Tópicos em Debate

Registro da 1ª Jornada Amazonense de Plantas Medicinais

Historical Register: 1st Amazonas State Meeting on Medicinal Plants

Hidalgo, A. F.1;
Chaves, F. C. M.x2*;
Pohlit, A. M.3;
Pohlit, C. K.4
1Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Avenida General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Campus Universitário, Coroado, 69077-000, Manaus, AM, Brasil
2Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Amazônia Ocidental, Rodovia AM 010, Km 29, C.P. 319, Zona Rural, 69.011-970, Manaus, AM, Brasil
3Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA: Avenida André Araújo, 2936; Petrópolis, Manaus, AM, Brasil
4Fundação Centro de Apoio a Pesquisa, Ensino e Inovação Tecnológica - FUCAPI, Avenida Gov. Danilo de Matos Areosa, 381, Distrito Industrial, 69075-351, Manaus, AM, Brasil
*Correspondência:

Resumo

Diversas instituições acadêmicas e empresarias, representantes de comunidades e agências de fomento do Amazonas realizaram, em Novembro de 2005, o primeiro evento regional de plantas medicinais em nível estadual. O evento contou com apresentação de trabalhos científicos, cursos e palestras de pesquisadores que trabalham em diversos campos científicos relacionados aos estudos de plantas medicinais. O objetivo principal foi promover a integração entre os profissionais e os diversos setores envolvidos nos esforços em desen­ volver produtos a partir da biodiversidade vegetal, com foco nas plantas da região. Ao final, os pontos positivos e negativos da proposta foram avaliados, sugestões foram recebidas, no sentido de aperfeiçoar o estabelecimento definitivo deste evento no calendário científico do Amazonas. Também foi discutida a formação da Sociedade Amazônica de Plantas Medicinais.

Abstract

In November, 2005, many different academic institutions, business firms, community representatives and research financing agencies from Amazonas State held the first regional event dedicated to medi­ cinal plants to occur in that State. The event featured oral and poster presentations, mini­courses and talks by researchers who work in diverse scientific fields related to the study of medicinal plants. The primary objective of the event was to promote greater integration be­ tween professionals and the different sectors involved in the efforts to develop products based on plant biodiversity, with strong emphasis on Amazonian plants. Towards the end of this meeting, the positive and negative points of the event were evaluated; suggestions were received with an idea to perfecting of the process for insertion of this event in the Amazonas scientific calendar. The creation of the Medicinal Plant Association of Amazonas was also discussed.

A Amazônia atualmente ocupa o noticiário mundial, seja exaltando-a como o último grande depósito de biodiversidade do planeta, seja para falar sobre o potencial turístico ou, com maior repercussão, destacar a degradação e destruição da floresta, na maioria das vezes como fruto de uma visão alarmista distorcida e de éticas escusas, ocultando interesses não declarados. A realidade amazônica é muitas vezes desconhecida. Reproduzir informações equivocadas ou falsas, veiculadas como verdades, é fato comum nos dias atuais. Livros e publicações de autores que nunca pisaram na região são lidos, discutidos e, sem critério algum, reproduzidos e divulgados. É necessário conhecer e divulgar as verdades sobre essa imensa região que contém a maior floresta úmida do planeta e ocupa cerca de 7% da superfície da Terra, detendo entre 15% a 20% de toda a reserva de água doce e cuja fauna e flora respondem por mais da metade da biota mundial. O tema ‘plantas medicinais’ é um ponto interessante a considerar quando se fala na Amazônia e em suas riquezas, e devemos abordá-las realisticamente, sem romantismo. Diante de tanta diversidade existem ainda poucas informações sobre espécies amazônicas que possuem estudos adiantados ou que resultaram em produtos prontos; as pesquisas são esparsas e, muitas vezes, descontinuadas. Muitos pesquisadores não se conhecem ou trocam informações, o que ocorre inclusive dentre das instituições regionais, colocando este fator entre as dificuldades a serem superadas.

Entre os esforços para melhorar o entrosamento entre os profissionais e demais interessados na temática das Plantas Medicinais, assim como para estimular o aumento do número de profissionais capacitados para o ensino e a pesquisa com a biodiversidade amazônica, foi realizada a 1ª Jornada Amazonense de Plantas Medicinais, com o tema ‘Situação atual, perspectivas e integração’. O evento aconteceu no período de 16 a 19 de novembro de 2005, no Auditório Eulálio Chaves, no Campus da Universidade Federal do Amazonas. O objetivo prioritário da Jornada foi reunir a competência estadual nesta área específica, assim como promover a integração entre os profissionais atuantes nos diversos segmentos do conhecimento, que são necessários para promover as inovações a partir de plantas medicinais regionais; incluindo principalmente estudantes de graduação e pós-graduação, e envolvendo as diversas instituições acadêmicas e empresas localizadas no Estado do Amazonas. A Jornada foi uma realização conjunta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da Fundação Centro de Apoio a Pesquisa, Ensino e Inovação Tecnológica (FUCAPI), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA - CPAA). Diversas empresas e instituições locais contribuíram, através de patrocínio, para a realização do evento.

Para esta primeira jornada foram convidados pesquisadores de instituições federais e estaduais, como a UFAM, o INPA, a EMBRAPA, a Universidade do estado do Amazonas (UEA), o Centro Federal de Educação tecnológica (CEFET), o Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA) e o Centro de Oncologia de Manaus (CECON). Aos participantes destas instituições locais, somaram-se convidados de outras regiões do país, o que incluiu palestrantes da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA/UNICAMP), da Universidade de São Paulo (USP) e da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (ALANAC). Também foram convidados como palestrantes, empresários, comunidades e pessoas que trabalham com plantas medicinais e fitoterapia no interior do estado.

O evento proporcionou também a realização de quatro mini-cursos sobre os temas: 1. Farmacobotânica, ministrada pela Profª Drª. Sílvia Mendonça (UFAM); 2. Manejo e cultivo de plantas Medicinais, ministrado pelo Dr. Pedro Melillo (CPQBA/UNICAMP); 3. Extrativismo e manejo de plantas medicinais, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Lin Chau Ming (UNESP - Botucatu); e 4. Extração de metabólitos secundários, ministrados pelos doutores Maria da Paz Lima e João Domingos Silva, ambos do INPA. Todos os cursos tiveram procura acima do esperado, assim como avaliação positiva por parte dos participantes. A palestra do primeiro dia foi ministrada pelo Prof. Dr. Antônio José Lapa (UNIFESP/CBA), sobre o tema: “Farmacologia de plantas amazônicas”. Em seguida, houve exposições e discussões sobre a situação atual na pesquisa de plantas medicinais amazônicas, com exposições e debates, com foco na agregação de valor ao processo de desenvolvimento de fitoterápicos e o tema “Fitoterápicos e Cosméticos de origem Amazônica”. Também foram apresentados 23 painéis com resultados de trabalhos científicos sobre espécies nativas da região amazônica.

O dia seguinte contou com mini-palestras, enfocando os temas: “Integração na pesquisa com plantas medicinais amazônicas” e “Atividades com plantas medicinais no interior do Estado do Amazonas”, seguidas de um debate sobre o tema. No período da tarde a discussão foi sobre o tema “Perspectivas: papel dos cursos de pós-graduação e do CBA em pesquisa e desenvolvimento de produtos baseados em plantas amazônicas”, culminando com a apresentação de 24 painéis com trabalhos científicos. Em seu último dia, a organização do evento promoveu uma reflexão sobre a 1ª Jornada de Plantas Medicinais, quando se debateu publicamente a criação da Associação Amazonense de Plantas Medicinais. Após a discussão o evento foi encerrado. Todos os trabalhos apresentados no evento foram registrados em um CD Rom, distribuído aos participantes e para as instituições estaduais. Como avaliação geral do evento, pode-se mencionar que alguns avanços puderam ser constatados, entre eles:

• O Estado do Amazonas inaugurou seu evento regional de plantas medicinais, a exemplo de outros estados da federação.

• A visível integração entre os profissionais das várias instituições presentes no evento, tanto locais quanto nacionais.

• O evento possibilitou trazer para o Estado o aporte de expertise e conhecimento de eminentes pesquisadores externos, um estímulo para o desenvolvimento científico regional.

• A conscientização de profissionais dos vários segmentos científicos que atuam na cadeia produtiva de produtos originários da diversidade vegetal amazônica, sobre a necessidade da realização de trabalhos multidisciplinares.

• A oportunidade dos pesquisadores de conhecer os trabalhos que se desenvolvem em áreas de conhecimentos correlatos ou complementares (ex: agronomia, química, farmácia e farmacologia).

• O evento foi particularmente estimulante para os alunos de graduação e pós-graduação, que puderam observar as oportunidades de inserção nas pesquisas sobre Plantas Medicinais, assim como participar do desenvolvimento de um tema fundamental para a região onde vivem.

• O início das discussões para a criação da Associação Amazonense de Plantas Medicinais.

A intenção dos organizadores é promover o evento a cada dois anos, inserindo-o no calendário de eventos científicos estaduais e nacionais. Como primeiro evento, pode-se considerar que os objetivos foram alcançados. Eventuais falhas foram discutidas pela comissão e sugestões e críticas dos participantes, que contribuíram respondendo a uma ficha de avaliação crítica, foram registradas e deverão ser consideradas na preparação das demais jornadas.

Nota

Os autores do presente artigo compuseram a Comissão Organizadora (Ary de Freitas Hidalgo - presidente; Adrian Martin Pohlit - secretário; Claudete Inês Kronbauer Pohlit - primeira tesoureira; Francisco Célio Maia Chaves - segundo tesoureiro); e o Comitê Científico (A. M. Pohlit - presidente) do evento.