Artigo de Pesquisa

Perfil das famílias atendidas nas unidades básicas de saúde de Umuarama/PR, que fazem ou não o uso de plantas medicinais

Profile of the families served at the Basic Health Units of Umuarama / PR, against the use of medicinal plants

http://dx.doi.org/10.32712/2446-4775.2019.796

Silva, Cecília Cividini Monteiro da1;
Otenio, Joice Karina2;
Lourenço, Emerson Luiz Botelho2;
Jacomassi, Ezilda2*.
1Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Avenida Duque de Caxias, Zona V, CEP 87504-040, Umuarama, PR, Brasil.
2Universidade Paranaense (UNIPAR), Departamento do Programa de Mestrado Profissional em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica, Laboratório de Produtos Naturais, Praça Mascarenhas de Moraes, 4282, Centro, CEP 87502-210, Umuarama, PR, Brasil.
*Correspondência:
ezilda@prof.unipar.br

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo para analisar o perfil das famílias atendidas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Umuarama/PR, que fazem ou não o uso de plantas medicinais, possibilitando assim, uma contribuição às pessoas da comunidade, com a prática dos profissionais que nela atuam. Para tanto, foi realizado um estudo de caráter descritivo a partir de uma pesquisa quantitativa, realizado entre os meses de julho a outubro de 2017. A entrevista foi realizada com os usuários das UBS, de idade superior a 18 anos. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento de pesquisa dividido em três partes: I - dados sócio demográficos; II - utilização dos serviços e III - o uso ou não de plantas medicinais. Analisando o perfil das famílias atendidas nas UBS, observou-se que a prática do uso de plantas medicinais é uma atividade natural (67,7% dos entrevistados), passado ao longo das gerações, nos núcleos familiares, em que os sujeitos da pesquisa as obtém, na maioria das vezes, do seu próprio quintal. Espera-se com este trabalho contribuir com os projetos desenvolvidos na atenção básica de saúde deste município, tanto como forma de preservação e/ou contribuição para o acesso a outras opções terapêuticas.

Palavras-chave:
Plantas Medicinais.
Uso Popular.
Tratamento Alternativo.
Promoção à Saúde.

Abstract

The aim of the present work was to analyze the profile of the families attended at Primary Healthcare Units (UBS) of the city of Umuarama/PR, who make use of medicinal plants or not in order to provide a contribution to the people of the community, with the practice of professionals who work in it. For that, a descriptive study based on a quantitative survey conducted between July and October 2017 was carried out. The interview was carried out with UBS users aged over 18 years. For data collection, a research instrument was used, divided into three parts: I - socio demographic data; II, use of the services and III - the use or not of medicinal plants. Analyzing the profile of families attended at UBS, it was observed that the use of medicinal plants is a natural activity (67,7% of respondents) passed down through generations in families, which, in most cases, are obtained from the backyard of research subjects. It is hoped that this work will contribute to projects developed in primary health care in this municipality, both as a way of preserving and/or contributing to access to other therapeutic options.

Keywords:
Medicinal Plants.
Popular Use.
Alternative Treatment.
Health Promotion.

Introdução

O cuidado com a saúde como prática milenar surgiu com a espécie humana, desde os primórdios das civilizações. Dentre os recursos terapêuticos utilizados pela cultura familiar e comunitária, destaca-se o uso de plantas medicinais, que ao longo do processo evolutivo humano, muitas espécies foram selecionadas e são até hoje utilizadas por culturas locais[1].

Apesar dessa valiosa cultura, os saberes populares têm se perdido ao longo do tempo. Entretanto, especialmente na última década, as políticas públicas nacionais vêm incentivando o resgate e o uso de plantas medicinais, especialmente na rede pública de saúde, com a implementação de hortas comunitárias[2-4].

Com base nessa realidade, políticas públicas voltadas para medicina tradicional ganharam espaço no cenário brasileiro. Um importante passo regulatório foi à incorporação de terapias alternativas e práticas populares nas ações do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da 10ª Conferência Nacional de Saúde em 1996. Desde então, programas de fitoterapia na assistência farmacêutica foram implantados nos âmbitos estaduais e municipais com resultados satisfatórios, especialmente na redução de gastos com medicamentos[5,6].

Em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), no Sistema Único de Saúde foi estabelecida para consolidar o uso de plantas medicinais e de fitoterápicos na atenção primária à saúde, garantindo o acesso desses recursos a toda a população[3,7].

Em consonância com a PNPIC, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), também publicada em 2006 que visa o aumento de práticas terapêuticas aos usuários do SUS, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde, considerando, especialmente o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. Essas iniciativas do governo federal vêm contribuindo para o crescimento da fitoterapia no Brasil e, consequentemente possibilitando o uso discriminado com maior segurança e eficácia destes recursos terapêuticos[8].

Entre essas políticas tem-se a implementação de um projeto de hortas comunitárias nas UBS em parceria com as secretarias de saúde. A implementação dessas hortas visa, além de estimular uma alimentação saudável, reforçar "a ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais, estímulo à autonomia e empoderamento e demandas por reorientação dos serviços"[9].

A prefeitura municipal de Umuarama possui um projeto de Inserção de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica de Saúde. Tal projeto veio em consonância com o PNPIC, com o intuito de estimular os profissionais de saúde, a utilizarem plantas e, ainda, estimular a realização de eventos como, fóruns, oficinas, reuniões, workshop e implantar uma Farmácia Viva, que no município foi a Incubadora Tecnológica da UNIPAR, em parceria com a Prefeitura Municipal, para a produção, manipulação e o desenvolvimento de Fitoterápicos[7].

Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo para analisar o perfil das famílias atendidas nas Unidades Básicas de Saúde do município de Umuarama/PR, que fazem ou não o uso de plantas medicinais.

Material e Método

Local de estudo e amostragem

Estudo de caráter descritivo a partir de uma pesquisa quantitativa, realizado entre os meses de julho a outubro de 2017. O município de Umuarama está localizado na região noroeste do Paraná, região sul do Brasil, com uma extensão de 1232,7 Km². A pesquisa ocorreu na atenção primária que dispõe de 23 Unidades básicas de saúde, das quais 17 possuem implantada a Estratégia Saúde da Família (ESF). Para determinar o número da amostra utilizou-se o cálculo de Barbetta[10] considerando a população estimada do município em 2017, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 109.955 habitantes [11]. Determinou-se o tamanho da amostra de 20 usuários (representando as famílias), totalizando 460 participantes, com um erro amostral de 5% de padronização.

Instrumento de Pesquisa

As entrevistas foram realizadas com os usuários das UBS, de idade superior a 18 anos, com auxílio dos agentes comunitários de saúde e também pelo pesquisador. Os questionários foram aplicados aos moradores que frequentavam as UBS, homens e mulheres, ao acaso. Antes das entrevistas, os moradores foram informados individualmente sobre os objetivos da pesquisa em linguagem acessível e clara, bem como os benefícios que essa proporcionaria, de que não haveria riscos nem obrigatoriedade de sua participação e que a exclusão poderia ser solicitada a qualquer momento.

A pesquisa foi iniciada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEPEH), CAAE nº 1.793.436, da Universidade Paranaense – UNIPAR e assinatura de anuência da Declaração de Consentimento Livre e Esclarecido pelo entrevistado, no qual continha os objetivos da pesquisa.

Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento de pesquisa dividido em três partes, sendo a primeira uma entrevista estruturada sobre as informações de caráter pessoal buscando identificar o perfil sociodemográfico dos informantes (Naturalidade, profissão, escolaridade, religião e renda família). Já a segunda parte da entrevista teve como objetivo buscar informações sobre a utilização dos serviços de saúde, como a frequência que usa os serviços oferecidos pela UBS, que tipo de serviço e se utiliza algum outro tratamento alternativo. Por fim, a terceira parte foi extraída de informações sobre o uso ou não de plantas medicinais.

Análise dos Dados

Para análise dos dados foram estimadas a prevalência e a frequência das variáveis utilizando o programa Microsoft® Excel e, em seguida analisados no programa IBM SPSS v. 21.0. Foi realizada análise descritiva das variáveis de estudo, mediante a distribuição de frequência absoluta (n) e relativa (%) separadas em categorias. A associação entre as variáveis: uso de plantas medicinais e escolaridade ou renda foram analisados por meio do teste Qui-quadrado de Pearson, Qui-quadrado com correção de Yates ou Exato de Fischer ao nível de 5% de significância.

Resultados e Discussão

Observa-se na TABELA 1, que 196 (42,8%) dos indivíduos participantes do estudo são naturais de outros Estados do Brasil, e não o Paraná. Dentre os entrevistados naturais do Estado do Paraná, 131 (28,6%) são naturais de Umuarama/PR e 74 (16,2%) de outras cidades da região.

TABELA 1: Características sóciodemográficas da população que utiliza as Unidades Básicas de Saúde do município de Umuarama/PR, 2017.
Variáveis Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Naturalidade Umuarama 131 28,6
Região de Umuarama 74 16,2
Outras cidades Paraná 57 12,4
Outros estados 196 42,8
Profissão Agente comunitário 31 7,0
Aposentado 51 11,5
Do lar 103 23,1
Estudante 45 10,1
Professor                             24 5,4
Serviços gerais 17 3,8
Outros 174 39,1
Escolaridade 1 grau 115 25,9
2 grau 170 38,3
3 grau 145 32,7
Não alfabetizado 14 3,2
Religião Católico 335 74,9
Evangélico 98 21,9
Outros 14 3,1
Renda Até 1 salário mínimo 69 15,0
De 1 a 3 salários mínimos 283 61,4
De 3 a 5 salários mínimos 71 15,4
Acima de 5 37 8,0
Sem rendimento 1 0,2

O fato de 42,8% dos participantes serem naturais de outros estados do Brasil se dá porque o Paraná é um dos estados brasileiros com a maior diversidade étnica do país, que ao longo da sua história teve um dos maiores fluxos de migração de pessoas. A localização geográfica do Paraná também contribuiu por oferecer inúmeras possibilidades de trabalho no campo, além das indústrias implantadas nesta região e do polo educacional, especialmente àqueles que buscavam melhores condições de vida[12].

Quanto às profissões da população, 103 (23,1%) são donas de casa (do lar), seguido por 51 aposentados (11,5%), 45 estudantes (10,1%) e 31 (7%) agentes comunitários de saúde. Com relação ao grau de escolaridade observou-se que 170 (38,3%) dos entrevistados possuíam segundo grau, sendo 14 (3,2%) não alfabetizados (TABELA 1).

No que diz respeito à renda salarial, 283 (61,4%) informaram ter renda salarial entre 1 e 3 salários mínimos. Ao passo que um (0,2%) informou não ter renda salarial. Os resultados acima citados corroboram com os dados do estudo realizado por Oliveira e Zanetti[13], que também observaram que a maioria dos usuários de UBS é do lar (41,8%), aposentados (26,6%), alfabetizados (96,3%), cuja renda salarial familiar mensal é de 1 a 5 salários mínimos.

Ao se comparar estatisticamente a relação entre variáveis: escolaridade, renda e religião com o uso de plantas medicinais, verificou-se que somente a escolaridade influenciou no uso de plantas medicinais (P<0,05). Também foi observado que os entrevistados classificados com o primeiro grau fazem maior uso de plantas medicinais em comparação aos demais (TABELA 2).

TABELA 2: Influência da escolaridade, renda e religião no uso de plantas medicinais da população que utiliza as UBS no município de Umuarama/PR, 2017.
Variáveis n1 Valor de P
Escolaridade 1 grau 90/115
2 grau 109/170 0,0155*
3 grau 87/145 0,0027*
Não alfabetizado 11/14 1,000**
Renda Até 1 salário mínimo 47/69 0,195***
De 1 a 3 salários mínimos 196/283
De 3 a 5 salários mínimos 40/71
Acima de 5 salários mínimos 28/37
Sem rendimento 1/1
Religião Católico 235/335 0,079***
Evangélico 57/98
Outros 10/14
Legenda: 1Número de indivíduos que fazem uso de plantas medicinais em relação ao total da categoria; * Qui-quadrado com correção de Yates; ** Exato de Fischer; *** Qui-quadrado de Pearson.

Em relação ao uso de plantas medicinais por populações com tais condições salariais e o mesmo nível escolar, Ethur et al.[14] destacaram que classes menos favorecidas são as que mais fazem uso de plantas medicinais. Sugere-se que sejam aqueles lugarejos mais distantes, onde as pessoas têm maiores dificuldades ao acesso aos tratamentos convencionais para cura de suas enfermidades[4,14].

Quanto à religião, 74,9% dos participantes deste estudo afirmaram ser católicos, seguidos por evangélicos (21,9%) e adeptos a outras crenças e religiões (3,1%). Destaca-se que a relação do uso de plantas medicinais e a prática religiosa podem ser capazes de influenciar o uso de plantas com propriedades terapêuticas[3,15].

Os resultados ilustrados na TABELA 3 demostram que os entrevistados nesta pesquisa fazem o uso com frequência, pelo menos uma vez por mês, dos serviços prestados pelas UBS. Dentre os mais procurados destacaram-se: consultas médicas (28,4%); realização de exames clínicos (18,1%) e vacinação (3,5%). Esses resultados vêm ao encontro das ações desenvolvidas na atenção básica à saúde definidas como um conjunto de intervenções no âmbito individual e coletivo, envolvendo a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação[16].

TABELA 3: A relação do uso dos serviços utilizados pela população nas UBS no município de Umuarama/PR, 2017.
Variáveis Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Utiliza com frequência os serviços da UBS? Sim 382 83
Não 78 17
Com qual frequência? Uma vez por semana 8 2
A cada 15 dias 20 5
Uma vez por mês 103 26
A cada 3 meses 138 34
Outros 131 32
Ausentes 60 13
Quais os principais serviços? Consulta de enfermagem 8 1,7
Consulta médica 98 28,4
Consulta odontológica 8 1,7
Exames 8 18,1
Procedimentos 1 0,2
Farmácia 3 0,7
Vacinação 16 3,5
Outros 7 1,5
Utiliza tratamentos alternativos? Benzedeiras 2,6 2,6
Raizeiros 5 1,1
Lojas de produtos naturais 126 27,3
Massagista 10 2,2
Acupuntura 8 1,8
Não faz uso 253 54,9

Na TABELA 4 é possível observar o perfil da população participante do estudo com relação ao uso de plantas medicinais, modo de obtenção dessas plantas, vantagens segundo a concepção dos indivíduos para o uso medicinal e se estes fazem uso de medicamentos convencionais concomitantes com plantas medicinais, 312 (67,7%) dos participantes do estudo fazem uso de plantas medicinais, adquirindo-as do seu cultivo próprio (58,7%), sendo considerada a principal vantagem do uso deste recurso terapêutico.

Especialmente nos países em desenvolvimento, cerca de 80% da população utiliza algum método alternativo, como o uso de plantas nos cuidados básicos à saúde [17]. Estudos como o de Arnous, et al.[18]; Veiga Junior [19] revelaram que, cerca de, 57% das pessoas que fazem uso de plantas medicinais as obtém em seus próprios quintais. Isto corrobora para o seu uso, pois se tornam de fácil acesso e custo praticamente zero. Há de se destacar também que o fato de muitas plantas medicinais poderem ser cultivadas no quintal das pessoas, muitos produtores rurais as cultivam para vendê-las em feiras livres e mercados. Neste contexto, Arnous, et al.[18]; Veiga Junior[19] verificaram que 11,8% das pessoas adquirem as plantas medicinais em mercados e, cerca de, 7,4% em feiras livres.

TABELA 4: A relação quanto ao uso de plantas medicinais da população das UBS do município de Umuarama/PR, 2017.
Variáveis Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%)
Faz uso de plantas medicinais? Sim 312 67,7
Não 149 32,3
Como obtém as plantas medicinais? Cultiva em casa 183 58,7
Feira livre 26 8,3
Mercado 31 9,9
Outros 72 23,1
Qual a vantagem do tratamento com plantas medicinais? É natural 236 75,4
É fácil de conseguir 20 6,4
Não tem efeito colateral 31 9,9
É mais barato 17 5,4
Outros 9 2,9
Usa plantas medicinais com medicamentos? Sim 95 20,7
Não 365 79,3

Embora o cultivo próprio de plantas medicinais seja acessível à população, há necessidade de maior conhecimento sobre o manejo e uso, evitando riscos aos usuários. Sobre este assunto Carvalho et al.[20] relataram que, mesmo que as categorias estejam regulamentadas, diversas plantas que ainda não foram regulamentadas são utilizadas e vendidas como fitoterápicos.

Outro problema reside no fato de alguns pesquisadores relatarem que a maioria das pessoas que fazem uso de plantas medicinais para tratar problemas de saúde, acredita que o uso indiscriminado destas plantas não faz mal, visto que são remédios naturais. Isto é um grande equívoco, pois já foi comprovado, cientificamente, que as plantas medicinais não são isentas de efeitos colaterais, o que contraria o ditado popular que diz: "se é natural, é bom; se não fizer bem, mal não fará" [21,22].

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamentou a utilização de produtos de origem vegetal, dispondo através da RDC nº 26/2014 a exigência de comprovações dos efeitos gerados, por meio de publicações científicas, com demonstrações de estudos pré-clínicos e clínicos realizados ou relatos de tempo de uso da droga vegetal, com o intuito de garantir para a população em geral, segurança, efetividade e qualidade [23].

Além disso, apesar dos compostos bioativos presentes nas plantas medicinais terem ação terapêutica contra inúmeras enfermidades, o consumo em altas doses ou por pessoas mais sensíveis a certos compostos pode ocasionar efeitos adversos importantes, relacionados a alterações funcionais e metabólicas causadas pela toxicidade da planta. Tal conduta pode acarretar problemas de saúde e/ou agravar doenças pré-existentes[24].

Apesar do Ministério da Saúde disponibilizar, gratuitamente, o Memento de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira que visa orientar a prescrição de plantas medicinais e de fitoterápicos, usuários e prescritores não fazem o uso com frequência desta importante ferramenta que é suma importância para evitar os ricos e efeitos tóxicos das plantas[25].  Tratando-se do uso deste recurso terapêutico por gestantes, Gorril et al.[26], relataram evidências científicas de que muitas substâncias presentes em diversas plantas medicinais oferecem riscos durante a gestação, por apresentarem potencial embriotóxico, teratogênico e abortífero.

Quanto ao uso de plantas medicinais juntamente com medicamentos convencionais, 79,3% dos entrevistados afirmaram não fazer, 95 (20,7%) relataram fazer, conforme ilustrado na TABELA 4. Neste sentido, é sabido que parte da população que faz uso de plantas medicinais desconhece seus efeitos farmacológicos e tóxicos; bem como as interações medicamentosas e a forma correta de preparo e armazenamento para consumo [1].

Quanto à utilização ou não das plantas medicinais, os resultados mostraram que 67,7% dos entrevistados fazem uso deste recurso terapêutico. É importante ressaltar a necessidade de orientação à população quanto à utilização das plantas medicinais que podem ser responsáveis pelo tratamento de muitas doenças primárias, com bons resultados econômicos e de melhoria da saúde da população de baixa renda[27].

Conclusão

Espera-se, com este trabalho, contribuir com os projetos desenvolvidos na atenção básica de saúde que tem ganhado cada vez mais relevância, como forma de preservação do conhecimento popular e/ou contribuição para o acesso a outras opções terapêuticas de cuidado. Acredita-se que a articulação, entre os saberes e práticas populares e o conhecimento científico, pode converter ações de promoção à saúde da população.

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