FARMACOLOGIA / PHARMACOLOGY

Solidago chilensis Meyen (Asteraceae)

https://doi.org/2012.147 10.32712/2446-4775.2012.147

Valverde, Simone S.1*;
Oliveira, Temistocles B. de2;
Souza, Stefânia P. de3.
1,2Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Tecnologia em Fármacos - FarManguinhos /FIOCRUZ. Rua Sizenando Nabuco, 100 - Manguinhos. CER 21041-250 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
1,3lnstituto Militar de Engenharia (IME), Urea, Praia vermelha. CEP. 22290270 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
*Correspondência:
simonevalverde@far.fiocruz.br

Resumo

Solidago chilensis Meyen é uma espécie natural do Chile, com distribuição na América do Sul, incluindo o Nordeste, o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil. Sua utilização baseada na tradição popular aumenta de modo crescente, sendo suas inflorescências e raízes empregadas como anticefalálgico, no tratamento de contusões, como anti-inflamatória, principalmente como espécie sucedânea à espécie exógena, Arnica montana L., de onde advém sua sinonímia popular, arnica do Brasil. Flavonóides, diterpenos labdânicos e clerodânicos, saponinas, carotenóides, taninos, entre outras substâncias são descritas para o gênero Solidago.

Palavras chave:
Arnica do Brasil.
botânica.
química.
farmacologia.
Sistema Único de Saúde.
SUS.

Abstract

Solidago chilensis Meyen is a natural species in Chile, with distribution in South America, including the Northeast, Midwest, Southeast and Southern Brazil. Its use increases every day, based on folk tradition, and its inflorescences and roots are used mainly in the treatment of inflammatory conditions. This species is used as a substitute for exogenous species, Arnica montana L., from which it derives its popular synonym arnica, Brazil. Flavonoids, labdânicos and clerodane diterpenes, saponins, carotenoids, tannins and other substances are described for the genus Solidago .

Keywords:
Brazilian Arnica.
botanicals.
chemistry.
pharmacology.
Brazilian Unifled Health System.

Introdução

O gênero Solidago é o maior da família Asteraceae, compreendendo 120 espécies, a maior parte delas ocorre na América do Norte. Esse gênero foi descrito por Cari Linnaeus e significa "o que é firme" (Di Stasi, 2002). Esse taxon apresenta espécies com reconhecida atividade terapêutica e com a presença característica de diterpenos clerodânicos e labdânicos. (Schmeda-Hirshmann, 1988, Torres, Roque e Akisue, 1989). São principais representantes desse gênero, destacando-se pelo seu amplo emprego terapêutico como diurético (prevenindo a formação de cálculos renais ou facilitando a sua eliminação), anti-inflamatório e antiespasmódico leve, na América do Norte e na Europa: Solidago canadensis e Solidago virgaurea. (Alonso, 2004; Robbers e Tyler, 1999; Fetrow e Avila, 2000). Suas ações farmacológicas são atribuídas principalmente aos flavonóides e saponinas, ainda que, quando isolados, não apresentem as atividades observadas nos extratos que os contêm.

Solidago chilensis Meyen (Figura 1) vem sendo utilizada no Brasil, de modo não oficial em substituição à Arnica Montana, pela população e por empresas privadas e públicas.

Em março de 2010, o Ministério da Saúde (MS) divulgou uma lista contendo 71 plantas medicinais consideradas com potencial para gerar produtos de interesse do SUS (Sistema Único de Saúde), entre elas, encontra-se a Solidago chilensis Meyen, ainda com a sinoní-mia utilizada anteriormente, Solidago microglossa DC. O MS demonstra a necessidade de se subsidiar estudos comprobatórios de eficácia, do controle daquelas espécies e de medicamentos produzidos a partir delas para atender à população em relação ao uso seguro e à eficácia dos insumos farmacêuticos de origem vegetal. (Brasil, 2010 a,b)

Descrição Botânica

Solidago chilensis Meyen apresenta como sinonímias científicas: Solidago microglossa L., Solidago linearifolia DC., Solidago polyglossa DC., Solidago marginella DC., Solidago odora Hook., Solidago vulneraria Mart., Solidago nitidula Mart. É um subarbusto ereto, perene, entouceirado, rizomatoso, de 80 a 120cm de altura, de caule simples, não ramificado, com coloração verde clara na parte superior e verde acinzentada na inferior. Suas folhas são elípticas e obovadas, quase sésseis, alternas, inteiras e membranosas e ásperas ao toque medindo 10cm de comprimento e até 1,5cm de largura. A margem foliar é ligeiramente serrilhada na porção apical e quase lisa na porção basal. As inflorescências são grandes panículas com até 20cm de comprimento e de cor amarela, constituídas de oito a dez floretas tubulosas e dezoito a vinte floretas liguladas. (Oliveira et al, 1991; Lorenzi e Matos, 2002).

Figura 1: Solidago chilensis Meyen: seca; fresca e no cultivo da Plataforma Agroecológica de Fito-medicamentos (PAF)
Figura 1

Distribuição Geográfica

No Brasil, Solidago chilensis Meyen, encontra-se amplamente distribuída nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Figura 2) e tem como domínios fitogeográficos a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pampa brasileiros (Teles e Borges, 2010).

Figura 2: Distribuição Geográfica da Espécie Solidago chilensis Meyen no Brasil.
Figura 2
Fonte: Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Teles e Borges, 2010)

Uso Tradicional

Suas propriedades medicinais são descritas desde o século XIII, entretanto, sua utilização em fitoterapia se iniciou apenas no século XIX. (Digest, 2001). Muitos são os seus empregos pela população, sendo todos eles relacionados a condições inflamatórias, sendo seu principal uso na redução dos sintomas da inflamação como a dor e o edema no local, por isso as aplicações empíricas em substituição à Arnica montana L. Também é empregada como estimulante gastrointestinal, cicatrizante e como antisséptica. (Lorenzi e Matos, 2002; Alonso, 2004; Morel et al., 2006) Na região da Mata Atlântica, a planta é macerada em aguardente e este, é aplicado externamente contra dores musculares, edemas causados por pancadas, picadas de insetos e infecções, enquanto a decocção é usada internamente como sedativo e contra distúrbios digestivos. (Di Stasi et al., 2002)

Química

São descritos para Solidago chilensis Meyen, ainda com a sinonímia de S. microglossa, flavonóides como a quercetrina, a quercetina e a rutina, diterpenos clero-dânicos e labdânicos, como a solidagenona, desoxissolidagenona, solidagolactona e outros derivados do solidagolactol. (Torres, Roque e Akisue, 1989; Schme-da-Hirshmann, 1988) Também como S. microglossa, há a o estudo dos constituintes químicos presentes no óleo essencial obtido a partir de folhas frescas. (Dias, 2001; Gressler et al., 2003) Vila e colaboradores (2002) identificaram na composição química do óleo essencial de folhas e inflorescências de S. chilensis mono e sesquiterpenos comuns oxigenados e não oxigenados e dois diterpenos, o fitol e o pumilóxido.

Com a sinonímia Solidago odora, há a descrição de C10-ésteres acetilênicos e derivados fenilpropanóides isolados a partir das raízes. (Bohlmann etal., 1980) (Figura 3).

Figura 3: Substâncias Químicas Identificadas em Solidago chilensis Meyen.
Figura 3

Atividades Biológicas e Farmacológicas

Extratos de Solidago chilensis Meyen são descritos como antimicrobiano (Morel et al., 2006) e como anti-inflamatório local, no tratamento de edemas, e sistêmico atuando na migração leucocitária. (Tamura et al., 2009).

Os derivados fenólicos de S. chilensis são descritos como equivalentes do ácido gálico e os flavonóides como equivalentes da quercetina. Entre eles, o ácido gálico e a quercitrina foram identificados como os de maior concentração, enquanto a rutina e a quercetina, identificados como os de menor concentração. Também são descritos flavonóides derivados do kaempferol. Essas espécies apresentam atividade antio-xidante frente a radicais livres, na inibição de espécies reativas de oxigênio e na peroxidação lipídica (Sabir et al., 2012; Güntner et al., 1999).

Aos diterpenos labdânicos são atribuídas atividades biológicas e farmacológicas diversas, como atividade antifúngica, anti-inflamatória, antiulcerogênica, antileishmaniose, cardiotônica e citotóxica, além de serem inibidores de enzimas importantes do metabolismo humano. (Sharma et al., 1998; Torres, Akisue e Roque, 1987; Schmeda-Hirschmann et al., 2002, Schmeda-Hirschmann, Rodrigues e Astudillo, 2002; Goulart et al., 2007; Morel et al., 2006; Tamura et al., 2009; Russo e Garbarino, 2008).

A ausência de publicações acerca das atividades farmacológicas da espécie em discussão e de padrão ou substância de referência para a análise inequívoca de produtos à base de arnica brasileira provoca uma omissão generalizada em relação ao controle sanitário da sua comercialização.

Conclusão

Considerando a comercialização de produtos contendo arnica brasileira, as dificuldades na importação e no cultivo da Arnica montana L. em nosso país, a orientação para a utilização dessa espécie e seus produtos apenas externamente, devido aos seus alcalóides hepatotóxicos (Alonso, 2004) e, principalmente, a inclusão dessa espécie na lista de plantas medicinais de interesse do SUS, esse estudo contribui significativamente para o estudo e conhecimento da espécie Solidago chilensis Meyen.

Referências

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