Sat, 30 Sep 2023 in Revista Fitos
Óleo essencial de Cymbopogon nardus L. (Poaceae) nocontrole de Sitophilus zeamais em sementes demilho
Resumo
Dentre as principais pragas que incidem sobre os grãos armazenados está ogorgulho do milho (Sitophilus zeamais (Coleoptera:Curculionidae)). O presente trabalho teve por objetivo avaliar o uso do óleoessencial de Cymbopogon nardus sobre a mortalidade de adultosdeste inseto e seus efeitos sobre a qualidade de sementes de milho. Avaliou-se oefeito inseticida pelo método de impregnação, de doses puras de óleo de 0; 5;10; 15 e 20 µL em 20 g de sementes de milho, onde foi observada a porcentagem deinsetos mortos durante 24, 48, 72 e 96 horas. Após isso, as sementes utilizadasneste teste foram submetidas à exames de infestação e testes de qualidadefisiológica. Os delineamentos foram inteiramente casualizados, com 4 repetiçõese as médias comparadas pelo teste F e Tukey (5%). O incremento da dosagem e dotempo de exposição dos insetos às sementes tratadas causou o aumento damortalidade de adultos de S. zeamais. O óleo essencial deC. nardus apresentou atividade inseticida em adultos deS. zeamais; sua utilização reduziu a alimentação dosinsetos e não afetou a germinação das sementes de milho.
Main Text
Introdução
O gorgulho-do-milho (Sitophilus zeamais Mots (Coleoptera:Curculionidae)), é considerado uma das principais pragas primárias do armazenamentode grãos, principalmente do milho. A infestação inicia-se no campo e continua nosarmazéns, quando estes encontram condições apropriadas, alimentam-se do endospermanas fases iniciais e, posteriormente, atacam o embrião, causando uma reduçãosignificativa na germinação das sementes[1]. Também se reproduzem rapidamente, efetuando a postura nointerior das sementes, onde ocorre o desenvolvimento da fase larval[2,3].
O hábito alimentar e o desenvolvimento larval na parte interna das sementes ou grãos,proporcionam perdas, como a desvalorização comercial do lote, devido à redução dovalor nutritivo e do poder germinativo[4] além disso, a presença destes insetos na massa de grãos,promove o aumento da temperatura e umidade da mesma, criando um ambiente favorávelao desenvolvimento de fungos[5].
A utilização de inseticidas sintéticos no controle de S. zeamais emgrãos armazenados vem sendo realizado em larga escala. Estes produtos químicos podempromover uma ação fumigante ou protetora[6], apresentando resultados satisfatórios e econômicos nocontrole desta praga, no entanto, muitos que lançam mão destes produtos, sãopequenos produtores que necessitam armazenar parte da sua produção de sementes ougrãos por curtos períodos de tempo, onde a utilização de tais produtos, podeprovocar efeitos indesejáveis, como intoxicações aos aplicadores, presença deresíduos tóxicos nos grãos, tal como a poluição dos solos e dos cursos d’água quandonão utilizados da maneira adequada.
Os potenciais efeitos colaterais dos inseticidas químicos, a maior preocupação dosconsumidores em relação a questões ambientais e a qualidade dos alimentos, têmincentivado os pesquisadores a testar alternativas para o controle de pragas degrãos armazenados, como a utilização de óleos essenciais obtidos deplantas[7] Estes atuam nosinsetos por contato, ingestão e fumigação[8] causando diversos efeitos, como a mortalidade, repelência,redução na alimentação, na oviposição e no crescimento[9].
Diversas espécies vegetais são ricas em compostos secundários com ação inseticida quepossuem alta capacidade de interferir em processos bioquímicos básicos dos insetos epor consequência processos fisiológicos, levando o inseto à morte. Portanto, autilização de inseticidas naturais com base em óleos essenciais de espéciesvegetais, pode representar uma alternativa promissora para proteção de produtosarmazenados [10].
O número de plantas que possui atividade inseticida é alto, e muitas ainda precisamser estudadas, contribuindo com o desenvolvimento de novas classes de agentes decontrole mais seguras[11], pois autilização destes óleos deve ser criteriosa, visto que aqueles que apresentamelevada eficácia, mas podem ser também os mais fitotóxicos10].
Diante da importância do estudo da utilização de óleos essenciais no controle depragas como alternativa ao uso de inseticidas químicos e buscando informações sobrea qualidade das sementes tratadas com óleos voláteis, o presente trabalho objetivouavaliar os efeitos da aplicação por impregnação do óleo essencial de citronela(Cymbopogon nardus) no controle de Sitophiluszeamais e na qualidade de sementes de milho.
Material e Métodos
Foram utilizadas sementes não tratadas de milho (Zea mays) híbrido,cultivar XB 6010, da safra 2017/2018, fornecidas pela empresa “Sementes Semeali”. Osgorgulhos (S. zeamais) utilizados foram obtidos a partir de ummaterial contaminado proveniente da Região Metropolitana de Curitiba.
Para extração do óleo essencial foram coletadas folhas de plantas de citronela(Cymbopogon nardus - Poaceae) no final da primavera (em28/11/2017), no período da manhã, na Fazenda Experimental Canguiri, no Setor dePlantas Medicinais, em Pinhais, PR. Após a coleta, o material foi levado até oLaboratório de Ecofisiologia, no Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade, Setorde Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, onde a massa fresca (folhas)do material foi cortada em pedaços de aproximadamente 1cm e inseridas nos balões defundo redondo, com 2 litros de capacidade, do aparelho graduado tipo Clevenger. Aextração do óleo deu-se por hidrodestilação, em modo de arraste de vapor com fervuradurante 2,5 horas.
O hidrolato foi coletado com micropipeta e armazenado em frascos Ependorf de 2 ml, a-20°C, até a realização da análise de seus componentes químicos. Para a análise decomposição, o óleo foi centrifugado por 20 segundos, nos próprios Ependorf, paraseparação de resíduos de água presente no óleo. Posteriormente o óleo foi coletadocom micropipeta e armazenado em Tubo Falcon, envolto em papel alumínio, paraproteção de luminosidade, e mantido em freezer (-20°C).
A análise cromatográfica do óleo essencial de C. nardus foirealizada por cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas(CG/EM), em cromatógrafo Agilent 6890, acoplado a detector seletivo de massasAgilent 5973N, com detector de ionização de chamas (FID). A descrição doscomponentes do óleo está na TABELA1.
Para caracterização do lote realizou-se o teste de germinação, o peso médio de 100sementes e o teor de água (método da estufa a 105°C) que foram determinados deacordo com as Regras de Análise de
Sementes[12]. Os testes foramrealizados no Laboratório de Patologia de Sementes, no Departamento de Fitotecnia eFitossanidade, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
Para a realização do teste de impregnação e mortalidade de insetos, utilizou-se ametodologia adaptada de impregnação por contato[13]. Inicialmente, foram colocados 10 insetos adultos deS. zeamais, não sexados, em recipientes plásticos, circulares,com tampa e capacidade de 250 ml. Para o tratamento das sementes foram utilizadas asdosagens de 0, 5, 10, 15 e 20 µL de óleo puro (testemunha e quatro tratamentos).Assim, porções de 20 gramas de sementes de milho foram colocadas em sacos plásticostransparentes (14 x 20,5 cm) e o óleo essencial foi aplicado com o auxílio de umamicropipeta e homogeneizado por agitação manual durante 2 minutos. Após a aplicaçãodo óleo, as sementes foram colocadas nos recipientes plásticos, onde os insetoshaviam sido dispostos previamente. Os recipientes foram mantidos sobre as bancadasdo laboratório em temperatura ambiente (17,8-20,4°C) e umidade relativa (UR 82-90%)para observação durante 24, 48, 72 e 96 horas após a impregnação do óleo,contabilizando-se o número total de insetos mortos por recipiente, a cada período,sendo considerados mortos, aqueles indivíduos que não apresentaram nenhuma reação aotoque com pinça metálica e ao final (96 horas), foram determinadas as porcentagensde mortalidade[14].
Os tratamentos foram distribuídos em delineamentos inteiramente casualizados com 4repetições por tratamento (10 insetos por recipiente plástico), totalizando 40insetos por tratamento. Os resultados obtidos foram submetidos ao teste F e apósteste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Ao sétimo dia após a impregnação das sementes e contato com os insetos, realizou-se oexame de sementes infestadas[12].Foram retiradas, ao acaso, amostras de 50 sementes (utilizadas no experimentoanterior) de cada recipiente plástico (repetição) e realizou-se o exame individualdas sementes; sendo consideradas danificadas, todas aquelas sementes queapresentavam orifícios de saída do inseto. Os resultados foram obtidos por meio dasmédias por repetição, transformadas em percentual posteriormente. Comparou-se asmédias encontradas pelo teste de Tukey (5%).
O teste de germinação foi feito em rolo de papel, em temperatura constante de 25˚Cpor 7 dias; com 4 repetições de 50 sementes, para cada tratamento. Aproveitou-se aprimeira contagem de germinação (PCG) (4˚dia) para determinação do vigor[15]. As plântulas normais resultantesdo teste de germinação, foram e submetidas à secagem em estufa com circulação de arforçado (60°C durante 60 horas até peso constante).
Após a pesagem, foram determinadas as médias por repetição e os resultados expressosem gramas[15].
Resultados e Discussão
Os resultados iniciais mostraram que as sementes de milho intactas, apresentaramvalores médios de 45,4g para 100 sementes, 95 % para germinação e 10,3% para o teorde água.
Os dados da TABELA 1 apresentamos resultados da caracterização química do óleo essencial de Cymbopogonnardus (citronela). Por meio do processo de cromatografia, foramidentificados seis compostos químicos, com os seguintes valores: citronelal(31,14%), geraniol (19,88%), citronelol (10,49%), acetato de geranila (8,28%),acetato de citronelila (6,33%), elemol (4,11%) e limoneno (3,14%) (TABELA 1).
Os compostos monoterpênicos apresentaram-se como constituintes majoritários desteóleo, dados que corroboram com estudos realizados por Mahalwal e Ali[16] , que trabalhando com o óleoessencial de citronela, identificaram seus constituintes por cromatografia gasosa,encontrando como compostos majoritários, os monoterpenos citronelal (29,7%) e ogeraniol (24,2%).
Resultados semelhantes foram encontrados por Castro etal.[17], quecaracterizaram como principais constituintes, para o óleo essencial deCymbopogon nardus, citronelal (36,67%), geraniol (25,05%),citronelol (11,40%) e elemol (6,99%). Também Oliveira etal.[18]realizando a caracterização química do óleo essencial de citronela, identificaramcomo principais constituintes os monoterpenos oxigenados, citronelal (23,59%),geraniol (18,81%) e citronelol (11,74%).
As diferenças observadas entre a composição química do óleo de citronela utilizadoneste estudo (TABELA 1) e ascomposições encontradas em outros trabalhos já publicados, podem ser explicadas pelofato das concentrações relativas dos constituintes serem dependentes de diversosfatores, como a origem da planta, a parte da planta utilizada, o estágio dedesenvolvimento, as condições climáticas e de crescimento, como temperatura, água,luz e solo[19,20]
Quanto aos resultados do teste de mortalidade, com base na análise de variância, foipossível observar que o valor de F encontrado foi significativo estatisticamente,tanto para efeito simples da dosagem, quanto para o período de exposição àsdosagens. Para o efeito simples da dosagem, constatou-se que o valor de F calculadofoi de 55,94366. Este valor é superior ao de F tabelado (3,862548), comprovando queas dosagens avaliadas, tiveram efeito significativo sobre a mortalidade deS. zeamais. Procedeu-se o teste de médias e os resultados estãona TABELA 2.
A maior dose utilizada (20 µL) foi mais eficiente quando comparada às demais,apresentando maiores médias de mortalidade, em todos os períodos de exposiçãoavaliados. Para efeito de comparação, a dose de 20 µL foi responsável por umpercentual de mortalidade de 37,5 e 75% em 24 e 96 horas, respectivamente, enquantona menor dosagem (5 µL), não foi observado mortalidade para o período de 24 horas eapenas 15% para 96 horas.
Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Santos etal.[21], queavaliando diversas doses do óleo essencial de citronela sobre grãos de feijão paracontrole adultos de C. maculatus, constataram que a dosagem de 20µL foi responsável pela mortalidade de 80% dos gorgulhos, enquanto na dose de 5 µL,a mortalidade foi de 20%. Outros trabalhos com óleos essenciais no controle deinsetos-pragas dos grãos mostraram que o aumento da dose e período de exposiçãoforam eficientes no controle[22,23] .
Os resultados das avaliações de sementes infestadas e qualidade fisiológica estão naTABELA 3.
O exame de sementes infestadas mostrou que o óleo essencial de C.nardus conferiu maior proteção às sementes de milho em todas ostratamentos quando comparados à testemunha. Observou-se que os melhores resultadosforam obtidos quando utilizadas as maiores dosagens. O percentual médio de sementesinfestadas encontrado na testemunha foi de 15,5%, enquanto no maior tratamento (20µL), apenas 2,5% das sementes apresentaram danos por insetos.
Não houve diferença significativa para as variáveis vigor (PCG) e germinação dassementes (GE). O peso da matéria seca das plântulas (PMS) foi afetado, no entanto, amaior dose não diferiu da testemunha, sugerindo que novos estudos devem serrealizados para certificação de que o uso do óleo possa realmente interferir nessefator.
Xavier et al.[24]relataram que o óleo essencial de citronela apresentou potencialidade alelopáticasobre a germinação das sementes de feijão, que variou de acordo com a concentraçãodo óleo utilizada. Também Brito et al.[25], avaliando sementes de milho tratadas com óleosde citronela, eucalipto e composto citronelal observaram drástica redução nagerminação em relação à testemunha.
No presente trabalho, o uso do óleo essencial de citronela não apresentou impactosquanto à germinação das sementes. Tal fato é visto de forma positiva, pois, seu usopode ser útil para pequenos produtores que comumente adotam como estratégiaarmazenar sementes até o próximo plantio para reduzir seus custos de produção.
Estudos futuros devem ser realizados, visando melhor compreensão das substânciaspresentes no óleo de C. nardus e seus mecanismos de açãoinseticida. De acordo com Regnault-Roger et al.[26], os compostos presentes nos óleosessenciais, agem nos insetos através de efeitos neurotóxicos, que envolvem diversosmecanismos. Entre esses, estaria a inibição da enzima acetilcolinesterase que éresponsável pela interrupção da transmissão de impulsos nervosos, através dahidrólise do neurotransmissor acetilcolina no sistema nervoso dos insetos[27,28].
A octopamina dos insetos é outro alvo das substâncias presentes nos óleos essenciais;estes agem sobre o sítio octopaminérgico, levando a inibição ou estímulo do mesmo,interrompendo o funcionamento do sistema nervoso do inseto[29]. Outro fato preponderante paraação eficiente do óleo sobre o inseto é a existência de afinidade entre a estruturaquímica e a atividade biológica das substâncias, pois, quanto maior for a capacidadedo composto em se ligar à camada lipídica, maior será a penetração deste notegumento do inseto[11].
Portanto, os óleos essenciais apresentam atividade inseticida devido a diversosmecanismos que atingem múltiplos alvos, alterando de maneira eficaz a atividadecelular e os processos biológicos de insetos. Devido a diversidade de compostos e demecanismos de ação, fica dificultada a atribuição de um único mecanismo de açãoespecífico para as atividades inseticida dos óleos.
Conclusão
O óleo essencial de C. nardus apresentou atividade inseticida emadultos de S. zeamais. Sua utilização reduziu a alimentação dosinsetos e não afetou a germinação das sementes de milho.
Resumo
Main Text
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Conclusão