REVISÃO
Plantas medicinais em comunidades quilombolas: revisão integrativa da literatura
Medicinal plants in quilombola communities: integrative literature review
Resumo
Os saberes tradicionais no uso de plantas medicinais de comunidades quilombolas são amplos e diversos e são estudados pela etnobotânica e/ou etnofarmacologia. Este trabalho tem como objetivo sintetizar o conhecimento etnobotânico de plantas medicinais de comunidades quilombolas. Trata-se de uma revisão integrativa realizada nas bases de dados Scopus, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online/US National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Institute for Scientific Information Web of Science. Identificaram-se 165 estudos, dos quais 16 atenderam os critérios de inclusão. Evidenciou-se um grande número e diversidade de espécies vegetais e indicações terapêuticas. Conclui-se que os saberes tradicionais quilombolas no uso de plantas medicinais possuem sustentação em racionalidades biomédicas e não biomédicas, como por exemplo, na medicina tradicional africana e indígena.
- Palavras-chave:
- Plantas medicinais.
- Fitoterapia.
- Medicina Tradicional.
- Quilombolas.
Abstract
The traditional knowledge in the use of medicinal plants of quilombola communities is wide and diverse and is studied by ethnobotany and/or ethnopharmacology. This paper aims to synthesize the ethnobotanical knowledge of medicinal plants from quilombola communities. This is an integrative review conducted in the Scopus, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online/US National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed), Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS) and Institute for Scientific Information Web of Science. A total of 165 studies were identified, of which 16 met the inclusion criteria. A large number and diversity of plant species and therapeutic indications were evidenced. We concluded that traditional quilombola knowledge in the use of medicinal plants is supported by biomedical and non-biomedical rationalities, such as traditional African and indigenous medicine.
- Keywords:
- Medicinal plants.
- Phytotherapy.
- Traditional Medicine.
- Quilombola communities.
Introdução
As plantas medicinais e os fitoterápicos possuem reconhecimento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e são objetos de uma política nacional que valoriza os saberes e as práticas populares, visando: melhorar a saúde, o uso sustentável da biodiversidade, o respeito à diversidade cultural e ambiental regional e a participação da comunidade[1].
Os principais instrumentos para o desenvolvimento dos programas com plantas medicinais e fitoterapia são: a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Essas políticas sustentam-se em recomendações da Organização Mundial de Saúde e nos princípios e diretrizes do SUS. Também possuem convergência com outras, como por exemplo, a Política Nacional de Atenção Básica, de Educação Permanente, de Assistência Farmacêutica, de Povos e Comunidades Tradicionais, de Biodiversidade e a Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior[2].
As plantas medicinais no cuidado são utilizadas nos sistemas oficiais de saúde, como prática de cunho científico, orientada pelo SUS. Na Atenção Básica em Saúde, em particular na Estratégia Saúde da Família (ESF) e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), pode contribuir no estabelecimento de diálogo e horizontalidade nas relações terapêuticas, e na ampliação das ofertas de cuidado[2].
O uso de plantas medicinais e seus derivados também se sustenta em um saber ancestral, articulado a várias culturas, distribuídas nas diferentes regiões e territórios do país, e com uma grande diversidade de povos e comunidades tradicionais, de distintas matrizes religiosas. Os quilombolas, em especial, são dotados de ampla experiência no uso de plantas medicinais, pois têm séculos de estreito contato e dependência da biodiversidade local como meio de subsistência e recurso terapêutico[3].
Estudos etnobotânicos e/ou etnofarmacológicos vêm sendo desenvolvidos e permitem compreender o aproveitamento e a interação do homem com o ambiente, assim como resgatar os saberes e as práticas tradicionais e suas potencialidades. Além disso, possibilitam registrar a composição florística local, o manejo e as etnocategorias de usos das plantas medicinais[4]. E, ainda, podem fornecer relevantes contribuições para a conservação da diversidade sociocultural e biológica das espécies vegetais[5].
Desse modo, este estudo tem como objetivo sintetizar o conhecimento etnobotânico de plantas medicinais de comunidades quilombolas.
Metodologia
O presente estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura, a qual possibilita reunir e sintetizar a produção do conhecimento, garantindo um aprofundamento teórico sob diferentes elementos de um mesmo tema. Foram percorridas as seis etapas, a seguir: identificação do tema, amostragem, categorização dos estudos, avaliação dos estudos incluídos, interpretação dos resultados e síntese do conhecimento[6].
Utilizou-se o Fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyzes (PRISMA) como referência para conduzir a pesquisa e relatar os resultados[7]. A busca nas bases de dados eletrônicas foi realizada em 18 de junho de 2022, sem restrição de período de publicação.
Foram incluídos estudos primários, publicados em português, inglês e espanhol, que abordassem o conhecimento etnobotânico de plantas medicinais de comunidades quilombolas. Os estudos teóricos, resumo de anais de congresso, livros, manuais e relatórios governamentais foram excluídos.
A pergunta de pesquisa analítica foi: "Quais são as evidências disponíveis sobre o conhecimento etnobotânico de plantas medicinais de comunidades quilombolas?" Foi elaborada com base na estratégia PICO[8], em que: População (P) - comunidades quilombolas; Intervenção (I) - conhecimento etnobotânico de plantas medicinais; Comparação (C) - não se aplica; e Desfecho (O, Outcome) - não se aplica.
Para a identificação dos estudos, foram utilizadas as bases de dados eletrônicas Scopus, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online/US National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Institute for Scientific Information Web of Science.
A estratégia de busca foi formulada de acordo com as especificidades de cada base de dados, utilizando os seguintes descritores controlados e/ou palavras-chave associados a operadores booleanos AND e OR: "Phytotherapy", "Plants Medicinal", "Medicine Traditional", "Quilombola", "Quilombo" e "Afro-Brazilian".
Após a busca nas bases de dados, os resultados foram exportados para o gerenciador de referências EndNote Basic, versão on-line, para a remoção das referências duplicadas[9]. Em seguida, os estudos foram avaliados, primeiramente, pelo título e resumo, a fim de verificar se os artigos atendiam aos critérios de elegibilidade. Os estudos elegíveis nesta etapa foram selecionados para a leitura na íntegra, e, em caso de dúvida, um segundo revisor com expertise na temática foi consultado.
Os dados dos estudos foram coletados utilizando um instrumento que contempla os seguintes elementos: referência, ano de publicação, país da revista, objetivo, delineamento do estudo, tamanho amostral e principais resultados. Esses dados foram analisados de forma qualitativa, sendo os estudos primários sintetizados de forma descritiva.
Por tratar-se de um estudo secundário, dispensa aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)[10]. Não houve conflitos de interesse que pudessem comprometer a análise dos resultados deste trabalho.
Resultados e Discussão
Nas bases de dados, foram identificados 165 estudos, sendo 14 excluídos por se apresentarem duplicados em pelo menos duas bases de dados, totalizando 151 estudos rastreados para leitura por título e resumo. Dentre estes, 111 foram excluídos após a leitura dos títulos e resumos, totalizando 40 estudos para leitura na íntegra. Após isso, 16 estudos foram selecionados para compor a revisão. A FIGURA 1 descreve as etapas do processo de identificação, seleção e inclusão dos estudos no formato PRISMA.
Na FIGURA 2, encontra-se a síntese narrativa dos artigos selecionados com as principais características e resultados dos estudos incluídos nesta revisão.
Autor, ano, revista (país) | Objetivo | Delineamento do estudo | Amostragem | Principais resultados |
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1. Rodrigues & Carlini (2004)[11] Phytother Res. (Inglaterra) | Realizar um levantamento do uso popular de plantas medicinais entre um grupo de quilombolas brasileiros cujas práticas terapêuticas envolvem uma combinação de cerimônias de cura e prescrição de plantas medicinais com possível efeito sobre o sistema nervoso central. | Estudo etnobotânico, utilizando questionários com perguntas abertas e entrevistas semiestruturadas. | Quatro curandeiros (dois homens e duas mulheres) residentes do quilombo Sesmaria Mata-Cavalos em Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso. | Os curandeiros utilizam 48 plantas para indicações terapêuticas relacionadas com o sistema nervoso central. Pertencem a 20 famílias taxonômicas, em sua maioria Asteraceae (quatro espécies registradas), Malpighiaceae (três espécies registradas), Cyperaceae (três espécies registradas), e Myrtaceae (três espécies registradas). Dessas plantas, 31 eram identificados ao nível da espécie e 17 apenas ao gênero. Dentre as 31 espécies identificadas, 25 são nativas do território brasileiro, cinco são exóticas, e uma é cosmopolita. Quase todas estas plantas são utilizadas em rituais, principalmente em cerimônias de cura. Na publicação, apenas 11 das 31 espécies identificadas foram citadas no artigo. |
2. Rodrigues & Carlini (2006)[12] J PsychoactDrugs. (EUA) | Identificar as plantas medicinais e seus usos por dois grupos de povos originários: Quilombolas e Tribo Krahô. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas, uso de questionário de perguntas abertas, observação e notas de campo. Três amostras de cada planta foram coletadas. Fotografias também foram tiradas. | Quatro curandeiros (dois homens e duas mulheres) do Quilombo Mata-Cavalos, Mato Grosso. | Foram obtidas informações sobre um total de 169 plantas que foram utilizadas na preparação de 345 prescrições para 68 doenças aparentemente do sistema nervoso central, classificadas como tônicos, analgésicos, anoréticos, alucinógenos e ansiolíticos. Cinco das 169 espécies indicadas foram listadas no artigo, uma vez que os usos que lhes são atribuídos pelas populações em consideração foram confirmados em estudos farmacológicos. Destas cinco espécies, quatro foram indicadas pelos quilombolas e uma pela Tribo Krahô. |
3. Rodrigues (2007)[13] J Ethnopharmacol. (Irlanda) | Descrever as plantas de uso restrito citados durante as pesquisas etnofarmacológicas realizadas com três culturas no Brasil, a saber: os caboclos-ribeirinhos (floresta amazônica bioma, Amazonas), os índios Krahô (cerrado, Tocantins) e os quilombolas (área de transição entre o cerrado e o pantanal de Poconé, Mato Grosso). | Pesquisa etnofarmacológica com entrevistas semiestruturadas. As amostras de espécies vegetais coletadas foram depositadas em herbários no Instituto Nacional de Pesquisa do Região Amazônica e no Instituto Botânico do Estado de São Paulo. Em uma segunda etapa, foi realizado um levantamento bibliográfico para verificar a existência de trabalhos anteriores que possam descrever algum tipo de toxicidade ou casos de reações adversas às espécies de plantas selecionadas. | 21 indivíduos residentes do quilombo Mata-Cavalos Sesmaria, Mato Grosso, sendo: três parteiras; dois curandeiros; um puxador (quiroprático tradicional); um médium (curandeiro que possui o poder de se comunicar com os espíritos visando fins terapêuticos); 12 especialistas em remédios caseiros; dois médiuns. | 366 espécies de plantas foram coletadas durante três pesquisas etnofarmacológicas, com 82 plantas dos quilombolas, 164 dos índios Krahô e 120 plantas da população cabocla, dos quais 57 (15,6%), apresentou pelo menos uma das seis seguintes restrições de uso: plantas abortivas, contraceptivos, plantas contraindicadas durante a gravidez, prescritos em doses menores para crianças e idosos, para parto fácil, como venenoso para animais e/ou humanos. 37 das 57 plantas estão contraindicadas para mulheres grávidas, incluindo os abortivos (13 plantas), os contraceptivos (10), aqueles para facilitar o parto (seis). |
4. Negri & Rodrigues (2010)[14] Rev Bras Farmacogn. (Brasil) | Identificar os compostos e princípios ativos que corroborem os usos do "Tira-Capeta", citados por Quilombolas em outros estudos. | Pesquisa etnofarmacológica e caracterização dos óleos essenciais liberados durante o aquecimento das plantas utilizadas na confecção do cigarro, usando método baseado em cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas. | Partes de nove plantas, utilizadas no cigarro "Tira-Capeta", foram coletadas por um pesquisador e um líder espiritual e político quilombola entrevistado, Sesmaria Mata-Cavalos, no estado de Mato Grosso. | Os resultados obtidos neste estudo mostraram que os principais óleos essenciais encontrados nas plantas utilizadas no cigarro "tira-capeta" foram 1,8-cineol, α-pineno e cânfora. Na tentativa de realizar uma correlação entre os constituintes e a atividade biológica deste óleo essencial usando artigos científicos, foi verificado que eles produzem a maioria dos efeitos descritos pelos quilombolas, para melhorar a memória e/ou cognição, contra sinusite, para evitar o resfriado e para aliviar problemas de sono. |
5. Oliveira et al. (2011)[15] Rev Bras Farmacogn. (Brasil) | Identificar parte do vasto conhecimento do povo quilombola de Oriximiná. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas, observação participativa e caminhadas na mata. Estudo voltado para a bioprospecção das plantas medicinais utilizadas por eles para doenças relacionadas à tuberculose. | 35 informantes-chave (20 mulheres e 15 homens) das comunidades quilombolas, a seguir: Bacabal e Arancuã-de-Cima da região de Trombetas, assim como Serrinha, Jauari, e Pancada da região de Erepecuru, Pará. | 34 informantes relacionaram 254 etnoespécies. Entre estas, 43 foram pesquisadas para possível atividade antimicobacteriana. Como resultado dessas informações, 10 espécies obtidas pela abordagem etnodirecionada (ETHNO) e 18 espécies obtidas pela abordagem aleatória (RANDOM) foram testadas contra Mycobacterium tuberculosis pelo método de microdiluição, utilizando a resazurina como indicador de viabilidade celular. Os melhores resultados para a atividade antimicobacteriana foram obtidos de algumas plantas selecionadas pela abordagem etnofarmacológica (50% ETHNO x 16,7% RANDOM). |
06. Oliveira et al. (2011)[16] Acta Amaz. (Brasil) | Realizar um estudo etnofarmacognóstico da saracuramirá (Ampelozizyphus amazonicus Ducke) em comunidades quilombolas de Oriximiná, Pará. | Análise etnobotânica quantitativa a partir de entrevistas semiestruturadas e estudos químicos e farmacológicos da saracuramirá. | 34 informantes-chave e especialistas locais das comunidades Pancada, Jauari e Serrinha, localizadas na área Erepecuru, e nas comunidades de Arancuã-do-Meio e Bacabal, na área Trombetas, Pará. | Verificou-se que saracuramirá apresentou-se dentre as 10 espécies mais versáteis pela elevada importância relativa (1,3), dentre as cinco espécies com maior importância cultural pelo elevado índice de saliência (0,311) e a espécie com maior concordância de uso principal para malária (85,7%). Uma análise do índice de espuma e do índice de hemólise para saracuramirá demonstra a presença de saponinas com elevado índice de espuma (833) e uma baixa atividade hemolítica (CH50 2,6 mg mL-1). Para realizar uma análise das agliconas das saponinas de saracuramirá, a bebida preparada pelo método tradicional quilombola (BMT) foi hidrolisada e, após reação com diazometano, foi analisada por cromatografia gasosa. Dois sinais majoritários foram caracterizados por espectrometria de massas, um referente a um triterpeno de esqueleto damarânico, característico das saponinas da saracuramirá, e outro referente ao éster metílico do ácido betulínico. Partindo das informações de uso popular da saracuramirá, foi avaliada in vitro a atividade inibidora da acetilcolinesterase. Apesar de BMT não ter mostrado atividade neste ensaio, é possível supor que as indicações de uso desta planta pelos quilombolas como fortificante e contra malária podem estar relacionadas a uma possível atividade adaptógena e imunoestimulante. |
07. Ferreira et al. (2014)[17] Rev Verde Agroecol Desenvolv Sustent. (Brasil) | Identificar as espécies medicinais utilizadas pela comunidade quilombola Carreiros, localizada na Zona da Mata Mineira, bem como traçar o perfil social das famílias desta comunidade. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas. Para fins de registro, foram coletadas duas amostras de cada planta citada pelos informantes. As plantas coletadas foram identificadas e depositadas no Laboratório de Ecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais. | 16 informantes (11 mulheres e 5 homens) do Quilombo Carreiros na comunidade Contendas no município de Mercês, Minas Gerais, sendo um representante de cada família da comunidade. | As mulheres aparentemente desempenham importante papel social e estão bastante envolvidas no conhecimento das plantas medicinais. Nota-se, que o conhecimento existente foi adquirido de forma empírica e é evidente entre as famílias a preocupação em repassar os conhecimentos tradicionais sobre o uso das plantas medicinais aos jovens. Dentre as principais espécies utilizadas pela comunidade estão: Citrus Sinensis L., Psidium guajava L., Leonurus sibiricus L., Citrus Limonia Osbeck., Carica sp., Vernonia condensata Backer, Sechuium edule (Jacq.) Sw, Sansevieria trifasciata Prain, Malpighia glabra L., e Saccharum zofficinarum L. |
08. Martins et al. (2014)[18] Scient World J. (Inglaterra) | Realizar um estudo etnobotânico envolvendo Arecaceae Schultz-Sch. (Palmae Juss.) em uma comunidade quilombola no município de Cavalcante, GO, Brasil. | Levantamento etnobotânico com entrevistas informais (fase 1); visita guiada e coleção botânica sistemática fotografadas, recolhidas, identificadas (fase 2); e seleção de amostra (fase 3). Nesta última fase, os dados etnobotânico foram coletados em uma entrevista semiestruturada. | 88 indivíduos (56 mulheres e 32 homens) da Comunidade Kalunga Engenho II do município de Cavalcante no estado de Goiás. | Os participantes citaram o uso medicinal para oito espécies. As seguintes partes são usadas para fins medicinais: estilete, folha (pecíolo, raque e folha inteira), frutos (mesocarpo, endocarpo, endosperma líquido e semente), raízes e palmitos. O óleo de mesocarpo foi a parte medicinal mais frequentemente citada, seguido pelo óleo de semente, palmito e raiz. A principal indicação terapêutica das palmas foi para o tratamento de doenças respiratórias, como gripe e pneumonia. O segundo uso mais comum é contra as picadas de cobra. Duas espécies compartilham estes dois usos, a palmeira Buriti (Mauritia flexuosa) e a Macaúba (Acrocomia aculeata). Duas espécies foram utilizadas para a dor de dentes, Macaúba e Indaia (Attalea compta). |
09. Gomes-Neto et al. (2014)[19] Rev Bras Pl Medic. (Brasil) | Analisar o conhecimento tradicional da população rural do Sisal, Catu/Bahia, relacionado ao uso de plantas medicinais. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas e estruturadas, gravações, registros fotográficos, coleta de material botânico, tratamento do material coletado e incorporação ao Herbário da Universidade do Estado da Bahia. | Seis informantes-chave (quatro homens e duas mulheres) da comunidade do Sisal no município de Catu, Bahia. | Foram identificadas e coletadas 54 espécies distribuídas em 46 gêneros e 28 famílias, sendo Lamiacaeae e Asteraceae as mais representativas. A maioria das plantas é constituída de ervas e cultivada nos quintais dos moradores. O estudo revelou que a comunidade apresenta uma medicina popular bastante rica, com grande diversidade de espécies vegetais e usos por parte da população. |
10. Oliveira et al. (2014)[20] Rev Bras Farmocogn. (Brasil) | Contribuir para a conhecimento de L. origanoides através de uma pesquisa etnobotânica realizada dentro de comunidades quilombolas de Oriximiná, Pará. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas, observação participativa e caminhadas na mata. Além disso, alguns ensaios foram realizados a fim de verificar a atividade antinociceptiva que poderiam contribuir para explicar alguns de seus usos populares. | 35 quilombolas (20 mulheres e 15 homens) das comunidades quilombolas, a seguir: Bacabal e Arancuã-de-Cima da região de Trombetas, assim como Serrinha, Jauari, e Pancada da região de Erepecuru, Pará. | Os principais usos acordados foram para tratar cólicas menstruais, dor de estômago e cólicas de bebê e pós-parto. Isto poderia indicam um consenso dos informantes sobre possíveis antiespasmódicos, anti-inflamatórios e atividades analgésicas de L. origanoides. Portanto, as atividades anti-inflamatórias e analgésicas de L. origanoides (partes aéreas) foram avaliadas por meio de extrato térmico (placa quente) e químico (formalina e ácido acético), modelos de nocicepção. Uma redução dose-dependente da dose de acético após o tratamento de ratos com extrato de L. origanoides foi observada uma contorção induzida por ácido. O mesmo extrato também inibiu significativamente a resposta à lambedura induzida por formalina e provou têm um efeito antinociceptivo central, no teste da placa quente. Este trabalho demonstra que L. origanoides é usado especialmente por mulheres quilombolas de Oriximiná para distúrbios do sistema geniturinário e que as atividades biológicas desta espécie poderiam contribuir para estes usos. Além disso, também foram observados usos antiespasmódicos, analgésicos e antimicrobianos de outras espécies do gênero Lippia (Goniostachyum), rica em timol e carvacrol. |
11. Oliveira et al. (2015)[21] J Ethnopharmacol. (Irlanda) | Selecionar plantas usadas medicinalmente para tratar a malária e a febre pela abordagem etnofarmacológica nas comunidades quilombolas de Oriximiná e avaliar a atividade antiplasmodial in vitro de certas plantas com relevância cultural em comunidades quilombolas tradicionais de Oriximiná, na região amazônica do Brasil. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas, observação participativa e caminhadas na mata. | 35 quilombolas (20 mulheres e 15 homens) das comunidades quilombolas, a saber: Bacabal e Arancuã-de-Cima da região de Trombetas e Serrinha, Jauari e Pancada, da região de Erepecuru, Pará. | 35 etnoespécies compreendendo 40 plantas diferentes pertencentes a 23 famílias botânicas e 37 gêneros foram listadas como antimaláricas pela abordagem etno-direcionada. Entre estas, 11 espécies selecionadas com base em seu índice de saliência (S) foram testadas contra o P. falciparum. Os extratos vegetais mais ativos, com uma atividade antiplosmodial (IC50) tão baixo quanto 1,6 μg/mL, foram obtidos de Aspidosperma rigidum (Apocynaceae), Bertholletia excelsa (Lecythidaceae) e Simaba cedron (Simaroubaceae), todos com um valor S > 1. |
12. Oliveira (2015)[22] Rev Verde Agroecol Desenvolv Sustent. (Brasil) | Realizar um levantamento do uso popular de plantas medicinais por mulheres da Comunidade Quilombola de Furadinho em Vitória da Conquista, Bahia. | Estudo etnobotânico através de entrevistas semiestruturadas. As plantas citadas e encontradas na residência das entrevistadas ou em locais próximos, foram fotografadas, acondicionadas sob forma de exsicatas e identificadas através de consulta a material bibliográfico e ao herbário virtual Reflora. | 14 mulheres comunidade Quilombola de Furadinho | Verificado um vasto conhecimento relacionado ao uso de plantas medicinais entre as mulheres entrevistadas, sendo que este por sua vez foi adquirido de forma oral através de pais e avós. As plantas medicinais utilizadas são em sua maioria cultivadas em quintais, sendo as folhas a parte mais utilizada nas preparações medicamentosas, e a principal forma de preparo são os chás. Foram identificadas 30 plantas com fins medicinais e terapêuticos, sendo a Erva cidreira, o Capim santo, o Hortelã grosso, a Arruda e a Erva doce as mais utilizadas. |
13. Santana et al. (2016)[23] J Ethnopharmacol. (Irlanda) | Explorar a etnofarmacologia da comunidade quilombola Salamina Putumuju em Maragogipe, Bahia. | Estudo etnobotânico a partir de entrevistas semiestruturadas, caminhadas na mata e identificação espécies. Todas as espécies coletadas foram validadas e depositadas no Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana. As plantas medicinais que não puderam ser coletadas, foram fotografas para confirmação de possíveis nomes biológicos. | 74 indivíduos (37 homens e 37 mulheres) da comunidade quilombola Salamina Putumuju em Maragogipe, Bahia | Registramos 118 espécies de plantas medicinais distribuídas em 100 gêneros e 51 famílias. As famílias mais bem representadas foram: Asteraceae, Fabaceae, Lamiaceae e Myrtaceae. A maioria dos remédios vegetais era utilizada para tratar problemas respiratórios, digestivos, geniturinários e de pele. A forma de vida medicinal mais comum era a de ervas (44%), seguida por árvores (28%) e arbustos (18%). As espécies nativas (55%) foram utilizadas um pouco mais que as espécies exóticas (45%), e as espécies não cultivadas (51%) foram ligeiramente mais numerosas do que as espécies cultivadas (49%). Apesar da abundância de florestas nas proximidades, as trilhas e os jardins eram os locais de coleta mais comuns. Uma média de 13,2 espécies de plantas medicinais foram citadas por participante. O maior Índice de Valor Cultural (CV) foi registrado para Cymbopogon citratus (0,20) seguido por Lippia alba (0,19) e Stryphnodendron cf. adstringens (0,17). O maior Índice de Frequência Relativa (RF) incluía C. citratus (0,69), L. alba (0,59), e Eugenia uniflora (0,55). Os maiores valores de índice de valor de uso (UV) foram registrados para S. cf. adstringens (1,68), seguido por Sida cf. cordifolia (0,97) e C. citratus (0,93). 15 espécies (13%) desta flora medicinal quilombola relacionam-se a sua ancestralidade ou tradições de cura derivadas da África. |
14. Conde et al. (2017)[24] PloS ONE (EUA) | Avaliar os usos, conhecimentos e conservação das plantas em duas comunidades Quilombolas na Mata Atlântica do Brasil, São Sebastião da Boa Vista (SSBV) e São Bento (SB). | Pesquisa etnobotânica com observação participante, entrevistas semiestruturadas e grupo focal de discussão. Também foi feita coleta de espécies in vivo pelo método "caminhada na floresta" com especialistas locais. Os espécimes foram preparados e identificados por especialistas na Universidade Federal de Juiz de Fora e depositadas no Herbário Leopoldo Krieger. | 13 indivíduos (nove mulheres e quatro homens) participantes de São Sebastião da Boa Vista e São Bento do município de Santos Dumont, Minas Gerais. | 13 especialistas descreveram os nomes e usos de 212 espécies em SSBV (105 espécies nativas) e 221 em SB (96 espécies nativas). A diversidade da Shannon Wiener e os índices de Equitabilidade de Pielou de conhecimento etnobotânico das espécies eram muito elevados (5,27/0,96 e 5,28/0,96, respectivamente). As espécies com maior significado cultural e índices de valor de uso em SSBV foram Dalbergia hortensis (26/2.14), Eremanthus erythropappus (6.88/1), e Tibouchina granulosa (6.02/1); enquanto Piptadenia gonoacantha (3.32/1), Sparattosperma leucanthum (3.32/1) e Cecropia glaziovii (3.32/0.67) foram as mais altas em SB. 33 espécies nativas foram classificadas na categoria de maior prioridade de conservação na SSBV e 31 na SB. D. hortensis foi notável devido a sua importância cultural extremamente alta na SSBV, e sua categorização como prioridade de conservação em ambas as comunidades. |
15. Yasbek et al. (2019)[25] J Ethnopharmacol (Irlanda) | Investigar os fatores relacionados à eficiência terapêutica de plantas medicinais na perspectiva dos moradores do Quilombo. Avaliar os efeitos da pesquisa participativa. | Levantamento etnofarmacológico através de uma pesquisa participativa com entrevistas, observação participativa (caminhada na floresta), diários de campo, coleta e identificação de plantas e encontro com a comunidade chamado "troca de conhecimento". Os espécimes foram prensados secos e levados para o Herbário Municipal para identificação. | Oito participantes (cinco mulheres e três homens), do Quilombo da Fazenda em Ubatuba, São Paulo. | Oito entrevistados mencionaram 92 espécies medicinais com 60 usos terapêuticos, aplicados em 208 receitas ou remédios. Asteraceae (13 espécies), Lamiaceae (5) e Urticaceae (5) contribuíram com a maioria das espécies de plantas medicinais. Das 12 categorias de uso, a categoria do sistema circulatório teve o maior número de plantas mencionadas. A decocção foi o método de preparação mais comumente utilizado (66,8%), e a maioria dos remédios foi administrada oralmente (76,4%). 86 receitas incluíram mais de uma espécie vegetal e/ou a adição de outros componentes, tais como açúcar, sal ou produtos animais. Vários fatores culturais influenciam o uso de plantas medicinais. |
16. Magalhães et al. (2022)[26] Braz JBiol (Brasil) | Levantar as características socioambientais e estudo etnobotânico de plantas medicinais utilizadas em uma comunidade tradicional do nordeste brasileiro, Alagoas. | Estudo transversal, exploratório-descritivo, com aplicação de questionário socioeconômico e sobre a diversidade das plantas utilizadas como medicinais. Entrevistas, coleta de espécimes através de visitas guiadas e catalogação de amostras para identificação botânica no Instituto do Meio Ambiente de Alagoas. | 24 entrevistados, compostos por moradores da comunidade Quilombola Pau D'arco da cidade de Arapiraca, Alagoas. | Foram mencionadas 30 espécies de plantas utilizadas para fins fitoterápicos, com maior utilização e número de espécies contra a hipertensão arterial (Salvia rosmarinus Schleid), diabetes Mellitus (Croton heliotropiifolius Kunth), dor e inflamação (Alternanthera tenella Colla). O chá é a principal forma de preparação das plantas. Percebe-se que as plantas medicinais são amplamente utilizadas por esta comunidade quilombola e o crescimento das culturas no quintal são considerados uma tradição. |
Fonte: Elaboração própria. |
Os estudos primários da amostra final foram publicados entre 2004 e 2022, com quatro publicações em 2014, duas em 2011 e 2015 e uma em 2004, 2006, 2007, 2010, 2016, 2017, 2019 e 2022.
No que se refere ao idioma e origem do periódico, a maioria dos estudos (n=12) foi publicado na língua inglesa, tendo 8 em periódicos do Brasil e 8 em periódicos da Irlanda (n=4), EUA (n=2) e Inglaterra (n=2).
Em relação aos autores dos estudos observou-se um maior número de publicações de Eliana Rodrigues (n=6), professora titular da Universidade Federal de São Paulo - Campus Diadema e de Danilo Ribeiro de Oliveira (n=4), professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A amostra foi composta de estudos etnobotânicos (n=11), etnofarmacológicos (n=3) e transversal (n=1). A maioria citou a coleta de espécimes para a identificação e/ou depósito em herbário (n=15). Destes, cinco desenvolveram uma etapa laboratorial. Em relação aos participantes da pesquisa, houve uma variação entre 1 e 88 quilombolas, de comunidade localizadas em Mato Grosso (n=4), Pará (n=4), Bahia (n=3), Minas Gerais (n=2), Goiás (n=1), São Paulo (n=1) e Alagoas (n=1).
Os estudos identificaram uma grande variedade de plantas utilizadas na medicina tradicional dos quilombolas. A FIGURA 3 apresenta as principais espécies vegetais utilizadas (n=108), com a respectiva classificação taxonômica. Cabe mencionar que as espécies citadas apenas em um artigo não foram incluídas na figura.
Nome científico | Nome popular | Indicação terapêutica citada pelos quilombolas | Farmacopeia brasileira - código oficial farmacêutico do País[27] | Referências |
---|---|---|---|---|
PETIVERIACEAE Petiveria alliacea L. | Erva-guiné, guiné, pipi, tipi, macuracaá | Alterar a mente, descarrego, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, revigora e dá energia | - | [11,12,14,17,19,22,26] |
RUTACEAE Ruta graveolens L. | Arruda | Melhorar a memória e/ou cognição sinusite, evitar frio (resfriado), aliviar problemas de sono, pneumonia, tosse, doença do peito, indicações gerais, infecções dos olhos, febre, malária, dor de cabeça, dores no corpo, prevenir doenças, fraqueza, dor, mau-olhado, proteção espiritual, atraso na menstruação | - | [14-17,21-23] |
LAMIACEAE Plectranthus barbatus Andrews | Boldo, tapete do oxalá, melhoral, boldo-com-pelo | Dor de barriga, dores musculares, indigestão, fígado, ressaca, enxaqueca, malária, anemia, estômago, abortivo | Auxiliar no alívio dos sintomas dispépticos[27] | [17,19,21-23,25] |
VERBENACEAE Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson | Erva cidreira, melissa, cidrão, ponta-livre, beladona | Dor de barriga, pressão arterial, calmante, digestão, gripe, dores, alívio do estresse, tosse, cólica, indigestão, gases, colesterol alto, febre, diabetes | Auxiliar no alívio da ansiedade leve; como antiespasmódico; e como antidispéptico[27] | [19,22,23-26] |
POACEAE Cymbopogon citratus (DC.) Stapf | Capim santo, capim da lapa | Pressão alta, acalmar, febre, gripe, tosse, alívio do estresse, inflamação, colesterol alto, indigestão | Como antiespasmódico, auxiliar no alívio de sintomas decorrentes da dismenorreia leve (cólica menstrual leve) e cólicas intestinais leves; como auxiliar no alívio da ansiedade e insônia leves[27] | [11,12,19,22,23] |
FABACEAE CAESALPINIOIDEAE Senna occidentali (L.) Link | Fedegoso, paramagioba, camacho | Contraindicado na gravidez, gripe, malária, anemia, febre, dor de cabeça, menstruação atrasa, frieira | - | [11,13,19,21,23] |
LAMIACEAE Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. | Hortelã-grande/ graúda/ grosso, hortelã-castelo, hortelã-de-carne | Tosse, pneumonia, gripe, indigestão, problemas respiratórios, gases, inflamação, alívio do estresse, congestão nasal | - | [15,19,22,23,25] |
MYRTACEAE Psidium guajava L. | Goiabeira, goiaba, goiaba branca | Tosse, diarreia, dor de barriga | Auxiliar no tratamento da diarreia leve não infecciosa[27] | [15,17,19,23,25] |
ASTERACEAE Bidens pilosa L. | Picão-preto, picão | Hepatite, emagrecedor, inflamação dentária, anemia | Auxiliar no tratamento sintomático da icterícia, desde que situações graves tenham sido descartadas por um médico[27] | [17,19,23-25] |
MYRTACEAE Eugenia uniflora L. | Pitanga | Dor de barriga, gripe, febre, mau-olhado, tosse, inflamação da garganta, inflamação dentária, dor de cabeça, dor de garganta | Auxiliar no alívio sintomático da diarreia leve não infecciosa[27] | [17,19,22,23,25] |
CARICACEAE Carica papaya L. | Mamão macho, mamão | Gastrite, malária, fígado, para limpar o intestino, náusea, vômito, mal-estar, anemia, problema no baço, estômago, constipação, cólica, micose, verminose, tosse | - | [19,21-23,25] |
ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. | Cajueiro, caju | Pneumonia, tosse, inflamação dentária, gripe, inflamação nasal, inflamação geral, diabetes, ferida, doenças da coluna vertebral, afrodisíaco, picada de cobra, edema, hemorroida, trauma ósseo | Auxiliar no alívio sintomático da diarreia leve não infecciosa[27] | [15,23-25] |
AMARANTHACEAE Chenopodium ambrosioides L. | Mastruz | Tosse, pneumonia, tuberculose, indicações gerais, verminose, machucado | - | [15,16,19,22] |
LABIATAE Ocimum gratissimum L. | Alfavaca, quioio, favacão | Calmante, pressão alta, moleza no corpo (indisposição), dores no corpo, coceira, frieira, colesterol alto, dor de dente, emagrecedor, gripe, tosse | - | [17,19,23,25] |
AGAVACEAE Sansevieria trifasciata Prain | Espada de São Jorge, espada-de-Ogum | Banho de proteção, descarrego, proteção espiritual, revigora e dá energia | - | [17,22,23,26] |
MALPIGHIACEAE Malpighia glabra L. | Acerola | Gripe, febre | - | [17,19,23,24] |
EUPHORBIACEAE Phyllanthus niruri L. | Quebra pedra, quebra-pedra-branca | Cálculo renal, doenças renais, doença cardíaca, gripe, inflamação, diabetes | Auxiliar no aumento do fluxo urinário, atuando como adjuvante no tratamento de queixas urinárias leves[27] | [19,23,25,26] |
AMARANTHACEAE Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants | Mastruz, Santa Maria, mentruz | Verminose, congestionamento nasal, gripe, tosse, inflamação geral, trauma, problemas de próstata, mal-estar, cólica, feridas | - | [23-26] |
RUTACEAE Citrus sinensis (L.) Osbeck | Laranja | Gripe | - | [11,17,25] |
ALLIACEAE Allium sativum L. | Alho | Melhorar a memória e/ou cognição, sinusite, evitar frio (resfriado), aliviar problemas de sono, tosse, gripe, inflamação, cólica, gazes, furúnculo, dor de cabeça, descarrego, derrame | Auxiliar na prevenção de alterações ateroscleróticas (idade dependente); alívio dos sintomas associados às afecções das vias aéreas superiores (IVAS) e na congestão nasal decorrente do acúmulo excessivo de muco; alívio de sintomas do resfriado comum[27] | [14,15,23] |
EUPHORBIACEAE Jatropha curcas L. | Peão-branco | Pneumonia, tuberculose, tosse, indicações gerais, purgativo, malária, emético, falta de apetite | - | [15,16,21] |
RHAMNACEAE Ampelozizyphus amazonicus Ducke | Saracuramirá, cervejinha, cervejeira, cerveja-do-mato, cerveja-de-índio | Malária, doenças do fígado, tônico para os nervos, depurativo do sangue, memória, anemia, dores estomacais, indisposição, inflamação de próstata, falta de apetite, intoxicação, distúrbios renais, diabetes, afrodisíaco, purgativo | - | [15,16,21] |
APOCYNACEAE Aspidosperma rigidum Rusby | Carapanaúba | Malária, fígado, febre, enxaqueca, dores no corpo | - | [15,16,21] |
ANNONACEAE Annona muricata L. | Graviola | Diabetes, distúrbios renais | - | [17,23,25] |
ALOACEAE Aloe vera (L.) Burm. f. | Babosa | Câncer, estômago, cicatrizante, cuidados com o cabelo | Como cicatrizante nos casos de ferimentos leves, desordens inflamatórias na pele, incluindo queimaduras (de 1º e 2º grau), escoriações e abrasões[27] | [17,22,23] |
ASTERACEAE Solidago chilensis Meyer | Arnica | Inflamação, dor nas costas, dores, torções | - | [17,24,26] |
LAMIACEAE Ocimum basilicum L. | Manjericão, alfavaca, sambacaitá, favaca-de-vaqueiro | Palpitação no coração, gripe em crianças, congestão nasal, atraso na menstruação, indigestão, febre, inflamação, câimbras, calmante | - | [17,23,26] |
RUTACEAE Citrus limonia Osbeck. | Limão, limão-cravo | Gripe, diarreia, tosse, dor de garganta | - | [17,23,25] |
PLANTAGINACEAE Plantago major L. | Transagem da horta, trançagem, transagem | Garganta inflamada, inflamação, infecção do útero, sistema urinário e ovário, câncer | Auxiliar no tratamento sintomático decorrente de afecções da cavidade oral como anti-inflamatório e antisséptico[27] | [17,22,26] |
RUTACEAE Citrus aurantium L. | Laranjeira, laranja-da-terra | Gripe, fígado, malária, anemia, fraqueza, dor de cabeça, enxaqueca, tosse, febre, distúrbios renais, dor de cabeça, indigestão | Auxiliar no alívio da ansiedade e insônia leves[27] | [19,21,23] |
PLANTAGINACEAE Scoparia dulcis L. | Vassoura-mofina, vassoura-santa, vassoura-de-relógio, vassoura de Nossa Senhora | Dor de barriga, proteção espiritual, coceira, derrame, queda do cabelo, gripe, diarreia, febre | - | [19,23,24] |
ASTERACEAE Gymnanthemum amygdalinum (Delile) Sch.Bip. ex Walp. | Figatil, alumã, boldo-sem-pelo | Fígado, malária, enxaqueca, cólica, indigestão, abortivo, restauração capilar, inflamação da garganta, gripe, febre, verminose, dor em geral, atraso na menstruação | - | [21,23,25] |
PASSIFLORACEAE Passiflora cf. edulis Sims | Maracujá | Calmante, alívio do estresse | - | [22-24] |
AMARANTHACEAE Alternanthera cf. Brasiliana (L.) Kuntze | Benzetacil, amoxilina, antibiótico de horta, terramicina | Cólica, inflamação, ferida, dor de cabeça, gripe, dor em geral, infecção urinária | Auxiliar no alívio da febre desde que situações graves tenham sido descartadas por um médico[27] | [23-25] |
ASTERACEAE Ageratum conyzoides L. subsp. conyzoides | Mentrasto, erva de São João | Febre, dor do parto, limpeza pós-parto (para limpar a mulher dentro), dores no corpo, hematoma, resfriado, trauma ósseo, regular a menstruação | - | [23-25] |
BIGNONIACEAE Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. | - | Dor de cabeça | - | [11,12] |
MALPIGHIACEAE Heteropterys afrodisiaca Machado | Nó-de-cachorro | Rejuvenescimento | - | [11,12] |
MORACEAE Brosimum cf. gaudichaudii Trécul | Algodãozinho | Contraindicado na gravidez | - | [11,13] |
MALVACEAE Guazuma ulmifolia Lam. | Chico-magro | Contraindicado na gravidez | - | [11,13] |
LYTHRACEAE Lafoensia pacari A. St.-Hil. | Mangava-brava | Contraindicado na gravidez | - | [11,13] |
FLACOURTIACEAE Casearia sylvestris Sw. var. sylvestris | Erva lagarto | Ritualístico | Auxiliar no alívio de sintomas dispépticos[27] | [11,24] |
LAMIACEAE Hyptis cana Pohl ex Benth. | Hortelã-da-várzea | Abortiva, contraindicado na gravidez | - | [13,14] |
MYRTACEAE Eucalyptus globulus Labill. | Eucalipto | Melhorar a memória e/ou cognição, sinusite, evitar frio (resfriado), aliviar problemas de sono, gripe | Auxiliar no alívio da tosse produtiva associada ao resfriado comum; alívio da tosse produtiva associada ao resfriado comum[27] | [14,23] |
MYRTACEAE Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M. Perry. | Cravo-da-índia, cravo | Melhorar a memória e/ou cognição, sinusite, evitar frio (resfriado), aliviar problemas de sono, inflamação da garganta, abortivo | - | [15,23] |
FABACEAE Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. | Cumaru | Pneumonia, tosse, tuberculose, indicações gerais, memória | - | [15,16] |
FABACEAE CAESALPINIOIDEAE Hymenaea courbaril L. | Jutaí | Tosse, rouquidão, tuberculose, pneumonia, indicações gerais | - | [15,16] |
FABACEAE Hymenaea intermedia Ducke | Jutaí Pororoca, jutaí, jatobá | Tosse, rouquidão, tuberculose, pneumonia, memória | - | [15,16] |
APOCYNACEAE Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll.Arg.) Woodson | Sucuuba | Tosse, pneumonia, doença do peito, malária, fortificante | - | [15, 21] |
APIACEAE Eryngium foetidum L. | Chicória, coentro-natural | Tosse, picada de cobra | - | [15,25] |
LECYTHIDACEAE Bertholletia excelsa Bonpl. | Castanheira, castanha-do-pará | Pneumonia, tosse, malária | - | [15,16] |
CUCURBITACEAE Luffa operculata (L.) Cogn. | Cabacinha | Pneumonia, tosse, emético, malária | - | [15, 21] |
MELIACEAE Carapa guianensis Aubl. | Andiroba | Tosse, pneumonia, doença do peito, malária | - | [15, 21] |
ACANTHACEAE Justicia pectoralis Jacq. | Trevo-cumaru, doril | Pneumonia, gripe, dor de cabeça | Auxiliar como expectorante[27] | [15,25] |
FABACEAE Dalbergia riedelii (Benth.) Sandwith | Verônica | Pneumonia, malária, anemia | - | [15, 21] |
SOLANACEAE Physalis angulata L. | Gamapú, camapu | Pneumonia, fígado, anemia, hepatite, malária | - | [15, 21] |
PEDALIACEAE Sesamum indicum L. | Gergelim | Dores no peito, malária | - | [15, 21] |
MELIACEAE Cedrela cf. odorata L. | Cedro | Pneumonia, malária | - | [15,21] |
CAESALPINIACEAE Caesalpinia ferrea Mart. | Jucá, pau ferro | Catarro, tosse, gripe, rins | Como cicatrizante e antisséptico[27] | [15,22] |
ALLIACEAE Allium cepa L. | Cebola | Tosse, gripe, indigestão | - | [15,23] |
VERBENACEAE Lippia origanoides Kunth | Salva-de-marajó | Pulmão, corrimento vaginal, ducha vaginal, pneumonia, tuberculose, calmante, inflamação de garganta, gases, dor de estômago, cólicas de bebês, inflamação uterina, para limpar o sangue menstrual retido, limpeza pós-parto (para limpar a mulher dentro), cólica pós-parto, vento caído em cordão umbilical, cólicas menstruais | Como antisséptico orofaríngeo, nas afecções da pele, e nas afecções do couro cabeludo[27] | [15,20] |
MORACEAE Brosimum sp. | Mururé, amapá-amargo | Prevenir a malária, fortalecer o sangue | - | [15,21] |
HUMIRIACEAE Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. | Uxi-Liso | Malária, doenças hepáticas, anemia | - | [15,21] |
APOCYNACEAE Aspidosperma excelsum Benth. | Carapanaúba | Malária, fígado, febre, enxaqueca, dores no corpo | - | [15,21] |
APOCYNACEAE Geissospermum argenteum Woodson | Quinarana | Malária, fígado, hepatite | - | [16,21] |
SIMAROUBACEAE Simaba cedron Planch. | Pau-paratudo | Malária | - | [16,21] |
ARECACEAE Cocos nucifera L. | Coco-verde, coco | Memória, diarreia, distúrbios renais, dor de dente, incontinência urinária | - | [16,23] |
ASTERACEAE Baccharis trimera (Less.) DC. | Carqueja | Tonificante dos cabelos, diabetes | Auxiliar no alívio de sintomas dispépticos[27] | [17,22] |
EUPHORBIACEAE Euphorbia tirucalli L. | São Sebastião, gravetinho | Berne, câncer, úlcera, gastrite | - | [17,19] |
EUPHORBIACEAE Ricinus communis L. | Mamona | Curar umbigo de bebê, indigestão | - | [17,23] |
FABACEAE Cajanus cajan (L.) Millsp. | Feijão guandu, feijão-andu | Dor de dente, dor de cabeça, labirintite, depressão, pressão alta | - | [17,26] |
POACEAE Saccharum officinarum L. | Cana-de-açúcar, cana | Gripe, dor de garganta, expectorante, pressão alta | - | [17,25] |
LAMIACEAE Mentha sp. | Hortelã, alevante, hortelã-de-bicha | Calmante, gripe, verminose em crianças | - | [17,25] |
LAMIACEAE Mentha villosa Huds. | Hortelã, hortelã miúdo | Gripe, gases | - | [17,22] |
LAMIACEAE Mentha pulegium L. | Poejo | Dor de barriga, expectorante, dor de garganta | - | [17,25] |
LAMIACEAE Hyptis sp. | Erva cidreira da horta rasteira, alfazema | Pressão alta, dor de cabeça, cólica | - | [17,19] |
ADOXACEAE Sambucus australis Cham. & Schltdl. | Sabugueiro | Gripe, febre, sarampo | Auxiliar no tratamento dos sintomas decorrentes de gripe e resfriado comum[27] | [19,22] |
AMARANTHACEAE Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen | Anador, novalgina | Dor de cabeça, gripe, febre | - | [19,25] |
ANACARDIACEAE Schinus terebinthifolius Raddi | Aroeira | Inflamação e doenças de pele, diarreia, ferida, coceira, inflamação dentária, febre, inflamação, gripe, proteção espiritual | - | [19,23] |
ASTERACEAE Acanthospermum hispidum DC. | Juiz de Paz, boticudo, mané-velho | Inflamação, inflamação dentária, coceira, febre em crianças, frieira | - | [19,23] |
BORAGINACEAE Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult. | Maria Preta, rompe-gibão | Sinusite, gripe, congestão nasal, tosse, gastrite, constipação | Auxiliar no alívio de sintomas decorrentes de processos inflamatórios localizados[27] | [19,23] |
VIOLACEAE Hybanthus calceolaria (L.) Oken | Purga do campo | Diarreia, inflamação, cólica, indigestão | - | [19,23] |
CONVOLVULACEAE Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem. & Schult. | Batata de boi, salsa-brava | Dor de dente, feridas | - | [19,23] |
CUCURBITACEAE Momordica charantia L. | Melão de São Caetano, melãozinho-do-mato | Verminose, indigestão, úlcera, sarna | - | [19, 23] |
CYPERACEAE Rhynchospora cf. nervosa (Vahl) Boeckeler | Capim estrela | Gripe, congestão nasal, inflamação dentária | - | [19,23] |
EUPHORBIACEAE Cnidoscolus cf. urens (L.) Arthur | Cansanção | Gripe, inflamação dental | - | [19,23] |
LAMIACEAE Ocimum sp. | Manjericão | Dor de ouvido, proteção espiritual | - | [19,23] |
MALVACEAE Pavonia cancellata (L.) Cav. | Escorredeira, baba-de-boi | Tratamento capilar, diarreia | - | [19,23] |
MALVACEAE Sida linifolia Juss. ex Cav. | Língua de tatu, língua-de-vaca | Furúnculo, ferida, gripe | - | [19,23] |
RUBIACEAE Spermacoce verticillata L. | Carqueja | Dor de barriga, primeira dentição, emagrecedor, gripe, inflamação da garganta, dor de dente, febre | - | [19,23] |
RUTACEAE Ertela trifolia (L.) Kuntze | Alfavaca de cobra, maricotinha | Causa impotência sexual, gripe | - | [19,23] |
LAURACEAE Cinnamomum verum J. Presl | Canela | Fraqueza, dor de cabeça, enxaqueca, fígado, malária, gases | Auxiliar no tratamento sintomático de queixas gastrointestinais leves; tais como cólicas, distensão abdominal e flatulência; alívio sintomático da diarreia leve não infecciosa[27] | [21,23] |
ANACARDIACEAE Mangifera indica L. | Manga-grande, mangueira, manga | Malária, gripe | - | [21,23] |
APIACEAE Foeniculum vulgare Mill. | Erva doce | Calmante, gases, dores, resfriado | Auxiliar no tratamento sintomático de queixas gastrintestinais leves; tais como cólicas, distensão abdominal e flatulência; alívio de sintomas dispépticos; como antiespasmódico e antiflatulento[27] | [22,25] |
FABACEAE Bauhinia forficata Link. | Pata de vaca | Diabetes | - | [22,25] |
FABACEAE MIMOSOIDEAE Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville | Barbatimão | Cicatrizante, ferida, frieira, diabetes, problemas de próstata, inflamação, gastrite, doenças hepáticas, inflamação dentária, dor em geral, ritualístico | Como cicatrizante e antisséptico da pele e mucosas[27] | [22,23] |
MYRISTICACEAE Myristica fragrans Houtt | Noz moscada | Dor, pressão alta, derrame | - | [22,23] |
MYRTACEAE Psidium cattleianum Afzel. ex Sabine | Araçá miúdo, araçá | Dor de barriga | - | [24,25] |
EUPHORBIACEAE Jatropha gossypiifolia L. var. gossypiifolia | Pinhão-roxo | Proteção espiritual, cicatrizante, relaxante, mata a larva da dengue | - | [23,26] |
EUPHORBIACEAE Manihot esculenta Crantz subsp. esculenta | Mandioca, mandioca-doce | Gripe, congestão nasal, diarreia, fortificante para crianças | - | [23,25] |
FABACEAE MIMOSOIDEAE Mimosa pudica L. | Malissa, dormideira | Febre, inflamação dental, proteção espiritual, dor de garganta, dormir melhor | - | [23,25] |
LAMIACEAE Persea americana Mill. | Abacate, abacate-roxo | Distúrbios renais, diabetes, pressão alta, dor em geral, cálculo renal | Auxiliar no aumento do fluxo urinário, atuando como adjuvante no tratamento de queixas urinárias menores[27] | [23,25] |
LABIATAE Melissa officinalis L. | Melissa, erva-cidreira | Alívio do estresse, pressão alta, gripe, febre, câimbras, calmante | Auxiliar no alívio da ansiedade e insônia leves; no tratamento sintomático de queixas gastrintestinais leves; tais como distensão abdominal e flatulência[27] | [23,26] |
NYCTAGINACEAE Mirabilis jalapa L. | Purga-de-batata, maravilha | Miíase, incontinência urinária, furúnculo | - | [23,25] |
PIPERACEAE Piper umbellatum L. | Capeba, capeva | Doenças hepáticas, dor em geral, ritualístico | - | [23,24] |
SOLANACEAE Solanum americanum Mill. | Erva-de-santa-maria, erva moura | Ferida, frieira, coceira | - | [23,24] |
SOLANACEAE Solanum cf. paniculatum L. | Jurubeba | Gripe, congestão nasal, inflamação dentária, tosse, pressão alta | - | [23,24] |
VERBENACEAE Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl | Chá-de-Burro, gervão | Gripe, hematoma, trauma ósseo | - | [23,25] |
ALISMATACEAE Echinodorus cf. grandiflorus (Cham. & Schltr.) Micheli | Chapéu de couro | Cálculo renal, diabetes | - | [24,25] |
Fonte: Elaboração própria. |
A família mais citada nos estudos incluídos na amostra foi a Lamiaceae (n=10). Outros estudos etnobotânicos e/ou etnofarmacológicos também evidenciaram um maior número de citações para esta família[4,5]. As espécies de Lamiaceae incluem cerca de 7.180 espécies e 236 gêneros[28] e no Brasil é representada por cerca de 46 gêneros e 524 espécies, das quais 343 endêmicas[29].
Das 108 espécies compiladas na revisão, apenas a Aloe vera (L.) Burm. f. e a Schinus terebinthifolius Raddi fazem parte do elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) no âmbito do SUS[30].
Cerca de 31 espécies fazem parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (RENISUS). Elas são: Ruta graveolens L., Plectranthus barbatus Andrews, Psidium guajava L., Bidens pilosa L., Eugenia uniflora L., Anacardium occidentale L., Chenopodium ambrosioides L., Ocimum gratissimum L., Phyllanthus niruri L., Allium sativum L., Aloe vera (L.) Burm. f., Plantago major L., Passiflora cf. edulis Sims, Casearia sylvestris Sw. var. sylvestris, Eucalyptus globulus Labill., Carapa guianensis Aubl., Justicia pectoralis Jacq., Caesalpinia ferrea Mart., Baccharis trimera (Less.) DC., Mentha sp., Mentha villosa Huds., Mentha pulegium L., Schinus terebinthifolius Raddi, Cordia curassavica (Jacq.) Roem. & Schult., Momordica charantia L., Foeniculum vulgare Mill., Bauhinia forficata Link., Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, Jatropha gossypiifolia L. var. gossypiifolia, Persea americana Mill., Solanum cf. paniculatum L.[31].
Atualmente, apenas 26 espécies das 108 elencadas na revisão possuem monografias presentes na Farmacopeia Brasileira, contendo a fórmula, sinônimos, forma farmacêutica, orientações para o preparo, embalagem e armazenamento, advertências, indicações terapêuticas e modo de usar[27]. As indicações descritas na Farmacopeia foram descritas na FIGURA 3.
As plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos constantes na RENAME, no Formulário Terapêutico Nacional de Medicamentos Fitoterápicos, no Formulário Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira, no Memento Terapêutico de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e nas monografias de espécies medicinais facilitarão a elaboração das relações estaduais e municipais. Desse modo, subsidiarão a prescrição, a dispensação e o uso dos medicamentos[2].
Alguns estados e municípios possuem seus programas de fitoterapia e apresentam seus elencos de plantas medicinais e fitoterápicos, acompanhados de mementos[2]. O Memento Fitoterápico para prática clínica na Atenção Básica, por exemplo, apresenta algumas espécies não citadas na FIGURA 3, como: Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng, Ocimum gratissimum L., Gymnanthemum amygdalinum (Delile) Sch.Bip. ex Walp., Ricinus communis L., e Luffa operculata (L.) Cogn.[32].
Verifica-se, na FIGURA 3, que as indicações terapêuticas foram bastante diversificadas e sustentam-se em um sistema de medicina baseado em crenças culturais e práticas geracionais, que podem não ser esclarecidos pela racionalidade biomédica (p. ex. proteção e limpeza espiritual).
Os achados da revisão também demostraram certa similaridade entre as indicações terapêuticas tradicionais e o sistema de International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (CID-11), assim como com as indicações terapêuticas da Farmacopeia Brasileira[27].
Conclusão
Por essa revisão integrativa da literatura ter apresentado um número relativamente pequeno de estudos incluídos, não se pode afirmar que todo o conhecimento etnobotânico de plantas medicinais de comunidades quilombolas foi abordado aqui.
Embora haja esta limitação, evidencia-se um grande número e diversidade de espécies e de indicações terapêuticas. Algumas dessas encontram explicação na medicina atual e outras sustentam-se em racionalidades não biomédicas, como, por exemplo, na medicina tradicional africana e indígena.
O resgate etnobotânico e a valorização destas outras racionalidades também visa contrapor o rápido processo de aculturação e de erosão genética advinda da forte atividade humana e uso insustentável dos recursos naturais.
Fontes de Financiamento
As despesas foram custeadas pela primeira autora do trabalho. Não houve financiamento por parte de agências de fomento.
Conflito de Interesses
Não há conflito de interesses.
Agradecimentos
Agradecimento aos professores e colegas do Curso de Especialização em Segurança Alimentar e Agroecologia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - Unidade São Luiz Gonzaga e aos companheiros do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Agroecologia e Saúde da Universidade Federal de Goiás.
Colaboradores
Concepção do estudo: FRS
Curadoria dos dados: FRS
Coleta de dados: FRS
Análise dos dados: FRS
Redação do manuscrito original: FRS; DMS; CMS; EB
Redação da revisão e edição: FRS; DMS; CMS; EB.
Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 2006. Disponível em: [https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_fitoterapicos.pdf]. [acesso em: 09 abr. 2022].
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