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Mon, 22 Jan 2024 in Revista Fitos
Utilização das plantas medicinais e fitoterápicos na prática clínicade profissionais da saúde de Foz do Iguaçu, Paraná
Resumo
Interesse pela fitoterapia como opção terapêutica ocupa cada vez mais espaço naárea da saúde. Para implantação de projetos referentes ao tema nos municípios,conhecimento sobre sua aplicação por parte dos profissionais da saúde éfundamental. Com objetivo de analisar a utilização e a intenção do uso dasdrogas vegetais ou dos fitoterápicos, como prescrição na prática clínica dosprofissionais nas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família deFoz do Iguaçu-PR, foi feita a presente pesquisa. Após análise das entrevistas,os resultados demonstraram que 99% dos profissionais acreditam que drogasvegetais e fitoterápicos possuem ação terapêutica, e 49% os prescrevem na suaprática clínica. Dos que não prescrevem, 79% têm interesse em prescrever, etodos que utilizam já obtiveram resultados. Profissionais relataram boaaceitação dos pacientes e uso por conta própria. A maioria dos profissionais desaúde utiliza a fitoterapia ou tem interesse em prescrevê-la. Os usuários têmboa aceitação quanto à utilização das plantas medicinais, e a capacitação dosprofissionais é uma necessidade para prescrição e melhor orientação aospacientes sobre uso adequado da fitoterapia, garantindo mais efetividade esegurança nessa prática.
Main Text
Introdução
A fitoterapia utiliza plantas e seus derivados para tratamento de doenças, e por serconsiderada pela população como um tratamento natural, é comum que muitos aconsiderem como isenta de riscos para a saúde, utilizando-a sem os rigores de ummedicamento[1]. VeigaJúnior et al.[2]citaram que a toxicidade de plantas medicinais e de fitoterápicos, comparada com ados medicamentos sintéticos, pode parecer trivial, mas pode causar graves problemade saúde pública. Segundo estes autores, é comum a ocorrência de efeitos adversosdos medicamentos à base de plantas, adulterações, toxicidade e interações adversascom medicamentos sintéticos.
Para o uso adequado das plantas medicinais, é fundamental o papel dos profissionaisde saúde, por serem capacitados para conhecimento da posologia, da forma de preparo,dos benefícios e dos riscos à saúde dos medicamentos[3]. Outro fator que exige a atuação do profissional dasaúde, é que boa parte das pessoas que utilizam plantas medicinais ou fitoterápicos,faz o uso concomitante com medicamentos sintéticos, sem comunicar ao profissional. Anão comunicação em muitos casos se deve, além da crença por parte do paciente de queprodutos naturais não apresentam riscos e podem complementar o tratamento, ao medode represálias.
Apesar da necessidade de profissionais com atribuições específicas para a prescriçãode plantas medicinais ou fitoterápicos, Bruning et al.[1] observaram que os profissionaisestão pouco informados e preparados para lidar com estes medicamentos. Os autores,no mesmo trabalho, recomendam que os conhecimentos necessários para o trabalho commedicamentos naturais já deveriam estar inclusos durante a sua graduação.
Nesse contexto, uma pesquisa qualitativa no formato de relato de experiencia érelevante para investigações aprofundadas e contextuais, permitindo que ospesquisadores capturarem a complexidade inerente das experiências dos profissionaise perspectivas de vida dos participantes. Portanto, os relatos de experiência sãouma importante fonte de dados qualitativos, que podem enriquecer os resultados dapesquisa com novas informações, insights que somente o sujeito da pesquisa podefornecer[4].
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi analisar a utilização e a intençãode uso de plantas medicinais, drogas vegetais ou dos fitoterápicos na práticaclínica dos profissionais que atuam nas unidades de saúde do município de Foz doIguaçu-PR.
Metodologia
Aspectos éticos
A pesquisa foi aprovada pela coordenação de atenção básica de Foz do Iguaçu epelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Taubaté UNITAU -CAAE:53260116.3.0000.5501.
Tipo de estudo
Foi realizada pesquisa qualitativa com a utilização de um questionáriosemiestruturado, o qual foi encaminhado para os 188 profissionais da saúde(médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos e nutricionistas) que trabalhamnas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família do município de Fozdo Iguaçu - PR durante os meses de maio e junho de 2016.
Procedimento metodológicos
Os questionários foram entregues aos profissionais com o apoio de supervisoresdos cinco distritos sanitários em que é dividida a cidade. O questionárioconsistiu em um instrumento autoexplicativo com perguntas abertas e fechadas,sem necessidade de identificação do participante. Todos os profissionais queaceitaram responder o questionário, assinaram o Termo de Consentimento Livre eEsclarecido (TCLE).
Foram abordadas questões referentes à prescrição ou intenção de uso das drogasvegetais ou fitoterápicos, percepção do profissional quanto ao efeitoterapêutico das mesmas, principais fitoterápicos e plantas medicinais prescritase utilizadas popularmente pelos usuários, bem como sua aceitação comoterapêutica e ainda principais reações adversas verificadas.
Cenário do estudo
Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família do município de Foz doIguaçu - PR.
Análise dos dados
Os resultados encontrados foram tabulados em planilha do Microsoft OfficeExcel® e expressos na forma de gráficos e tabelas. Todos osresultados foram discutidos e comparados com artigos indexados nas bases dedados Google acadêmico, SciElo, Medline e PubMed. Neste trabalho, os nomes deplantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos, foram mantidos como citadosnas respostas dos questionários, tendo em vista que o principal objetivo eraverificar a aceitação da fitoterapia para prescrições de medicamentos.
Resultados e Discussão
Dos questionários enviados, responderam 68 (36%) profissionais das Unidades Básicasde Saúde (UBS) e das Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Foz doIguaçu. Destes, 23 (32%) médicos, 26 (49%) enfermeiros, 13 (32%) dentistas, 4 (80%)nutricionistas e 2 (40%) farmacêuticos. As justificativas de não participação foramnos meses da pesquisa alguns profissionais já não trabalhavam mais nas unidades desaúde e outros alegaram não ter tempo ou interesse de participar da pesquisa.
Quando os participantes foram questionados se prescreviam drogas vegetais oufitoterápicos em sua prática clínica, foram obtidos os seguintes resultados: 83% dosmédicos participantes da pesquisa declaram prescrever plantas medicinais, drogasvegetais ou fitoterápicos em sua prática, 100% das nutricionistas e 54% dosdentistas também prescrevem. Quanto aos enfermeiros e farmacêuticos, 88% e 100%,respectivamente, não têm a prescrição na sua rotina de trabalho.
Em relação à prescrição médica, as plantas medicinais mais citadas foram: passiflora(47%), capim-limão (26%), hortelã (21%), camomila (21%), valeriana (21%) eespinheira-santa (21%). Alguns não citaram as plantas, mas para quais tratamentosmais utilizavam, tais como: ansiedade (21%), cicatrização (16%), climatério (11%),digestivo (11%), doenças gastrointestinais (11%) e insônia (11%).
Quanto aos dentistas, as plantas mais citadas foram tanchagem (71%), melissa (71%) emalva (43%), e os tratamentos mais citados foram anti-inflamatórios (29%) ebochechos (29%). As plantas mais citadas pelas nutricionistas foram camomila (75%),carqueja (75%) e passiflora (75%) e os tratamentos foram digestão (50%) e diabetes(50%). Poucos enfermeiros relataram prescrever as plantas medicinais e as citadasforam calêndula, guaco, mel, própolis, erva-doce, camomila (33%), e os tratamentoscicatrização, antiinflamatório, tosse e ansiedade (33%).
Na TABELA 1 estão descritos osmotivos pelos quais os profissionais não prescrevem as plantas medicinais, drogasvegetais ou fitoterápicos na sua prática clínica.
De acordo com a TABELA 1, épossível observar que seis médicos descreveram o motivo para a não prescrição, masna pergunta anterior apenas 4 relataram não prescrever. Isso ocorreu devido a ummédico utilizar as plantas medicinais no seu país (Cuba) com frequência, mas noBrasil não faz a prescrição, pois não conhece as plantas disponíveis. Outro médico,apesar de declarar que prescreve, colocou os motivos de não prescrever, o que indicajá ter utilizado em sua prática clínica, mas no momento não prescreve. O número deenfermeiros que descreveram os motivos é menor que os que relataram não prescrever,pois alguns não responderam a pergunta.
Dentre os principais motivos que os médicos não prescrevem as plantas medicinais,destaca-se a falta de conhecimento científico para assegurar a prescrição (100%).Para os enfermeiros, não ter capacitação (35%) para prescrição e não ter autorização(17%) foram os mais mencionados. Para os dentistas, não ter mais acesso aosfitoterápicos (40%) foi o mais relatado. Farmacêuticos relataram não ter protocolopara prescrição (50%) e que atuam apenas na dispensação de medicamentos (50%).
Os profissionais puderam descrever alguns dos resultados obtidos com as plantasmedicinais e estão descritos na TABELA2.
Os principais resultados obtidos através do uso das plantas medicinais estãorelacionados com os fitoterápicos mais utilizados, entre os médicos 37% citaram amelhora da ansiedade e 26% doenças digestivas, entre os dentistas 30% citaraminfecção bucal e diminuição de dor e edema, os enfermeiros relataram tosse (42%) ecicatrização de feridas (25%), outros resultados estão relacionados com a utilizaçãopessoal tanto para os enfermeiros quanto para os farmacêuticos. Para osnutricionistas os resultados mais citados foram melhora da digestão (75%) e melhorada ansiedade (50%). Os profissionais que relataram utilizar as plantas medicinais jáobtiveram resultados terapêuticos.
A primeira pergunta do questionário questionava se os profissionais acreditam que asdrogas vegetais ou fitoterápicos, possuem ação terapêutica. Para os médicos, 96%responderam que sim e os demais profissionais responderam 100% afirmativamente.Estes resultados destacam que o profissional de saúde do município de Foz do Iguaçuconfia na efetividade da fitoterapia, o que demonstra seu interesse para aprescrição.
Almeida et al.[5],ao pesquisarem o uso de plantas medicinais em uma unidade de saúde da família nomunicípio de Juazeiro-BA, verificaram que 66,7% dos profissionais costumam indicarplantas medicinais. No entanto, nesta pesquisa não foram especificadas asmodalidades dos profissionais
O modo como os envolvidos nos serviços enxergam determinada prática em saúde éfundamental para a aplicação de ações em saúde, como observaram Fontenele etal.[6], em seu estudocom gestores, médicos, enfermeiros e dentistas das unidades de saúde da família deTeresina-PI.
Uma das justificativas da não prescrição por parte dos enfermeiros, é que a resoluçãodo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), nº 197, de 19 de março de 1997, quedispõe sobre o estabelecimento e reconhecimento de Terapias Alternativas comoespecialidade e/ou qualificação do profissional de enfermagem, foi revogada pelaresolução COFEN nº 0500/2015, restringindo a prescrição de plantas medicinais ouseus derivados pelo enfermeiro. Nas unidades de saúde do município de Foz do Iguaçu,o farmacêutico se restringe a dispensação de medicamentos nas farmácias das unidadese não se encaixam como prescritores no protocolo de fitoterapia.
Parte significativa dos profissionais entrevistados prescreve as plantas medicinaisem sua prática clínica. Esta prática estimula que mais pessoas utilizem essa terapiatradicional e usufruam de suas vantagens. Esta observação é corroborada pelapesquisa de Varela e Azevedo[7], osquais pesquisaram as vantagens e facilidades encontradas por médicos e enfermeirosda Estratégia Saúde da Família de Caicó, Rio Grande do Norte, no uso da fitoterapiana Atenção Básica. Os profissionais concluíram que esta terapia proporciona um bomresultado terapêutico, além de ocasionar menores efeitos adversos, tem menor custo emaior facilidade de acesso, comparado com o tratamento com medicamentos sintéticos.Além de aproximar o profissional e o usuário, devido à união do saber científico edo saber popular.
Grande parte das plantas citadas pelos profissionais no estudo é disponibilizada peloprograma de Fitoterapia do município e estão na forma de droga vegetal, uma pequenaparcela é prescrita em outras formas farmacêuticas.
Muitos dos médicos que participaram da pesquisa fazem parte do programa “MaisMédicos”, são cubanos e têm o hábito de prescrever plantas medicinais em seu país.Alguns relataram a dificuldade de utilizá-las no Brasil por não conhecerem osnomes.
Quanto às indicações farmacológicas das plantas medicinais, Almeida etal.[5], apóslevantamento em unidade de saúde da família no município de Juazeiro-BA, verificaramo uso para dor e inflamação, dor de cabeça, sedativo e calmante, bronquite, febre,tosse, gripe, resfriado, hipertensão, doenças ginecológicas, cicatrizante, úlcera,gastrite e infecção urinária.
No presente trabalho, dentre as plantas mais citadas, se destacaram as plantas queatuam na ansiedade e possuem efeitos calmantes, como passiflora, camomila, valerianae capim-limão. A ansiedade está entre os transtornos mais comuns e os tratamentosconvencionais causam vários efeitos adversos e as práticas integrativas ecomplementares estão em evidência. Souza et al.[8], em revisão bibliográfica sobre aeficácia de plantas medicinais utilizadas na produção de fitoterápicos para tratartranstornos de ansiedade, observaram que a Matricaria recutita L.(camomila), Passiflora incarnata L. (maracujá), Valerianaofficinalis L. (valeriana), Melissa officinalis L.(melissa) e Erythrina mulungu Mart. ex Benth (mulungu) demonstraramser boas opções como tratamento para transtornos da ansiedade possuindo, ainda,efeitos adversos toleráveis e boa segurança para o uso.
A falta de conhecimento ou capacitação sobre as plantas medicinais é um dos maioresobstáculos para a prescrição. Lopes et al.[9], em sua pesquisa com médicos eenfermeiros de uma unidade básica de saúde, concluíram que boa parte dosparticipantes prescreve as plantas, no entanto, a maioria não teve contato com oassunto na graduação e por falta de conhecimento a respeito das plantas ficam comreceio de prescrevê-las.
Fontenele et al.[6], apontaram que para que ocorra o fortalecimento da fitoterapia,tanto no âmbito da gestão de atenção básica quanto para o exercício profissional, énecessária uma maior discussão sobre a fitoterapia entre os atores envolvidos e acapacitação dos profissionais de saúde.
Os profissionais foram questionados se já obtiveram resultados positivos com o usodas plantas medicinais, fitoterápicos ou drogas vegetais. Dos profissionaisparticipantes, 69% já obtiveram resultados com a utilização das plantas medicinais,é possível verificar que 83% dos médicos, 46% dos enfermeiros, 100% dosfarmacêuticos e nutricionistas, e 77% dos dentistas, tiveram respostaspositivas.
Alguns profissionais que relataram não prescrever as plantas medicinais na suarotina, responderam à pergunta, afirmando que esses resultados foram a partir dautilização pessoal. Outro fato importante é que os que relataram não ter tidoresultados foram os que não utilizam essa terapia na sua prática clínica. Napesquisa de Varela e Azevedo[7], osprofissionais entrevistados relataram que tanto as plantas medicinais quanto osfitoterápicos apresentam bons resultados terapêuticos e são boas opções detratamento a serem utilizados na atenção básica.
Outro ponto importante é que tanto para os médicos quanto para os nutricionistas osresultados mais citados estão relacionados com ansiedade e problemas digestivos,problemas frequentes nas unidades de saúde. Para o serviço de nutrição é comum seremencaminhados pacientes com sobrepeso/obesidade e doenças crônicas nãotransmissíveis, nos distritos onde tem o profissional nutricionista ocorrem gruposde emagrecimento onde são utilizados os fitoterápicos e a maioria desses pacientesrelatam ser ansiosos.
Ludwig et al.[10]em sua pesquisa sobre ansiedade, depressão e estresse em pacientes com síndromemetabólica, verificaram que dos 38 participantes, 47,4% apresentaram sintomasmínimos de ansiedade e 86,8% apresentaram grande probabilidade de desenvolverdoenças relacionadas ao estresse. Cunha et al.[11] caracterizaram a populaçãoatendida pela Clínica Escola de Nutrição da Faculdade de Minas e verificaram que amaioria das mulheres adultas apresentaram obesidade e grande parte das mulheresidosas e homens apresentaram sobrepeso.
Os profissionais foram questionados se os pacientes aceitavam o tratamento com drogasvegetais ou fitoterápicos. A maioria (66%) dos profissionais respondeu que ospacientes aceitam o tratamento com drogas vegetais. Considerando cada modalidade deprofissional, foram 83% para os médicos, 42% para os enfermeiros, 50% para osfarmacêuticos, 77% dos dentistas e 100% dos nutricionistas.
Esse achado pode ser confirmado por vários estudos que avaliaram a utilização deplantas medicinais pela população, como no estudo de Cantarelli[12], que analisou a utilização deplantas medicinais pelos usuários do SUS e as práticas dos profissionais de saúde deDoutor Maurício Cardoso em relação à fitoterapia. O autor verificou que 86% dosusuários utilizam a fitoterapia e 97% têm interesse em fazer um tratamento commedicamentos fitoterápicos.
Lima et al.[13]verificaram o conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas unidadesbásicas de saúde e concluíram que 92,3% afirmaram que as utilizam como terapiaalternativa, e citaram 77 plantas de uso habitual para o tratamento de diversasdoenças. Maravai et al.[14] pesquisaram a utilização da fitoterapia pelos usuários daEstratégia Saúde da Família e dos entrevistados, 69% utilizam plantas medicinais,principalmente, para problemas nos sistemas digestório, nervoso e respiratório.
Os profissionais que não prescrevem plantas medicinais, fitoterápicos ou drogasvegetais foram questionados sobre o interesse em prescrever. Dos profissionais quenão prescrevem as drogas vegetais ou fitoterápicos, 79% têm interesse em prescrever.Destes, 100% dos médicos e dos farmacêuticos, 65% dos enfermeiros e 60% dosdentistas.
Lopes et al.[9]identificaram o grau de conhecimento e interesse em relação à utilização de plantasmedicinais como forma de tratamento por parte dos prescritores da Unidade Básica deSaúde Pinheiros. Verificaram que a maioria não teve contato com fitoterapia naformação e tem interesse em aprender mais sobre plantas medicinais, apesar de grandeparte prescrever/indicá-las, poderiam aumentar a prescrição.
Fontenele et al.[6]relataram que para um estreitamento entre o conhecimento popular e o científico énecessário uma participação ativa dos profissionais da atenção básica em relação afitoterapia. O interesse dos profissionais para a prescrição é essencial para queocorra essa aproximação.
Em relação aos enfermeiros grande parte relatou interesse em prescrever. No momentoesses profissionais não têm legislação para tal, mas é essencial que tenhamconhecimento sobre o preparo, ações, interações, contraindicações das plantasmedicinais, pois é comum os pacientes utilizá-las por conta própria e muitas vezesrelatam para os enfermeiros e precisam ser orientados para o uso adequado. Sampaioet al.[15]buscaram conhecer a percepção dos enfermeiros sobre o uso da fitoterapia naEstratégia Saúde da Família e verificaram que o conhecimento dos entrevistados namaioria das vezes é restrito e informal e encontram dificuldades como a nãovalorização por parte da gestão e do restante da equipe de saúde em relação afitoterapia, concluindo assim que o desenvolvimento de estratégias que colaborem coma inserção segura e eficiente da fitoterapia na assistência e a valorização dacultura local são essenciais.
Quanto aos questionamentos se os participantes já observaram reações adversas comoutilização das plantas medicinais, alguns profissionais (10%) observaram reaçõesadversas com o uso das plantas medicinais. Dos entrevistados que observaram estasreações, foram 13% dos médicos, enfermeiros 4% e 50% dos farmacêuticos enutricionistas. No total foram poucas as reações observadas.
A cultura de que as plantas medicinais são “naturais” e podem ser utilizadaslivremente ainda está presente na população. Muitos não relacionam sintomas depossíveis reações adversas às plantas medicinais e na maioria das vezes não sãoquestionadas pelos profissionais durante as consultas. É necessário que essasreações adversas apareçam e sejam notificadas.
Lima et al.[16]buscaram, em seu estudo, identificar o perfil geral das notificações dos produtos àbase de vegetais notificados como medicamento no Sistema Nacional para VigilânciaSanitária de 2008 a 2012 e concluíram que a farmacovigilância em fitoterapia aindaestá incipiente em relação aos demais medicamentos e teve prevalência denotificações incompletas e, ainda, relataram que para a prática da fitoterapia acapacitação deve estar ligada ao aprimoramento de estudos de avaliação de efeitostóxicos das plantas, conscientização de que o que é “natural” não faz mal, estímuloaos profissionais e população de que o uso de produtos à base de espécies vegetaisdeve ser questionado e/ou informado nas consultas e que a prática dafarmacovigilância, bem como as notificações devem ser realizadas.
Os médicos relataram reações alérgicas (33%), aumento de peso (33%), intolerânciagástrica (33%) e malestar (33%). Os enfermeiros citaram náusea e vômito devido aouso inadequado de confrei (100%). Hepatite medicamentosa pelo uso abusivo de várioschás digestivos para emagrecimento (100%) foi relatado pelos farmacêuticos e asnutricionistas listaram sonolência ou queda da pressão arterial com o uso docapimlimão (50%) e tontura (50%).
Gonçalves et al.[17], afim de subsidiar a implantação da fitoterapia na redepública de saúde do município de Volta Redonda/RJ, obtiveram dados sobre oconhecimento e uso de plantas medicinais pela população do município e verificaramque apenas 3% dos entrevistados apresentaram reações indesejadas, como diarreia, dorestomacal, queda da pressão arterial, refluxo, sonolência, afonia, cólica intestinalintensa, diurese aumentada, flebite e palpitação.
Os profissionais também foram questionados se os pacientes utilizam plantasmedicinais, fitoterápicos ou drogas vegetais por conta própria. A maioria dosprofissionais relatou que os pacientes utilizam drogas vegetais ou fitoterápicos porconta própria. No presente trabalho, 84% relataram que sim. Com relação à modalidadeda profissão, disseram sim todos os farmacêuticos e nutricionistas, 83% dos médicos,85% dos enfermeiros e 77% dos dentistas.
As drogas vegetais ou fitoterápicos mais utilizados pelos pacientes sem prescrição doprofissional de saúde foram, passiflora (21%), capim-limão (16%) e hortelã (16%)relatados pelos médicos, os mais citados pelos enfermeiros foram boldo (36%),capim-limão (27%) e camomila (23%), pelos dentistas, malva (50%), penicilina (40%) efolha de batata doce (30%), para os nutricionistas camomila (75%), capim-limão(50%), gengibre (50%), carqueja (50%) e erva-doce (50%) e os farmacêuticos citaramcamomila (50%), erva-doce (50%) e boldo (50%).
Outros estudos também avaliaram as plantas mais utilizadas por usuários da atençãobásica. Gonçalves et al.[17] em sua pesquisa com a população de Volta Redonda-RJ,verificaram que as plantas mais utilizadas pelos participantes (52,2%) foram boldo,erva-cidreira, hortelã, guaco e camomila. Araújo et al.[18] avaliaram a utilização de plantasmedicinais em usuários de uma Unidade de Saúde da Família em Campina Grande/PB,avaliaram 420 usuários e encontraram que 79% fazem o uso de plantas medicinais e amais prevalente foi o boldo (21,02%). Maravai et al.[14] em seu estudo para reconhecer autilização da fitoterapia pelos usuários da Estratégia Saúde da Família deCriciúma/SC, avaliaram 672 usuários e verificaram que as plantas medicinais maiscitadas foram boldo, hortelã e camomila. A maioria das plantas citadas também foirelatada pelos profissionais no presente estudo.
Como visto até o presente momento a capacitação dos profissionais é essencial parauma prescrição e/ou orientação adequada. Os participantes foram questionados se temespecialização em fitoterapia e se caso não tivessem se tinham interesse emrealizar. Dos participantes, 91% não têm especialização em fitoterapia. Apenas 9%dos médicos, 4% dos enfermeiros, 8% dos dentistas e 50% dos nutricionistas possuemessa especialização. Em relação ao interesse em fazer uma especialização na área,entre os médicos 67% relataram interesse, enfermeiros 60%, dentistas 50% enutricionistas 100%
Um fato que pode ser observado é que grande parte dos participantes que nãoprescrevem as plantas medicinais tem interesse em prescrever e muitos citaram afalta de conhecimento científico para utilizar essa terapia um motivo para a nãoprescrição, no entanto, alguns desses profissionais relataram não ter interesse emfazer uma especialização na área. Uma hipótese seria que no momento tem interesse emse especializar em outra área dentro da sua profissão, ou ainda, preferem cursos decurta duração para se atualizarem quanto a fitoterapia. No entanto, o que está claroé que a capacitação dos profissionais para melhor orientar os usuários da atençãobásica é fundamental, seja através de cursos, especialização ou conteúdo defitoterapia durante a graduação. Lima et al.[13] concluíram em seu estudo que énecessário investir em ações que integrem o uso de plantas medicinais dentro dosprogramas das Unidades de Saúde da Família. Uma destas ações, de acordo com osautores, é a capacitação dos profissionais, por meio da incorporação de conteúdos defitoterapia nos cursos de graduação.
A capacitação dos profissionais de saúde de forma contínua é essencial, pois poderãose sentir mais seguros para fazer prescrições, mas também é necessário interesse porparte do profissional. Em pesquisa com médicos do Programa Saúde na Família (PSF),Rosa et al. [19]verificaram que a maior intenção de uso dessa terapia foi entre aqueles que detinhammaior conhecimento sobre o assunto. Ainda destacaram uma preocupação dessesprofissionais em relação à validade científica de uso da fitoterapia, que pode seramenizada através do desenvolvimento de estudos pré-clínicos e clínicos com asplantas medicinais.
Embora haja resistência e/ou receio por muitos profissionais para prescrição, énecessário que estes encarem esse desafio, pois a população utiliza continuamente afitoterapia e de forma inadequada na maioria das vezes, mas como educadores osprofissionais de saúde devem estar capacitados para orientálos. Araújo etal.[18] realizaramuma pesquisa com objetivo de avaliar o uso de plantas medicinais por usuários de umaUnidade de Saúde da Família (USF), e constataram que 79% dos entrevistados faziamuso dessa terapia, mas 97% não receberam orientação sobre fitoterapia dosprofissionais da USF, e ainda, 51% pensavam que as plantas medicinais não causavamdanos à saúde, o que demonstra que existe a necessidade da sensibilização ecapacitação desses profissionais.
Lopes et al.[9]verificaram que boa parte dos profissionais da saúde que entrevistaram prescreveplantas medicinais, mas muitos ficam com receio de prescrevê-las. E concluem que oideal é que os profissionais sejam capacitados a respeito do assunto para que possamprescrever mais plantas medicinais.
Como uma prática integrativa e complementar do Sistema Único de Saúde (SUS), aFitoterapia tem sido mais pesquisada. Na literatura são encontrados estudos com oobjetivo de conhecer a percepção dos profissionais de saúde sobre o tema. Como napesquisa de Fontenele et al.[6], em que entrevistaram enfermeiros, médicos, odontólogos egestores em saúde. Verificaram que os profissionais aceitaram a institucionalizaçãoda fitoterapia e fazem uso pessoal principalmente do conhecimento popular, mas atécnica e conhecimento de políticas sobre o tema são deficientes.
Sampaio et al.[15]encontraram em seu estudo que o conhecimento dos enfermeiros da Estratégia Saúde daFamília (ESF), na maioria das vezes, é restrito e informal, e ainda, devido a nãovalorização da gestão e da equipe de saúde, os profissionais encontram dificuldadespara implementação dessa prática. Isso demonstra que o apoio e a sensibilização detoda a equipe são necessários para que o profissional se sinta amparado e possautilizar essa terapia. O vínculo com o paciente e apoio de toda a equipe faz com queo tratamento proposto tenha mais efeito.
Outra pesquisa é a de Varela e Azevedo[20], que encontraram como dificuldades para a aplicabilidade deplantas medicinais e fitoterápicos na ESF a resistência cultural da população, opouco conhecimento dos profissionais de saúde sobre as Práticas Integrativas eComplementares (PIC) no geral, ausência de insumos e a fragilidade do saber popular.O que demonstra que mais investimentos nesta área, como capacitações e formação derecursos humanos e suporte físico e estrutural devem ser realizados.
Conclusão
Por meio dos resultados pode-se observar que a maioria dos participantes da pesquisaacredita que as drogas vegetais ou fitoterápicos possuem ação terapêutica e grandeparte dos profissionais que estão aptos a prescrevê-los os utilizam na sua práticaclínica. Dos que relataram não prescrever, uma boa parcela relatou interesse emutilizar essa terapia.
Em relação à capacitação, como a maioria não tem especialização na área, se justificaa necessidade de serem capacitados para a prescrição e melhor orientação aospacientes sobre o uso adequado da fitoterapia.
Como citado pelos entrevistados, muitos pacientes já utilizam as plantas medicinaispor conta própria, por isso, o papel do profissional de saúde na orientação dacorreta utilização e a identificação e notificação de possíveis reações adversas éessencial. O enfermeiro, que embora não esteja habilitado para a prescrição, tambémtem um papel fundamental nessa orientação e precisa ser capacitado e o processo delegislação para a prescrição precisa ser revisto.
Resumo
Main Text
Introdução
Metodologia
Aspectos éticos
Tipo de estudo
Procedimento metodológicos
Cenário do estudo
Análise dos dados
Resultados e Discussão
Conclusão