COMUNICAÇÃO BREVE

Compartilhando saberes sobre plantas medicinais em escolas da rede pública

Sharing knowledge about medicinal plants in public schools

https://doi.org/10.32712/2446-4775.2023.1578

Mariot, Márcio Paim1*
ORCID https://orcid.org/0000-0001-5673-9232
Fischer, Sintia Zitzke1
ORCID https://orcid.org/0000-0002-2518-7372
Stumpf, Elisabeth Regina Tempel1
ORCID https://orcid.org/0000-0002-1184-0596
1Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), Campus Pelotas, Visconde da Graça. Av. Ildefonso Simões Lopes, 2791, Arco-Íris, CEP 96060-290, Pelotas, RS, Brasil
*Correspondência:
marciomariot@ifsul.edu.br

Resumo

A busca das pessoas pelo conhecimento sobre plantas medicinais é crescente devido ao aumento no uso deste recurso para o tratamento de doenças, o que mostra a necessidade de ações educativas para identificação e uso correto destas espécies. Assim, com o objetivo de atender a demanda por qualificação sobre plantas medicinais, foi criado o projeto de extensão "ECOFARMA: compartilhando saberes sobre plantas medicinais", realizado em duas escolas, de Pelotas e Canguçu, no Rio Grande do Sul. As ações envolveram oficinas que abordaram desde a identificação botânica das plantas, cultivo, até as formas de uso. Os estudantes mostraram interesse e participaram ativamente das ações propostas, o que proporcionou um maior aprendizado para eles, além de se tornarem multiplicadores do conhecimento sobre plantas medicinais junto às famílias e comunidade em que vivem.

Palavras-chave:
Plantas bioativas.
Educação.
Projeto comunitário.

Abstract

People's search for knowledge about medicinal plants is growing due to the increase in the use of this resource for the treatment of diseases, which shows the need for educational activities for the identification and correct use of these species. Thus, in order to meet the demand for qualification on medicinal plants, the community project "ECOFARMA: sharing knowledge on medicinal plants" was created, carried out in two schools, in Pelotas and Canguçu, Rio Grande do Sul. The activities involved workshops about botanical identification, cultivation and forms of use. The students showed interest and actively participated in the proposed activities, which provided them with greater learning, in addition to becoming multipliers of knowledge about medicinal plants within their families and community in which they live.

Keywords:
Bioactive plants.
Education.
Community project.

Introdução

O conhecimento sobre plantas medicinais vem sendo cada vez mais buscado pelas comunidades devido ao aumento no uso destas espécies pela população, em especial as mais carentes, como alternativas para o tratamento de enfermidades. O indivíduo, além de beneficiado pelo conhecimento construído sobre as plantas medicinais, torna-se agente multiplicador desse conhecimento[1].

O conhecimento sobre a identificação botânica e as formas corretas de uso são fundamentais para segurança na utilização desse recurso terapêutico. Além disso, visando uma maior autonomia das comunidades quanto ao acesso às plantas de interesse, é oportuno conhecer as formas de produção, para que as pessoas possam cultivá-las em casa, em hortas comunitárias ou nas escolas. Assim, com o objetivo de atender demandas das comunidades por qualificação em temas relacionados às plantas medicinais e promover a troca de saberes relacionados aos usos dessas espécies, foi criado, no Campus Pelotas-Visconde da Graça do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul-CaVG), o projeto de Extensão "Ecofarma: compartilhando saberes sobre plantas medicinais", que, em 2022, foi desenvolvido em escolas públicas.

Material e Métodos

As ações foram realizadas com estudantes do ensino médio e professores da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Antônio Leivas Leite (EEEM Leivas Leite), de Pelotas, e com uma professora e estudantes do Curso Técnico em Agroecologia da Escola Família Agrícola da Região Sul (EFASUL), de Canguçu. As atividades foram diferenciadas, de acordo com o interesse de cada escola. Para EEEM Leivas Leite, as atividades envolveram as seguintes oficinas: identificação botânica, técnicas de propagação e cultivo de plantas medicinais, manipulação artesanal e uso. Para oficina de identificação de plantas foi utilizada, como bibliografia de referência, Lorenzi e Matos[2], além de herbário do IFSul-CaVG. Para elaboração das exsicatas foram utilizadas folhas de jornal, prensa, folhas de ofício, fita adesiva e etiquetas para identificação botânica.

Nesta escola foi também implantada uma horta de plantas medicinais em espaço aberto, com mudas que foram produzidas no projeto e outras já existentes no Espaço de Horticultura Orgânica do IFSul-CaVG. As mudas foram produzidas em estufa e telado, utilizando-se substrato para semeadura, areia e vermiculita para o enraizamento de estacas, bandejas multicelulares, sacos de cultivo e substrato para produção de mudas. Para implantação da horta foram utilizadas as ferramentas do IFSul-CaVG, composto orgânico, caixas de madeira, maceta e terra vegetal compostada como substrato para as caixas de madeira e maceta. As metodologias para propagação de plantas, bem como as orientações para o cultivo foram baseadas em estudos de Lameira e Pinto[3].

Nas oficinas de manipulação artesanal de plantas medicinais foram elaboradas tinturas, pomada e sabonete medicinal, com metodologia de Velloso e Peglow[4]. Para elaboração de tintura foram utilizadas plantas frescas, álcool 70%, vidros e etiqueta; para pomada, tintura de planta medicinal, lanolina, vaselina sólida, pote para armazenamento e etiqueta; e para sabonete, tintura de planta medicinal, base glicerinada para sabonete e formas de silicone.

Para EFASUL, devido ao público ser de filhos de agricultores familiares, a demanda foi por uma oficina de receitas à base de plantas para uso na Agroecologia, utilizando-se como referência o estudo de Barbosa et al.[5].

Resultados e Discussão

No primeiro encontro na EEEM Leivas Leite foram apresentadas várias espécies de plantas medicinais, a identificação botânica correta e suas indicações medicinais. Os alunos prensaram plantas para produção de exsicatas que foram utilizadas para confecção de um herbário de plantas medicinais que foi doado para escola, para uso em atividades pedagógicas.

Em outros encontros, que envolveram as técnicas de propagação de plantas, os participantes realizaram semeadura de sálvia (Salvia officinalis L., Lamiaceae), manjericão (Ocimum basilicum L., Lamiaceae) e calêndula (Calendula officinalis L., Asteraceae), estaquia de salva-da-gripe (Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson, Verbenaceae) e propagação de capim-limão (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Poaceae) por divisão de touceira e de mil-folhas (Achillea millefolium L., Asteraceae) por divisão de mudas. Estas mudas, além de outras mantidas no espaço de Horticultura Orgânica do IFSul-CaVG, foram utilizadas para implantação da horta de plantas medicinais na escola.

Quando as mudas estavam prontas para o transplante, a horta foi instalada em área aberta da escola. Os estudantes limparam a área, preparam o solo e realizaram adubação com composto orgânico. Foram transplantadas no solo mudas de falso-boldo (Plectranthus barbatus Andr., Lamiaceae), guaco (Mikania glomerata Spreng., Asteraceae), pitangueira (Eugenia uniflora L., Myrtaceae), espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, Celastraceae), capim-limão (Cymbopogon citratus), salva-da-gripe (Lippia alba) e alecrim (Rosamarinus officinalis L., Lamiaceae). Na maceta foi transplantada uma muda de cavalinha (Equisetum giganteum L., Equisetaceae) e, em duas caixas de madeira, mudas de poejo (Mentha pulegium L., Lamiaceae), mil-folhas (Achillea millefolium), carqueja (Baccharis trimera (Less.) DC., Asteraceae), tomilho (Thymus vulgaris L., Lamiaceae), manjerona (Origanum majorana L., Lamiaceae), manjericão (Ocimum basilicum) e sálvia (Salvia officinalis). Na escola foram identificadas plantas medicinais já existentes no espaço aberto, como hortelã (Mentha L., Lamiaceae) e bardana (Arctium lappa L., Asteraceae).

Após a implantação da horta, os alunos foram orientados sobre os cuidados de manutenção das plantas, como irrigação, controle de plantas invasoras e observações quanto a presença de pragas e doenças. Foram colocadas placas com o nome científico e popular em cada espécie, para facilitar a identificação por parte da comunidade escolar; em atividade integrada com a manutenção da horta, conversamos sobre os cuidados na colheita. Nas oficinas de manipulação artesanal foram elaboradas tinturas de mil-folhas e bardana, sabonete de mil-folhas e pomada de erva-baleeira.

No último encontro com os participantes da EEEM Leivas Leite, foram entregues os certificados de participação e realizada uma roda de conversa sobre as atividades realizadas, como avaliação. Todos os estudantes e os dois professores da Escola relataram o quanto o projeto foi importante para eles, para Escola. O professor de filosofia, participante do projeto, relatou que as ações realizadas foram importantes para os estudantes, em que se observou uma melhora da autoestima, um sentimento maior de pertencimento à Escola, de senso de responsabilidade com a instituição e com os cuidados com as plantas – que eles assumiram todos os dias. Os benefícios das atividades pedagógicas, como as realizadas neste projeto, também foram observadas em outros trabalhos com plantas medicinais em escolas, como relatado por Loureiro e Lobino[6] e Sales e Alencar[1].

Para os estudantes e a professora da EFASUL foi realizada uma oficina em que foram elaboradas as seguintes receitas à base de plantas para uso na Agroecologia: tintura de bardana (Arctium lappa), extratos de alho (Allium sativum L., Amaryllidaceae) com pimenta-dedo-de-moça (Capsicum baccatum L., Solanaceae) e losna (Artemisia absinthium L., Ateraceae) para o controle de pragas e Equisetum giganteum (cavalinha) para o controle de doenças, e pré e pós-dipping a base de tintura de bardana e sementes de linhaça (Linum usitatissimum L., Linaceae) como preventivo à mastite em bovinos de leite. Os estudantes mostraram interesse na atividade e relataram a importância desse aprendizado para aplicação nas propriedades rurais das suas famílias.

Conclusão

O projeto de extensão teve êxito ao promover, por meio de uma relação dialógica, a construção de conhecimentos sobre plantas medicinais nas comunidades escolares. Estes conhecimentos serão aplicados não somente na escola, mas nas comunidades do seu entorno, pois os participantes tornaram-se multiplicadores desses saberes.

Fontes de Financiamento

IFSul - PROEX.

Conflito de Interesses

Não há conflito de interesses.

Agradecimentos

À Pró-Reitoria de Extensão e Cultura do Instituto Federal Sul-rio-grandense pelo fomento ao projeto de extensão e ao Campus Pelotas-Visconde da Graça do IFSul pelo apoio.

Colaboradores

Concepção do estudo: MPM; SZF; ERTS.
Curadoria dos dados: MPM; SZF; ERTS.
Coleta de dados: MPM; SZF; ERTS.
Análise dos dados: MPM; SZF; ERTS.
Redação do manuscrito original: MPM; SZF; ERTS.
Redação da revisão e edição: MPM; SZF; ERTS.

Referências

1. Sales AD, Alencar CMM. Produção e uso de plantas medicinais como processo pedagógico de educação ambiental. Rev Gest Sust Ambient. 2019; 8(4): 468-88. [acesso em: 28 abr. 2023]. [https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/gestao_ambiental/article/view/6428].

2. Lorenzi H, Matos FJA. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª ed. Nova Odessa: Plantarum; 2008. ISBN: 9788586714283.

3. Lameira AO, Pinto JEBP. Plantas medicinais: do cultivo, manipulação e uso à recomendação popular. Belém: Embrapa; 2008. ISBN: 9788587690722.

4. Velloso CC, Peglow K. Plantas medicinais. Porto Alegre: EMATER/RS-ASCAR; 2003. (Coleção: Aprendendo a Fazer Melhor, nº 4).

5. Barbosa FR, Silva CSB, Carvalho GKL. Uso de inseticidas alternativos no controle de pragas agrícolas [online]. Petrolina: Embrapa Semiárido; 2006. [acesso em: 28 abr. 2023].  https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPATSA/33455/1/SDC191.pdf].

6. Loureiro CTPV, Lobino MGF. A abordagem da fitoterapia para a alfabetização científica em um projeto de horta nos anos finais do ensino fundamental. Rev Fitos. 2022; 15(Supl1): 8-21. [acesso em: 28 abr. 2023]. [https://doi.org/10.32712/2446-4775.2022.1170].