Artigo de Pesquisa

Conhecimento sobre fitoterapia e fatores associados pela população de Pernambuco, Brasil

Knowledge about phytotherapy and associated factors by the population of Pernambuco, Brazil

https://doi.org/10.32712/2446-4775.2022.1340

Sobrinho, Adriano Referino da Silva1, 2*;
ORCID https://orcid.org/0000-0002-4733-3430
Souza, Pedro Henrique Sette de1, 3.
ORCID https://orcid.org/0000-0001-9119-8435
1Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Garanhuns. Rua Capitão Pedro Rodrigues, São José, CEP 55294-902, Garanhuns, PE, Brasil.
2Faculdade de Integração do Sertão (FIS). Rua Luiz João de Melo, Tancredo Neves, CEP 56909-205, Serra Talhada, PE, Brasil.
3Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Arcoverde. Avenida Gumercindo Cavalcante, São Cristóvão, CEP 56512-200, Arcoverde, PE, Brasil.
*Correspondência:
adriano.referino@upe.br

Resumo

O objetivo desse estudo foi identificar o conhecimento sobre fitoterapia na população pernambucana, bem como os fatores associados. Realizou-se estudo transversal de abordagem quantitativa teve sua coleta de dados remota a partir de um questionário online; e buscou extrair informações sobre o perfil dos participantes, utilização e conhecimento sobre fitoterapia. Os dados foram submetidos a testes estatísticos para verificar associações significantes (p=0.05). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco. Dentre 372 indivíduos, 80,6% relataram conhecer o tema. Os fatores associados ao conhecimento sobre a fitoterapia foram idade superior a 25 anos, residência na capital pernambucana, ensino superior completo, remuneração maior que três salários mínimos, raça/cor branca, residência com até, no máximo, duas pessoas e uso da fitoterapia (p < 0.05). Há desigualdade no acesso à informação, tornando necessárias estratégias de educação em saúde para populações mais vulneráveis e regiões menos desenvolvidas.

Palavras-chave:
Terapias Complementares.
Fitoterapia.
Fatores socioeconômicos.
Educação em Saúde.

Abstract

The objective of this study was identify the knowledge about phytotherapy in the population of Pernambuco state, as well as the associated factors. A cross-sectional study of quantitative approach had its data collection remote from an online questionnaire; and sought to extract information about the participants' profile, use and knowledge about phytotherapy. Data were submitted to statistical tests to verify significant associations (p=0.05). The research was approved by the Research Ethics Committee of the University of Pernambuco. Among 372 individuals, 80.6% reported knowing the topic. Factors associated with knowledge about phytotherapy were age over 25 years, residence in the capital of Pernambuco, complete higher education, income over three minimum wages, white race/color, residence with no more than two people, and use of phytotherapy (p < 0.05). There is inequality in access to information, making health education strategies necessary for the most vulnerable groups and less developed regions.

Keywords:
Complementary Therapies.
Phytotherapy.
Socioeconomic Factors.
Health Education.

Introdução

A fitoterapia tem sido utilizada pela humanidade desde a antiguidade como alternativa terapêutica para diversas doenças[1]. Com o advento tecnológico, a prática se expandiu para além da utilização das plantas medicinais em forma natural[2]. O uso desses produtos promove o bem-estar e aumento da qualidade de vida, devido à sua credibilidade terapêutica e baixo custo[3]. Contudo, danos à saúde por uso inadequado são comuns e podem ser decorrentes da falta de conhecimento do usuário[4].

No Brasil, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tem incentivado o Sistema Único de Saúde (SUS) a implementar a fitoterapia em sua rede assistencial. Aliada à grande biodiversidade que o país dispõe, há o conhecimento tradicional dos habitantes, parte essencial para o desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e terapêuticas na área[5]. Todavia, ainda é incerto se a população de certas regiões tem conhecimento sobre a definição, benefícios, riscos e aplicações das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos[6,7].

Há uma concentração dos serviços e incentivos à fitoterapia nas regiões Sul e Sudeste, o que não é observado nas outras regiões[8]. Assim, negligencia-se a fitoterapia como ferramenta para assistência em saúde das outras localidades, que consequentemente leva a população a ter pouco contato com a prática. A região Nordeste é rica em biodiversidade, com potencial de grande disponibilidade de plantas medicinais e para o desenvolvimento de medicamentos a partir de extratos vegetais[9].

As estratégias de informação da população sobre o tema precisam ser recorrentes para esclarecer crenças e concepções equivocadas acerca dessa prática. Também pode-se estimular o interesse pelo plantio dessas fontes, visando o desenvolvimento socioeconômico e sustentável da região. Assim, é necessária a investigação prévia sobre o conhecimento da população para a implementação dessas ações[10].

Portanto, o objetivo desse trabalho foi identificar o conhecimento sobre fitoterapia na população pernambucana, bem como verificar os fatores que influenciam em conhecer ou não o tema.

Metodologia

Trata-se de um estudo transversal, analítico e de abordagem quantitativa [11]. O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa desenvolvida nacionalmente e intitulada "Uso da fitoterapia pela população brasileira e fatores associados"; aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (Número do parecer: 4.880.872). O artigo foi elaborado com base no manual Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)[12].

A população de estudo foram os habitantes do Estado de Pernambuco. A coleta dos dados se deu durante o mês de agosto de 2021, de forma remota, a partir do recrutamento online dos participantes. Uma estratégia de divulgação da pesquisa via redes sociais digitais (Instagram®, Facebook® e Twitter®) e e-mail foi conduzida pelos pesquisadores para alcançar o maior número possível de indivíduos. Essa estratégia já é amplamente utilizada nesse tipo de pesquisa[13].

Aptos à participação estavam: os maiores de 18 anos de idade; residentes em território brasileiro há pelo menos 12 meses; e com acesso regular à internet. Foram excluídos os indivíduos não naturais do Brasil ou não-naturalizados brasileiros. Para o presente manuscrito foi utilizado o recorte da população pernambucana.

A coleta de dados foi realizada através de um questionário online disponibilizado aos indivíduos por meio da estratégia de divulgação da pesquisa. O questionário continha, em sua primeira seção, uma breve explicação sobre os objetivos do estudo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para assinatura do participante. Após assinatura do termo, o indivíduo era conduzido às próximas seções para coleta de outras informações como as características sociodemográficas, condições e acesso aos serviços de saúde, e acesso à fitoterapia. Todos os dados foram autorrelatados pelos indivíduos.

As variáveis independentes foram estratificadas em três níveis para a determinação do conhecimento sobre fitoterapia. A divisão de cada nível, a relação de cada variável, e suas respectivas opções de resposta, está apresentada abaixo:

I. Nível I – fatores sociais, demográficos e econômicos:

  1. Gênero (mulher; homem; não-binário);
  2. Idade (idade menor ou igual a 25 anos; idade superior a 25 anos);
  3. Localização do município (capital; não-capital);
  4. Escolaridade (com ensino superior completo; sem ensino superior completo);
  5. Renda (em renda ou com até 1 salário mínimo; entre e 1 e 3 salários mínimos; mais de 3 salários mínimos);
  6. Estado civil (estar ou já ter tido uma relação civil; solteiro);
  7. Ocupação (empregado formalmente; sem emprego formal);
  8. Religião (católica; não-católica);
  9. Residência com pessoas (mais que 3 pessoas; nenhuma ou até 2 pessoas);
  10. Raça/Cor (branca; não-branca);

II. Nível II – Condições de saúde e acesso aos serviços:

  1. Serviços de saúde utilizados alphaou público ou privado; ambos);
  2. Autoavaliação do estado de saúde (negativa; positiva);
  3. Problemas de saúde (presentes; ausentes);

III. Nível III – Acesso à fitoterapia:

  1. Utilização da fitoterapia (sim; não).

A variável dependente foi estabelecida em conhecer ou não a fitoterapia. Esta foi definida como qualquer conhecimento prévio à pesquisa sobre a definição, vantagens, aplicações e cautelas com o uso da fitoterapia pelo indivíduo. As opções de resposta para essa variável foram "presente" ou "ausente". Aqueles que não conheciam a fitoterapia foram instruídos com um material educativo. Os malefícios da automedicação por fitoterápicos também foram repassados aos participantes. Todo o modelo conceitual utilizado para a definição das variáveis é apresentado na FIGURA 1.

FIGURA 1: Modelo conceitual de determinantes para o conhecimento sobre fitoterapia.
Figura 1
Fonte: elaboração própria.

O questionário foi disponibilizado por um link para os interessados terem acesso e ser elegível a participação no estudo. A seleção para participação neste estudo foi voluntária. Uma amostra foi calculada previamente a divulgação do instrumento de coleta de dados. O cálculo para tal amostra utilizou como base a população do Estado de Pernambuco, estimada em 9.674.793 pessoas[14]. Através do programa OpenEpi, utilizando uma frequência antecipada de 50% para o fenômeno investigado, limite de confiança de 5% e efeito de desenho de 1.0, uma amostra foi pré-estabelecida em 385 indivíduos.

Os dados foram processados por meio do software estatístico IBM® SPSS® (Statistical Packages for the Social Sciences) 20.0. O teste de qui-quadrado de Pearson foi aplicado para verificar associações estatisticamente significantes entre as variáveis categóricas. Para isto, foram adotados como significantes p < 0.05 e residuais ajustados fora da faixa 1,29 a -1,29. Para verificar em que medida o conjunto de variáveis preditoras estratificadas em níveis estiveram associadas ao conhecimento sobre fitoterapia, foi utilizada a regressão logística binária adotando p < 0.05 como nível de significância. Para esta análise foram utilizados o odds ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC) em 95%.

Resultados e Discussão

Ao final do período de coleta dos dados, foram obtidas 372 respostas de indivíduos elegíveis ao estudo. Isto representa uma perda amostral de 3,4% (n=13) em relação ao cálculo realizado previamente. A amostra foi composta, predominantemente, por mulheres (n = 253; 68,0%), residentes na capital pernambucana (n = 289; 77,7%), e com ensino superior completo (n = 188; 50,5%). Além disso, 36,0% (n = 134) possuíam renda entre 1 e 3 salários mínimos e 34,7% (n = 129) não tinham renda ou esta equivalia a até 1 salário mínimo. Ainda, a maioria era composta por não brancos (n = 202; 54,3%), solteiros (n = 268; 72,0%), sem emprego formal (n = 218; 58,6%), católicos (n = 197; 53,0%), usuários de ambos os setores de assistência à saúde (n = 221; 59,4%), residentes só ou com até 2 pessoas (n = 193; 51,9%), com autoavaliação positiva de saúde (n = 273; 73,4%), sem problemas de saúde (n = 245; 65,9%) e usuários da fitoterapia no dia a dia (n = 267; 71,8%). A média de idade dos indivíduos foi de 29,12 anos (±10,465), variando entre 18 e 75 anos.

Em relação ao conhecimento sobre fitoterapia, 80,6% (n = 300) dos indivíduos relataram conhecer o tema. O teste de qui-quadrado de Pearson mostrou que os fatores associados a um maior conhecimento sobre a fitoterapia foram os indivíduos com idade superior a 25 anos (p = 0.001), residentes na capital pernambucana (p = 0.004), com ensino superior completo (p < 0.001), com remuneração maior que 3 salários mínimos (p = 0.017), brancos (p = 0.004), que residem só ou com até no máximo 2 pessoas (p = 0.028) e que utilizam a fitoterapia (p = 0.011) (TABELA 1).

TABELA 1: Análise bivariada entre determinantes e o conhecimento sobre fitoterapia através do teste de qui-quadrado de Pearson (n=372). Pernambuco, 2021.
Conhecimento sobre fitoterapia Valor de p
Presente Ausente
n % n %
Gênero
Mulher 204 68,0 49 68,1 0.993
Homem 96 32,0 23 31,9
Idade
Menor ou igual a 25 anos 141 47,0 49 68,1 0.001
Superior a 25 anos 159 53,0 23 31,9
Localização do município
Capital 76 25,3 7 9,7 0.004
Não-capital 224 74,7 65 90,3
Escolaridade
Com ensino superior completo 170 56,7 18 25,0 < 0.001
Sem ensino superior completo 130 43,3 54 75,0
Renda
Sem renda ou até 1 salário 96 32,0 33 45,8 0.017
Entre 1 e 3 salários 107 35,7 27 37,5
Mais de 3 salários 97 32,3 12 16,7
Raça/Cor
Branca 148 49,3 22 30,6 0.004
Não-branca 152 50,7 50 69,4
Estado civil
Estar/já ter tido um relacionamento civil 90 30,0 14 19,4 0.073
Solteiro(a) 210 70,0 58 80,6
Ocupação
Empregado formalmente 128 42,7 26 36,1 0.310
Sem emprego formal 172 57,3 46 63,9
Religião
Católica 160 53,3 37 51,4 0.767
Não-católica 140 46,7 35 48,6
Residência com pessoas
Mais que 3 pessoas 136 45,3 43 59,7 0.028
Nenhuma ou até 2 pessoas 164 54,7 29 40,3
Serviços de saúde utilizados
Ou público ou privado 121 40,3 30 41,7 0.836
Público e privado 179 59,7 42 58,3
Avaliação do estado de saúde
Negativa 76 25,3 23 31,9 0.254
Positiva 224 74,7 49 68,1
Problemas de saúde
Sim 108 36,0 19 26,4 0.122
Não 192 64,0 53 73,6
Utilização
Sim 224 74,7 43 59,7 0.011
Não 76 25,3 29 40,3
Fonte: elaboração própria.

A regressão logística binária mostrou que os fatores preditores associados a ausência de conhecimento sobre fitoterapia foram não residir na capital pernambucana (OR = 2,926 / IC95% = 1,181-7,245), não ter ensino superior completo (OR = 5,212 / IC95% = 2,118-12,825), não ser branco (OR = 2,193 / IC95% = 1,193-4,031) e não utilizar a fitoterapia (OR = 2,055 / IC95% = 1,130-3,737). Não ter emprego formal teve associação a presença de conhecimento sobre fitoterapia (OR = 0,428 / 0,202-0,904) (TABELA 2).

TABELA 2: Razão de chances entre os fatores preditores e a ausência de conhecimento sobre a fitoterapia (n=372). Pernambuco, 2021.
Ausência de conhecimento sobre a fitoterapia
OR IC 95% Valor de p
Gênero
Mulher 1,00 - -
Homem 1,002 0,545 – 1,842 0.996
Idade
Menor ou igual a 25 anos 1,00 - -
Superior a 25 anos 0,895 0,362 – 2,214 0.810
Localização do município
Capital 1,00 - -
Não-capital 2,926 1,181 – 7,245 0.020
Escolaridade
Com ensino superior completo 1,00 - -
Sem ensino superior completo 5,212 2,118 – 12,825 < 0.001
Renda
Sem renda ou até 1 salário 1,00 - -
Entre 1 e 3 salários 0,932 0,350 – 2,479 0.888
Mais de 3 salários 1,109 0,547 – 2,246 0.775
Raça/Cor
Branca 1,00 - -
Não-branca 2,193 1,193 – 4,031 0.011
Estado civil
Estar/já ter tido um relacionamento civil 1,00 - -
Solteiro(a) 0,853 0,336 – 2,164 0.738
Ocupação
Empregado formalmente 1,00 - -
Sem emprego formal 0,428 0,202 – 0,904 0.026
Religião
Católica 1,00 - -
Não-católica 1,394 0,783 – 2,479 0.259
Residência com pessoas
Mais que 3 pessoas 1,00 - -
Nenhuma ou até 2 pessoas 0,619 0,350 – 1,096 0.100
Serviços de saúde utilizados
Ou público ou privado 1,00 - -
Público e privado 1,238 0,682 – 2,248 0.482
Avaliação do estado de saúde
Negativa 1,00 - -
Positiva 0,772 0,410 – 1,453 0.423
Problemas de saúde
Sim 1,00 - -
Não 1,544 0,812 – 2,936 0.185
Utilização
Sim 1,00 - -
Não 2,055 1,130 – 3,737 0.018
Fonte: elaboração própria.

A fitoterapia tem tomado cada vez mais relevância para os serviços de saúde diante do menor custo e maior facilidade de acesso aos seus produtos. Devido aos benefícios e riscos, é necessário que a população tenha contato com os fitoterápicos de modo a conscientizá-la sobre a utilização segura. Dessa forma, o estudo se propôs a identificar o conhecimento sobre o tema dentre os habitantes de Pernambuco e os fatores que o influenciam. Assim, os achados apontaram que há uma grande parcela de indivíduos que conhecem a fitoterapia e que esse saber é maior dentre os mais velhos, residentes no maior centro urbano do Estado, com melhores condições socioeconômicas e que já eram adeptos da prática antes da pesquisa.

Os saberes e práticas relacionadas ao uso das plantas medicinais no combate às doenças são provenientes de hábitos e costumes dos povos mais antigos, principalmente aqueles com crenças fortemente ligadas à natureza, como indígenas e africanos[15]. A alta prevalência identificada de conhecimento sobre essa praxe mostra que, apesar do passar do tempo, há uma forte influência cultural no cuidado em saúde na região. A associação encontrada entre o conhecer a prática e idade mais avançada também torna evidente a ascendência das gerações passadas na população. Assim, tal prática é sinal de reprodução de saberes ao longo de gerações e da identidade individual e coletiva de um grupo[16-18].

Autores relataram previamente uma ampla utilização da fitoterapia na região nordeste[3,19]. Neste estudo, o uso esteve associado a um maior conhecimento, com até duas vezes mais chances do indivíduo que não é usuário dos produtos fitoterápicos não conhecer a prática. A correlação entre conhecimento e uso já é estabelecido na literatura[20]. Esse achado torna evidente a importância do resgaste do saber popular sobre as plantas medicinais e sua utilização, pois a partir dessa sondagem pode-se conduzir estudos farmacológicos e clínicos, a fim de comprovar a eficácia dos produtos que estão mais acessíveis a população[21].

Ainda há problemática do conhecimento sobre as indicações adequadas e comprovadas cientificamente dos produtos fitoterápicos. Por vezes, os usuários podem ser adeptos da prática, todavia, sem saber o seu real benefício ou até mesmo os riscos[22]. Futuras investigações que busquem verificar o conhecimento acerca de cada indicação desses produtos pelos usuários da fitoterapia são necessárias.

O conhecimento sobre a fitoterapia na população estudada está associado com as condições socioeconômicas dos indivíduos mais favorecidos em escolaridade. Estudos prévios têm identificado cenários distintos no que se refere a esse fenômeno. Fatores como idade[23], escolaridade[24] e forma de aquisição do conhecimento[25] influenciam no conhecimento da prática. O acesso à informação/educação em saúde ainda é restrito à população brasileira[26]. Os achados encontrados apontam que esse acesso limitado reverbera na população pernambucana no que se refere ao conhecimento sobre fitoterapia.

Residir na Capital pernambucana esteve associado a um maior conhecimento sobre a fitoterapia, tendo o indivíduo que mora em qualquer outro município, quase três vezes mais chances de não conhecer a prática. A disponibilidade da prática tende a ser maior nos grandes centros urbanos com melhores condições socioeconômicas, como Sul e Sudeste, consequentemente gerando um maior contato de sua população com a assistência fitoterápica[8,27]. Tal fato mostra que os locais menos desenvolvidos do Estado requerem um olhar mais atencioso para o incentivo da educação em saúde sobre a fitoterapia. Essa mudança deve envolver tanto os gestores quanto os profissionais da assistência para a conscientização dos usuários[28].

Dentre as limitações do estudo cita-se o reduzido número amostral, ocasionado pela baixa adesão da população com a pesquisa. Também não houve como garantir representatividade da amostra, visto que o instrumento foi disponibilizado online, sem interação do pesquisador com o participante, o que impede o controle de quem responde ao instrumento. A partir dessa abordagem sobre o tema na região pôde-se oferecer uma visão mais ampla sobre o conhecimento da população sobre a fitoterapia. Os resultados mostrados aqui nortearão as políticas de saúde a nível estadual e municipal, para a ampliação do uso da prática no SUS.

Conclusão

Os achados mostraram que a fitoterapia é conhecida dentre 80,6% dos habitantes do Estado de Pernambuco. Todavia, há uma desigualdade no acesso à informação, visto que o conhecimento é significativamente maior dentre aqueles com melhores condições socioeconômicas e residentes na capital. Estratégias de educação em saúde para as populações mais vulneráveis e mais afastadas dos grandes centros urbanos contribuirão para a democratização da fitoterapia, trazendo benefícios a todos.

Fontes de Financiamento

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) (Código 001).

Conflito de Interesses

Não há conflito de interesses.

Agradecimentos

A todos que se dispuseram a ajudar na divulgação online do instrumento de coleta de dados.

Colaboradores

Concepção do estudo: ARSS; PHSS.
Curadoria dos dados: ARSS; PHSS.
Coleta de dados: ARSS; PHSS.
Análise dos dados: ARSS; PHSS.
Redação do manuscrito original: ARSS; PHSS.
Redação da revisão e edição: ARSS; PHSS.

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