15 spp.) (TABELA 1). As duas famílias em destaque possuem distribuição cosmopolita, sendo bem representadas no Brasil, com 300 gêneros e 2000 espécies para a família Asteraceae e 26 gêneros e cerca de 350 espécies para a família Lamiaceae (Souza e Lorenzi, 2005).
O cálculo da importância relativa (TABELA 1) mostrou que, por serem indicadas para tratamento de doenças que atacam variados sistemas corporais, Aloe vera (IR = 2,00), Ricinus communis (IR = 2,00) e Kalanchoe brasiliensis (IR = 2,00) podem serem consideradas as mais versáteis dentre as cultivadas na ACEBEV. As espécies indicadas pela irmã Mônica como, aparentemente, as mais importantes foram: babosa, mulungu, fáfia, calêndula, hortelã, saião, capim gordura, guaco, capeba e tansagem, evidenciando, desta forma, um conhecimento profundo das espécies utilizadas, pois pelo menos duas (babosa e saião) realmente apresentaram os maiores valores de importância relativa.
Sistemas corporais
São diversas as enfermidades tratadas com as ervas da ACEBEV (TABELA 1), enquadrando-se em 14 sistemas corporais (Almeida e Albuquerque, 2002). Os usos medicinais mais descritos estão relacionados a Doenças Infecciosas (35 spp.), Doenças da Pele e Tecido Celular Subcutâneo (33 spp.), Transtornos do Sistema Gastrintestinal (31 spp.) e Transtornos do Sistema Nervoso (30 spp.).
Pesquisas realizadas em outras partes do mundo e no Brasil revelam que os sistemas corporais mais tratados com a utilização de plantas medicinais são o Respiratório e o Gastrintestinal (Amorozo, 2002, Begossi e Silvano, 2002; Bueno et al., 2005; Medeiros et at., 2004). Este estudo apresentou uma diferença nesse padrão de uso de espécies medicinais, que pode ser decorrente do estilo de vida moderna, como a grande quantidade de indicações para Transtornos do Sistema Nervoso e Doenças da Pele. Para a Irmã, as doenças são derivadas de três problemas principais: alergias, derivações sifilíticas e gonorréia, seguindo o princípio da teoria da sarna suprimida. Segundo ela, “os remédios que curam não estão na farmácia, a Caatinga e o Cerrado são uma verdadeira farmácia natural sendo a relação homem-natureza profunda e intensa”.
Espécie | Nome Vernacular | Indicação Terapêutica | IR | SC | Partes Usadas |
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Alismataceae | |||||
Echinodorus grandiflorus (Cham. & Schltdl.) Micheli. | Chapéu de Couro | Diurético, antireumático, ácido úrico, problemas da bexiga. | 0,83 | TSGU, Dl, DSO, DGNM | Folha |
Amaranthaceae | |||||
Alternanthera sp. | Terramicina | Cicatrizante, antiinflamatório garganta, ant-térmico. | 0,63 | DPTS, Dl, TSN | Folha e flor |
Celosia cristata L. | Veludo | Vermífugo, antitussígeno, fortalecedor, antidepressivo, doenças pulmonares, bronquite. | 0,88 | DP, TSR, TSN | Semente, flor, raiz e folha. |
Pfaff ia paniculate (Mart) O. Kuntze. | Fáfia | Energizante completo, doenças infeciosas, imunoprotetora, antiestresse. | 0,71 | AND, Dl, TSN | Folha |
Arecaceae | |||||
Coccus nucifera L. | Coqueiro | Hidratante, vermífugo, controla pressão, liberta da dependência química | 0,96 | DPTS, DP, TSC, AND, TSN | Fruto, folha, flor |
Asteraceae | |||||
Achillea millefolium L. | Mil em Ramas | Analgésico, antiinflamatório, coluna, pressão. | 0,71 | TSN, DSO, TSC | Folha |
Arctium minus (Hill) Bernh. | Bardana | Alimento, problemas cardiovasculares, tônico, digestivo, colesterol. | 1,17 | TSC, AND, TSGI, DGNM | Raiz, folha |
Artemisia absinthium L. | Losna | Vermífugo, anti-inflamatório genitália, problemas hepáticos, chulé, odor nas axilas. | 0,83 | DP, TSGU, TSGI, AND | Folha |
Artemisia canphorata Vill. | Cânfora | Descongestionante, abre os poros, analgésico, contra ematomas, purifica vias respiratórias, descongestiona canais lacrimais. | 1,13 | TSR, DPTS, TSN, TSC, TSV | Folha |
Artemisia sp. | Artemisinha | Problemas hepáticos, uterinos, digestivos, artrites e reumatismos | 0,92 | TSGI, TSGU, Dl, DSO | Folha |
Artemisia vulgaris L. | Artemisia | Problemas hepáticos, uterinos, digestivos, artrites e reumatismos | 0,92 | TSGI, TSGU, Dl, DSO | Folha |
Baccharis trimera (Less.) DC. | Carqueja | Problemas hepáticos, estômago, antireumática | 0,63 | TSGI, Dl, DSO | Folha |
Calendula officinalis L. | Calêndula | Alergias, fratura exposta, alergias internas, gripes alérgicas | 0,92 | AND, DPTS, TSN, DSO | Folha |
Chamomilla recutita (L.) Rauschert | Camomila | Tranquilizante, digestivo, sonífera, analgésica | 0,58 | TSN, TSGI | Folha, flor |
Helianthus annuus L. | Girassol | calmante, anti-depressivo | 0,29 | TSN | Folha, semente descascada |
Mikania glomerata Spreng. | Guaco | Expectorante, digestivo, pulmão, garganta, ouvido | 0,79 | TSR, TSGI, Dl | Folha |
Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera | Quitoco | Anti-térmico, antiinflamatório, digestivo, artrite, reumatóide | 0,92 | TSN, TSGI, DSO, Dl | Folha |
Solidago chilensis Meyen | Arnica | Desajuste, angústia, cortes, feridas, dores musculares, massagem, anti-trauma, relaxante | 0,92 | AND, DPTS, DSO, TSN | Flor, folha |
Taraxacum officinale Weber | Dente de Leão | Cicatrizante, antiinflamatório, imunoprotetora, hepáticos, depressão, câncer crianças e adultos. | 1,25 | DPTS, DSO, Dl, TSGI, TSN, AND | Folha |
Vernonia condensata Backer | Boldo ou Boldo do Chile | Digestivo, hepático, antireumático, infecção nos rins, fígado, pâncreas, sapinho | 0,96 | TSGI, Dl, DSO | Folha, caule e raiz |
Boraginaceae | |||||
Heliotropium indicum L. | Crista de Galo | Diurético, depurativo do sangue. | 0,42 | TSGU, AND | Folha |
Symphytum officinale L | Confrei | Cicatrizante, áfitas, feridas e manchas uterinas, mioma, fibroma, úlcera, gastrite, infecção do estômago, pele. | 1,00 | DPTS, Dl, TSGU | Folha |
Brassicaceae | |||||
Coronopus didymus (L.) Smith | Mentrusto | Antireumático, vermífugo, gastrite, evita câncer do estômago, H. pilori | 1,04 | Dl, DSO, DP, TSGU, TSGI | Folha |
Caprifoliaceae | |||||
Sambucus australis Cham. & Schltdl. | Sabugueiro | Anti-térmico, prisão de ventre, sarampo, protetor da pele, cicatrizante. | 0,92 | TSN, TSGI, Dl, DPTS | Folha, flor |
Caricaceae | |||||
Carica papaya L. | Mamão Verde | Anti-tussígeno, vermífugo, cicatrizante | 0,63 | TSR, DP, DPTS | Fruto, flor |
Chenopodiaceae | |||||
Beta vulgaris L. | Acelga | Cicatrizante, úlceras, gastrite, prisão de ventre, azia, furúnculo | 0,88 | DPTS, TSGI, Dl | Folha |
Chenopodium ambrosioides L. | Mastruz | Antiinflamatório, vermífugo, cicatrizante, anti-reumático, gastrite, úlcera, prisão de ventre, dores nos joelhos, dente inflamado, verrugas, parasitas, esporão | 1,75 | DSO, DP, DPTS, Dl, TSGI, AND | Folha |
Commelinaceae | |||||
Tradescantia pallida (Rose) Hunt. cv. | Manto de Viúva | Cicatrizante, enzipra, frebite, gonorréia | 0,83 | DPTS, Dl, TSC, DST | Folha |
purpurea | |||||
Tradescantia zebrina Heynh | Capa de Nossa Senhora | Gonorréia, artrites, alimentação, problemas vaginais, herpes | 0,96 | Dl, DST, DSO, DGNM, TSGU | Folha |
Convolvulaceae | |||||
Ipomoea batatas (L.) Lam. | Batata Doce | Gastrite, úlcera, prisão de ventre, tônico, quimioterapia e radioterapia, mastite | 0,79 | TSGI, AND, Dl | Folha |
Crassulaceae | |||||
Kalanchoe brasiliensis Camb. | Saião | Antiinflamatório, analgésico, ouvido, refrescante, adenóide, amídalas, rachaduras nos pés, lábios e cotovelos, espinhas, gastrite, imunidade em crianças desnutridas, unha encravada, bronquite | 2,00 | DSO, TSN, AND, TSR, DPTS, TSGI, DGNM, Dl | Folha |
Sedum dendroideum Moc. & Sessé ex DC. | Bálsamo | Problemas estomacais, úlceras, gastrites, úlceras externas, herpes, frieiras, alimento, pele | 1,29 | TSGI, DPTS, Dl, DST, DGNM | Folha |
Euphorbiaceae | |||||
Jatropha sp. | Mamoninha folha roxa | Furúnculo, cosmético, prisão de ventre, sinusite, adenóide, dor de ouvido, cicatrizante, queimaduras, feridas, cólicas dos recém naseidos, limpeza uterina, depressão pós-parto | 2,00 | Dl, DPTS, AND, TSGI, TSR, TSGU, TSN | Folha, casca, fruto |
Ricinus communis L. | Mertiolate | Cicatrizante | 0,21 | DPTS | Caule |
Fabaceae | |||||
Caesalpinia paraguariensis (D. Parodi) Burk. (Guajakan) | Pau Ferro | Tônico, antiinflamatório, vermífugo, anti-térmico, malária, febres tropicais | 1,25 | AND, DSO, DP, TSN, Dl, DS | Tegumento da semente. |
Espécie | Nome Vernacular | Indicação Terapêutica | IR | SC | Partes Usadas |
Erytrina mulungu Mart. ex Benth. | Mulungu | Sonífero, reumatismo, coluna, depressão. | 0,71 | AND, Dl, TSN | Folha, entrecasca, semente |
Medicago sativa L. | Alfafa | Calmante, tônico geral, equilibra pressão, aumenta leite nutrises, pessoas que fazem quimioterapia e radioterapia, crescer os cabelos | 1,25 | TSN, AND, TSC, DGNM, DS, DPTS | Folha, flor |
Senna occidentalis (L.) Link | Sene | Febre, pneumonia, prisão de ventre, infecção intestinal | 0,71 | TSN, TSR, TSGI | Folha |
Lamiaceae | |||||
Glechoma hederacea L. | Erva terrestre | Descongestionante, contra tosse, digestiva, abre apetite, cicatrizante, manchas e sinais de espinhas | 1,00 | TSR, TSGI, DGNM, DPTS | Folha |
Hyptis sp. | Alfazema | digestiva, inflamação uterina, sonífera | 0,63 | TSGI, TSV, TSN | Caule, folha e flor |
Leonurus sibiricus L. | Rubinho | Problemas estomacais, rins, órgãos vitais, artrites reumatóides, desinteria, gás intestinal | 1,13 | TSGI, TSGU, AND, Dl, DSO | Flor, folha |
Marrubium vulgare L. | Boldo Miúdo | Anti-reumático, problemas hepáticos, digestivos | 0,63 | Dl, DSO, TSGI | Folha |
Mentha arvensis L. | Vick | Descongestionante, antiinflamatório de adenóide, sinusite | 0,33 | TSR | Folha |
Mentha pulegium L. | Poejo | emoliente, expectorante, antiinflamatório, vermífugo (ameba), rachadura pés | 0,92 | DPTS, TSR, DSO, DP | Folha |
Mentha sp. | Hortelã da Índia | Calmante, cicatrizante, vermífugo, expectorante, fortalece a pele | 0,92 | TSN, DPTS, DP, TSR | Folha |
Mentha viridis L. | Levante | Expectorante, inflamações reumáticas, descongestionante, articulações, gota, reumatismo, amídalas, congestão nasal, sinusites | 1,13 | TSR, DSO, Dl | Folha |
Mentha x villosa Huds. | Hortelã menta ou Hortelã miúdo | Calmante, cicatrizante, vermífugo, expectorante, fortalece a pele | 0,92 | TSN, DPTS, DP, TSR | Folha |
Ocimum basilicum L. | Manjericão roxo | Alimento, cicatrizante, alívio das dores, neutralizante, abrir os poros, dor de cabeça, sinusite, descongestionante, ansiedade | 1,38 | DGNM, AND, DPTS, TSN, TSR | Folha |
Ocimum gratissimum L. | Cravo Favaca | Aparelho respiratório | 0,21 | TSR | Folha |
Ocimum sp. | Alfavaca | Sujeira do olho, cardiovascular, calmante, pressão | 0,71 | AND, TSC, TSN | Folha, semente |
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. | Hortelã pimenta ou temperão | Expectorante, descongestionante, cicatrizante, repelente, prática da ventosa | 1,00 | TSR, DPTS, AND | Folha |
Rosmarinus officinalis L. | Alecrim | Repelente, calmante, sonífero, analgésico, angústia, taquicardia | 0,88 | TSN, AND, TSC | Folha, flor |
Tetradenia riparia (Hochst.) Codd. | Mirra | Analgésico, dores reumáticas | 0,42 | TSN, DSO | Folha |
Liliaceae | |||||
Aloe vera (L.) Burm.f. | Babosa | Cicatrizaçâo, frieira, áfitas, garganta, pele, protetor solar, vermífugo, gastrite, úlcera, mal hálito, reumatismo, cândida, hemorróidas, enfermidades do couro cabeludo | 2,00 | DPTS, Dl, TSR, DP, TSGI, AND, DSO | Folha |
Malvaceae | |||||
Gossypium hirsutum L. | Algodão crioulo | Contra inchaço, má digestão, analgésico (ouvido), dor de cabeça | 0,83 | AND, TSGI, TSR, TSN | Folha |
Moraceae | |||||
Ficus carica L. | Figueira | Contra verrugas | 0,21 | Dl | Fruto (Leite) |
Musaceae | |||||
Musa paradisíaca L. | Bananeira | Bronquite, cálculos renais, picadas de escorpião e cobras venenosas | 0,63 | TSR, TSGU, TSC | Flor, folha |
Myrtaceae | |||||
Psidium guajava L. | Araçá | Rins, coração | 0,42 | TSGU, TSC | Folha |
Nyctaginaceae | |||||
Mirabilis jalapa L. | Bonina | Vermífugo, repelente, dores reumáticas, psuríases | 0,92 | DP, Dl, DSO, AND | Semente, folha, flor, raiz |
Papaveraceae | |||||
Argemone mexicana L. | Cardo Santo | Vermífugo, bronquite | 0,42 | DP, TSR | Folha, raiz, flor |
Passifloraceae | |||||
Passíflora edulis Sims. | Maracujá | Sonífero, controle da pressão, fortalece os neurônios, angústia, ansiedade | 1,25 | TSN, TSC | Casca, folha, flor |
Piperaceae | |||||
Pothomorphe umbellata (L.) Miq. | Capeba | Rins, ácido úrico, pele ressecada, genitália | 0,71 | TSGU, DGNM, DPTS | Folha |
Plantaginaceae | |||||
Platnago major L. | Tanchagem | Anti-inflamatória, garganta, antireumático, tumores, infecção uterina, couro cabeludo, saúde bucal, enfermidades oculares, feridas cronitizadas | 1,63 | DSO, TSR, Dl, AND, TSGU, DPTS, TSV | Folha |
Poaceae | |||||
Coix lacruma-jobi L. | Lágrima de Nossa Senhora | Infecção urinária, bexiga, uretra | 0,36 | TSGU | Folha |
Cymbopogom sp. | Capim Açum | Cicatrizante, problemas hepáticos, anti-hemorrágico, hemorragia nasal, cortes | 0,71 | DPTS, TSGI, DS | Folha |
Melinis munitiflora Beauv | Capim Gordura | Rejuvenecedor, purificador sangue, catarata, alergias, imunidade, síflis, DST, tuberculose, aumentar leite | 1,47 | AND, TSV, Dl, DST, TSR, DGNM | Folha |
Polygonaceae | |||||
Polygonum hydropiperoides Michaux | Erva de Bicho | Hemorróidas, problemas cutâneos, protetor e fortalecedor do couro cabeludo, unhas fracas, problemas vaginais (coceiras), aparelho gênito urinário, equizema, enzipra, eritema, psuríase | 1,42 | TSC, TSGI, DPTS, Dl, TSGU, AND | Folha |
Rosaceae | |||||
Rubus brasiliensis Mart. | Amora | Inflamação garganta, amídalas, íngua na virilha, caxumba | 0,58 | TSR, Dl | Folha |
Rutaceae | |||||
Ruta graveolens L. | Arruda | Inflamações uterinas, controla apetite sexual, brotoejas | 0,71 | AND, TSGU, DPTS | Folha |
Solanaceae | |||||
Solanum sp. | Caiçara | Remédio hepático, próstata, infecção das genitálias, antiinflamatório das genitálias | 0,71 | TSGI, TSGU, TSN | Raiz |
Espécie | Nome Vernacular | Indicação Terapêutica | IR | SC | Partes Usadas |
Solanum cirnuum Vell. | Panacéia | Anti-inflamatória, diurética, controla pressão, machucado, gastrenterite, neutraliza efeitos colaterais | 1,25 | DSO, TSGU, TSC, DPTS, TSGI, AND | Folha |
Tropaeolaceae | |||||
Tropaeolum majus L. | Capuchinha | Alimento, depurativa do sangue, diurético, cicatriz, gastrite, gases, equilibra ácido úrico | 1,04 | AND, TSGU, DPTS, TSGI, DGNM | Flor, folha |
Vitaceae | |||||
Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E. Jarvis | Insulina | Diabetes, cicatrização, herpes | 0,75 | DGNM, DPTS, Dl, DST | Folha, caule |
Zingiberaceae | |||||
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe | Cana do Brejo ou de Macaco | Infecções, problemas renais, aparelho urinário | 0,50 | Dl, TSGU | Folha |
IR - Importância Relativa; SC - Sistemas Corporais; Dl - doenças infecciosas; DP - doenças parasitárias; DGNM - doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e do metabolismo; DS - doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos; DSO - doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo; DPTS - doenças da pele e tecido celular subcutâneo; TSV - transtornos do sistema visual; TSN - transtornos do sistema nervoso; TSC -transtornos do sistema circulatório; TSR - transtornos do sistema respiratório; TSGI - transtornos do sistema gastrintestinal; TSGU - transtornos do sistema genito-urinário; AND - afecções não definidas ou dores não definidas; DST - doenças sexualmente transmissíveis.Plantas medicinais cultivadas e utilizadas na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida (ACEBEV), Porteirinha, MG |
Medicamentos da ACEBEV
Das 74 espécies de plantas medicinais cultivadas na ACEBEV, uma pequena parte é comercializada “in natura”. A grande maioria é manipulada artesanalmente, em um pequeno laboratório, chamado de “sala limpa”, e comercializadas como medicamento natural para a comunidade, desde a planta desidratada e acondicionada em sacos plásticos até preparados em forma de pomadas, tinturas, xaropes, garrafadas, xampus e sabonetes. Para isso, as tinturas-mãe são armazenadas sempre em vidros com tampas de cortiça ou cana de milho isoladas da luminosidade, em uma sala reservada, na qual só se entra descalço ou com sandália disponível no local.
O armazenamento das folhas se dá de maneira correta. Segundo Martins e Santos (2007), para se garantir a qualidade, as plantas secas devem ser guardadas em local arejado e seco, acondicionadas em sacos plásticos que além de econômicos dificultam a entrada de umidade e preservam a coloração original das plantas.
Segundo a Irmã Mônica, o consumo de chás deve ser feito por somente 15 dias consecutivos no máximo; a pessoa deve parar de consumir por 5 dias e depois pode retornar o consumo, mas deve sempre ser acompanhado por uma alimentação saudável. Além disso, crianças com até seis meses não devem ingerir nenhum tipo de chá; de 6 meses até 3 anos, a quantidade deve ser de V xícara pequena de café até 1 xícara por dia e adultos podem ingerir V xícara média de chá até 1 xícara diária; mas, para o consumo de chás sempre deve ser observada a necessidade e o peso da pessoa - atualmente existem crianças que apesar de pouca idade tem o peso de um adulto. Para problemas hepáticos, renais e digestivos, consumir somente de 3 a 5 dias.
Algumas informações obtidas são confirmadas na literatura. Cardoso, Shan e Souza (2001) afirmam que o uso contínuo de uma mesma planta deve ser evitado e recomendam o uso máximo entre 21 e 30 dias, intercalados por um período de descanso entre 4 e 7 dias, permitindo que o organismo “repouse” ou desacostume e também para que o vegetal possa atuar com toda a eficácia; e de acordo com Martins e colaboradores (2000), as dosagens dos remédios caseiros, incluindo os chás, realmente devem variar de acordo com a idade.
Para o preparo dos chás com folhas desidratadas a Irmã recomenda % da mão do consumidor e, se utilizar a entrecasca, o chá não deve ser feito por decocto, para não ficar tóxico; a entrecasca ou casca deve ser colocada em um copo de água fervente a noite e ser ingerido no dia seguinte. Entretanto, Cardoso, Shan e Souza (2001) afirma que é indicado para o preparo utilizando sementes, raízes, cascas e outras partes mais resistentes a ação da água quente e deve ser utilizado no mesmo dia do seu preparo.
Segundo informações, os sumos são mais fáceis do organismo assimilar e devem ser utilizados em casos de emergência; é indicado no máximo um litro e no mínimo um copo americano. No caso das tinturas, consome-se de 10 a 30 gotas de acordo com o peso e a necessidade.
A Irmã acredita que os “remédios da natureza” são eficazes e que dela tudo podemos aproveitar. Segundo ela, a medicina convencional deveria se preocupar em um primeiro momento em fortalecer o organismo de maneira que ele próprio reforce as suas defesas para depois passar por procedimentos cirúrgicos. Cabe ressaltar que nenhum medicamento é indicado sem uma “consulta” prévia (gratuita), realizada pela própria Irmã, e que, os valores cobrados pelos medicamentos são simbólicos e totalmente voltados para a manutenção da própria associação.
Atualmente, na ACEBEV, existem vários integrantes que aprendem e participam dos trabalhos realizados no local, constituindo desta forma uma importante maneira de se difundir o conhecimento sobre as plantas medicinais. Este saber é repassado pela Irmã Mônica não somente na sua utilização para a manutenção de uma boa saúde, mas também, com amor incondicional pelo Cerrado e pela Caatinga, evidenciando desta forma sua importância e preservação.
Referências
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