Artigo de Pesquisa

Levantamento etnobotânico de plantas medicinais em comunidades rurais localizadas na Unidade de Conservação Tatu-Bola, município de Lagoa Grande, PE - Brasil

Ethnobotany survey of medicinal plants in rural communities located in the Protected Area of Tatu-Bola, Lagoa Grande town, PE - Brazil

http://dx.doi.org/10.17648/2446-4775.2019.713

Albergaria, Edward Teixeira de1*;
Silva, Márcia Vanusa da1;
Silva, Alexandre Gomes da (in memoriam)2.
1Universidade Federal de Pernambuco. Departamento de Bioquímica. Laboratório de Produtos Naturais. Av. Prof. Moraes do Rego s/n, Cidade Universitária, CEP 50650-420, Recife, PE, Brasil.
2Instituto Nacional do Semiárido, Av. Francisco Lopes de Almeida s/n, Serrotão, CEP 58429-970, Campina Grande, PB, Brasil.
*Correspondência:
edward.teixeira.albergaria@gmail.com

Resumo

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que infelizmente encontra-se como um dos mais ameaçados do mundo, no entanto grande parte da população do semiárido depende dela para sobreviver. O presente artigo teve por objetivo analisar o uso das plantas medicinais nativas em quarenta comunidades rurais inseridas na Unidade de Conservação Tatu-Bola, no município de Lagoa Grande (PE). Foi realizado um levantamento através de entrevistas com questionários semiestruturados aplicados a 111 informantes durante os meses de março, maio, junho e agosto de 2016, no qual registraram-se 54 espécies nativas pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo 14 delas endêmicas da Caatinga destacando-se as famílias Fabaceae e Euphorbiaceae. O hábito predominante das espécies foi o arbóreo, enquanto as partes mais utilizadas foram as cascas e entrecascas, sendo o chá a principal forma de uso. Quanto ao aspecto quantitativo foi determinado o valor de uso, o fator de consenso dos informantes e a importância relativa das espécies mencionadas. Tal levantamento revelou o amplo conhecimento sobre as plantas medicinais pelos moradores das comunidades de Lagoa Grande e a importância de registrá-lo, uma vez que o uso das plantas medicinais pode ter implicações nos estudos conservacionistas, de bioprospecção e no desenvolvimento de medicamentos naturais.

Palavras-chave:
Caatinga.
Nordeste Brasileiro.
Conhecimento Tradicional.
Plantas Nativas.

Abstract

The Caatinga is an exclusively Brazilian biome that sadly finds itself as one of the most threatened in the world, however much of the population of the semiarid depends on it to survive. The objective of this study was to analyze the use of native medicinal plants in forty rural communities located in the Tatu-Bola Conservation Unit, in the municipality of Lagoa Grande (state of Pernambuco). A survey was conducted through interviews with semistructured questionnaires applied to 111 informants during the months of March, May, June and August of 2016, in which 54 native species belonging to 23 botanical families were recorded, 14 of them endemic to the Caatinga, the families Fabaceae and Euphorbiaceae. The predominant habit of the species was arboreal, while the most used parts were outer bark and inner bark, with tea being the main form of use. Regarding the quantitative aspect, the value of use, the consensus factor of the informants and the relative importance of the mentioned species were determined. This survey revealed the wide knowledge about medicinal plants by residents of the communities of Lagoa Grande and the importance of registering it, as it may have implications for conservation and bioprospecting studies and the development of natural medicines.

Keywords:
Caatinga.
Brazilian Northeast.
Traditional Knowledge.
Native Plants.

Introdução

O Brasil possui a maior diversidade de plantas do mundo com flora estimada entre 50.000 e 60.000 espécies. Entre os biomas, a Caatinga, localizada no semiárido nordestino, merece destaque por ser o único domínio exclusivamente brasileiro [1] possuindo uma área de 844.453 Km2, o que equivale a 11% do território nacional e engloba 83% do território pernambucano. No entanto, esse bioma vem sofrendo acelerada degradação, entre os diversos motivos pode-se destacar o uso de lenha de modo ilegal e insustentável para fins domésticos e industriais, o sobrepastoreio e a conversão da vegetação em pastagem e agricultura associado a poucos investimentos em políticas públicas [2].

Apesar disso, grande parte da população que vive na Caatinga ainda depende diretamente dos recursos vegetais disponíveis para sobreviver e, devido ao baixo poder aquisitivo dessas pessoas, as plantas medicinais acabam sendo o meio mais acessível de combate a doenças [3]. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 65 a 80% da população mundial, principalmente nos países em desenvolvimento, dependem das plantas medicinais como único método terapêutico de assistência aos cuidados primários da saúde [1]. Somado a isso, a interferência de fatores externos à dinâmica social (maior acesso à medicina convencional, aumento da educação formal e migração para os centros urbanos) pode contribuir com a diminuição desses conhecimentos [4].

Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivos realizar o levantamento das plantas medicinais nativas da Caatinga, utilizadas pelos moradores das comunidades rurais no município de Lagoa Grande (Pernambuco), que estão inseridas na Unidade de Conservação Tatu-Bola e caracterizar o uso dessas plantas pelas populações locais.

Materiais e Métodos

Caracterização da área de estudo

O estudo foi desenvolvido no município pernambucano de Lagoa Grande (08°59'49''S; 40°16'19''W), localizado na Mesorregião do São Francisco e na Microrregião de Petrolina, distando aproximadamente 659 km da capital Recife e limitado pelas cidades de Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Dormentes e Santa Cruz e Juazeiro (BA). Segundo o último censo demográfico, o município possui uma população estimada em 25.030 habitantes cuja base econômica é concentrada na agricultura [5]. Conforme a classificação de Köppen, o clima é do tipo BSh semiárido, caracterizado como muito seco e com chuvas escassas. A temperatura média anual é de 24,8 °C e a pluviosidade chega a 585 mm, em média, por ano [6].

Além disso, Lagoa Grande está inserida em uma área que, juntamente com Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, abriga o Refúgio de Vida Silvestre Tatu-Bola, uma Unidade de Proteção Integral, criada em 16 de março de 2015 com objetivo de expandir o número de áreas de proteção no Estado, por ser um bioma único, comporta uma enorme diversidade de espécies endêmicas da Caatinga [7].

Coleta dos dados etnobotânicos

Os dados foram obtidos por meio de entrevistas realizadas nas quarenta comunidades localizadas no interior da UC, durante os meses de março, maio, junho e agosto de 2016, sendo direcionadas a informantes considerados especialistas locais, ou seja, aqueles reconhecidos como detentores de maior conhecimento sobre as plantas medicinais (TABELA 1). As informações foram obtidas apenas após leitura, autorização e assinatura do Termo de Livre Consentimento Esclarecido aprovado pelo Comite de Ética Humana da Universidade Federal de Pernambuco através da Plataforma Brasil, processo n° 23076.054291/2016-21, e cadastradas no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional sob o n° A08E18B.

TABELA 1: Comunidades visitadas e número de informantes (especialistas locais) amostrados na Unidade de Conservação Tatu-Bola.
Meses/2016 Comunidades visitadas Número de especialistas entrevistados
Março Assentamento Panelas, Assentamento União, Queimada Grande, Sítio Sombrio, Tanque, Três Conquistas e Sítio Belém 36
Maio Caldeirãozinho, Jataí, Assentamento Morro do Mel, Baixa do Juazeiro, Riacho do Caldeirão, Lagoa das Caraídas, Barreiro Branco, Sítio Satisfeito, Sítio Mateus, Sítio Chapada, Sítio do Morro e Sítio do Caldeirão 21
Junho Sítio Ingazeira, Sítio Saco da Volta, Sítio Cabana, Sítio Açude Saco, Sítio Cacimba Nova, Sítio Santana, Sítio Estrela D'Alva, Sítio Tanque Novo, Sítio Pau D'Arco, Sítio Lambedor, Assentamento Bom Conselho, Sítio Roseira e Sítio Pintada 18
Agosto Assentamento Catalunha, Assentamento Malhada Real, Assentamento Madre Paulina, Fazenda Gado Brabo, Sítio São Vicente, Assentamento Jatobá, Assentamento Riacho Fundo e Assentamento Riacho do Recreio 36
TOTAL 40 111

A entrevista foi baseada em formulário semi-estruturado contendo o questionário socioeconômico, com informações sobre gênero, faixa etária, estado civil, escolaridade, profissão e renda e a lista livre onde os entrevistados informaram o nome popular das plantas utilizadas para fins medicinais, as partes vegetais, as formas de uso e as indicações terapêuticas. O material botânico foi coletado adotando o procedimento de turnê guiada para que os entrevistados apontassem in loco a planta indicada, no intuito de evitar erros de identificação. A coleta foi concedida pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), registrado sob nº 26743-1.

O processo de coleta e herborização seguiram os parâmetros sugeridos por Fidalgo e Bononi [8] e todas as exsicatas foram tombadas e incorporadas ao Herbário Dárdano de Andrade-Lima, no Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). O sistema de classificação está de acordo com o Angiosperm Phylogeny Group IV[9] e os nomes científicos foram confirmados através dos bancos de dados do Missouri Botanical Garden[10] e da Lista de Espécies da Flora do Brasil [11], além de artigos especializados [12,13], sendo consideradas, nesse estudo, apenas as espécies nativas.

Análise dos dados

As indicações terapêuticas foram agrupadas em 16 categorias de sistemas corporais, conforme a Classificação Internacional de Doenças proposta pela OMS [14]. Foi adicionada uma categoria extra para "cicatrização'' por não ser configurada uma doença, apenas um processo de reparo do tecido. A partir disso foi calculado o Fator de Consenso dos Informantes usando a equação FCI = (nur - nt) / (nur - 1) onde nur é o número de citações de uso em cada categoria e nt é o número de espécies usadas naquela categoria. Esse procedimento busca identificar os sistemas corporais com maior consenso entre os informantes [15]. Para cada uma das espécies citadas também foi calculado o Valor de Uso, no qual a planta mais importante para uma comunidade é aquela que detém o maior número de usos, sendo determinada pela fórmula VU = ΣU/n, s U é o número de citações totais da espécie pelos informantes e n, o número total de informantes que a citaram [16].

A versatilidade das plantas medicinais foi determinada através do cálculo da Importância Relativa (IR) indicando as espécies mais importantes através do número de indicações terapêuticas. O cálculo é realizado pela soma de dois fatores IR = NSC + NP, sendo NSC o número de sistemas corporais e NP o número de propriedades medicinais. Esses fatores são determinados pela aplicação das seguintes fórmulas: NSC = NSCE/NSCEV e NP = NPE/NPEV, onde NSCE é o número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie vegetal, NSCEV é o número total de sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil, NPE é o número de propriedades medicinais de uma determinada especie e NPEV é o número total de propriedades medicinais atribuida à espécie mais versátil [17].

Resultados e Discussão

Por meio das entrevistas etnobotânicas foi possível registrar 54 espécies nativas com potencial medicinal distribuídas em 44 gêneros e 23 famílias botânicas, sendo 15 destas espécies endêmicas da Caatinga (TABELA 2). Foram entrevistadas 73 mulheres e 38 homens, totalizando 111 indivíduos. A faixa etária dos moradores compreendia dos 26 aos 93 anos, com maior predominância de idosos (> 60 anos, 53,15%). Conforme observado [18], a inserção das mídias modernas tem causado a perda do conhecimento sobre o uso de plantas transmitido oralmente, isso também reforça a importância dos estudos que focam na preservação dos saberes das populações tradicionais. Além disso, a maioria dos entrevistados não era alfabetizada (50,45%) e possuiam a agricultura como principal fonte de renda (91,9%), no qual 49,5% deles afirmaram receber menos de um salário mínimo.

Em relação à frequência de citação, as espécies mais mencionadas (≥ 5%) pelos entrevistados foram: umburana-de-cheiro (Amburana cearensis; 12,2%), aroeira (Myracrodruon urundeuva; 10,9%), umburana-de-cambão (Commiphora leptophloeos; 6,1%), ameixeira (Ximenia americana; 5,8%) e pau-ferro (Libidibia ferrea var. ferrea; 5,5%). O mesmo fora observado por Gonzaga [19] ao comparar duas áreas do semiárido baiano (São Bento e Patamuté) e constatar que, em ambas, as espécies de maior frequência foram o pau ferro-ferro, a umburana-de-cheiro, a faveleira e a catingueira.

Sobre o hábito das plantas, as árvores destacaram-se como importante fonte de recurso medicinal devido ao alto número de espécies (28 spp.), representando cerca de 80% dos hábitos vegetais mencionados pelos entrevistados, em seguida vieram os arbustos (10,44%) e, em menor proporção, os subarbustos (5,45%), as ervas (3,27%) e as trepadeiras (1,09%) (GRÁFICO 1). Conforme a Hipótese da Aparência Ecológica, comunidades que vivem no entorno de florestas secas têm maior relação com as espécies arbóreas que são as mais aparentes, ou seja, com maior disponibilidade e facilidade em serem encontradas. Consequentemente, esses recursos e suas propriedades medicinais se tornam mais familiares às pessoas [20-23].

GRÁFICO 1: Hábito das plantas medicinais utilizadas pelos informantes das comunidades de Lagoa Grande.
Figura 1

As partes mais utilizadas foram: a entrecasca (32,53%) e a casca do caule (32,24%), seguidas então pelas folhas, sementes (ambas com 9,23%), raízes (5,4%) e frutos (5,11%) (GRÁFICO 2). Isso se deve ao fato de que a maioria das plantas nativas da Caatinga perdem suas folhas durante o período seco, permanecendo apenas as estruturas perenes e lignificadas, o que corrobora com diversos trabalhos que apontam que em vegetações de semiárido as pessoas têm preferência por recursos de ampla disponibilidade, mesmo havendo outras plantas com funções similares e até mesmo mais acessíveis [24-26,19].

GRÁFICO 2: Parte das plantas medicinais utilizadas pelos informantes das comunidades de Lagoa Grande.
Figura 2

Constatou-se que os modos de administração eram realizados por via oral (90,56%), tópico (9,43%), inalação (0,5%) e gargarejo (0,17%) (GRÁFICO 3). O chá foi a forma de uso mais indicada pelos entrevistados (61,4%) estando subdividido em maceração (52,51%), infusão (45,81%) e decocção (2%) (GRÁFICO 4). Além do chá, os demais modos de uso oral mencionados foram tinturas (14,75%), lambedores (10,98%), a forma in natura (1,54%), pós (1%), sucos (0,69%) e garrafadas (0,17%) (GRÁFICO 5). Apesar da técnica de decocção ser, na maioria das vezes aplicada no preparo de chás de estruturas rígidas e lignificadas, o baixo emprego dessa técnica na nossa pesquisa foi incomum, uma vez que as partes vegetais, cascas e entrecascas, foram as mais utilizadas.  Um estudo desenvolvido na comunidade do Curral Velho (PI) mostrou o uso frequente da decocção com folhas, pois se acredita que esse é o método ideal para obter os princípios ativos da planta, talvez isso justifique o menor uso da decocção nas comunidades de Lagoa Grande [27].

GRÁFICO 3: Formas de administração das plantas medicinais pelos informantes das comunidades de Lagoa Grande.
Figura 3
GRÁFICO 4: Formas de preparo dos chás pelos informantes das comunidades de Lagoa Grande.
Figura 4
GRÁFICO 5: Formas de uso das plantas medicinais pelos informantes das comunidades de Lagoa Grande.
Figura 5

Sobre o aspecto quantitativo, a espécie que apresentou o maior valor de uso (VU) foi o quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.; 3,0). No entanto, esse valor está subestimado, pois apenas um uso medicinal foi mencionado por um único informante. Portanto, a planta com o maior valor de uso foi o jatobá (Hymenaea courbaril Hayne; 2,84), sendo essa a espécie mais importante nas comunidades de Lagoa Grande, apresentando 54 usos medicinais.

Mediante o índice de Importância Relativa (IR), verificou-se que as espécies mais versáteis foram a umburana-de-cheiro (Amburana cearensis; 1,73) com 23 indicações terapêuticas inseridas em oito sistemas corporais e o pau-ferro (Libidibia ferrea var. ferrea; 1,70) havendo 16 indicações terapêuticas em dez sistemas corporais (excluindo cicatrização). Além disso, essas espécies também aparecem como aquelas que possuem maior frequência de citação. Sendo assim, uma planta com elevado valor de importância relativa pode indicar uma real eficiência na cura da doença, podendo também auxiliar na escolha de espécies para estudos farmacológicos de seus princípios ativos [28]. Alguns trabalhos indicam o pau-ferro no tratamento de doenças como reumatismo, problemas cardiovasculares e neoplasias [29-30], enquanto outros levantamentos apontam o uso da umburana-de-cheiro no tratamento, de inflamações e enfermidades associadas ao aparelho respiratório como gripe, sinusite, bronquite e tosse [31-33] cuja eficácia foi comprovada [34] ao testar extratos hidroalcólicos de algumas plantas contendo cumarinas, entre elas a Amburana cearensis.

Por outro lado, mesmo a umburana-de-cheiro possuindo diversas propriedades medicinais, essa espécie apresenta o status de "quase ameaçada de extinção'', segundo o Livro Vermelho da Flora do Brasil [35], sendo necessária a adoção de boas práticas de manejo e possíveis alternativas para que a pressão de uso dessa espécie seja amenizada.

TABELA 2. Relação das espécies medicinais mencionadas nas comunidades de Lagoa Grande – PE, Brasil, em 2016.
Família/Espécie Nome Vulgar Voucher Hábito Parte utilizada Forma de uso e administração Sistema corporal* n VU IR
LYCOPODIOPHYTA
Selaginellaceae
Selaginella convoluta (Arn.) Spring Jericó 95152 Erva Planta inteira Chá, suco, tintura SH, SC 03 1,00 0,27
MAGNOLIOPHYTA
Anacardiaceae
Anacardium occidentale L. Caju roxo 95153 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas Chá, cataplasma, banho de assento, tintura SGU, NC*** 08 1,25 0,44
Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira, aroeira do sertão 84059 Árvore Casca do caule, casca da raiz, entrecasca, caule, folhas, sementes Chá, cataplasma, lambedor, banho, banho de assento, tintura DIP, NEO, SR, SD, SOM, SGU, LE, NC*** 73 1,11 1,39
Schinopsis brasiliensis Engl. Baraúna 95154 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas Chá, lambedor, banho, tintura SH, SC, SR, SD, LE, SOM, SGU, NC** 12 1,25 1,30
Spondias tuberosa Arruda Umbuzeiro 91090 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas, látex Chá, cataplasma, tintura DIP, SH, SD, SOM, NC*** 19 1,16 0,89
Apocynaceae
Aspidosperma pyrifolium Mart. & Zucc. Pereiro 85734 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas Chá DE, SD 03 1,00 0,31
Asteraceae
Acanthospermum hispidum DC. Espinho de cigano 95157 Erva Raiz, casca da raiz Lambedor, tintura SR 02 1,00 0,13
Baccharis crispa Spreng. Carqueja 95158 Erva Raiz Chá, tintura, SOM, SGU 02 1,50 0,27
Egletes viscosa (L.) Less. Macela 95159 Erva Fruto, semente Chá, in natura SD 04 1,25 0,26
Bignoniaceae
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos Ipê roxo, pau-d'arco 95160 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá, tintura DIP, NEO, SC, SGU 03 1,33 0,53
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f. ex S.Moore Craibeira, ipê amarelo 95162 Árvore Entrecasca Chá SOM 01 1,00 0,13
Burseraceae
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett Umburana de cambão 84037 Árvore Casca do caule, entrecasca, caule, folhas, sementes, resina Chá, lambedor, banho, cataplasma, tintura DIP, SH, DE, SC, SR, SD, SGU, NC*** 41 1,32 1,39
Cactaceae
Cereus jamacaru DC. subsp. jamacaru** Mandacaru 95163 Árvore Raiz, casca da raiz, caule (cladódio) Chá, tintura DIP, NEO, SOM, SGU, NC*** 21 1,28 1,02
Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb.** Coroa-de-frade 95165 Subarbusto Casca do caule, fruto Chá, suco DE, SD 02 1,50 0,31
Tacinga inamoena (K.Schum.) N.P.Taylor & Stuppy** Quipá 95166 Subarbusto Raiz Chá SGU 02 1,00 0,18
Capparaceae
Cynophalla flexuosa (L.) J.Presl Feijão-bravo 95168 Árvore Casca do caule Chá, banho SR 02 1,00 0,13
Celastraceae
Monteverdia rigida (Mart.) Biral** Bom-nome 95169 Árvore Entrecasca Chá NC, SR 02 1,50 0,31
Cleomaceae
Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. Mussambê 95170 Subarbusto Casca do caule, raiz Lambedor SR 02 0,50 0,13
Convolvulaceae
Operculina macrocarpa (L.) Urb. Batata-de-purga 95171 Trepadeira Caule tuberoso, semente Chá, lambedor DIP, SR, SD 06 1,33 0,44
Cucurbitaceae
Apodanthera villosa C.Jeffrey** Batata-de-teiu 95173 Trepadeira Raiz tuberosa Tintura SD 01 1,00 0,13
Euphorbiaceae
Cnidoscolus quercifolius Pohl** Faveleira 95175 Arbusto Casca do caule, entrecasca, raiz, caule Chá, lambedor, cataplasma, garrafada, banho de assento, tintura DIP, NEO, SH, SR, SD, LE, SOM, NC*** 24 1,12 1,30
Cnidoscolus urens (L.) Arthur Cansansão 95176 Arbusto Raiz, casca da raiz Chá NEO, SD, SGU, NC 06 1,67 0,62
Croton adamantinus Müll.Arg.** Moleque-duro 95177 Arbusto Flor Chá DOA 01 1,00 0,13
Croton blanchetianus Baill.** Marmeleiro 95178 Arbusto Entrecasca, goma, folhas Chá, lambedor SR, SD, NC*** 12 1,08 0,53
Croton heliotropiifolius Kunth Velame 95181 Arbusto Casca do caule, raiz Lambedor, tintura SR, SOM 02 1,00 0,27
Jatropha mutabilis (Pohl) Baill. Pinhão 95182 Arbusto Caule, látex Tintura, in natura SD, SOM, NC*** 04 1,00 0,53
Sapium argutum (Müll.Arg.) Huber Burra-leiteira 95184 Árvore Látex Cataplasma DIP 01 1,00 0,13
Fabaceae
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Smith Umburana-de-cheiro 95185 Árvore Casca do caule, casca da raiz, entrecasca, folha, semente Chá, lambedor, banho, gargarejo, tintura, inalação DIP, SH, SN, SC, SR, SD, CEM, NC 82 1,52 1,73
Bauhinia catingae Harms** Mororó 95186 Arbusto Casca do caule, entrecasca, folhas Chá, lambedor, tintura, in natura DIP, NEO,SH, DE, SC, SGU, NC*** 20 2,60 1,16
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó 95187 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas Chá, lambedor, tintura, in natura DIP, NEO, SH, DE, SC, SGU, NC*** 20 2,60 1,16
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Tamboril 95189 Árvore Casca do caule, entrecasca, fruto Chá, tintura DIP, SOM, SGU, NC 05 1,60 0,58
Erythrina velutina Willd. Mulungu 95190 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá DIP, TMC, SGU, NC*** 07 1,28 0,71
Geoffroea spinosa Jacq. Umarizeiro 95191 Arbusto Casca do caule Chá SH 01 1,00 0,13
Hymenaea courbaril L. Jatobá 84888 Árvore Casca do caule, entrecasca, fruto, semente Chá, lambedor, tintura, in natura DE, SH, SC, SR, SD, NC 19 2,84 1,06
Hymenaea martiana Hayne Jatobá 95193 Árvore Casca do caule, entrecasca, fruto, semente Chá, lambedor, tintura, in natura DE, SH, SC, SR, SD, NC 20 2,70 1,06
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz var. ferrea** Pau-ferro, jucá 84035 Árvore Casca do caule, entrecasca, fruto, semente Chá, lambedor, in natura, pó DIP, DE, SH, SC, SR, SD, SOM, SGU, LE, NC*** 37 1,38 1,70
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema, jurema preta 95195 Árvore Casca do caule, entrecasca, raiz Chá, lambedor, banho de assento, cataplasma, tintura DIP, NEO, SR, NC*** 14 1,14 0,67
Cenostigma microphyllum (Mart. ex G. Don) E. Gagnon & G. P. Lewis Catingueira-de-porco ou de boi 84880 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá, tintura DIP, TMC, SR, SD, NC 06 1,17 0,67
Cenostigma pyramidale (Tul.) E. Gagnon & G. P. Lewis ** Catingueira-verdadeira 95196 Árvore Casca do caule, casca da raiz, entrecasca, folha, flor Chá, lambedor, tintura DIP, TMC, SR, SD, NC 11 1,73 0,93
Malvaceae
Pseudobombax simplicifolium A.Robyns** Imbiruçu 96255 Árvore Casca do caule, casca da raiz, entrecasca Chá, cataplasma, tintura DIP, SH, SC, SR, SD, SGU, NC*** 21 1,19 1,25
Pseudobombax marginatum (A.St.-Hil., Juss. & Cambess.) A. Robyns Embiratanha 96256 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá NEO*** 03 1,00 0,27
Olacaceae
Ximenia americana L. Ameixa, ameixa-preta 96261 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá, tintura, cataplasma, pó, banho DIP, SD, SOM, SGU, NC*** 38 1,34 0,88
Phyllanthaceae
Phyllanthus amarus Schumach. Quebra-pedra 96262 Erva Planta inteira Chá SGU 02 1,5 0,13
Phyllanthus niruri L. Quebra-pedra 96263 Erva Planta inteira Chá SGU 01 3,0 0,13
Rhamnaceae
Ziziphus joazeiro Mart.** Juazeiro 96264 Árvore Casca do caule, entrecasca, folhas Chá, suco, lambedor, banho, pó SR, DP, LE, NC 17 1,23 0,66
Rubiaceae
Coutarea hexandra (Jacq.) K.Schum. Quina-quina 96265 Arbusto Casca do caule, entrecasca Chá, banho, inalação DE, SR, SD 05 1,20 0,44
Genipa americana L. Jenipapo 96266 Árvore Casca do caule, entrecasca, fruto Chá, suco, cataplasma DE, DOA, SH*** 03 1,33 0,53
Sapotaceae
Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn. subsp. obtusifolium Quixabeira 84076 Árvore Casca do caule, entrecasca Chá, tintura DIP, SOM, SGU, LE, NC*** 13 1,31 0,89
Turneraceae
Turnera subulata Smith Chanana 84060 Erva Raiz, folha Chá, tintura DIP, DE, SGU 02 1,50 0,40
Verbenaceae
Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson Erva-cidreira 96273 Subarbusto Folha Chá, lambedor TMC, SR 03 0,67 0,27
Lippia grata Schauer** Alecrim 96274 Subarbusto Planta inteira,
caule, folha
Chá, banho, tintura SR, SD 07 0,86 0,31
Lippia origanoides Kunth Alecrim-do-campo ou do mato 96275 Subarbusto Planta inteira,
caule, folha
Chá, lambedor, banho SR, NC*** 19 1,31 0,49
Vitex gardneriana Schauer** Salgueiro 96276 Árvore Casca do caule, entrecasca, folha Chá SR, SOM, NEO, NC*** 09 1,44 0,67
Violaceae
Pombalia calceolaria (L.) Paula-Souza Papaconha, ipepaconha 96277 Erva Raiz Chá, lambedor, in natura SR, SD, NC 06 1,33 0,44
Fonte: Adaptado de Araújo e Lemos (2015)
Legendas: n – Número de Informantes, VU – Valor de Uso; IR – Importância Relativa.
Notas:
*Sistemas corporais, conforme a CID-10: doenças do sistema digestivo (SD), doenças do sistema respiratório (SR), doenças do sistema geniturinário (SGU), lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (LE), doenças do tecido osteomuscular e tecido conjuntivo (SOM), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (DE), doenças da pele e do tecido subcutâneo (DP), doenças do sistema hematopoiético e certas desordens do sistema imunológico (SH), doenças do sistema cardiovascular (SC), doenças do sistema nervoso (SN), doenças infecciosas e parasitárias (DIP), gravidez, parto e puerpério (GPP), neoplasma (NEO), doença dos olhos e anexos (DOA), causas externas de mobilidade e mortalidade (CEM), transtornos mentais e comportamentais (TMC), sintomas não classificados (NC).
** Espécie endêmica da Caatinga
*** Cicatrização

Quanto às indicações terapêuticas, a maioria delas estava associada ao sistema digestivo (10 indicações), seguido pelos sinais e sintomas não classificados (09) e pelas doenças relacionadas ao sistema geniturinário (07), respiratório e as infectoparasitárias (ambas com 05 indicações) (GRÁFICO 6). Tal fato pode está relacionado a dificuldade no acesso dessas comunidades a uma rede sanitária adequada, precariedade de políticas de saúde pública e ao déficit na educação ambiental, já que a diarreia foi a enfermidade mais citada do sistema digestivo.

GRÁFICO 6: Relação entre o número de indicações terapêuticas mencionadas pelos informantes de Lagoa Grande e os sistemas corporais.
Figura 6

Essas categorias também foram as mais representativas em número de espécies, diferenciando apenas na ordem: sinais e sintomas não classificados (29 spp.), doenças associadas ao sistema respiratório (26 spp.), digestivo (25 spp.), às doenças infecciosas e parasitárias (21 spp.) e ao sistema genitourinário (20 spp.) (GRÁFICO 7).

GRÁFICO 7: Relação entre o número de espécies medicinais mencionadas pelos informantes de Lagoa Grande e os sistemas corporais.
Figura 7

No entanto, através do Fator de Consenso dos Informantes (FCI) foi determinado que os sistemas corporais que apresentaram maior consenso pelos moradores das comunidades de Lagoa Grande foram as doenças de pele e tecido subcutâneo (1,0), sistema respiratório (0,882), os sinais e sintomas não classificados (0,856), o sistema digestivo (0,784) e o sistema cardiovascular (0,743). Três categorias obtiveram FCI igual a zero: causas externas de mortalidade (CEM), doenças dos olhos e anexos (DOA) e sistema nervoso (SN). Isso ocorreu porque essas últimas categorias não estão associadas a enfermidades frequentes à maioria dos informantes, enquanto na primeira categoria a enfermidade a "gripe'' foi mencionada 171 vezes, revelando ser uma doença com alta frequência nas comunidades (TABELA 3). Esse resultado é semelhante a inúmeros trabalhos realizados em áreas de Caatinga, no qual essas categorias obtiveram FCI ≥ 0,5, enquanto DOA apresentou menor consenso entre os informantes [36-37,27,38,33].

TABELA 3: Fator de Consenso dos Informantes (FCI) sobre as plantas medicinais das comunidades de Lagoa Grande – PE, Brasil, em 2016, seguindo a classificação dos sistemas corporais propostos pela Organização Mundial da Saúde.
Sistemas corporais (CID-10) Indicação terapêutica Espécies vegetais
DP: doença da pele e do tecido subcutâneo (FCI = 1) Prurido (1), dermatite seborreica (caspa) (3) Ziziphus joazeiro. (1 sp.)
SR: doenças do sistema respiratório (FCI = 0,882) Sinusite (18), gripe (171), resfriado (2), pneumonia (18), bronquite (4) Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Acanthospermum hispidum, Commiphora leptophloeos, Cynophala flexuosa, Monteverdia rigida, Tarenaya spinosa, Operculina macrocarpa, Cnidoscolus quercifolius, Croton blanchetianus, Croton heliotropiifolius, Amburana cearensis, Hymenaea courbaril, Hymenaea martiana, Libidibia ferrea, Mimosa tenuiflora, Cenostigma microphyllum, Cenostigma pyramidale, Pseudobombax simplicifolium, Ziziphus joazeiro, Coutarea hexandra, Lippia alba, Lippia grata, Lippia origanoides, Vitex gardneriana, Pombalia calceolaria. (26 spp.)
NC: sintoma não classificado em outra categoria (FCI = 0,856) Tosse (26), cefaléia (5), inflamação (136), dor de garganta (9), febre (7), mal-estar (2), fadiga (2), edemas (1), dores no corpo em geral (7) Anacardium occidentale, Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Spondias tuberosa, Commiphora leptophloeos, Cereus jamacaru jamacaru, Monteverdia rigida, Cnidoscolus quercifolius, Cnidoscolus urens, Croton blanchetianus, Jatropha mutabilis, Amburana cearensis, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Enterolobium contortisiliquum, Erythrina velutina, Hymenaea courbaril, Hymenaea martiana, Libidibia ferrea, Mimosa tenuiflora, Cenostigma microphyllum, Cenostigma pyramidale, Pseudobombax simplicifolium, Ximenia americana, Ziziphus joazeiro, Sideroxylon obtusifolium, Lippia origanoides, Vitex gardneriana, Pombalia calceolaria. (29 spp.)
SD: doenças do sistema digestivo (FCI = 0,784) Gastrite (11), má digestão (25), diarreias não-especificadas (53), estufamento (3), dor no dente (5), dores estomacais (4), apendicite (1), úlcera gástrica (2), problemas no fígado (2), constipação (6) Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Spondias tuberosa, Aspidosperma pyrifolium, Egletes viscosa, Commiphora leptophloeos, Melocactus zehntneri, Operculina macrocarpa, Apodanthera villosa, Cnidoscolus quercifolius, Cnidoscolus urens, Croton blanchetianus, Jatropha mutabilis, Amburana cearensis, Hymenaea courbaril, Hymenaea martiana, Libidibia ferrea, Cenostigma microphyllum, Cenostigma pyramidale, Pseudobombax simplicifolium, Pseudobombax simplicifolium, Ximenia americana, Coutarea hexandra, Lippia grata, Pombalia calceolaria. (25 spp.)
SC: doenças do sistema cardiovascular (FCI = 0,743) Anticoagulante (34), problema cardíaco (1), pressão alta (4), derrame (1) Selaginella convoluta, Schinopsis brasiliensis, Handroanthus impetiginosus, Commiphora leptophloeos, Amburana cearensis, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Hymenaea courbaril, Hymenaea martiana, Libidibia ferrea, Pseudobombax simplicifolium. (11 spp.)
SGU: sistema genitourinário
(FCI = 0,666)
Infecção urinária (10), vaginite (9), problemas renais (30), problemas na próstata (6), nódulos/cistos mamários (1), cólicas (1), calculose renal (1) Anacardium occidentale, Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Baccharis crispa, Handroanthus impetiginosus, Commiphora leptophloeos, Cereus jamacaru jamacaru, Tacinga inamoena, Cnidoscolus urens, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Enterolobium contortisiliquum, Erythrina velutina, Libidibia ferrea, Pseudobombax simplicifolium, Ximenia americana, Phyllanthus amarus, Phyllantus niruri, Sideroxylon obtusifolium, Turnera subulata. (20 sp.)
* (FCI = 0,649) Cicatrização (58) Anacardium occidentale, Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Spondias tuberosa, Commiphora leptophloeos, Cereus jamacaru jamacaru, Cnidoscolus quercifolius, Croton blanchetianus, Jatropha mutabilis, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Erythrina velutina, Libidibia ferrea, Mimosa tenuiflora, Pseudobombax simplicifolium, Pseudobombax marginatum, Ximenia americana, Genipa americana, Sideroxylon obtusifolium, Lippia origanoides, Vitex gardneriana. (21 spp.)
SH: Doenças do Sangue e Órgãos Hemoatopoiéticos (FCI = 0,638) Colesterol (12), problemas cardiovasculares (9), anemia (16) Selaginella convoluta, Schinopsis brasiliensis, Spondias tuberosa, Commiphora leptophloeos, Cnidoscolus quercifolius, Amburana cearensis, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Geoffroea spinosa, Hymenaea courbaril, Hymenaea martiana, Libidibia ferrea, Pseudobombax simplicifolium, Genipa americana. (14 spp.)
DIP: doenças infecciosas e parasitárias (FCI = 0,535) Tuberculose (1), varicela (catapora) (1), verruga (1), infecções em geral (41) Myracrodruon urundeuva, Spondias tuberosa, Handroanthus impetiginosus, Commiphora leptophloeos, Cereus jamacaru jamacaru, Operculina macrocarpa, Cnidoscolus quercifolius, Sapium argutum, Amburana cearensis, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Enterolobium contortisiliquum, Erythrina velutina, Libidibia ferrea, Mimosa tenuiflora, Cenostigma microphyllum, Cenostigma pyramidale, Pseudobombax simplicifolium, Ximenia americana, Sideroxylon obtusifolium, Turnera subulata. (21 spp.)
NEO: neoplasias (FCI = 0,437) Câncer ou tumores (17) Myracrodruon urundeuva, Handroanthus impetiginosus, Cereus jamacaru jamacaru, Cnidoscolus quercifolius, Cnidoscolus urens, Bauhinia catingae, Bauhinia cheilantha, Mimosa tenuiflora, Pseudobombax marginatum, Vitex gardneriana. (10 spp.)
TMC: Transtornos mentais e comportamentais (FCI = 0,400) Insônia (3), falta de apetite (3) Erythrina velutina, Cenostigma microphyllum, Cenostigma pyramidale, Lippia alba. (4 spp.)
SOM: doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (FCI = 0,381) Dorsalgia (19), osteoporose (1), transtornos ósseos (2) Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Spondias tuberosa, Baccharis crispa, Tabebuia aurea, Cereus jamacaru jamacaru, Cnidoscolus quercifolius, Croton heliotropiifolius, Jatropha mutabilis, Enterolobium contortisiliquum, Libidibia ferrea, Ximenia americana, Sideroxylon obtusifolium, Vitex gardneriana. (14 spp.)
LE: lesões, envenenamentos e algumas outras consequencias de causas externas (FCI = 0,286) Alergia (1), pancada (7) Myracrodruon urundeuva, Schinopsis brasiliensis, Cnidoscolus quercifolius, Libidibia ferrea, Ziziphus joazeiro, Sideroxylon obtusifolium. (6 spp.)
CEM: Causas externas de mortalidade (FCI = 0) Picada de cobra (1) Amburana cearensis (1 spp.)
DOA: doenças dos olhos e anexos (FCI = 0) Problemas de visão (1), catarata (1) Croton adamantinus, Genipa americana. (2 spp.)
SN: doenças do sistema nervoso (FCI = 0) Enxaqueca (1) Amburana cearensis (1 spp.)
Fonte: Adaptado de Saraiva, et al. (2015).
Nota: * A indicação terapêutica "cicatrização" não está inserida em nenhum sintoma corporal, pois esta não se configura uma doença, mas um processo de reparo de um tecido.

Conclusão

Esta pesquisa etnobotânica tem o potencial de contribuir com informações que podem enriquecer as práticas culturais dos moradores da UC Tatu-Bola e que são muito importantes no tratamento de várias enfermidades. No entanto, como o conhecimento das plantas medicinais está restrito aos mais idosos, é de extrema importância que seja feito o seu registro, contribuindo de forma significativa com futuros estudos de etnofarmacologia, bioprospecção e no desenvolvimento de potenciais medicamentos com plantas nativas da Caatinga.

Devida atenção, também, deve ser dada quanto ao uso de técnicas, quantidade e frequência de extração realizada, uma vez que a retirada de cascas e entrecascas, que foram as partes vegetais mais usadas pelos entrevistados, expõe o tecido vegetal, principalmente os vasos condutores, à ação de patógenos e herbívoros, o que compromete a sobrevivência da planta e, a 'longo prazo' afeta toda a dinâmica populacional da vegetação local.

Agradecimentos

Os autores agradecem a todos os moradores das comunidades de Lagoa Grande, por terem aceitado compartilhar seus conhecimentos sobre as plantas medicinais, e à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) pelo apoio financeiro do projeto TED 003/15 UFPE-SUDENE.

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