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Inovação

Reconhecimento das Plantas Medicinais de uso tradicional no Brasil: A relevância e o pioneirismo da Casa Granado1

Recognition of medicinal plants traditionally used in Brazil: The relevance and the pioneering of Casa Granado

DOI:
http://dx.doi.org/10.5935/2446-4775.20150027
Autores:
2Preciosa de Jesus Meireles de Oliveira;
22Benjamin Gilbert;
Instituições
1Monografia apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Gestão da Inovação em Fitomedicamentos, do Instituto de Tecnologia de Fármacos, Farmanguinhos/FIOCRUZ.
2Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS), Farmanguinhos/Fiocruz
Correspondência:
preciosaoliveira@far.fiocruz.br

Resumo

Entre os fabricantes de medicamentos fitoterápicos surgidos no século XIX no Rio de Janeiro, destaca-se a Casa Granado, especializada em monodrogas apresentadas nas mais diversas formas farmacêuticas: extratos fluidos, extratos simples, cremes, tinturas, óvulos, cápsulas etc. O longo período de mais de 50 anos em que esses fitoterápicos foram utilizados indica a relevância da sua eficácia e segurança. Portanto, o objetivo deste estudo é o levantamento do uso de plantas medicinais da Casa Granado. Foi realizado um levantamento de 381 plantas medicinais, nativas e exóticas, utilizadas pela Casa Granado, durante aproximadamente 50 anos, desde o fim do século XIX, até o início do século XX. Foi encontrado um total de 67 plantas da 1ª Farmacopeia Brasileira, que constam da lista das plantas da Casa Granado com comprovação em literatura técnico-científica da eficácia e segurança. Do total dessa lista, apenas 5 plantas constam de registro simplificado na ANVISA. Este trabalho mostra que várias destas plantas podem ser registradas nas listas da ANVISA com registro simples, baseado no uso tradicional delas, aproveitando os estudos técnicos científicos mais recentes que complementam as informações relativas à sua segurança e eficácia.

Palavras-chave:
plantas medicinais;
medicamentos fitoterápicos;
fitoterapia;
medicina tradicional;

Abstract

Among the herbal drug manufacturers, which arose in the nineteenth century in Rio de Janeiro, is Casa Granado, specializing in monodrugs produced in various dosage forms: fluid extracts, simple extracts, creams, tinctures, capsules etc. The long period of nearly a century in which these herbal medicines were used is evidence of their effectiveness and safety. For this reason a reexamination was made of the 381 medicinal plants commercialized by Casa Granado. These medicinal plants, native and exotic, used from the late nineteenth century until the late twentieth century were reevaluated. A total of 67 plants of the 1st Brazilian Pharmacopoeia on the list of plants of Casa Granado with evidence in scientific and technical literature of the efficacy and safety were found. Of these 67 plants, only five are presently contemplated for simplified registration by the regulatory agency ANVISA. The study indicates that many of these plants are apt for simplified registration by ANVISA based on their traditional use, taking advantage of the latest scientific and technical studies that complement the information on safety and effectiveness.

Key-words:
medicinal plants;
herbal medicines;
phytotherapy;
traditional medicine;

Introdução

Após 1950, com a ascensão da indústria de medicamentos sintéticos e antibióticos, os fitoterápicos tornaram-se uma alternativa secundária na gestão da saúde pública. Segundo Maria das Graças Lins Brandão, o conhecimento sobre plantas medicinais pode estar fadado ao esquecimento pelo fato da indústria farmacêutica, que emergiu na década de 1950, ter imposto o uso de medicamentos sintéticos, com a consequente retirada, da prática médica, de produtos provenientes das plantas (Brandão et al, 2009).

Com o advento da identificação dos mecanismos de ação de componentes de medicamentos naturais, percebeu-se que havia uma base científica sólida para a Fitoterapia e o uso de plantas medicinais renasceu em alguns países, notadamente na Alemanha, França e Inglaterra. Entretanto, o Brasil é o país que possui a maior flora existente em uma unidade política, e possivelmente apresenta a maior variedade de plantas medicinais no mundo (Brasil, 2006).

A Casa Granado, pioneira na produção de fitoterápicos no Brasil, possui um vasto acervo histórico sobre plantas medicinais de uso tradicional, objeto de nosso estudo. No final do século XIX e durante a maior parte do século XX, a empresa desenvolveu e comercializou inúmeros fitoterápicos, consumidos e reconhecidos por personalidades da História do Brasil. O fundador da Granado investiu em Pesquisa & Desenvolvimento para que os fitoterápicos da empresa fossem reconhecidos como eficazes e de qualidade, o que fez com que a Granado se tornasse fornecedora oficial da Família Real brasileira.

Esse trabalho busca mostrar a atuação pioneira da Casa Granado, quanto à gestão de fitomedicamentos no Brasil, por meio da visão inovadora de seu fundador, o português José Antonio Coxito Granado. Busca-se ilustrar a relevância e o pioneirismo da Granado para a construção de um processo inovador de identificação, catalogação, pesquisa e desenvolvimento no âmbito de fitoterápicos no território brasileiro - ainda no período imperial- o que deu origem à Primeira Farmacopeia Brasileira. Assim, espera-se oferecer um caso inspirador que incentive, multiplique e escale novas visões e métodos para a gestão inovadora de fitomedicamentos no Brasil.

Conclui-se então que fitoterápicos obtidos a partir de plantas medicinais de uso tradicional, como no caso da Casa Granado, poderão ser utilizados para o tratamento eficaz e seguro da maioria das enfermidades que acometem os usuários do SUS, e espera-se que estes medicamentos da biodiversidade sirvam não somente às áreas urbanas do centro-sul, mas também, às demais regiões do país e especialmente à vasta área rural do país, onde a disponibilidade de medicamentos é conhecidamente precária.

Materiais e Métodos

Neste trabalho, foi utilizada a abordagem qualitativa, sob perspectiva histórica, voltada para o uso tradicional de plantas medicinais.

Foram definidos os parâmetros da pesquisa: levantamento das espécies de uso tradicional utilizadas pela empresa desde o fim do século XIX e durante a maior parte do século XX.

Foi realizada busca em fontes primárias existentes no Museu da Casa Granado: bulas, catálogos de óvulos e óleos, catálogos de extratos fluidos, de tinturas, de perfumaria e de plantas medicinais, e em fontes secundárias: livros, internet e revistas científicas. Em seguida, iniciou-se a tabulação das plantas utilizadas à época pela empresa, a partir do nome botânico e nome popular.

Foram realizadas diversas visitas ao Museu da Granado para que outras informações fossem obtidas como procedência, partes da planta medicinal usada, forma farmacêutica, propriedades terapêuticas e indicações de uso. Após essas etapas de pesquisa concluídas, os dados foram tabulados.

Todas essas informações foram comparadas com a literatura existente: 1ª a 5ª Farmacopeias Brasileiras, Formulário Nacional, Instrução Normativa Nº 02 de 2014 (Brasil, 1926, 1955-1959, 1976, 1988-2005, 2011, 2014a e 2004b) e também com a literatura científica das 67 plantas da 1ª Farmacopeia que foram utilizadas pela Casa Granado e cujo estudo etnofarmacológico foi realizado pela equipe da Professora Maria das Graças Brandão da UFMG (Brandão et al, 2008) examinando livros do século XIX.

Resultados e Discussão

O levantamento realizado no acervo histórico da Casa Granado apresenta 381 espécies vegetais utilizadas, desde o fim do século XIX e durante a maior parte do século XX, na fabricação de seus fitoterápicos, bem como as partes das plantas utilizadas: raiz, caule, folha, flor, fruto; suas formas farmacêuticas (xarope simples, extrato fluido, tintura, etc.), as propriedades terapêuticas e as indicações de uso. Dessas plantas, 38% são plantas nativas e 62% são plantas exóticas.

Verificou-se que 67 plantas medicinais utilizadas pela Casa Granado constam da 1ª Farmacopeia Brasileira e tiveram seu estudo etnofarmacológico comprovado em livros do século XIX. A pesquisa mostra ainda, que, apenas 9,7% das plantas da Granado constam da lista das plantas da ANVISA com registro simplificado.

Conclusões

Conclui-se a partir dos critérios de busca utilizados no levantamento do uso tradicional das plantas medicinais pela Casa Granado, que, das 381 espécies vegetais por ela utilizadas na fabricação de seus fitoterápicos, há um número significativo de espécies que são aptas ao registro simplificado pela ANVISA sob os critérios de uso tradicional com segurança e eficácia.

Conflito de interesse

Os autores não possuem conflito de interesse.

Referências