Resumo
É de conhecimento geral que as plantas medicinais são utilizadas desde séculos passados para tratamento de diversas doenças. Neste sentido, o Brasil se destaca sendo considerado o país mais biodiverso no mundo, incluindo, em grande parte, a diversidade vegetal. Para resgatar parte das plantas medicinais utilizadas entre os séculos XVII e XX esta pesquisa reuniu cinco tratados médicos e farmacêutico no intuito de validar, do ponto de vista farmacológico, as indicações de uso das plantas medicinais contidas nesses: Guilherme Piso, Chernoviz, Alfredo da Matta, Acervo Casa Granado e a primeira farmacopeia do Brasil, escrita pelo Farmacêutico Rodolpho Albino. Para a realização desta pesquisa, foi feita uma pesquisa em base dados selecionados a partir de máscaras contendo palavras-chaves específicas. Foram considerados e selecionados estudos dos últimos 30 anos. Ao todo, o projeto reúne mais de 600 espécies vegetais nativas e exóticas. Para este projeto foi desenvolvida uma metodologia específica para chegar à validação farmacológica delas. Os resultados deste trabalho serão apresentados em números especiais sequenciais da Revista Fitos. Esta pesquisa registra a validação farmacológica do uso tradicional, no período entre o século XVII e século XX.
Validação farmacológica; Conhecimento tradicional; Tratados médicos; Plantas medicinais; Biodiversidade
Abstract
It is common knowledge that medicinal plants have been used for centuries to treat various diseases. In this sense, Brazil stands out as the most biodiverse country in the world, including, to a large extent, plant diversity. In order to recover part of the medicinal plants used between the 17th and 20th centuries, this research gathered five medical and pharmaceutical treatises with the aim of validating, from a pharmacological point of view, the indications for the use of medicinal plants contained in them: Guilherme Piso, Chernoviz, Alfredo da Matta, Acervo Casa Granado and the first pharmacopoeia of Brazil, written by the pharmacist Rodolpho Albino. To carry out this research, a search was carried out in databases selected from masks containing specific keywords. Studies from the last 30 years were considered and selected. In total, the project brings together more than 600 native and exotic plant species. For this project, a specific methodology was developed to reach the pharmacological validation of these species. The results of this work will be presented in sequential special issues of Fitos Journal. This research records the pharmacological validation of traditional use in the period between the 17th and 20th centuries.
Pharmacology validation; Traditional knowledge; Medical treatises; Medicinal plants; Biodiversity
Apresentação
Ao longo da nossa história, o mapeamento de plantas medicinais bem como de seus usos foi realizado tanto por estrangeiros, em visita ao Brasil, quanto por brasileiros, contando com o conhecimento dos povos tradicionais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso tradicional secular e seguro de uma planta medicinal pode subsidiar o seu emprego clínico. A OMS reconhece o potencial de plantas medicinais de uso tradicional no desenvolvimento dos medicamentos, e recomenda que novas fontes de evidência sejam usadas para avaliar sua eficácia e segurança.
No Brasil, o registro de medicamentos caracterizados como fitoterápicos ainda é extremamente tímido no que diz respeito à variedade de espécies vegetais, principalmente se considerarmos a exuberância da nossa diversidade vegetal. Este fato motivou pesquisadores, tais como: Benjamin Gilbert, Lucio Ferreira Alves e Rita Favoretto a pensar como resgatar a tradicionalidade de plantas medicinais a partir de pesquisas que apresentassem evidências farmacológicas[1,2]. Entretanto, apesar dessas iniciativas, o uso tradicional de plantas medicinais no Brasil continua definido como “aquele alicerçado no longo histórico de utilização no ser humano demonstrado em documentação técnico-científica, sem evidências conhecidas ou informadas de risco à saúde do usuário”[3].
Para que haja o registro de um produto tradicional fitoterápico é requerido, pelo órgão regulador, que a segurança e a efetividade desses produtos sejam comprovadas no período dos últimos 30 anos.
Este projeto visa realizar um levantamento do uso medicinal das plantas no Brasil baseado na seleção de textos de autores médicos e farmacêuticos que escreveram suas contribuições entre os séculos XVII e XX. A partir daí, esta pesquisa visou apresentar para cada espécie selecionada a sua validação, através de ensaios farmacológicos e toxicológicos realizados nos últimos 30 anos, acreditando estar colaborando, desta forma, para o desenvolvimento de novos fitoterápicos no Brasil.
Esta pesquisa vem sendo desenvolvida a partir do Acordo de Cooperação entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) e o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) celebrado em 2023, com o objetivo de organizar um livro com o nome “Validação farmacológica do uso de plantas medicinais no Brasil do século XVII ao século XX” (D.O.U, seção 3, 39, 27 de fevereiro 2023).
Neste sentido, foi formado um grupo de trabalho interinstitucional para realizar o trabalho de pesquisa a partir da seguinte configuração inicial:
(a) Coordenação – Dr. Glauco de Kruse Villas Bôas - Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde – (CIBS/FIOCRUZ) e Dr. Ricardo Ghelman (CABSIN);
(b) Coordenadores Operacionais – Dr. Caio Portella (CABSIN) e Msc. Mayara de Azeredo Rezende (CIBS/FIOCRUZ);
(c) Supervisores das equipes FIOCRUZ e CABSIN – Drª. Maria Behrens (Farmanguinhos / FIOCRUZ) e Drª. Adriana Nunes Wolffenjbüttel (CABSIN).
A equipe de pesquisadores composta por:
FIOCRUZ - Glauco Villas Bôas, Mayara Rezende, Maria Behrens, Carla Moragas, Leide Ferreira, Deise Drumond, Kátia Novellino, Preciosa Oliveira, Anne Abdala;
CABSIN - Ricardo Ghelman, Caio Portella, Adriana Wolffenjbüttel, Fabiana Souza, Amanda D’Angelis, Karen Berenice, Gleice Moreno, Rúbia Patzlaff, Arlindo Matias e Rachel Castilho.
Com a evolução da pesquisa envolvendo mais de 600 espécies vegetais, consideradas na metodologia de trabalho, são esperados resultados que evidenciem tanto a validação farmacológica quanto toxicológica do uso indicado pelos referidos pesquisadores dos séculos XVII e XX, visando a organização de um livro. Considerando o tamanho deste desafio, este grupo de pesquisa optou por divulgar seus primeiros resultados em uma série de números especiais na Revista Fitos, a partir de 2025.
Referências
- 1 Alves LF. Produção de Fitoterápicos no Brasil: História, Problemas e Perspectivas. Rev Virtual Quim. 2013; 5(3): 450-513. ISSN: 1984.6835. Disponível em: [ https://doi.org/10.5935/1984-6835.20130038 ].
» https://doi.org/10.5935/1984-6835.20130038 - 2 Oliveira PJM, Gilbert B. Reconhecimento das Plantas Medicinais de uso tradicional no Brasil: a relevância e o pioneirismo da Casa Granado. Rev Fitos. 2015; 9(4): 293-296. [ https://doi.org/10.5935/2446-4775.20150027 ].
» https://doi.org/10.5935/2446-4775.20150027 - 3 Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 26, de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União: seção 1, p. 46-48, 14 maio 2014. [ https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf ].
» https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
28 Maio 2025 - Data do Fascículo
Maio 2025
Histórico
- Recebido
29 Abr 2025 - Aceito
06 Maio 2025
