Artigo de Pesquisa
Anatomia foliar de Verbena litoralis Kunth. (Verbenaceae)
Foliar anatomy of Verbena litoralis Kunth. (Verbenaceae)
Resumo
Verbena litoralis, conhecida por gervãozinho-do-campo, dentre outras denominações, é utilizada na medicina popular contra diarreias, desordens gastrointestinais e febres. Recentemente, suas atividades antimicrobiana e antioxidante foram comprovadas. Para auxiliar na sua identificação, o objetivo do presente trabalho foi descrever características anatômicas foliares de V. litoralis. Folhas adultas e expandidas foram coletadas no município de Taubaté-SP. Amostras coletadas do 2º e 3º nós foram fixadas e as secções obtidas à mão livre, com auxílio de lâmina de barbear e isopor foram obtidas no sentido transversal e paradérmico. As lâminas foram preparadas segundo técnicas usuais de anatomia vegetal. As folhas apresentaram, em vista frontal da face adaxial, células sinuosas com estômatos anisocíticos, enquanto, na abaxial, estômatos anomocíticos. Tricomas glandulares e tectores unicelulares foram observados em ambas as faces. A nervura central é biconvexa com feixe vascular colateral, o mesofilo dorsiventral com parênquima paliçádico e lacunoso. A região basal do limbo, em vista transversal, apresenta inúmeros tricomas glandulares, peltado e subsésseis, além de tectores unicelulares, abaixo da epiderme ocorre colênquima angular, o sistema vascular é constituído por um feixe colateral e dois a quatro acessórios. Comparando com dados da literatura, a espécie em estudo se destaca pelas características dos tricomas glandulares.
- Palavras-chave:
- Droga vegetal.
- Farmacobotânica.
- Planta medicinal.
- Tricomas.
Abstract
Verbena litoralis, known as "gervãozinho-do-campo", is used in folk medicine against diarrhea, gastrointestinal disorders and as antifebrile. Recently, antimicrobial and antioxidant activities have been proven. The objective of this work was to describe foliar anatomical characteristics of V. litoralis to aid in their identification. Adult and expanded leaves were collected from specimens found in the municipality of Taubaté-SP. Samples collected from 2nd and 3rd nodes were fixed. Free-hand sections, with the aid of a razor blade and Styrofoam, were obtained in the transverse and paradermic direction. The slides were prepared according to usual plant anatomy techniques. The leaves present, in frontal view of the adaxial face, sinuous cells with anisocytic stomata, while in the abaxial, anomocytic stomata. Glandular subsycetic trichomes and unicellular tectors were observed on both faces. The central vein is biconvex with a collateral vascular bundle, the dorsiventral mesophyll with a paliassic and lacunar parenchyma. The basal region of the limbus, in cross-sectional view, presents numerous pelicular glandular trichomes and subssésis, besides unicellular tectors, below the epidermis angular collenchyma occurs, the vascular system consists of a collateral beam and two to four accessories. Comparing with literature data, the species under study differs from its glandular trichome types.
- Keywords:
- Medicinal plant.
- Medicinal plant.
- Pharmacobotanical.
- Plant drug.
- Trichomes.
Introdução
A espécie Verbena litoralis Kunth., conhecida popularmente por gervãozinho-do-campo ou erva-de-pai-caetano, é utilizada na medicina popular contra diarreias, desordens gastrointestinais e como antifebril[1]. Pesquisas comprovam suas atividades farmacológicas, como, por exemplo, ativadora do fator de crescimento neural moderada atividade antibacteriana e ação antioxidante, antimalárica parcial em ratos parasitados com Plasmodium berghe, antinociceptiva e antioxidante e anticonvulsivantes em cobaias [2-6].
Devido ao seu potencial como planta medicinal, pesquisas com relação à sua composição química também foram realizadas. Li et al.[2] obtiveram, da parte aérea, dois novos esteróis e os ácidos ursólico e oleanólico, e Castro-Gamboa et al.[4] isolaram dois novos iridoides. Souza et al. [7] obtiveram das folhas de V. litoralis, cumarinas, flavonoides, heterosídeos cardiotônicos, saponinas e taninos.
Com relação aos aspectos botânicos, a V. litoralis é classificada como anual ou perene, herbácea, ereta, ramificada, possui até 3 m de atura, caule quadrangular com bordos ásperos, de 40 a 90 cm de altura, e inflorescência com até 18 cm quando em frutificação[8]. No México, Calzada-Sánchez et al. [9] relataram que a planta possui aproximadamente 1,0 m de altura e se comporta como perene.
O'leary et al.[8] incluíram as variedades Verbena litoralis var. melanopotamica Hauman, V. litoralis var. portoricensis e V. litoralis var. brevibracteata (Kuntze) N. Os mesmos autores, e no mesmo trabalho, citaram que a espécie V. litoralis é nativa da América do Sul, e amplamente distribuída nas Américas do Norte e Central, no Sul da África e nas Ilhas do Pacífico. Yeo[10] indica que ocorre na região dos Andes, nas Guianas, na Venezuela e na Argentina, Verloove[11] cita como espécie exótica encontrada na Espanha e Nesom [12] afirma que se distribui na América do Sul.
No Brasil, há relatos da presença de V. litoralis no Sudeste e no Sul[13], no Rio Grande do Sul[14], em Minas Gerais[15] e no Paraná[16].
Tendo em vista a importância da V. litoralis como medicinal e que um dos passos iniciais para o controle de qualidade de uma droga vegetal é a definição de características farmacobotânicas tais como as descrições macro e microscópica da parte da planta utilizada como medicinal[7], o presente trabalho teve como objetivo descrever características anatômicas foliares da espécie.
Material e Métodos
Folhas adultas e expandidas foram coletadas de espécimes encontrados no município de Taubaté-SP, sendo analisadas seis plantas e três folhas de cada.
Amostras coletadas do 2º e 3º nós foram fixadas em FAA 50 (formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v)[17] e armazenadas em etanol 70%. Secções a mão livre, com auxílio de lâmina de barbear e isopor, foram obtidas no sentido transversal e paradérmico da porção mediana e basal das folhas. Posteriormente, clarificadas com solução de hipoclorito de sódio a 25%, coradas com azul de Astra 1% e safranina 1% [18], e montadas em lâminas semipermanentes com gelatina glicerinada.
As lâminas foram analisadas ao microscópio fotônico e as imagens obtidas em fotomicroscópio, com projeção de escalas micrométricas.
Resultados e Discussão
Em relação aos caracteres anatômicos, as folhas apresentam, em vista frontal da face adaxial, células sinuosas com estômatos anisocíticos (FIGURA 1A e 1B), enquanto que, na abaxial, foram encontrados estômatos anomocíticos (FIGURA 1C). Em ambas as faces encontrou-se tricomas glandulares com a cabeça constituída de quatro células (FIGURA 1A e 1C) e tectores unicelulares (FIGURA 1B e 1D).
Souza et al. [7] relataram a presença de estômatos anisocíticos na face adaxial, corroborando com o observado. Porém, os autores apontam a predominância de estômatos paracíticos (raros anomocíticos) na face adaxial, diferindo do observado no presente trabalho, onde há somente a presença de estômatos anomocíticos. Calzada-Sánchez et al. [9] assinalaram a presença de estômatos anomocíticos em ambas as faces para a espécie, diferentemente no observado presente estudo. Embora sejam trabalhos com a mesma espécie as diferentes localidades de coleta podem justificar a diferença nos tipos de estômatos observados.
Os tricomas tectores unicelulares são os mesmos apresentados por Souza et al.[7]; Calzada-Sánchez et al. [9].
A nervura central, na região mediana, é biconvexa com feixe vascular colateral (FIGURAS 2A e 2F), e abaixo das epidermes ocorre 1 camada de colênquima angular (FIGURA 2A). O mesofilo dorsiventral com 2 a 3 camadas de parênquima paliçádico e 2 a 4 camadas de lacunoso (FIGURA 2B). Os estômatos ocorrem no mesmo nível das demais células epidérmicas (FIGURA 2C e 2E). Em vista transversal, nesta região do limbo foram observados tricomas glandulares sésseis com cabeça 4-celular (FIGURA 3E), pedunculado 1-celular com cabeça 4-celular (FIGURA 2C), pedunculado 2-celular com cabeça 4-celular (FIGURA 2D) e longo pedunculado 2-celular com cabeça 4-celular (FIGURA 3D). Como na vista frontal, os tricomas tectores unicelulares estão presentes, predominantemente na face abaxial (FIGURA 2B, 2E e 3F).
As características dos tecidos do mesofilo e a posição dos estômatos observados estão de acordo com o relatado em outros trabalhos [7,9].
Calzada-Sánchez et al. [9] observaram a mesma tipologia de tricomas, porém Souza et al.[7] não relataram a ocorrência de tricomas longo pedunculados para V. litoralis.
Por se tratar de uma folha séssil, a região basal do limbo, em vista transversal, apresenta alas laterais (FIGURA 3A). Abaixo da epiderme ocorre colênquima angular e o sistema vascular é constituído por um feixe colateral central e dois a quatro acessórios (FIGURA 3B). As alas apresentam mesofilo dorsiventral (FIGURA 3C), e na superfície adaxial ocorrem inúmeros tricomas como os descritos para o mesofilo.
Pode-se observar, pela análise das estruturas anatômicas analisadas, que há diferenças na literatura sobre a espécie.
Conclusão
Os caracteres anatômicos descritos podem auxiliar na identificação da espécie, e diferenciá-la de outras do mesmo gênero, as quais podem apresentar usos diferentes como medicinal ou toxicidade. Nas folhas analisadas da V. litoralis destacaram-se as características e tipos de tricomas glandulares como principal caractere diagnóstico.
Referências
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