Comunicação Breve

Agroecologia e produção orgânica na agricultura familiar no território extremo sul da Bahia

Agroecology and organic production in family agriculture in the southern extreme territory of Bahia

http://dx.doi.org/10.17648/2446-4775.2019.757

Sena, Ana Odália Vieira1*;
Santana, Gean Paulo Gonçalves1;
Ferreira, Maria Jucilene1;
Bogo, Maria Nalva Rodrigues de Araújo1;
Carvalho, Luzeni Ferraz de Oliveira1.
1Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus X Teixeira de Freitas. Avenida Kaikan, s/n, Jardim Caraípe, CEP 45995-000, Teixeira de Freitas, BA, Brasil.
*Correspondência:
odaliasena@gmail.com

Resumo

Sustentando os pressupostos da agroecologia, os pequenos produtores(as) organizados em suas associações e movimentos têm buscado outra matriz produtiva no cultivo de alimentos livres de agrotóxicos para uso da população. Este trabalho objetivou contribuir com o uso sustentável dos recursos naturais e com a oferta de alimentos saudáveis para consumo, visando desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e ambiente da população da região do extremo sul da Bahia. Verificou-se a necessidade de estudos sobre práticas agroecológicas para o cultivo e produção de alimentos orgânicos, com vistas ao aprofundamento teórico-prático acerca de técnicas e formas de uso da terra, sob a perspectiva da agroecologia. Para tanto, Implantou-se uma feira permanente no Departamento de Educação Campus X (DEDC X), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), buscando nos atores a compreensão do sistema orgânico de produção na base agroecológica, como possibilidade de integração entre capacidade produtiva, uso, conservação da biodiversidade e demais recursos naturais, como o equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social. Onde, foi possível também ampliar na universidade o debate sobre a temática do campo brasileiro, no tocante ao acesso à terra, agroecologia (como alternativa ao modelo do agronegócio), fortalecendo o conhecimento levando a discussão ao ensino, à pesquisa e à extensão.

Palavras-chave:
Agroecologia.
Educação.
Agricultura familiar.
Feira.
Extremo Sul da Bahia.

Abstract

Underpinning the assumptions of agroecology, the small producers organized in their associations and movements have sought another productive matrix in the cultivation of food free of pesticides for the use of the population. This work aimed to contribute to the sustainable use of natural resources and to the provision of healthy food for consumption, aiming at sustainable development, quality of life and environment of the population of the extreme south of Bahia. It verified the need to carry out studies on agroecological practices for the cultivation and production of organic foods, with a view to the theoretical-practical deepening of techniques and forms of land use, from the perspective of agroecology. To this end, permanent fair was established in the Department of Education Campus X (DEDC X), State University of Bahia (UNEB), seeking the understanding of the organic production system in the agroecological base, as possibility of integration between productive capacity, use, conservation of biodiversity and other natural resources, such as ecological balance, economic efficiency and social justice. It was also possible to expand the debate on the subject of the Brazilian field in terms of access to land, agroecology (as an alternative to the agribusiness model), strengthening knowledge in the university, bringing the discussion to teaching, research and extension.

Keywords:
Agroecology.
Education.
Family farming.
Fair.
Extreme South of Bahia.

Introdução

Ao refletir sobre modelos de produção agroecológica, não se pode ignorar a problemática da terra no Brasil. O latifúndio, a produção para o mercado externo e a exploração da mão de obra foram marcas dos modelos produtivos no campo Brasileiro[1]. Tais modelos deixaram como resultado um país rico em biodiversidade, mas ao mesmo tempo uma concentração da terra e da riqueza de forma estúpida e escandalosa. O Brasil é o segundo país em concentração de terra no Mundo, perde apenas para o Paraguai. Essa má distribuição da terra no Brasil foi criticado por vários organismos internacionais como a ONU, Banco Mundial, etc.

Na região do extremo sul da Bahia as empresas de celulose possuem mais de 600 mil hectares de terra enquanto os povos indígenas, verdadeiros guardiões da natureza, os Sem Terra e quilombolas vagueiam e são violentados lutando pela defesa da terra e da natureza. Sustentando os pressupostos da agroecologia, os pequenos produtores e produtoras organizados em suas associações e movimentos, têm buscado outra matriz produtiva com a produção agroecológica, produzindo alimentos livres de agrotóxicos para a população.

Nos últimos anos alguns professores de universidades brasileiras têm se mobilizado para resgatar discussões sobre a problemática da terra nos debates dentro das universidades. Para tanto, no mês de abril, várias universidades promoveram inúmeras atividades, denominadas como "Jornada Universitária em defesa da reforma agrária" que, hoje, encontra-se na terceira edição em nível nacional.

Desde 2016, professores e estudantes do Departamento de Educação Campus X, UNEB integram esta mobilização nacional, quando foi realizada a I Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária no Campus X. A atividade ocorreu no mês de maio com: palestras, atividades culturais, literárias e a primeira Feira de Agricultura Familiar Agroecológica. A segunda Feira ocorreu durante a realização da SBPC Educação e a terceira, durante o VIII SEPEX (Seminário de Pesquisa e Extensão), em novembro de 2016.

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida e de seu ambiente para população na região extremo sul da Bahia, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta de consumo de alimentos saudáveis. Compreender o sistema orgânico de produção com base agroecológica como possibilidade de integração entre capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social. Promover a sabedoria e segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada e saudável, por meio da oferta de produtos orgânicos e de base agroecológica isentos de contaminantes que ponham em risco a saúde, através da feira agroecológica com regularidade mensal no Campus X. Valorizar a agrobiodiversidade e os produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais de uso e conservação dos recursos naturais genéticos vegetais e animais, especialmente aqueles que envolvam o manejo de raças e variedades locais. Ampliar na universidade o debate sobre a temática do campo brasileiro, no tocante ao acesso à terra, a agroecologia (como alternativa ao modelo do agronegócio), o conhecimento articulando e fortalecendo essa discussão com o ensino, a pesquisa e a extensão.

Com isso, realizar estudos sobre práticas agroecológicas para o cultivo e produção de alimentos orgânicos, com vistas ao aprofundamento teórico-prático acerca de técnicas e formas de uso da terra, sob a perspectiva da agroecologia. Organizar banco de dados sobre as inovações tecnológicas e as pesquisas técnicas e científicas acerca das experiências agroecológicas na região Extremo Sul da Bahia; aproximar os consumidores de produtos orgânicos dos produtores desses alimentos livres de agrotóxicos; oportunizar o diálogo da universidade com a comunidade em especial os produtores rurais agroecológicos; fortalecer o debate da agroecologia no interior da universidade; oportunizar aos acadêmicos do DEDC-Campus X, um espaço de aprendizagem sobre os princípios da agroecologia e produção orgânica.

Material e Métodos

A metodologia utilizada nesse trabalho foi desenvolver e organizar as feiras agroecológicas, mensalmente, no Campus X. Ofertar cursos, minicursos, palestras, oficinas, grupos de pesquisa e discussões na área da Reforma Agrária, Agricultura Familiar e Educação Ambiental, Educação do Campo, Educação Popular, Produção Orgânica, Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia; elaborar cartilhas para orientar a comunidade sobre consumo de alimentos saudáveis sem agrotóxicos; elaborar material pedagógico, artigos para publicações em eventos e revistas científicas da área; receber agricultores, agricultoras, com ações práticas em Educação Ambiental como oficinas para conhecimento sobre a importância da produção de alimentos saudáveis, pois estas além de ser atividade prática socioeconômica são também instrumentos de educação ambiental.

A agroecologia é uma disciplina que disponibiliza os princípios ecológicos básicos para estudar, projetar e manejar formas de agricultura para produzir conservando os recursos naturais[2]. O citado autor sustenta, ainda, que o papel dos agroecólogos é compreender a dinâmica complexa dos agroecossistemas diversificados e localmente adaptados, que se desenvolveram durante séculos com base na autonomia inventiva e no conhecimento experimental dos agricultores. Um conhecimento construído desde o período neolítico que a agricultura moderna buscou suprimir.

As noções de sustentabilidade e desenvolvimento são colocadas em debate, com a proposta de construção de um novo paradigma referenciado pelos princípios da Agroecologia[3].

"Na Agroecologia, as informações dos agricultores tradicionais são extraídas do meio ambiente por meio de sistemas especiais de percepção e cognição; ou seja, baseia-se na observação e na aprendizagem empírica. Com isso, na construção do conhecimento agroecológico se estabelece o diálogo de saberes entre os agroecólogos e os agricultores tradicionais"[4].

Os citados autores enfatizam a agroecologia como outra possibilidade de trato com a terra e o meio ambiente no processo produtivo. Tal relação estende-se também para as formas de comercialização e distribuição. Trata-se de outra forma de estar no mercado que tem merecido ampla divulgação, mobilizando a atenção de significativo número de pessoas, e que tem mostrado forte expansão no consumo nos últimos anos, em praticamente todos os países.

Com isso, o consumidor cidadão tem hoje um papel importante como agente de transformação social e política. Assim, "comer" com conhecimento do processo que vai do plantio até o alimento chegar à mesa torna a experiência mais completa, uma vez que, escolher um produto orgânico tem reflexos socioambientais importantes. Ao fazer essa opção, as pessoas ajudam na melhoria da qualidade de vida e saúde de muitas famílias de agricultores orgânicos, ao mesmo tempo em que contribui para a manutenção da biodiversidade, melhoria da qualidade da água e preservação ambiental. Uma alimentação consciente tem relação direta com o conhecimento da cadeia alimentar com hábitos saudáveis de alimentação e com o consumo responsável que valoriza a história, a cultura e a tradição alimentar.

Portanto, a alimentação consciente busca mais do que uma alimentação isenta de aditivos químicos. Ela procura observar técnicas de plantio sustentáveis e preocupa-se com a questão dos agrotóxicos, dos produtos transgênicos e das irradiações ionizantes. Observar com atenção os rótulos de produtos industrializados preocupar-se com a forma de conservação dos alimentos, enfatiza a importância da hora das refeições e da criatividade na elaboração do prato.

Neste contexto, a universidade contribui tanto para um processo de formação dos agricultores e dos estudantes quanto no processo de divulgação e articulação com a sociedade em geral, pela sua inserção social.

Resultados e Discussão

Descrição da experiência

Nos últimos anos alguns professores de universidades brasileiras têm se mobilizado para resgatar discussões sobre a problemática da terra nos debates dentro das universidades. No mês de abril, várias universidades promoveram inúmeras atividades denominadas de "Jornada Universitária em defesa da reforma agrária" que, hoje, encontra-se na terceira edição.

Desde 2016, professores e estudantes do Departamento de Educação Campus X, UNEB integram esta mobilização nacional, quando foi realizada a "I Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária" no Campus X. A atividade ocorreu no mês de maio, com palestras, atividades culturais, literárias e a primeira Feira de Agricultura Familiar Agroecológica. A segunda ocorreu durante a realização da SBPC Educação, e a terceira edição da Feira ocorreu durante o VIII SEPEX (Seminário de Pesquisa e Extensão), em novembro do mesmo ano. Dessa forma, foi sendo divulgada e consolidada essa atividade na universidade.

Nestas três edições a universidade foi provocada pelos agricultores e também pelos consumidores que participaram da feira tornando-a uma atividade permanente do Departamento. Os agricultores demandaram, ainda, que além da realização da feira a universidade realizasse formação com eles.

O público beneficiado pela proposta são os agricultores e agricultoras de 22 associações cadastradas no Departamento de Educação Campus X, que vem participando como expositores das edições anteriores das feiras agroecológicas (80 famílias aproximadamente), com abrangências nos seguintes municípios: Teixeira de Freitas, Itanhém, Mucuri, Alcobaça, Caravelas, Medeiros Neto, Nova Viçosa, Prado, Itamaraju. Estudantes dos cursos de Ciências Biológicas, Matemática, Letras, História, Pedagogia, Educação Física da UNEB Campus X, além de professores e técnicos da UNEB Campus X. Assim também, como agentes da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) que participam do território de Identidade do Extremo Sul da Bahia, como Terra Viva - Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Extremo Sul da Bahia; Gapis; Asprofeira; Fundação Pe. José Koopemans; Programa Arboretum de Conservação e Restauração da Diversidade Florestal.

Desse modo, este trabalho objetiva consolidar a Feira de Agricultura Familiar Agroecológica no Campus X, e pretende realizar também a formação dos agricultores e agricultoras, da comunidade acadêmica bem como da comunidade externa, divulgando a qualidade dos produtos orgânicos.

Conclusão

As feiras agroecológicas contribuem para melhoria socioeconômica e socioambiental dos agricultores e agricultoras familiares envolvidos no projeto, promovendo, com isso, o desenvolvimento rural sustentável, o que possibilita a construção e a socialização de conhecimentos e tecnologias relacionadas à Agroecologia, aos Sistemas Orgânicos de Produção e de base agroecológica.

Portanto, o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão integra professores e estudantes dos cursos de graduação ofertados pela UNEB no Campus X, envolve Instituições parceiras do projeto, como aquelas citadas acima, que participam da construção de propostas e acompanhamento técnicos no Território de Identidade do Extremo Sul da Bahia.

Espera-se que essas práticas venham contribuir para melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas, no desenvolvimento de hábitos e atitudes corretos em relação a alimentação saudável, e práticas corretas de uso do solo e produção orgânica em defesa do meio ambiente.

Referências

  1. Stedile JP. A ofensiva das empresas transnacionais sobre a agricultura. V Conferência Internacional da Via Campesina, Maputo, Moçambique, 19 a 22 de outubro 2008.
  2. Altieri M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: UFRGS, 2004. 4ª ed.
  3. Caporal FR, Costabeber JA. Agroecologia e Extensão Rural – contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Brasília: MDA-SAF-DATER, 2007.
  4. Santos JSN, Dornelas RS. Diálogos e vivências na construção dos conhecimentos agroecológicos: a experiência do Nepea-Ufes. Cadernos de Agroecologia 10. v. 11, n. 1. Jun 2016.