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Wed, 04 Sep 2024 in Revista Fitos
Assistência farmacêutica em fitoterapia na gravidez e amamentação: relato de experiência
Resumo
Relatou-se uma experiência de atividades desenvolvidas por alunos do curso de Farmácia da UNESP, Campus Araraquara, participantes de um projeto de extensão universitária intitulado “Assistência Farmacêutica na Gravidez e Amamentação”, desenvolvido na Associação de Mulheres “ONG Bebê a Bordo”, com ênfase nas plantas medicinais. Foram realizadas rodas de conversa, palestras, dinâmicas de grupo, distribuição de materiais educativos, abordando o tema uso racional de plantas medicinais na gravidez e amamentação. As ferramentas educativas adotadas pelos estudantes foram satisfatórias e bem aceitas pelas mulheres. Ao final das atividades observou-se uma enorme satisfação por parte dos estudantes em perceberem a importância da aplicação dos conhecimentos teóricos adquiridos no âmbito da Universidade em prol da comunidade, e de como o conhecimento não é absoluto, mas se constroi a partir de trocas de experiências. Evidenciou-se a importância de atividades de extensão, através de atividades educativas na área de Assistência Farmacêutica em Fitoterapia no âmbito da saúde maternoinfantil. Os estudantes relataram que o contato com a comunidade, lhes proporcionou experiência de vida e troca de saberes, levando a uma formação mais humanizada como futuros profissionais da saúde.
Main Text
Introdução
O uso de plantas medicinais por mulheres grávidas e em período de lactação é uma prática comum em diversos países. Entretanto, muitas plantas medicinais são contraindicadas durante a gravidez e a amamentação devido a vários efeitos adversos que podem apresentar, como embriotoxicidade, teratogenicidade e efeitos abortivos[1, 2]. Portanto, deve-se dar atenção máxima a todo e qualquer produto ingerido durante toda a gravidez, principalmente no primeiro trimestre e na lactação[1, 2, 3, 4, 5, 6].
Apesar do uso de plantas medicinais por mulheres grávidas ser um fato recorrente, há pouca evidência publicada a respeito da segurança e eficácia de produtos naturais de saúde durante a gravidez e a lactação[1, 2, 4].
Fundamentação teórica
A gravidez é uma fase única na vida da mulher, momento em que o corpo muda, os hormônios mudam, as emoções ficam alteradas, e que as necessidades e buscas voltam-se para o novo ser que está se formando dentro do útero dessas mães. Como passam por diversas e bruscas mudanças em seu corpo, mente e emoções, essas mulheres precisam de um auxílio para compreender o que está acontecendo e para ter uma gravidez plena e saudável. Mas, há pouca informação disponível às mulheres no que diz respeito ao uso seguro de plantas medicinais e fitoterápicos nas fases de gestação e amamentação. Pouco se conversa a respeito dessa prática com os médicos e profissionais de saúde, e muitos não têm informação suficiente para dar assistência às gestantes e garantir um uso correto de plantas medicinais sem riscos a essas mulheres[7].
A Assistência Farmacêutica, torna-se muito importante nesta fase da mulher, proporcionando a estas mulheres um entendimento melhor sobre as questões relacionadas a gravidez, lactação, saúde, doença e mudanças impostas pela terapêutica medicamentosa neste período. O Farmacêutico deve estimular a mulher grávida e lactante ao autocuidado e sensibilizá-las a buscar e desenvolver atitudes positivas e estratégias de enfrentamento das mudanças fisiológicas nesta fase e a compreender a especificidade da indicação e contraindicação de algumas plantas medicinais e medicamentos neste período[8, 9, 10]. Deve-se também planejar uma Assistência Farmacêutica com base nas necessidades clínicas, sociais e familiares, para que assim possa compreender a complexidade da realidade da gestante e lactante, e para que busque meios que possibilitem ampliar o conhecimento sobre as práticas assistenciais no campo da saúde maternoinfantil[8, 11, 12, 13]. O cuidado de Farmacêutico deve ser contínuo[12].
A extensão universitária constitui-se como uma das principais ações da Universidade, e promove o contato direto dos acadêmicos com a comunidade, enriquecendo consideravelmente o seu crescimento como um cidadão consciente contribuindo para sua formação como futuro profissional[9, 10]. Atividades extensionistas complementam os conhecimentos teóricos adquiridos na sala de aula com a sabedoria popular, em que todos os atores têm papel fundamental na construção do saber[14, 15, 16, 17, 18].
Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi relatar a experiência de atividades de um projeto de extensão universitária sobre “Assistência Farmacêutica na Gravidez e Amamentação” desenvolvidas por alunos do curso de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, Campus de Araraquara, entre 2017 e 2019, com ênfase nas plantas medicinais e fitoterapia na promoção da saúde materno-infantil.
Metodologia
Trata-se de um relato de experiência de projeto extensão intitulado “Assistência Farmacêutica na Gravidez e Amamentação, com ênfase nas plantas medicinais”, executado entre os anos de 2017-2019, por discentes do curso de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Araraquara junto à Associação para mulheres “Bebê a Bordo”, Araraquara, SP.
As atividades extensionistas englobam ações de educação em saúde com ênfase em plantas medicinais e fitoterapia na saúde materno-infantil. Foram realizadas rodas de conversas, oficinas, palestras, elaboração de material educativo, com as seguintes temáticas: fases da gravidez associado ao uso racional de plantas medicinais e medicamentos, interações medicamentosas planta x medicamento, definições dos termos, tais como: planta in natura, droga vegetal, fitoterápicos e medicamentos alopáticos, uso e formas de preparo mais comuns das plantas medicinais, automedicação, autocuidado.
Durante as atividades educativas, naturalmente, foram se abrindo espaços para discussões associando o conhecimento teórico e a experiência vivenciada no dia a dia pelas participantes.
Este tipo de metodologia refere-se à educação que Paulo Freire[14, 15, 16] defende como metodologia do tipo horizontal, problematizador.
Resultados e Discussão
As atividades realizadas semanalmente englobaram o conhecimento de toda a dinâmica do processo de trabalho da Associação de mulheres ONG “Bebê a Bordo”, desde o conhecimento da estrutura física, equipamentos, equipe multidisciplinar atuante na Associação de mulheres, assim como o reconhecimento dos protocolos da inscrição das mulheres na Associação. Envolveu também a adequação das atividades e temas específicos da Assistência Farmacêutica em relação à saúde materno-infantil e à realidade local. Observou-se no projeto que, além do envolvimento de cuidado farmacêutico voltado a grávida e lactante, também existiu um cuidado integral do acadêmico a estas mulheres, pois a interação neste tipo de projeto, vai além da dimensão físico-biológica, abarcando outras esferas que constituem os seres humanos, como condições socioeconômica-culturais diferentes, tais como, condições emocionais, familiares, espiritual e religiosas.
Durante as atividades do projeto objetivou-se principalmente os cuidados farmacêuticos na área da saúde materno-infantil e uso racional de plantas medicinais e os instrumentos e ferramentas que especificassem, padronizassem e norteassem a equipe para as diversas atividades envolvendo este tema, de modo a envolver os participantes e promover a participação ativa dos mesmos. Durante as atividades educativas do projeto esses vários temas citados foram conversados respeitando a experiência vivenciada no dia a dia das participantes. As gestantes e lactantes da Associação de mulheres foram parte ativa neste processo educacional, trazendo suas próprias experiências, priorizam o educando como o próprio agente no seu cuidado da saúde.
Este trabalho não foi baseado em orientações diretivas, hierarquizadas, onde o educador assume um papel superior ao ouvinte. As atividades foram realizadas com a finalidade de estimular um pensamento críticoreflexivo, incentivando à conscientização, ao entendimento da importância do uso de plantas medicinais, e suas particularidades de uso na gravidez e lactação, pois alguns destes produtos usados irracionalmente e de forma abusiva, podem levar a efeitos adversos tóxicos e abortivos.
Com base na prática dialógica, o presente trabalho buscou que as gestantes e lactantes refletissem sobre o uso de plantas medicinais; respeitando a individualidade e ressignificação das suas crenças e valores[19, 20].
Os acadêmicos destacaram a importância deste projeto e sua contribuição para a sua formação profissional. O projeto possibilitou através dos relatos dos encontros e das diversas atividades, tais como em oficinas e rodas de conversa, o despertar do autocuidado da mulher grávida e lactante relacionado ao uso de plantas medicinais. Permitiu uma troca de experiências, contribuiu para a reflexão sobre a qualidade de vida da mulher grávida e lactante e do papel do profissional de saúde Farmacêutico na atenção primária a este grupo específico. As mulheres grávidas e lactantes, através da discussão final das rodas de conversa, consideraram as ações realizadas importantes para a manutenção da sua saúde, do seu feto e do seu bebê, buscando melhora na qualidade de vida representada por maior preocupação com o autocuidado, pela intensificação do uso racional de plantas medicinais, bem como, quanto os novos conteúdos aprendidos foram úteis para melhorar seus hábitos de saúde.
Os resultados alcançados pelo projeto de extensão foram muito significativos, destacando a importante participação dos acadêmicos na construção do projeto e em relação aos temas tratados. Os acadêmicos perceberam que, para o processo de ensino-aprendizagem, torna-se mais rico baseado na prática dialógica, onde todos os atores têm um papel fundamental. A roda de conversa foi destacada pelos discentes e mulheres participantes da Associação de Mulheres, como uma metodologia de escolha e que gerou melhores resultados. Portanto, vem sendo considerada a melhor metodologia em trabalhos com comunidades, rompendo o método tradicional de aula expositiva.
As rodas de conversa têm uma característica peculiar de produzir conhecimento coletivo e contextualizado. Destacam-se neste tipo de atividade a fala crítica e a escuta sensível, de forma lúdica, com a compreensão de imagens e associação com sua vida cotidiana. A confiança e entrosamento entre os participantes de uma roda de conversa, superam a dicotomia: sujeito – objeto, e permitem a constituição de espaços onde todos os atores envolvidos possam refletir sobre suas vidas, seu cotidiano e formas particulares de cuidar de sua saúde[21, 22, 23].
No presente trabalho observou-se que, a metodologia das rodas de conversa sobre o uso de plantas medicinais e medicamentos na gravidez e lactação funcionaram como uma quebra de entraves e quebrando dificuldades de comunicação. A interação entre todos os participantes, de modo dinâmico facilitou a interação, obtendo um feedback das mulheres grávidas e lactantes, que por outras metodologias verticalizadas, sentiram-se constrangidas em falar e por acreditarem que o conhecimento delas não teria nada a acrescentar. Nas rodas de conversa é o grupo quem “dá a palavra final”, ou seja, é ele quem vivencia e direciona a técnica para seus objetivos.
Conclusão
As atividades desenvolvidas na Associação de mulheres possibilitaram aos acadêmicos conhecerem e vivenciarem o cuidado farmacêutico direcionado à gestante e lactante, possibilitando uma aproximação entre a comunidade e a academia, no que diz respeito aos conteúdos teóricos da área de Farmácia. A implementação da sistematização da Assistência de Farmacêutica nas clínicas de saúde materno-infantil e em espaços da comunidade como a Associação de mulheres “ONG Bebê a Bordo”, é de extrema importância no qual é possível realizar ações de promoção e proteção da saúde da mãe, do feto e do bebê. Assim, ressalta-se a importância do Farmacêutico e sua equipe planejarem o cuidado farmacêutico sistemático, otimizando tempo e recursos para um cuidado farmacêutico efetivo e de qualidade. Além disso, as experiências vivenciadas pelos acadêmicos proporcionaram aos discentes um maior dimensionamento sobre a responsabilidade ética e científica das ações e intervenções da Farmácia direcionadas na comunidade.
Resumo
Main Text
Introdução
Fundamentação teórica
Metodologia
Resultados e Discussão
Conclusão