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Comunicação Breve - Farmacologia

http://dx.doi.org/10.5935/2446-4775.20160042

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson uma espécie nativa promissora para a introdução em programas nacionais de plantas medicinais e fitoterápicos1

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson, a promising native species for introduction in national programs of medicinal plants and phytotherapy

Autores:
2CAMILLO, Flávia da Cunha*
Instituições
1Monografia (TCC/Especialização) apresentada no curso de Pós-graduação em Gestão da Inovação em Medicamentos da Biodiversidade (Lato Sensu - EAD), Instituto de Tecnologia em Fármacos, Farmanguinhos, FIOCRUZ.
2Aluna do curso de pós-graduação Lato Sensu em Gestão da Inovação em Medicamentos da Biodiversidade (modalidade EAD) do Instituto de Tecnologia em Fármacos, Farmanguinhos/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
*Correspondência:
flaviacamillo@bol.com.br

Resumo

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson (Verbenaceae), conhecida popularmente como erva cidreira, é uma das plantas mais utilizadas na medicina popular brasileira. Suas folhas são utilizadas em forma de chás, maceradas, extratos, xaropes e tinturas para tratar problemas gastrointestinais, diarreia e disenteria. A espécie possui diversos quimiotipos, sendo que seus metabolitos aromáticos já foram caracterizados no país, apresentando diferentes marcadores químicos com propriedades farmacológicas conhecidas, como analgésico, sedativo e antifúngico. Lippia alba, apesar de ser uma planta bastante utilizada no Brasil, encontra-se fora dos principais documentos que enfatizam a introdução de plantas medicinais na atenção básica do sistema de saúde pública. Diante dessas considerações, este estudo teve por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a classificação botânica, constituintes químicos, atividades farmacológicas e indicação de uso de Lippia alba, enfatizando a importância da espécie para o Brasil.

Palavras-chave:
Lippia alba.
Erva cidreira.
Óleo essencial.
Quimiotipos.
Políticas públicas.

Abstract

Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Ex Britton & P. Wilson (Verbenaceae), popularly known as lemongrass, is one of the most used plants in Brazilian folk medicine. Its leaves are used in the form of teas, macerated, extracts, syrups and tinctures to treat gastrointestinal problems, diarrhea and dysentery. The species has several chemotypes, and its aromatic metabolites have been characterized in the country, presenting different chemical markers with pharmacological properties already known, such as analgesic, sedative and antifungal. Lippia alba, despite being a plant widely used in Brazil, is outside of the main documents that emphasize the introduction of medicinal plants in primary care in the public health system. In view of these considerations, this study aimed to carry out a review of the literature on the botanical classification, chemical constituents, pharmacological activities and indication of use of Lippia alba, emphasizing the importance of the species to Brazil.

Palavras-chave:
Lippia alba.
Lemongrass.
Essential oil.
Chemotypes.
Public policy.

Introdução

O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta e possui uma rica sociobiodiversidade, representada por povos indígenas e comunidades tradicionais. O grande potencial da biodiversidade brasileira estimula o desenvolvimento de produtos inovadores oriundos de plantas medicinais (CALIXTO, 2005).

Nesse contexto, pode ser mensurado a importância do estudo de Lippia alba, uma planta nativa brasileira, amplamente utilizada pela medicina popular, apresentando diversas atividades farmacológicas comprovadas em estudos pré-clínicos (HEINZMANN e BARROS, 2007).

A espécie Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex P. Wilson (Verbenaceae), popularmente conhecida como erva-cidreira (LORENZI e MATOS, 2002) é tradicionalmente utilizada no país para tratar enfermidades relacionadas a desordens gastrointestinais, doenças respiratórias e problemas hepáticos (PASCUAL et al., 2001). E uma espécie promissora na indústria farmacêutica já sendo utilizada como fixado de fragrâncias (BAKKALI, et al., 2007).

Possui diversos quimiotipos, sendo que seus metabolitos aromáticos já foram caracterizados no país, apresentando diferentes marcadores químicos com propriedades farmacológicas conhecidas como analgésico (COSTA et al., 1989); sedativo (VALE, et al., 2002); antifúngicas (HOLTEZ, et al., 2002), podendo ser usada na forma de chás, maceradas, compressas, banhos, xarope, tinturas ou extratos (JULIÃO et al.,2003).

Apesar do extenso uso desta espécie pela população e diversos estudos pré-clínicos mostrando o seu potencial, a mesma encontra-se fora da lista de plantas medicinais com potencial utilização no SUS - RENISUS (BRASIL, 2009).

Diante dessas considerações, este estudo teve por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a classificação botânica, constituintes químicos, atividades farmacológicas, indicação de uso, pedido de patente e indicação terapêutica nos principais documentos regulatórios relacionados ao Ministério da Saúde, enfatizando a importância da espécie para o Brasil e contribuindo com mais informações para a que inovações no âmbito da saúde aconteçam.

Materiais e Métodos

Neste trabalho, foi utilizada uma abordagem qualitativa, caracterizado pela revisão da literatura por meio de levantamentos bibliográficos realizados entre janeiro a março de 2016. Foram compilados dados informativos de livros, compêndios, artigos e dissertações disponíveis nas bases de dados SciFinder, Web of Science, SciElo, PubMed, Lista de Espécies da Flora do Brasil, Tropicos.org. Missouri Botanical Garden, Angiosperm Phylogeny Website - Missouri Botanical Garden, DeCS, FIOCRUZ, Portal Saúde – SUS; ANVISA e INPI. Os descritores utilizados foram Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson, cidreira e carmelitana.

Resultado e Discussão

Família Verbenaceae J. St.-Hil.

As espécies da família Verbenaceae J. St.-Hil. ocorrem praticamente em todos os ecossistemas terrestres, e são encontradas nos campos rupestres, são plantas herbáceas, subarbustivas, arbustivas, lináceas a arbóreas. Possuem folhas opostas ou verticiladas, simples ou compostas, sem estípulas. As flores são monóclinas ou díclinas por aborto, reunidas em inflorescências racemosas ou cimosas, ovário súpero. O fruto é drupáceo ou esquizocárpico (MELO et al, 2010).

A família apresenta aproximadamente, 34 gêneros e 1.035 espécies (THE PLANT LIST, 2016). No Brasil, ocorrem aproximadamente 16 gêneros e 286 espécies e os dois principais centros de diversidade do gênero Lippia estão localizados na Cadeia do Espinhaço - MG e na Chapada diamantina - BA (FLORA DO BRASIL, 2016).

As principais espécies de Lippia encontradas nos estados brasileiros são: Lippia alba (Mill) N.E. Brown; Lippia lupulina Cham; Lippia hermannioides Cham; Lippia sidoides Cham; Lippia rubella (Moldenke) T.R.S. Silva & Salimena, Lippia rosella Moldenke; Lippia diamantinensis Glaziou; Lippia rotundifolia Cham.; Lippia pseudothea (A. ST. -Hil) Schauer, Lippia martiana Schauer; Lippia glandulosa Schauer; Lippia corymbosa Cham. e Lippia filifolia Mart. & Schauer (SOUSA, 2008).

Caracterização da espécie Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson é uma espécie que tem o Brasil como um dos centros de origem sendo nativa da Mata Atlântica (STEFANINI et al., 2002).

No Brasil, os nomes mais comuns são: cidreira, carmelitana, chá-de-tabuleiro, cidrila, alecrim selvagem, cidreira-brava, falsa-melissa, erva-cidreira, salva-do-brasil, alecrim do campo (LORENZI e MATOS, 2002). Além da diversidade de nomes populares, há também 28 sinonímias extensas descritas para a espécie (FLORA DO BRASIL, 2016).

Lippia alba é um subarbusto nativo, de morfologia variável, podendo atingir até um metro e meio de altura. Seus ramos são finos, longos, esbranquiçados, arqueados e quebradiços. As folhas são inteiras, opostas, de bordos serreados e ápice agudo, de 3-6 cm de comprimento. Suas flores são azul-arroxeadas, reunidas em inflorescências axilares capituliformes de eixo curto e tamanho variável e os frutos são drupas globosas de cor róseo-arroxeada (LORENZI e MATOS, 2002).

Fitoquímica

A investigação fitoquímica identificou uma grande variabilidade de substâncias, presente no óleo essencial da espécie Lippia alba cujos os compostos majoritários mais citados na literatura foram linalol, limoneno, carvona e citral (HENNEBELLE et al., 2006).

Atividade Farmacológica

Pesquisa realizada na literatura identificaram atividades farmacológicas relacionadas a espécie Lippia alba através de estudos pré-clínicos com investigação de ação analgésico (COSTA et al., 1989), antifúngicas (HOLTEZ et al., 2002), antimicrobiana (SOARES, 2001), sedativa (VALE et al., 2002), relaxamento muscular (ZÉLOTA et al., 2002); ansiolítico (HATANO et al., 2012), antioxidante (STASHENKO, JARAMILLO  e MARTÍINEZ, 2004), protetora da mucosa gástrica (PASCUAL et al., 2001), anestésico (HELDWEIN et al., 2012), inseticida (NICULAU et al., 2013) de seus extratos hidroalcoólico, etanólico, metanólico de folhas, extratos clorofórmico, acetônico e etanólico da raiz e do óleo essencial das folhas.

Políticas públicas

Através de análise nos principais documentos regulatórios referente a plantas medicinais, foi possível identificar a presença de indicação terapêutica para a espécie Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex P. Wilson no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira 1ª edição – FFFB.

No FFFB encontra-se registro de preparações extemporâneas com informações de sinonímia, nomenclatura popular, fórmula, orientação para preparo, advertências, indicação e modo de usar. O formulário apresenta indicação terapêutica para ansiolítico, sedativo leve, antiespasmódico e antidispéptico.

Apesar de várias publicações na literatura e de ser uma espécie passível para prescrição médica de acordo com FFFB, a mesma não está relacionada nos principais documentos que enfatizam a introdução de plantas medicinais e fitoterápicos na atenção básica e no sistema de saúde pública como a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS - RENISUS (BRASIL, 2009) e a Relação de Medicamentos Essenciais – RENAME (BRASIL, 2014).

Patente Lippia alba

Através de pesquisa realizada na base de dados do INPI (BRASIL, 2016) foi possível identificar dois depósitos recentes de pedido de patentes nacionais para a espécie Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex P. Wilson nos últimos 20 anos.

As patentes depositadas têm indicação como antimicrobiana e anestésico, e foram depositadas em 2011, sob os seguintes títulos: Obtenção de extrato antimicrobiano de Lippia alba, extrato obtido, e, composição antimicrobiana e Obtenção de composto anestésico de Lippia alba, composto anestésico obtido e uso de composto como anestésico.

Conclusão

Pela análise das informações obtidas foi possível identificar que a espécie Lippia alba é uma planta bastante promissora do ponto de vista químico e farmacológico, demonstrando que o uso na medicina tradicional tem encontrado respaldo em alguns estudos científicos. E uma espécie vegetal passível para prescrição médica com respaldo da legislação brasileira pelo FFFB, contudo o reconhecimento pelos principais documentos oficiais nacionais requer uma maior discussão política referente a inclusão da espécie, tornando necessário estimular a realização de novos trabalhos, tendo em vista a importância dos resultados obtidos.

Referências