Reduzir fonte Tamanho de fonte padrão Aumentar fonte

Comunicação Breve

Conhecimento local e uso dos recursos vegetais na Comunidade Sertão, Rio de Janeiro

Local knowledge and use of plant resources in the Sertão Community, Rio de Janeiro

Autores:
1MOURÃO, Maria D. S.*;
1MASSIMO, Bovini G.;
1FONSECA-KRUEL, Viviane S.
Instituições
1Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Escola Nacional de Botânica Tropical, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
*Correspondência:
dora.sza.mourao@gmail.com

Resumo

Este estudo etnobotânico foi realizado na Comunidade Sertão a partir do conhecimento local sobre os recursos vegetais dos residentes nas cercanias da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes,  área inserida na base do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Magé, Rio de Janeiro. Visou analisar qualitativamente o conhecimento e usos de plantas na RPPN e entorno, investigar a riqueza de espécies úteis e comparar com resultados de outros estudos realizados na Mata Atlântica fluminense. Foram firmados os termos de consentimento prévio aos 24 informantes participantes das entrevistas semiestruturadas e individuais, considerados os principais detentores de conhecimento na área de estudo, pois foram indicados através da técnica "bola de neve". Apenas 13 foram aqui considerados especialistas locais e participaram da técnica "listagem livre". Foram obtidas 140 citações de uso para 67 espécies, as quais foram distribuídas em seis categorias de uso, sendo medicinal (46) e alimentar (24) as mais representativas. As maiores frequências de citação de uso foram para Sorocea bonplandii e Jacaranda puberula (69,2%). Os conhecimentos locais registrados sobre o uso dos recursos vegetais poderão subsidiar ações para a conservação e salvaguarda da diversidade vegetal e cultural desta Unidade de Conservação.

Palavras-chave:
Medicinal.
Mata Atlântica.
Conhecimento local.
Unidade de conservação.

Abstract

This ethnobotanical study was carried out in the Sertão Community from the local knowledge about the vegetal resources of the residents in the neighborhoods of the Private Reserve of the Natural Patrimony (RPPN) Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes, area inserted in the base of the Serra dos Órgãos National Park, in Magé, Rio de Janeiro. Aimed to qualitatively analyze the knowledge and uses of plants in the RPPN and surroundings, investigate the richness of useful species, compare with the results of other studies carried out in the Mata Atlântica Fluminense. Prior informed consent was given to the 24 informants participating in the semi-structured and individual interviews, considered the main knowledge holders in the study area, since they were indicated through the "snowball" technique. Only 13 were considered local experts and participated in the "free listing" technique. 140 use citations were obtained for 67 species distributed in six categories of use, being medicinal (46) and feeding (24) the most representative. The highest frequencies of use citations were for Sorocea bonplandii and Jacaranda puberula (69.2%). Local knowledge about the use of plant resources may support actions for the conservation and safeguarding of the plant and cultural diversity of this Conservation Unit.

Keywords:
Medicinal.
Local knowledge.
Atlantic Forest.
Protected area.

Introdução

As reservas reconhecidas como Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) são fundamentais para a conservação em larga escala ou em escala regional e para implementação de corredores de biodiversidade. Contribuem para a expansão de áreas protegidas aumentando a conectividade biológica na paisagem, sobretudo em regiões bastante fragmentadas como a Mata Atlântica. Constituem uma categoria interessante de Unidade de Conservação (UC) para desenvolvimento de estudos que envolvam a comunidade humana local, conhecimento etnobotânico e ações de conservação, pois nesta está prevista a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais (SNUC, 2000). Uma destas RPPNs no estado do Rio de Janeiro tem destaque, como a RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes (UEB/RJ, 2014), UC de âmbito estadual e localizada em uma área de relevância em termos de diversidade florística. Nela foram registradas 283 espécies vegetais (MOURÃO, 2015) incluindo importantes ocorrências como a espécie considerada rara Miconia elaeodendron (BAUMGRATZ, com. pess.), pois a literatura se refere como endêmica do Brasil, encontrada nas regiões localizadas no sopé da Serra dos Órgãos, entretanto ainda não foi avaliada quanto ao status de conservação e grau de ameaça ( Flora do Brasil, 2020). Há também espécies vegetais incluídas na categoria "Criticamente em Perigo", como Molinedia cyathantha, "Em Perigo" como Euterpe edulis e Tabebuia cassinoides e, ainda, Plinia edulis, na categoria "Vulnerável" (IUCN, 2001). No seu entorno existe uma comunidade rural denominada Comunidade Sertão, onde existem antigos residentes com conhecimento acumulado sobre o ambiente natural local e seus recursos vegetais.

O estudo sobre a utilização ou potencial de uso das plantas por comunidades rurais circunvizinhas é importante pelo fato de identificar e registrar informações complementares às lacunas existentes quanto à utilização das espécies vegetais do bioma mata atlântica, cujo potencial de uso em termos de alimentação, medicina e a possibilidade de extração de resinas e corantes são pouco conhecidos. Nesta perspectiva, estudos realizados em comunidades estabelecidas nas cercanias de remanescentes de Mata Atlântica do Rio de Janeiro, comprovam que ainda há recursos vegetais com potencial de uso provenientes de áreas remanescentes dessas florestas (CHRISTO, GUEDES-BRUNI e FONSECA-KRUEL 2006; GUEDES-BRUNI, SOBRINHO e CHRISTO, 2011). Alcorn (1995) apud Zuchiwschi (2008) e Hanazaki (2003) defendem que há maior efetividade na conservação de recursos naturais, quando há aproximação e envolvimento de comunidades humanas rurais/locais que manejam esses recursos.

O presente estudo visa investigar o conhecimento etnobotânico sobre as espécies vegetais úteis na Comunidade Sertão que reside nas adjacências à RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes, identificando as espécies com maior importância de uso atual e/ou potencial, registrando os tipos de usos, analisar o status de conservação destas espécies e comparar estes dados com outros estudos realizados no bioma Mata Atlântica.

Materiais e Métodos

A Comunidade Sertão (22º 35' 21'' S e 43º 01' 11" W) localiza-se no entorno da RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes (UEB/RJ), no km 111 da rodovia BR-116, em Magé, RJ. Esta reserva, com 20,3 ha está inserida na base do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (22º 34' 42" S e 43º 1' 46" W) e pode ser enquadrada como Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas ou simplesmente como Floresta de Baixada (IBGE, 2012).

O presente estudo obteve licença para acessar o conhecimento local através do pedido de autorização (nº 01450.004448/2015-51-DPI/IPHAN) ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), de acordo com a Medida Provisória nº. 2.186-16, de 23/08/2001 e o Decreto nº. 3.945, de 28/09/2001; e, para coleta de material botânico, foi solicitada a autorização ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Portaria IEF/RJ/PR nº 227 de 18/12/2007.

Foi utilizada a técnica de  bola de neve (BERNARD, 2006), onde cada entrevistado indicou o nome de outro possível informante para buscar os principais detentores do conhecimento sobre as plantas úteis na área da RPPN e seu entorno de acordo com os critérios pré-estabelecidos, como: ser morador do entorno da RPPN, ou seja, na Comunidade Sertão; possuir mais de 20 anos de vida nesta comunidade e ter mais de 40 anos de idade. A coleta de dados etnobotânicos foi realizada com a periodicidade de dois dias a cada quinze, por seis meses consecutivos, de março a agosto de 2014. Estes principais informantes foram aqui considerados como especialistas locais (ALBUQUERQUE, LUCENA e NETO, 2008). A partir da seleção dos especialistas foram realizadas as técnicas de Listagem Livre e turnê-guiada (ALEXIADES e SHELDON, 1996; ALBUQUERQUE, LUCENA e NETO, 2008). Foram realizados registros fotográficos das espécies, coleta e identificação das espécies relacionadas aos nomes  vernaculares indicados nas entrevistas.  O material botânico coletado como testemunho deste estudo foi depositado no herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). Para verificar a origem das espécies utilizou-se a base da Flora do Brasil (2020).

Os dados obtidos foram organizados em planilhas eletrônicas (MICROSOFT OFFICE EXCEL 2007), por nome científico e vernacular das espécies úteis, famílias botânicas, localização, categoria(s) de uso, parte(s) usada(s), nome do especialista local, data e local da entrevista. Para análise das espécies indicadas como úteis, utilizou-se o cálculo da frequência de citação, saliência e ranking de preferências, com o programa ANTHROPAC 4.0 e o índice de Smith (BORGATTI, 1996 a, b) que consiste na medida da saliência de cada item obtido na listagem livre (com valores de 0 a 1), que se baseia na frequência absoluta e maior coincidência de posição de citação destes itens da listagem livre entre os especialistas locais, promovendo assim um ordenamento dos itens da listagem.

Para comparação com estudos em outras quatro áreas da Mata Atlântica fluminense realizou-se a análise de similaridade através do agrupamento ou método de clusters e coeficiente de similaridade Sorensen, devido à natureza binária dos dados e a não consideração das duplas ausências (VALENTIM, 2002).

Resultados e Discussão

Das entrevistas com os informantes (n= 24) obteve-se 308 citações de uso para 76 espécies, sendo 34 nativas. Foram encontradas 34 famílias botânicas, sendo as mais representativas: Asteraceae (10), Lamiaceae (9), Euphorbiaceae (5), Fabaceae, Solanaceae e Amaranthaceae (4) (FIGURA 1). Do total (76), 13,2% pertencem à família Asteraceae, que é uma das mais representativas em número de espécies úteis em outros estudos etnobotânicos realizados na Mata atlântica fluminense, como Christo, Guedes-Bruni e Fonseca-Kruel (2006) com 9,5% e Quinteiro e colaboradores(2015) com aproximadamente 18% das espécies citadas.

Dos 24 especialistas locais, 13 participaram da técnica de Listagem Livre. A partir desta técnica foram obtidas 140 citações de uso  para plantas, das quais 73 foram citadas como provenientes da área da reserva e seu entorno imediato (mata de baixo), com 25 citações exclusivas para esta zona; 32 como provenientes do remanescente não protegido que faz parte da propriedade (mata de cima) e 17 crescendo espontaneamente no entorno (beirada da estrada) (FIGURA. 2), sendo que, das espécies citadas para uso, 33% são nativas para o Brasil.

As 140 citações de uso na Listagem Livre, foram relacionadas a 68 espécies e estas foram distribuídas em seis categorias de uso sendo medicinal (46) e alimentar (24) as mais representativas. Dentre as espécies nativas (45) citadas, Myrciaria glazioviana (cabeluda, cabeludinha), Euterpe edulis (palmito-doce) e Plinia edulis (cambucá) também foram citadas na categoria alimentar sendo que esta última, da família Myrtaceae, além de  endêmica do Brasil, está ameaçada sendo considerada como vulnerável (VU) no Livro Vermelho da Flora do Brasil (MARTINELLI e MORAES, 2013), enquanto  Euterpe edulis (palmito-doce), da família Arecaceae, encontra-se incluída no Anexo I da Lista Oficial das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção (MMA, 2008), na categoria VU do Livro Vermelho da Flora do Brasil (CNCFLORA, 2013) e EN na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Município do Rio de Janeiro (SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE RJ, 2000).

FIGURA 1- Famílias mais representativas nas entrevistas semiestruturadas (n = 24) na Comunidade Sertão. Magé, RJ.
FIGURA 2 - Localização das áreas coletadas na RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes e seu entorno. Áreas reconhecidas por informantes (n = 13) da Comunidade Sertão. Magé, RJ: 1 – Parte Plana, "Mata de Baixo", "Baixada", "Parte Baixa". 2 – "Mata de Cima", "Parte do Morro". 3 – "Mato, Beira do Mato, Beirada do Mato, Beirada da Mata, Mata da Beira da Estrada".
FIGURA 3 – Categorias de uso mais representativas indicadas na listagem livre por 13 especialistas da Comunidade Sertão. Magé, RJ.

Dez espécies nativas do interior da floresta da RPPN foram salientadas como mais importantes em termos de uso e, aquelas com maiores frequências de citação foram relacionadas aos usos medicinais e alimentares. Dentre as medicinais, Jacaranda puberula (69,2%) é usada para fazer "chá para banho para "coceira, machucados, inflamação, limpar o sangue, sarna"; Sorocea bonplandii (69,2%) para "fazer chá para gastrite, dor - de - estômago, rins, pressão, ácido úrico". Dentre as alimentares Attalea humilis (38,5 %) e Myrciaria glazioviana também se encontram com os maiores valores de frequência de citação, sendo que a primeira também foi citada para construção.

Os valores de saliência variaram entre 0,005 e 0,375, destacando-se Lygodium volubile (0,375) e Sorocea bonplandii (0,337). Estudos relacionados às plantas medicinais e ritualísticas comercializadas em mercados populares e feiras livres do Rio de Janeiro citam essas espécies como bem comercializadas, embora a segurança em relação à toxicidade de S. bonplandii ainda não tenha sido totalmente determinada (LEITÃO et al., 2014). Dos erveiros totais entrevistados em feiras livres, 20% informaram que extraem plantas da Floresta da Tijuca, Mata do Grajaú, Tinguá, Magé, entre outros (MAIOLI-AZEVEDO e FONSECA- KRUEL, 2007).  Em Christo, Guedes-Bruni e Fonseca-Kruel (2006), a espécie Attalea humilis foi citada para construção e Siparuna guianensis para combustível.

As partes das plantas mais utilizadas foram a folha (41,2%), seguidas por fruto (20,9%) (FIGURA 4). Possivelmente as folhas encontram-se disponíveis durante todo o ano, enquanto as raízes são utilizadas somente como medicinais e os frutos para alimentação. Attalea humilis apresentou maior número de partes utilizadas, sendo a folha e estipe para construção e ornamentação e o broto somente para construção. O fruto é usado para alimentação, além do meristema apical. A retirada deste último indica potencial impacto sobre a vegetação, pois geralmente provoca a morte do indivíduo. O exsudado somente foi indicado para Artocarpus heterophyllus, sendo este usado para caça de passeriformes. Para Chazdon, (2003) e Balée & Erickson (2006), embora os distúrbios naturais e antrópicos como a exploração seletiva de recursos florestais com durações, intensidades e frequências distintas sejam considerados como parte da história de florestas tropicais, a coleta de produtos florestais madeireiros e não madeireiros pode alterar processos biológicos em vários níveis podendo afetar a fisiologia e as taxas vitais de indivíduos, alterar padrões genéticos e demográficos de populações e processos no âmbito de comunidades e de ecossistemas (TICKTIN, 2004).

FIGURA 4 - Partes dos vegetais mais relevantes e indicados como úteis por especialistas da Comunidade Sertão. Magé, RJ.

Os nomes vernaculares usados para as espécies mais citadas referem-se, ora ao recurso usado como alimento, ora a poderes religiosos a eles conferidos. Lecythis lanceolata foi denominada braúna e sapucaia, refletindo a variação regional dos nomes atribuídos às espécies. Guedes-Bruni, Sobrinho e Christo (2011) verificaram que os especialistas locais no estado do Rio de Janeiro, com quem trabalharam, tiveram maior contato com as atividades madeireiras ali constituídas anteriormente, de certa forma os capacitando a diferenciar espécies taxonômicamente próximas. Nesta comunidade residem há mais de 20 anos, especialistas oriundos de outros estados do sudeste brasileiro e de outras localidades do Rio de Janeiro, onde exerciam profissões ligadas à extração de recursos medicinais e/ou madeireiros como carpinteiro e coletores – extratores. Esse pequeno grupo de três especialistas contribuiu com o maior número e diversidade de espécies do interior da mata. Foram capazes de apontar zonas de recursos onde ocorrem espécies não citadas por outros especialistas como Geissospermum laeve (pau-pereira), Himatanthus bracteatus (agoniada) e Hortia brasiliana (casca-de-anta).

O dendrograma gerado pela análise de agrupamento demonstra a formação de quatro grupos. O primeiro formado, provavelmente por conter maior número de citações de espécies úteis em comum entre as áreas de Poço das Antas (Casimiro de Abreu) e Tinguá (Nova Iguaçu) (GUEDES-BRUNI, SOBRINHO e CHRISTO, 2011). O segundo por citações das áreas de Gleba Aldeia Velha (Silva Jardim) (CHRISTO, GUEDES-BRUNI e FONSECA-KRUEL, 2006) e Visconde de Mauá (Resende, Itatiaia e Bocaina de Minas) (QUINTEIRO et al., 2015). A área do presente estudo ficou agrupada ao primeiro, formando um terceiro grupo. Os dados etnobotânicos obtidos em Gleba Aldeia Velha e os de Visconde de Mauá ficaram ligados ao grupo três, formando o quarto grupo (FIGURA 5 ).

A maior similaridade com o primeiro grupo, pode ter sido devido à difusão do conhecimento entre os informantes de comunidades mais próximas geograficamente e à possível existência de maior troca de conhecimento sobre a utilidade das plantas. Este fato ficou evidenciado nas citações de espécies mais singulares por dois especialistas que, embora residam na Comunidade Sertão há mais de 20 anos, são oriundos de áreas próximas a essas UCs. Há maior similaridade na composição de espécies conhecidas e usadas entre estas comunidades em relação à Euterpe edulis (palmito-doce), Schinus terebinthifolius (aroeira, aroeirinha) e Siparuna guianensis (fedegoso, nega-mina, negramina).

FIGURA 5 - Similaridade entre 378 espécies indicadas como úteis por especialistas em cinco áreas, tendo quatro delas, dados publicados para a mata atlântica do Rio de Janeiro: Poço das Antas (Casimiro de Abreu) e Tinguá (Nova Iguaçu) (GUEDES-BRUNI, SOBRINHO e CHRISTO, 2011); Magé (RJ) (presente estudo); Gleba Aldeia Velha (Silva Jardim) (CHRISTO, GUEDES-BRUNI e FONSECA-KRUEL 2006); Visconde de Mauá (Resende, Itatiaia e Bocaina de Minas) (QUINTEIRO et al., 2015).

Conclusão

O conhecimento etnobotânico dos especialistas entrevistados da Comunidade Sertão é resultado da formação de um grupo de pessoas de diversas origens que migraram para a região. Embora as categorias medicinal e alimentar incluam o maior número de espécies úteis, sendo as folhas e frutos as partes mais usadas, não se pode considerar que isso represente uma ameaça à conservação. As categorias construção, menos representativa em termos numéricos e alimentar, via uso da planta inteira, totalizam 23,9% de citações de retirada de espécies da UC.  As partes citadas ao serem retiradas geralmente provocam a morte da planta (lenho, planta inteira e meristema apical), sendo incompatível com a conservação da biodiversidade local, especialmente em se tratando de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural e com a maioria das espécies citadas sendo provenientes dessa área e seu entorno imediato, com 25 citações exclusivas para esta zona. Os resultados do presente estudo demonstraram a retirada de espécies nativas e a prática de extração seletiva sobre Sorocea bonplandii e Attalea humilis, através da retirada de suas folhas e de outras partes como o meristema apical. Não obstante às espécies categorizadas em risco de extinção, assim como, outras com elevadas citações de uso como Jacaranda puberula, estas também devem ser consideradas como prioritárias para propósitos conservacionistas.

Para que o conhecimento etnobotânico das plantas nativas de florestas sobre baixada na mata atlântica seja preservado na região, é necessário que existam áreas onde essas espécies sejam protegidas e que a possibilidade de contato entre estas e a comunidade seja efetiva. Os conhecimentos locais registrados sobre o uso dos recursos vegetais poderão subsidiar ações para a conservação e salvaguarda da diversidade vegetal e cultural desta Unidade de Conservação.

Referências