Revisão

Desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas: uma análise bibliométrica

New medicinal plants derivatives development for neglected diseases: a bibliometric analysis

https://doi.org/10.32712/2446-4775.2022.1287

Ferreira Neto, Paula Teixeira Pinto1*;
Santos, Taís Rubia1;
Tellis, Carla Junqueira Moragas2.
1Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Pavilhão Gaspar Vianna, Avenida Brasil 4.365, Manguinhos, CEP 21.040-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto de Tecnologia de Fármacos (Farmanguinhos), Rua Sizenando Nabuco, 100, Manguinhos, CEP: 21041-250, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
*Correspondência:
paulatneto@gmail.com

Resumo

Doenças negligenciadas impõem um fardo humano, social e econômico devastador a mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Embora existam ferramentas para controlar e até mesmo eliminar muitas dessas doenças, novos produtos terapêuticos precisam urgentemente ser desenvolvidos. Produtos derivados da biodiversidade são uma alternativa à busca de novos medicamentos. Este estudo buscou apresentar por meio de uma análise bibliométrica o cenário global de desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais destinadas ao tratamento de doenças negligenciadas, destacando a experiência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A base de dados Scopus foi utilizada para investigar a pesquisa relacionada ao tema nas últimas décadas. Observou-se aumento na produção de conhecimento sobre o tema, com relevante participação de autores, instituições e financiamentos públicos brasileiros, incluindo a contribuição da Fiocruz. Sugere-se a implementação de estratégias futuras de pesquisa e de financiamento que promovam maior produção científica e que propiciem a tradução da pesquisa básica para a prática clínica.

Palavras-chave:
Desenvolvimento de medicamentos.
Doenças negligenciadas.
Bibliometria.
Biodiversidade.

Abstract

Neglected diseases impose a devastating human, social and economic burden on more than 1 billion people worldwide. Although tools exist to control and even eliminate many of those diseases, new therapeutic products urgently need to be developed. Products derived from biodiversity are an alternative to the search for new drugs. This study presents, through a bibliometric analysis, the global scenario of development of new medicinal plant derivatives for the treatment of neglected diseases, highlighting the experience of the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz). The Scopus database was used to investigate research related to the topic over the last decade. There was an increase in the production of knowledge on the subject, with relevant participation of Brazilian authors, institutions and public funding, including the contribution of Fiocruz. It is suggested to implement future research strategies and funding that promoter greater scientific production and facilitate the conversion of basic research into clinical practice.

Keywords:
Drug development.
Neglected diseases.
Bibliometrics.
Biodiversity.

Introdução

As doenças negligenciadas persistem como um problema de saúde global atingindo, desproporcionalmente, as populações mais vulneráveis e impondo um fardo humano, social e econômico, devastador a mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo[1].

A eliminação das epidemias de: AIDS, tuberculose, malária e outras doenças tropicais negligenciadas, está refletida entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). O avanço em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos medicamentos está entre as ações necessárias para o alcance do ODS[2]. Outro compromisso global relevante é o roteiro da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabeleceu planos de ação para controlar, eliminar ou erradicar 20 doenças negligenciadas até 2030[1].

O combate a doenças negligenciadas envolve questões geográficas, ambientais, econômicas e sociais[3], contudo a falta de medicamentos seguros, eficazes e acessíveis é considerado um fator limitante para eliminação dessas doenças. Para muitas doenças negligenciadas, os medicamentos disponíveis têm uso limitado devido a toxicidade, falta de eficácia, alto custo e/ou dificuldade de uso, e, portanto, novas tecnologias precisam urgentemente ser desenvolvidos para melhoria do controle da doença e potencialmente alcance da eliminação[4]. Pesquisa, desenvolvimento e inovação são facilitadores fundamentais para o progresso contra todas as doenças negligenciadas[1].

Como alternativa à busca e ao desenvolvimento de novos medicamentos destacam-se os produtos derivados da biodiversidade. Estes representam não apenas uma alternativa a ampliação de opções terapêuticas eficazes, seguras e a preços acessíveis, como também uma janela de oportunidade para a P&D de produtos com variadas indicações terapêuticas, devido ao alto potencial para inovações radicais e incrementais e capacidade de geração de riqueza[5,6].

Biodiversidade ou diversidade biológica corresponde a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, incluindo os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, contemplando a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas[7].

O uso da biodiversidade para obtenção de substâncias com propriedades terapêuticas é antigo, e o emprego de plantas medicinais, ou seja, espécies vegetais utilizadas com propósitos terapêuticos, é uma prática comum, até os dias de hoje, em diversos países. No Brasil, uma das iniciativas governamentais voltadas para o sistema de saúde nacional foi a criação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF)[8], aprovada em 2006, com o objetivo garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso sustentável de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo assim o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional com base na biodiversidade. Dentre as diretrizes dessa Política destacam-se: o incentivo à capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e inovação em plantas medicinais e fitoterápicos; fomento em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação com base na biodiversidade brasileira. Dessa forma, a produção de inovação utilizando as plantas medicinais e fitoterápicos surge como oportunidade para o desenvolvimento tecnológico e para a integração da produção científica e da indústria, além de atender a demanda socioeconômica da população[9].

Nesse contexto, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) surge como ator relevante no desenvolvimento de novos medicamentos derivados de plantas medicinais. Já centenária, é considerada umas das instituições públicas de ciência e tecnologia em saúde mais importantes da América Latina[10]. Emblemática no desenvolvimento e produção de medicamentos estratégicos para a saúde brasileira, é sede da criação do Núcleo Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), núcleo que participou ativamente da concepção e elaboração da PNPMF. Entre os objetivos do NGBS está a inovação em medicamentos da biodiversidade como forma de intervenção na saúde pública brasileira[11], e o núcleo associado a proposta de desenvolvimento na área de P&D através das Rede de Implementação da Cadeia Produtiva de Fitoterápico (RedesFito), um sistema nacional de redes do conhecimento voltado para a inovação em medicamentos da biodiversidade[12].

O objetivo deste trabalho foi apresentar por meio de uma análise bibliométrica o cenário global de desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais destinadas ao tratamento de doenças negligenciadas, destacando a experiência da Fiocruz.

Avaliações bibliométricas têm sido comumente utilizadas por fornecer uma visão abrangente e precisa de esforços de pesquisa ao longo do tempo e seu impacto futuro[13,14].

Material e Método

Para esta análise bibliométrica foi selecionada a base de dados Scopus desenvolvida pela editora Elsevier e disponível no Portal da Capes (www.periodicos.capes.gov.br), por se tratar de uma fonte de natureza multidisciplinar, apresentar um maior volume de periódicos indexados, quando comparado a outras fontes de informação, além de dispor de funcionalidades de apoio à análise de resultados. Em 2020, a base de dados indexava mais de 23.452 periódicos revisados por pares, incluindo 5.500 classificados como de acesso aberto[15].

Os termos selecionados para estratégia de busca estão descritos no QUADRO 1. Além dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e suas sinonímias, termos adicionais relacionados ao tema foram incluídos, a fim de ampliar a busca das publicações relevantes relacionadas ao tema.

QUADRO 1: Termos selecionados, descritores e sinonímias para estratégia de busca.
Descritores e sinonímias em português Descritores e sinonímias em inglês
Doenças negligenciadas Neglected Diseases
Medicina Tropical Tropical Medicine
Doenças Transmissíveis Emergentes Communicable Diseases, Emerging
Úlcera de buruli Buruli Ulcer
Doença de Chagas Chagas Disease
Dengue Dengue
Chikungunya Chikungunya
Dracunculíase; Infecção pelo Verme da Guiné Dracunculiasis; Guinea-worm disease
Equinococose; Infecção por Echinococcus Echinococcosis; Echinococcoses; Echinococcus Infection
Infecções por Trematódeos Trematode Infections
Tripanossomíase Africana; Doença Africana do Sono Trypanosomiasis, African; African Sleeping Sickness
Leishmaniose; Infecção por Leishmania Leishmaniasis; Leishmania Infection
Hanseníase; Lepra Leprosy; Hansen's Disease
Filariose linfática; Elefantíase Filarial Elephantiasis, Filarial
Micetoma Mycetoma
Cromoblastomicose Chromoblastomycosis
Paracoccidioidomicose Paracoccidioidomycosis
Histoplasmose Histoplasmosis
Esporotricose Sporotrichosis
Criptococose Cryptococcosis
Oncocercose Onchocerciasis
Raiva; Hidrofobia Rabies; Hydrophobia
Escabiose Scabies
Ectoparasitoses Ectoparasitic Infestations
Esquistossomose; Infecção por Schistosoma Schistosomiasis; Schistosoma infection
Helmintíase; Infecções por Helmintos; verminose Helminthiasis; Helminth Infestation; worm
Envenenamento por picada de cobra Snake Bites
Teníase; Infecções por Taenia Taeniasis; Taenia Infections
Cisticercose Cysticercosis
Tracoma; Oftalmia Egípcia Trachoma; Egyptian Ophthalmia
Bouba; Framboesia Yaws; Framboesia
Desenvolvimento de Medicamentos Drug Development
Avaliação de Medicamentos Drug Evaluation
Desenho de Fármacos Drug Design
Cromatografia Chromatography
Análise Espectral; Espectrometria; Espectroscopia Spectrum Analysis; Spectrometry; Spectroscopy
Avaliação Pré-Clínica de Medicamentos Drug Evaluation, Preclinical
Estudo Clínico Clinical Study
Reposicionamento de Medicamentos Drug Repositioning
Plantas Medicinais Medicinal  Plants
Extratos Vegetais Plant Extracts
Óleos essenciais Essential Oils
 Fitoquímicos Phytochemicals
Terpenos; Terpenóides Terpenes; Terpenoids
Compostos Fenólicos Phenolic Compound
Polifenóis Polyphenols
Flavonoides Flavonoids
Alcaloides Alkaloids
Antocianinas Anthocyanins
Antraquinonas Anthraquinones
Cumarínicos Coumarins
Glicosídeos Glycosides
Lignanas Lignans
Saponinas Saponins
Taninos Tannins
Termos adicionais relacionados ao tema
Português Inglês
Mycobacterium Mycobacterium
Trypanosoma Trypanosoma
Leishmania Leishmania
Wuchereria Wuchereria
Paracoccidioides Paracoccidioides
Histoplasma Histoplasma
Sporothrix Sporothrix
Cryptococcus Cryptococcus
In vitro In vitro
In vivo In vivo
Produtos Naturais Natural products
Antocianidinas anthocyanidins
Fonte: autores.

A busca foi realizada em maio de 2021, utilizando os campos título, resumo e palavra-chave para obter a produção de pesquisa relacionada ao desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas, em nível global, no período de 2000 a 2021.

Foram encontrados inicialmente 7.450 documentos e após delimitação temporal (2000 a 2021), obteve-se 6.822 referências distribuídas nas diferentes tipologias documentais: Article (6.028), Review (598), Conference Paper (69), Book Chapter (49), Editorial (24), Short Survey (19), Letter (14), Note (5), Conference Review (4), Erratum (4), Retracted (4), Book (2) e Data Paper (1).

Foram selecionadas para análise somente aqueles documentos classificados como artigo (6.028), dado as características de originalidade e o processo de peer review de avaliação. Os indicadores bibliométricos referentes aos artigos identificados incluíram ano de publicação, distribuição de publicações por países/territórios, instituição dos autores, patrocinadores e principais periódicos.

As publicações que continham pelo menos um autor filiado à Fiocruz, foram migradas da base Scopus para uma planilha eletrônica e, quando aplicável, os derivados de plantas medicinais em desenvolvimento foram classificados quanto a fonte natural de obtenção, a doença negligenciada e o resultado observado no experimento. Publicações que não abordem derivados de plantas medicinais, destinadas ao tratamento de doenças negligenciadas em seres humanos, foram desconsideradas.

Resultados e Discussão

Cenário global da produção científica sobre desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas

Os 6.028 artigos encontrados após os procedimentos metodológicos descritos no item anterior estão distribuídos ao longo do tempo conforme FIGURA 1.

FIGURA 1: Evolução global das publicações sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais (2000-2020).
Figura 1
Fonte: autores, a partir da Scopus.

Os dados apontam para um aumento significativo na produção de conhecimento sobre a temática. Tal resultado pode estar relacionado aos esforços da comunidade internacional voltados ao estímulo de P&D de novos medicamentos para as doenças negligenciadas nos últimos anos.

Ao analisar a contribuição dos países na divulgação dos resultados de pesquisa, identificaram-se 142 países cujos autores contribuíram com ao menos uma produção. Os países que mais contribuíram com a produção científica global sobre a temática foram Índia (1.190; 20%) e Brasil (1183; 20%), seguidos de Estados Unidos da América (EUA) (705; 12%), China (361; 6%) e Alemanha (293; 5%), dentre outros, conforme FIGURA 2.

FIGURA 2: Principais países que contribuíram com a produção científica sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais (2000-2021).
Figura 2
Fonte: autores, a partir da Scopus.

Observa-se na FIGURA 2 que países em desenvolvimento inovadores como Índia, Brasil e China e países desenvolvidos como EUA, Alemanha e Reino Unido desempenham um papel relevante em P&D para doenças negligenciadas e a quantidade de literatura produzida parece estar relacionada aos investimentos em pesquisa.

Índia e Brasil vêm ampliando os gastos públicos com financiamento de pesquisas sobre doenças negligenciadas nas últimas décadas[16] e segundo dados do G-Finder[17], projeto que rastreia o investimento anual em P&D para novas tecnologias para enfrentar os desafios de saúde globais prioritários, o EUA é o maior financiador público de P&D em doenças negligenciadas, seguido pelo Reino Unido e a Comissão Europeia.

Acrescenta-se que a Índia é um dos 17 países com megabiodiversidade do planeta, sendo responsável por 8% da biodiversidade global. Seu destaque, como país cujos autores mais contribuíram com a produção cientifica sobre novos derivados de plantas medicinais, pode estar relacionado aos seus sistemas medicinais tradicionais, como Ayurveda, Unani, Siddha ou homeopatia que desempenham um papel milenar significativo na saúde do país[18]. Dada sua relevância, a validação científica da eficácia terapêutica dos derivados de plantas medicinais ayurvédicas vem se expandindo no país[19].

Já o Brasil, é o país com a maior biodiversidade do mundo, e a sua produção científica vêm ganhando progressiva importância mundial[20]. A partir dos anos 2000 houve avanços nas políticas públicas de estímulo à inovação na indústria farmacêutica e na pesquisa brasileira com plantas medicinais. Destaca-se, além da PNPMF, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), ambas criadas com objetivo de incorporar discussões sobre a oportunidade, importância, dificuldades, facilidades e vantagens da implementação da Fitoterapia nos serviços públicos de saúde[21]. Outras iniciativas de estímulo a inovação em medicamentos da biodiversidade incluíram a criação do NGBS em 2006 e da RedesFito em 2009, passos relevantes no sentido de promover a inovação em medicamentos da biodiversidade[12].

As principais instituições responsáveis pela produção de conhecimento sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais, baseado na afiliação dos autores, são mostradas na FIGURA 3.

FIGURA 3: Principais instituições que contribuíram na produção científica sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas (2000-2021).
Figura 3
Fonte: autores, a partir da Scopus.

As instituições mostradas na FIGURA 3 são principalmente universidades públicas (8) e institutos públicos de pesquisa (2), reforçando a proeminência dessas instituições na produção científica global e a relevância do Estado na P&D de medicamentos para doenças negligenciadas.

Destaca-se que, entre as instituições que mais contribuíram na produção científica sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais no período analisado, 5 são instituições públicas brasileiras. O destaque das universidades na produção cientifica brasileira já é conhecido, em geral, as universidades públicas realizam a maior parte das pesquisas no Brasil[22].

As informações mostradas na FIGURA 4 podem ser úteis no direcionamento estratégico de parceiros para construção de cooperações na área de pesquisa de novos produtos derivados de plantas medicinais para combate as doenças negligenciadas.

FIGURA 4: Principais patrocinadores das pesquisas publicadas sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas (2000-2021).
Figura 4
Fonte: autores, a partir da Scopus.

As instituições mostradas na FIGURA 4 são organizações governamentais localizadas no Brasil (5), EUA (3), China (1) e Europa (1), e enfatizam o financiamento público como imprescindível no desenvolvimento de novas tecnologias de combate às doenças negligenciadas. De fato, o setor público tem sido a fonte mais significativa de financiamento em P&D para doenças negligenciadas nos últimos anos[17].

Os 3 principais patrocinadores mostrados na FIGURA 4 são organizações governamentais federais brasileiras: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). É possível observar, ainda, o destaque das agências de fomento estaduais, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A relevância das agências de fomento, federais e estaduais no financiamento de pesquisas no Brasil, se expande além da área da saúde[22].

Os principais periódicos utilizados para veiculação da produção de conhecimento sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas são mostrados na FIGURA 5.

FIGURA 5: Principais periódicos utilizados para veiculação da produção de conhecimento sobre novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas (2000-2021).
Figura 5
Fonte: autores, a partir da Scopus.

No que tange ao tipo de acesso, 2.447 (41%) das publicações foram divulgadas em periódicos de acesso aberto, ou seja, periódicos nos quais todos os artigos acadêmicos revisados por pares estão online e disponíveis sem restrições.

Periódicos médicos de acesso aberto ampliam a disseminação do conhecimento e possuem métricas de citação mais altas. Nas últimas décadas, houve um aumento no número de periódicos de acesso aberto em quase todas as disciplinas[23], inclusive na área de doenças infecciosas [24]. A comunicação aberta dos resultados das pesquisas voltadas para doenças negligenciadas é primordial para o progresso científico global.

Produção científica sobre desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas da Fiocruz

Dentre os 6.028 artigos encontrados neste estudo foram identificadas 179 publicações sobre novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas, com, pelo menos, um autor filiado a Fiocruz, que estão distribuídas ao longo do tempo conforme FIGURA 6.

FIGURA 6: Evolução temporal das publicações científicas sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais com autores da Fiocruz (2000-2020).
Figura 6
Fonte: autores, a partir da Scopus.

As doenças negligenciadas com maior índice de aparição nas publicações que descrevem novos derivados de plantas medicinais em desenvolvimento foram leishmaniose (71; 57%) e doença de Chagas (33; 26%), seguidas de esquistossomose (8; 1%) e tuberculose (8; 1%), entre outras, conforme FIGURA 7.

FIGURA 7: Doenças negligenciadas com maior índice de aparição na produção científica da Fiocruz sobre o desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais (2000-2021).
Figura 7
Fonte: autores.

Entre as publicações da Fiocruz com pelo menos um autor filiado a Fiocruz, 88% (157) delas receberam pelo menos uma citação na literatura científica. O artigo intitulado "Phenolic compounds from Brazilian propolis with pharmacological activities" publicado no periódico Journal of Ethnopharmacology em 2001 foi o artigo com maior número de citações segundo a Scopus, com 304 citações.

No que tange ao tipo de acesso, 103 (58%) das publicações foram divulgadas em periódicos de acesso aberto. E quanto ao idioma utilizado, 174 (97%) foram publicados em inglês.

Os principais periódicos utilizados para publicação dos novos derivados de plantas medicinais em desenvolvimento na Fiocruz para doenças negligenciadas são mostrados na FIGURA 8.

FIGURA 8: Principais periódicos utilizados para publicação dos estudos da Fiocruz sobre novos derivados de plantas medicinais em desenvolvimento para doenças negligenciadas (2000-2021).
Figura 8
Fonte: elaborado pelos autores, a partir da Scopus.

As principais instituições responsáveis pelo financiamento das pesquisas de desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas, com participação da Fiocruz, são mostradas na FIGURA 9. Todas são organizações governamentais brasileiras e enfatizam o financiamento público como imprescindível no desenvolvimento de novas tecnologias de combate às doenças negligenciadas. E de fato, o setor público tem sido a fonte mais significativa de financiamento em P&D para doenças negligenciadas nos últimos anos[17].

FIGURA 9: Principais patrocinadores das pesquisas de desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas com participação da Fiocruz (2000-2021).
Figura 9
Fonte: elaborado pelos autores, a partir da Scopus.

Após análise das publicações com participação de autores da Fiocruz, foram identificadas 120 (67%) publicações descrevendo novos derivados de plantas medicinais em desenvolvimento. A fonte natural de obtenção, a doença negligenciada e o resultado observado no experimento são mostrados no QUADRO 2.

Foram desconsideradas publicações que abordavam produtos derivados da biodiversidade de origem não vegetal; produtos que embora disponíveis na natureza, haviam sido obtidos por síntese química; artigos sobre doenças não negligenciadas; produtos em desenvolvimento sem finalidade de tratamento em seres humanos; publicações sobre métodos de trabalho, um artigo com acesso indisponível e em duplicidade.

QUADRO 2: Artigos sobre novos derivados de plantas medicinais em desenvolvimento para doenças negligenciadas, incluindo ao menos um autor da Fiocruz (2000-2021).
Fonte natural Doença Resultado
Plinia cauliflora (Mart.) Kausel (Myrtaceae Juss) Doença de Chagas O extrato de folhas de P. cauliflora é uma fonte potencial de compostos bioativos antiparasitários, porém apresenta efeitos citotóxicos em linhagens de células hepáticas.
Piper cabralanum C.DC. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose Os extratos das folhas de P. cabralanum (frações em metanol, hexano e diclorometano) apresentaram atividade contra Leishmania amazonensis com baixa citotoxicidade para macrófagos murinos e diminuição da infectividade pelo parasita.
Camellia sinensis (L.) Kuntze (Theaceae Mirb. ex Ker Gawl.) Leishmaniose Sugerem que o (-)-Epigallocatechin 3-O-gallate (EGCG) é eficaz para o tratamento da leishmaniose visceral.
Piper diospyrifolium Kunth (Piperaceae Giseke) e Piper mikanianum (Kunth) Steud. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose e doença de Chagas A análise fitoquímica de óleos essenciais mostrou que as duas espécies de Piper apresentam composição heterogênea. O óleo essencial de P. diospyrifolium apresentou 21 compostos voláteis, incluindo o fenilpropanoide (Z) -carpacina como componente majoritário. O óleo essencial de P. mikanianum apresentou um total de 19 compostos, sendo o safrol fenilpropanóide majoritário. Os óleos essenciais exibiram baixa citotoxicidade quando comparados aos antiparasitários padrões, indicando que são fontes promissoras de novos compostos com atividade antiparasitária.
Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M.Perry (Myrtaceae Juss.) Doença de Chagas O óleo essencial de S. aromaticum e o eugenol (composto principal) exibiram atividade inibitória do Trypanosoma cruzi e apresentaram baixa citotoxicidade.
Lychnophora trichocarpha (Spreng.) Spreng. (Asteraceae Bercht. & J.Presl) e Lychnophora passerina (Mart. ex DC.) Gardner (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Doença de Chagas As lactonas sesquiterpênicas nanoencapsuladas lychnopholide e goiazensolide mostraram excelente eficácia contra diferentes cepas de T. cruzi com sensibilidade variável ao benzinidazol.
Caryocar coriaceum Wittm. (Caryocaraceae Szyszył.) Leishmaniose Flavonóides presentes nos extratos da casca e da polpa de C. coriaceum podem atuar como inibidores de Leishmania.
Aniba rosiodora Ducke (Lauraceae Juss.) Doença de Chagas O óleo essencial de A. rosaeodora e o linalol (composto majoritário) apresentam a atividade antitripanossômica, sem efeito citotóxico em macrófagos.
Vernonia brasiliana (L.) Druce (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Leishmaniose A associação do óleo essencial de V. brasiliana com miltefosina exibiu um efeito antagônico contra promastigotas de Leishmania infantum.
Aniba panurensis (Meisn.) Mez (Lauraceae Juss.), Aniba parviflora (Meisn.) Mez (Lauraceae Juss.) e Aniba rosiodora Ducke (Lauraceae Juss.) Doença de Chagas, leishmaniose e malária Extratos de A. panurensis apresentaram atividades in vitro contra T. cruzi e L. amazonenses. Estirilpironas isoladas dos extratos demonstraram atividade contra Plasmodium falciparum.
Protium altsonii Sandwith (Burseraceae Kunth) e Protium hebetatum Daly (Burseraceae Kunth) Leishmaniose Os resultados indicam que as oleorresinas do gênero Protium são potentes contra Leishmania. Além disso, os três monoterpenos (α-pineno, p- cimeno e 1,8-cineol) constituintes dessas oleorresinas possuem propriedades anti- Leishmania que podem ser exploradas em ensaios sinérgicos para o desenvolvimento de novos candidatos a fármacos.
Croton velutinus Baill. (Euphorbiaceae Juss.) Doença de Chagas Derivados fenilpropanóides de C. velutinus podem ser candidatos promissores com atividade citotóxica, tripanocida e antiinflamatória.
Arrabidaea chica (Bonpl.) Verl. (Bignoniaceae Juss.) Leishmaniose  A carajurina, uma das antocianidinas identificadas nos extratos de A. chica, apresentou atividade contra L. amazonensis.
Mentha hirsuta Huds. (Lamiaceae Martinov) Esquistossomose O óleo essencial de M. hirsuta e rotundifolona demonstrou atividade esquistossomicida in vivo (camundongos) contra Schistosoma mansoni.
Origanum vulgare L. (Lamiaceae Martinov) Leishmaniose Formulações parenterais de carvacrol com carreadores de lipídios nanoestruturados se mostraram promissoras para o tratamento da leishmaniose.
Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez (Lauraceae Juss.) Esquistossomose A nanoemulsão de óleos essenciais das folhas de O. pulchella causou mortalidade de B. glabrata adulta, seus embriões de ovo e S. mansoni. Miristicina, biciclogermacreno e α-Pineno foram as principais substâncias do óleo. Esses resultados sugerem o uso desta nanoemulsão como alternativa no controle do ciclo da esquistossomose.
Bocageopsis multiflora (Mart.) R.E.Fr. (Annonaceae Juss.), Duguetia quitarensis Benth (Annonaceae Juss.), Fusaea longifolia ( Aubl. ) Saff . (Annonaceae Juss.) e Guatteria punctata ( Aubl .) RA Howard (Annonaceae Juss.) Doença de Chagas Os óleos essenciais das quatro espécies mostraram atividade tripanocida nas concentrações testadas, sendo o óleo essencial de G. punctata 34 vezes mais ativo do que o medicamento de referência benznidazol.
Quassia amara L. (Simaroubaceae DC.) Leishmaniose Os resultados sugerem que o alcalóide do ácido β-carbolina-1-propiônico tem potencial como agente antileishmania.
Camellia sinensis (L.) Kuntze (Theaceae Mirb. ex Ker Gawl.) Leishmaniose O (-) - epigalocatequina 3- O- galato se demonstrou in vitro e in vivo (camundongos) como um novo composto para o tratamento da leishmaniose visceral.
Geissospermum vellosii Allemão (Apocynaceae Juss.) Leishmaniose A flavopereirina mostrou-se uma molécula promissora por sua atividade antileishmania.
Platanus acerifolia L. (Platanaceae T.Lestib.) e Malus domestica (Suckow) Borkh. (Rosaceae Juss.) Tricomoníase e leishmaniose Derivados modificados por semisintese não exibiram atividade pronunciada contra T. vaginalis e L. amazonensis mostrando que os triterpenos podem ser uma fonte de novos derivados se consideradas modificações semissintéticas adicionais, especialmente incluindo grupos polares, como grupos hidroxila.
Myrciaria plinioides D.Legrand (Myrtaceae Juss.) Leishmaniose Óleo essencial derivado das folhas de M. plinioides apresentou atividade in vitro significativa contra L. amazonensis.
Trixis vauthieri DC (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Doença de Chagas  Dois novos trixikingolideos de T. vauthieri apresentaram notável atividade tripanocida in vitro.
Endlicheria bracteolata (Meisn.) C.K.Allen (Lauraceae Juss.) Leishmaniose O óleo essencial de E. bracteolata demonstrou ter atividade antileishmania in vitro.
Cinnamomum zeylanicum Blume (Lauraceae Juss.), Origanum vulgare Linn. (Lamiaceae Martinov) e Curcuma longa L. (Zingiberaceae) Leishmaniose Atividade antileishmania contra formas promastigotas de L. amazonensis foi observada em óleo essencial de C. longa, mas não em óleo essencial de C. zeylanicum e O. vulgare. A atividade do óleo essencial de C. longa contra amastigota intracelular evidencia potencial antileishmania.
Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau (Bignoniaceae Juss.) Leishmaniose Com base na alta atividade in vitro, os flavonóides diméricos podem ser usados como uma estrutura líder para o desenvolvimento de novas moléculas que podem ser úteis para estudos de estrutura ativa contra Leishmania .
Moringa oleífera Lam. (Moringaceae Lam.) Doença de Chagas O extrato de flor de M. oleifera e um inibidor de tripsina isolado dele mostraram in vitro atividade antiprotozoária contra Trypanosoma cruzi .
Citrus aurantium L. (Rutaceae A.Juss.) Leishmaniose O flavonóide 2'-hidroxiflavanona encontrado nas cascas de frutos cítricos, em especial a C. aurantium demonstrou atividade sobre o L. amazonensis resistente ao antimoniato in vitro e in vivo (murinos) por via oral.
Extrato de própolis Leishmaniose Os resultados identificaram diferenças significativas entre os extratos, variando de acordo com seu método de extração, bem como com o tipo e origem botânica das amostras. Os melhores resultados foram apresentados para os extratos (três tipos de própolis: vermelha, verde e marrom), obtidos pelo método de extração convencional (etanólico), indicando uma maior seletividade para a extração de compostos antioxidantes. A variedade vermelha apresentou o maior potencial biológico.
Zanthoxylum tingoassuiba A.St.-Hil ( Rutaceae A.Juss.) Doença de Chagas e leishmaniose Todos os produtos testados apresentaram atividade antiparasitária semelhante à dos controles positivos (benznidazol e anfotericina B).
Ocimum canum Sims (Lamiaceae Martinov) Leishmaniose Os resultados evidenciaram a rica composição química do óleo essencial de O. canum , bem como sua atividade antileishmania e alto índice de seletividade para esses parasitas, embora não para células, revelando seu potencial para futuros estudos in vivo.
Tetradenia riparia (Hochst.) Codd (Lamiaceae) Tuberculose O óleo essencial de folhas de T. riparia e o isolado puro de 6,7-desidroroileanona apresentou boa atividade contra isolados clínicos de M. tuberculosis, incluindo isolados resistentes a múltiplos medicamentos, com baixa citotoxicidade para macrófagos murinos.
Morinda citrifolia Linn. (Rubiaceae Juss.) Leishmaniose O suco de frutas de M. citrifolia (apresenta antraquinonas, flavonóides, alcalóides, terpenóides, esteróides, saponinas, cumarinas, compostos fenólicos, taninos, antocianidinas e chalconas) exibiu atividade antileishmania.
Piper tuberculatum Jacq (Piperaceae Giseke) Leishmaniose Os resultados apresentados indicam que a piperlongumina (alcalóide amida) é um potencial candidato leishmanicida e apoia a abordagem biomimética para o desenvolvimento de novos derivados antileishmania.
Croton linearis Jacq (Euphorbiaceae) Doença de Chagas e leishmaniose O óleo essencial da folha de C. linearis apresentou notável atividade contra L. amazonensis, atividade moderada contra T. cruzi e atividade fraca contra P. aureginosa.
Inula chritmoides L. (Asteraceae) e Spergularia rubra (L.) J. Presl & C. Presl (Caryophyllaceae) e outras Leishmaniose Os extratos em acetona e diclorometano de I. chritmoides e S. rubra apresentaram atividade anti L. infantum in vitro e propriedades antiinflamatórias importantes.
Psidium guineense Sw. (Myrtaceae Juss.) Tuberculose O óleo essencial de P. guineense e o espatulenol (constituinte majoritário) apresentaram atividade antimicobacteriana moderada.
Aloysia gratissima (Gillies & Hook.) Tronc. (Verbenaceae J.St.-Hil.) Leishmaniose O óleo essencial de A. gratissima (AgEO) e o guaiol, o principal sesquiterpeno constituinte do óleo, podem ser candidatos promissores para o desenvolvimento de drogas antileishmania.
Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae A.Juss.) Leishmaniose O óleo da semente de C. guianensis não apresentou atividade antileishmania e três frações de óleo ricas em limonóides demonstraram atividade contra promastigotas e amastigotas intracelulares de L. amazonensis. A atividade anti-Leishmania das frações ricas em limonóides de C. guianensis pode ser atribuída aos limonóides 11β-hidroxiedunina e 6α, 11β-diacetoxedunina detectados na análise química.
Excoecaria lucida Sw (Euphorbiaceae) Doença de Chagas Ácido elágico, estigmasterol-3-O-β-D-glucopiranosídeo e sitosterol-3-O-β-D-glucopiranosídeo são relatados pela primeira vez em folhas de E. lucida Sw., bem como seus estudos de atividade biológica, apoiando novas investigações para o tratamento da doença de Chagas.
Orbignya phalerata Mart. (Arecaceae Schultz Sch.) Leishmaniose Micropartículas carregadas com extrato aquoso do mesocarpo de babaçu podem ser úteis para o direcionamento de drogas no tratamento da leishmaniose, devido ao efeito imunomodulador na polarização de macrófagos e ao aumento da eficácia como produto anti-Leishmania após a microencapsulação.
Manilkara subsericea (Mart.) Dubard (Sapotaceae Juss.), Neomitranthes obscura (DC.) N.Silveira (Myrtaceae Juss.) e Eugenia sulcata Spring ex Mart. (Myrtaceae Juss.) Doença de chagas Três (entre 6 extratos vegetais brutos) de M. subsericea e N. obscura inibiram a proliferação de T. cruzi . Três substâncias isoladas (quercetina, miricetina e ácido ursólico) desses 3 extratos brutos inibiram a proliferação de epimastigotas e causaram baixa toxicidade às células de mamíferos. A quercetina foi a substância isolada com melhor atividade antiprotozoária.
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz (Fabaceae Lindl.) Leishmaniose A análise química demonstrou que o extrato metanólico dos frutos contém altos níveis de compostos fenólicos. Os resultados apontam para uma possível terapia alternativa para leishmaniose cutânea utilizando fitoterápicos.
Norantea brasiliensis Choisy (Marcgraviaceae Bercht. & J.Presl) Dengue O extrato bruto de etanol das folhas apresentou o melhor efeito antiviral e uma fração derivada em diclorometano apresentou efeito imunomodulador nas citocinas inflamatórias e antiinflamatórias.
Eugenia pitanga (O.Berg) Nied.( Myrtaceae Juss.) Leishmaniose Apresentou dados preliminares sobre a atividade antileishmania in vitro do óleo essencial de folhas frescas de E. pitanga contra formas promastigotas de Leishmania amazonensis.
Extrato de própolis Leishmaniose Os extratos de própolis exibiram efeito leishmanicida contra os dois estágios de L. braziliensis. A baixa toxicidade celular e o eficiente efeito microbicida dos extratos alcoólicos ou glicólicos de própolis os tornam candidatos a um tratamento aditivo para a leishmaniose tegumentar.
Uncaria guianensis (Aubl.) J.F.Gmel. (Rubiaceae Juss.) Dengue Os extratos hidroalcoólicos de folhas e casca de U. guianensis apresentaram efeitos antivirais e imunomoduladores para dengue e possivelmente uma atividade protetora de hepatócitos, sendo potenciais candidatos para o desenvolvimento futuro de um tratamento da dengue.
Mentha hirsuta Huds. (Lamiaceae Martinov) Esquistossomose As análises demonstram a eficácia da Rotundifolona, como um composto candidato com efeitos in vitro significativos contra vermes adultos de S. mansoni.
Luehea ochrophylla Mart. (Malvaceae Juss.) Doença de chagas Constituintes das cascas do caule de L. ochrophylla (friedelina, β-friedelinol, lupeol, pseudotaraxasterol, β-sitosterol, ácido betulínico, taraxasterol, (-) - epicatequina, β-sitosterol-3-O-β-d -glucopiranosídeo e (+) - epicatequina- (4β → 8) -epicatequina): As frações extrato hexânico (HE) e diclorometano (DF) e acetato de etila (AF) exibiram atividade antiparasitária contra Trypanosoma cruzi.
Piper diospyrifolium Kunth (Piperaceae Giseke) e Piper aduncum L. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose e tuberculose Óleos essenciais de P. diospyrifolium e P. aduncum apresentaram atividade antileishmania. e de P. rivinoides, P. cernuum e P. diospyrifolium exibiu atividade moderada contra o Mycobacterium tuberculosis. Esses resultados são relevantes e sugerem seu potencial para fins terapêuticos.
Allophylus edulis (A. St.-Hil., A. Juss. & Cambess.) Radlk. (Sapindaceae) Tuberculose (e outras doenças) O óleo essencial de folhas frescas de A. edulis e o seu principal constituinte, viridiflorol, exibiram atividades biológicas, como antimicobacteriana (Mycobacterium tuberculosis), antiinflamatória e antioxidante.
Juncus acutus L. (Juncaceae Juss.) Doença de Chagas O extrato de diclorometano da raiz de J. acutus mostrou atividade anti-Trypanosoma cruzi. Uma fraçãó deste extrato, contendo apenas um composto puro (juncunol), apresentou atividade antiparasitária.
Aniba riparia (Ness) Mez (Lauraceae Juss.) Leishmaniose A riparina A, estruturalmente representada como o núcleo fundamental de todas as riparinas da Amazônia, revelou promissora atividade biológica e notável ação leishmanicida in vitro.
Piper rivinoides Kunth (Piperaceae Giseke) Leishmaniose Os resultados biológicos mostraram o conocarpan (compostos isolados puros das folhas) como o composto mais ativo e com menor citotoxicidade dentre todos os compostos testados.
Matricaria recutita L. (Asteraceae Bercht & J.Presl), entre outras Leishmaniose A apigenina, presente em várias fontes vegetais, incluindo a M. recutita demonstrou eficácia in vitro e in vivo (camundongos) contra Leishmania amazonensis, mostrando biodisponibilidade oral e reduzindo significativamente o tamanho das lesões e a carga parasitária sem alterar os marcadores de toxicidade sorológica.
Cissampelos sympodialis Eichler (Menispermaceae A.Juss.) Dengue O extrato hidroalcoólico da folha pode atenuar a infecção do vírus da dengue ao inibir o aumento de mediadores pró-inflamatórios e a produção de proteína 1 não estrutural induzida pelo vírus da dengue.
Morinda citrifolia Linn. (Rubiaceae Juss.) Leishmaniose O suco de fruta de M. citrifolia foi ativo contra L. infantum no modelo in vitro e tem um futuro potencial para o tratamento contra a leishmaniose.
Mentha hirsuta Huds. (Lamiaceae Martinov) Esquistossomose O óleo essencial M. hirsuta causou extenso dano ultraestrutural a vermes adultos de S. mansoni.
Combretum leprosum Mart. (Combretaceae R.Br.) Leishmaniose O composto 3 β, 6 β , 16 β - trihidroxilup-20 (29) -eno foi isolado e do extrato etanólico de flores de C. leprosum possui a atividade antiinflamatória e pode servir como uma ferramenta para o tratamento da leishmaniose no futuro.
Croton cajucara Benth (Euphorbiaceae Juss.) Leishmaniose Os diterpenos clerodano, trans-desidrocrotonina (DCTN), trans-crotonina (CTN) e ácido acetilaleuritólico (AAA) obtidos da casca em pó de C. cajucara mostraram efeitos antileishmania in vitro promissores contra L. amazonensis, especialmente o DCTN sem toxicidade macrofágica até a concentração testada. Além disso, a ação sobre a enzima tripanotiona redutase revelou um possível mecanismo de ação.
Physalis angulata L. (Solanaceae A.Juss.) Doença de Chagas O extrato etanólico concentrado de P. angulata apresenta composição rica em Fisalinas. Neste estudo, o extrato etanólico apresentou atividade antiparasitária contra o T. cruzi, causando morte celular por necrose e apresentando atividade sinérgica com o benznidazol. Esses achados foram reforçados pela eficácia observada do extrato etanólico concentrado de P. angulata na redução da carga parasitária em camundongos T. cruzi. Portanto, isso representa uma importante fonte de produtos naturais antiparasitários.
Garcinia brasiliensis Mart. (Clusiaceae Lindl.) Esquistossomose O composto isolado 7-epiclusianona mostrou-se como um composto esquistossomicida promissor.
Croton lechleri Müll. Arg. (Euphorbiaceae Juss.) Leishmaniose  O extrato do látex de C. lechleri (sangue de dragão) apresentou eficácia in vitro em todas as concentrações testadas para L. amazonensis e para L. guyanensis.
Aspidosperma ramiflorum Müll.Arg. (Apocynaceae Juss.) Malária Seis dos sete extratos vegetais de A. ramiflorum testados foram ativos em baixas doses in vitro contra o Plasmodium falciparum. Os extratos vegetais de A. ramiflorum e os compostos purificados apresentaram baixa toxicidade in vitro.  É provável que esta espécie de planta seja útil no desenvolvimento de um medicamento antimalárico.
Annona vepretorum Mart. (Annonaceae Juss) e Annona squamosa L. (Annonaceae Juss.) Doença de Chagas e malária Os óleos essenciais demonstraram potente atividade tripanocida e antimalárica.
Matricaria chamomilla L. (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Leishmaniose O (-) α-bisabolol, oriundo de várias fontes vegetais, incluindo a M. chamomilla, possui propriedades antileishmania promissoras, pois pode atuar contra as formas promastigotas e penetrar na célula, sendo também ativo contra as formas amastigotas.
Baccharis platypoda DC. (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Leishmaniose O extrato etanólico bruto das folhas de B. platypoda possui atividade leishmanicida. Os diterpenos do tipo clerodano são onipresentes no gênero Baccharis.
Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau (Bignoniaceae Juss.) Doença de Chagas O estudo revelou que dois flavonóides diméricos representam potenciais compostos líderes anti- T. cruzi para o desenvolvimento de drogas.
Lippia pedunculosa Hayek (Verbenaceae J.St.-Hil.) Doença de Chagas Os monoterpenos rotundifolona e (R) -limoneno compostos majoritários do óleo essencial das folhas de L. pedunculosa, e o constituinte menor piperitenona, apresentaram resultados significativos ccontra T. cruzi, sendo o Rotundifolona o composto mais ativo dentre todos.
Mangifera indica L. (Anacardiaceae R.Br.) Leishmaniose Os resultados demonstraram que os óleos essenciais de M. indica podem destruir L. amazonensis e inibir o crescimento de células tumorais.
Pilocarpus spicatus A.St.-Hil. ( Rutaceae A.Juss.) Doença de Chagas Os extratos hexânico e metanólico de folhas e raízes apresentaram atividade tripanomicida in vitro.
Myrcia rotundifolia (O.Berg) Kiaersk. (Myrtaceae Juss.) Doença de Chagas O triterpeno ácido arjunólico reduziu a proliferação in vitro do epimastigota do T. cruzi. Os derivados éster metílico e  tri-acetilados tiveram atividade tripanocida potencializada indicando que produtos naturais modificados sinteticamente constituem ferramentas valiosas na quimioterapia antiparasitária.
Bocageopsis multiflora (Mart.) R.E.Fr. (Annonaceae Juss.) Leishmaniose O óleo essencial de B. multiflora apresentou atividade significativa contra formas promastigotas de L. amazonensis.
Mitracarpus frigidus (Willd. ex Roem. & Schult.) K.Schum. (Rubiaceae Juss.) Esquistossomose O extrato metanólico da parte aérea de M. frigidus mostrou atividade esquistossomicida in vitro. In vivo reduziu significativamente a contagem total de vermes, mostrando uma diminuição no peso do fígado e do baço. Além disso, foi observada uma redução significativa na densidade do granuloma e não houve alterações na função hepática de camundongos.
Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson (Verbenaceae J.St.-Hil.) Criptococose (e Candida) A fração butanol do extrato de L. alba apresentou atividade contra C. glabrata, mas não para outras espécies de Candida ou Cryptococcus.
Physalis angulata L. (Solanaceae A.Juss.) Leishmaniose O extrato etanólico concentrado de P. angulata permitiu isolar quatro tipos de fisalinas. Além disso, verifiou que o extrato etanólico concentrado de P. angulata é não mutagênico e apresentou um efeito farmacológico promissor contra parasitas Leishmania.
Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC. (Rubiaceae Juss.) Dengue Uma fração alcalóide da casca de U. tomentosa apresentou atividades antiviral e imunomoduladora e pode ser potencialmente útil no tratamento preventivo da dengue grave.
Croton cajucara Benth. (Euphorbiaceae Juss.) Leishmaniose O óleo essencial de C. cajucara (sacaca vermelha), rico em seu constituinte principal 7-hidroxicalameneno é uma fonte promissora de compostos leishmanicidas.
Mentha hirsuta Huds. (Lamiaceae Martinov) Esquistossomose Os resultados sugerem que o óleo essencial de M.hirsuta apresenta eficácia esquistossomicida.
Vanillosmopsis arborea (Gardner) Baker (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Leishmaniose O óleo essencial de V. arborea  e seu principal composto α -bisabolol, mostraram atividade leishmanicida in vitro contra Leishmania amazonensis. Nenhum dos produtos mostrou qualquer citotoxicidade nos macrófagos tratados.
Copaifera spp. (Fabaceae Lindl.) Leishmaniose O estudo apontou o β-cariofileno como um composto antileishmania eficaz e também seu papel como potencial marcador químico em óleos de copaíba ou frações deles derivadas, visando maior desenvolvimento desta matéria-prima florestal para o tratamento da leishmaniose.
Cecropia pachystachya Trécul (Urticaceae Juss.) Leishmaniose O extrato etanólico de C. pachystachya contém compostos bioativos que reduzem o crescimento de promastigotas de L. amazonensis.
Xylopia frutescens Aubl. (Annonaceae Juss.) e Xylopia laevigata (Mart.) R.E.Fr. (Annonaceae Juss.) Doença de Chagas Óleos essenciais obtidos de folhas de X. frutescens e X. laevigata -apresentaram atividade tripanocida significativa contra diferentes formas de T. cruzi que podem ser atribuídas à alta concentração cariofileno e germacreno D, confirmando as espécies de Annonaceae como fonte natural de compostos biologicamente ativos com propriedades antiprotozoárias.
Mitracarpus frigidus (Willd. ex Roem. & Schult.) K.Schum. (Rubiaceae Juss.) Leishmaniose e Criptococose (e outras doenças) Óleo essencial de M. frigidus mostrou um forte efeito antifúngico contra Cryptoccocus neoformans e Candida albicans e atividade expressiva contra as formas promastigotas de L. major e L. amazonensis.
Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Esquistossomose Os resultados sugerem que os extratos de diclorometano e hexano de E. erythropappus apresentaram atividade esquistossomicida e podem ser úteis no desenvolvimento de novas drogas esquistossomicidas.
Baccharis dracunculifolia DC. (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Paracoccidioidomicose Quatro compostos isolados (ácido ursólico, linolenato de metila, óxido de cariofileno e trans-nerolidol) mostraram as atividades biológicas, e esses compostos podem afetar a superfície celular e o crescimento de isolados de P. brasiliensis).
Lippia sidoides Cham. (Verbenaceae J.St.-Hil.), Lippia origanoides Kunth (Verbenaceae J.St.-Hil.), Chenopodium ambrosioides L. (Amaranthaceae A.Juss.), Ocimum gratissimum L. (Lamiaceae Martinov), Justicia pectorales Jacq (Acanthaceae) e Vitex agnus-castus L. (Lamiaceae Martinov) Doença de Chagas Todos os óleos essenciais testados demonstraram efeito inibitório no crescimento e sobrevivência do parasita. Os óleos essenciais de L. sidoides e L. origanoides foram os mais eficazes contra as formas tripomastigota e amastigota, respectivamente. Nenhum efeito citotóxico significativo foi observado em macrófagos peritoneais de camundongos.
Aspidosperma ramiflorum Müll.Arg. (Apocynaceae Juss.) Leishmaniose Os compostos isolados das folhas, ramiflorinas A e B (são alcalóides diméricos corinantoides), apresentaram atividade anti-leishmania. Este estudo demonstrou a utilidade do extrato alcalóide das folhas como alternativa promissora ao uso da casca do caule de A. ramiflorum, para a obtenção dos compostos bioativos.
Piper duckei C.DC. (Piperaceae Giseke) e Piper demeraranum (Miq.) C.DC. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose Os principais constituintes encontrados no óleo essencial de P. demeraranum foram limoneno e β-elemeno e no óleo de P. duckei os principais componentes encontrados foram germacreno D e trans- cariofileno. Os óleos de P. demeraranum e P. duckei exibiram atividade biológica contra duas espécies de Leishmania, sendo o óleo essencial de P. duckei o mais ativo.
Annona mucosa Jacq. (Annonaceae Juss.) Leishmaniose A investigação fitoquímica do extrato de diclorometano revelou a presença dos alcalóides oxoaporfinas: arterospermidina e da liriodenina. O extrato de diclorometano das folhas foi o mais ativo contra Leishmania spp.
Kielmeyera variabilis Mart. & Zucc. (Calophyllaceae J.Agardh) Leishmaniose Foram isoaldos seis flavonóides e um triterpeno de tremoço.  Destes, apenas a quercitrina foi capaz de inibir o crescimento da forma amastigota-like de L. amazonensis.
Unonopsis guatterioides (A.DC.) R.E.Fr. (Unonopsis guatterioides) e Unonopsis duckei R.E.Fr. (Annonaceae Juss.) Leishmaniose Tanto U. duckei como U. guatterioides têm uma atividade leishmanicida significativa. Todas as frações alcalóides de galhos, cascas e folhas de U. guatterioides foram classificadas como altamente ativas. O conhecimento prévio da química da espécie U. guatterioides reforça a ideia da potencialidade dos alcalóides aporfínicos no combate à leishmaniose.
Cissampelos sympodialis Eichler (Menispermaceae A.Juss.) Leishmaniose A warifteína, um alcalóide bisbenzilisoquinolina, isolada de C. sympodialis. inibiu o crescimento de promastigotas de L. chagasi in vitro.
Piper carniconnectivum C.DC. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose O derivado da ciclopentenediona (2- [1-hidroxi-3-fenil- (Z , 2 E ) -2-propenilideno] -4-metil-4-ciclopenteno-1,3-diona) isolado das raízes de P. carniconnectivum inibiu o crescimento de promastigotas de L. amazonensis e não afetou a viabilidade dos macrófagos.
Caesalpinia echinata Lam. (Fabaceae Lindl.) Leishmaniose A investigação levou ao isolamento de cinco novos diterpenos de cassana junto com o conhecido ácido lambertiânico. Três dos compostos isolados inibiram o crescimento de formas semelhantes a amastigotas de Leishmania amazonensis sem afetar as células mononucleares obtidas do sangue periférico humano.
Lippia sidoides Cham. (Verbenaceae J.St.-Hil.) Leishmaniose O monoterpeno timol oxigenado foi o principal constituinte encontrado no óleo essencial de L. sidoides. O óleo essencial bruto e timol mostraram atividades significativas contra as formas promastigotas de L. amazonensis.
Lippia lacunosa Mart. & Schauer (Verbenaceae J.St.-Hil.) Tuberculose Sete metoxiflavonas e um triterpeno foram isolados do extrato de diclorometano das folhas de L. lacunosa e avaliados contra M. tuberculosis. O composto mais ativo foi 3'- O -metil-eupatorina seguido por cirsimaritina, eupatilina e eupatorina.
'Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg (Myrtaceae Juss.) Leishmaniose/ Paracoccidioidomicose O extrato etanólico das folhas rendeu dezesseis frações. Cinco compostos foram isolados e ensaiados. As chalconas tiveram atividade para todos os ensaios biológicos. Quercitrina e a guaijaverina exibiram apenas atividade leishmanicida.
Ocotea duckei Vattimo-Gil (Lauraceae Juss.) Leishmaniose A yangambina (furofurano lignano) produz efeitos citotóxicos e citostáticos contra Leishmania in vitro, desencadeando o processo de morte celular programada característico de eventos apoptóticos e autofágicos.
Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae R.Br.) Paracoccidioidomicose As partes aéreas de S. terebinthifolius forneceram dois compostos antifúngicos ativos sobre P. brasiliensis: schinol e novo bifenil identificado como 4'-etil-4-metil-2,2 ', 6,6' -tetra-hidroxi [1,1'-bifenil] -4,4'-dicarboxilato.
Inga spp. Mill. (Leguminosae Juss.), Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae R.Br.), Punica granatum L. (Lythraceae J.St.-Hil.), Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze (Amaranthaceae A.Juss.), Piper regnellii (Miq.) C.DC. (Piperaceae Giseke), Piper abutiloides Kunth (Piperaceae Giseke), Herissantia crispa (L.) Brizicky (Malvaceae Juss.), Rubus urticaefolius Poir (Rosaceae Juss.), Rumex acetosa L. (Polygonaceae A. Juss.) e Baccharis dracunculifolia DC. (Asteraceae Bercht. & J.Presl) Paracoccidioidomicose As frações de hexano de extratos hidroalcoólicos de P. regnellii foram os mais ativos contra o P. brasiliensis. Os principais componentes de B. dracunculifolia foram hidrocinamato de etila e espatulenol, enquanto os principais componentes da fração hexânica de P. regnellii foram 1-metoxi-4- (1-propenil) benzeno e apiol.
Piper tuberculatum Jacq. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose O ácido 3,4,5-trimetoxi-dihidrocinâmico (TMPP) apresentou efeito leishmanicida dose dependente para as formas promastigotas de L. amazonensis.
Piper claussenianum (Miq.) C.DC. (Piperaceae Giseke) Leishmaniose Os sesquiterpenos foram os principais constituintes da fração volátil das folhas secas. Porém, monoterpenos foram identificados em maior quantidade nas inflorescências secas. O óleo essencial das folhas frescas de P. claussenianum, rico em (E)-nerolidol, apresentou inibição efetiva do crescimento de L. amazonensis.
Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg (Myrtaceae Juss.) Leishmaniose Observou-se que oito frações do extrato bruto foram ativas contra L. amazonensis.  As frações F11 e F12 dos extratos etanólicos de B. salicifolius foram ativas contra células amastigotas de L. amazonensis.
Lantana trifolia L. (Verbenaceae J.St.-Hil.) e                                                                     Lantana fucata Lindl. (Verbenaceae J.St.-Hil.) Tuberculose L. trifolia e L. fucata renderam óleos essenciais ricos em sesquiterpenos e exibiram atividade antimicobacteriana in vitro.
Cymbopogon citratus (DC) Stapf. (Poaceae Barnhart),                                               Lippia sidoides Cham (Verbenaceae J.St.-Hil.) e                                                       Ocimum gratissimum L. (Lamiaceae Martinov) Leishmaniose O óleo essencial de C. citratus , L. sidoides e O. gratissimum inibiu o crescimento de L. chagasi (promastigotas), sendo o óleo do C. citratus mais eficaz entre os três óleos testados. O óleo de C. citratus contém geranial e neral como constituintes principais. Eugenol e 1,8-cineol  foram prevalentes no óleo de O. gratissimum. O óleo essencial obtido das folhas de L. sidoides apresentou timol como principal constituinte.
Anemia tomentosa var. anthriscifolia (Schrad.) Mickel (Anemiaceae) Tuberculose Foram identificados em grandes quantidades diferentes tipos de sesquiterpenos de triquinano. O óleo essencial de A. tomentosa var. anthriscifolia apresentou atividade contra M. tuberculosis.
Própolis brasileira Doença de Chagas O estudo reforça a relevância do ácido cumarínico e derivados, especialmente os prenilados e também dos ácidos cafeoliquínicos sobre a atividade biológica da própolis brasileira.
Uncaria tomentosa  (Willd. ex Roem. & Schult.) DC. (Rubiaceae Juss.) Dengue Os efeitos antivirais e imunomoduladores in vitro dos alcalóides oxindol pentacíclicos de U. tomentosa exibiram novas propriedades em relação aos procedimentos terapêuticos na dengue e podem ser investigados como um candidato promissor para aplicação clínica.
Cabralea canjerana  (Vell.) Mart. subsp. canjerana (Meliaceae A.Juss.) Tuberculose O extrato diclorometano de folhas de C. canjerana apresentou atividade contra M. tuberculosis.
Cymbopogon citratus (DC) Stapf  (Poaceae Barnhart) Doença de Chagas O óleo essencial de capim-limão é eficaz contra T. cruzi (tripomastigotas e amastigotas), sendo que seu principal componente, o citral, é responsável pela atividade tripanocida.
Achillea millefolium L. (Anthemideae Cass.),                                                 Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M.Perry (Myrtaceae Juss.) e Ocimum basilicum L. (Lamiaceae Martinov) Doença de Chagas O tratamento com óleos e constituintes demonstrou inibir o crescimento do parasita, sendo o óleo essencial de cravo (seu principal constituinte é o eugenol) o mais eficaz.
Aspidosperma ramiflorum Müll.Arg. (Asclepiadaceae Turcz.) Leishmaniose A fração alcalóide básica apresentou boa atividade contra a forma extracelular (promastigotas) de L. amazonensis. A análise química o extrato alcalóide ​​identificou os alcalóides ramifloro A e ramifloro B que também mostraram atividade significativa contra L. amazonensis.
Própolis brasileira e Própolis da Bulgaria Leishmaniose Considerando as diferenças químicas entre os extratos de própolis e o comportamento dos parasitas, foram observadas diferenças significativas nas atividades leishmanicidas. Uma análise geral mostrou que, para todas as espécies avaliadas, os extratos búlgaros (predominância de flavonóides) foram mais ativos do que o extrato brasileiro em etanol.
Annona foetida Mart. (Annonaceae Juss.) Leishmaniose Foram isolados e identificados quatro alcalóides, a saber, dois alcalóides pirimidina-β-carbolina ( 1 e 2 ) e dois alcalóides oxoaporfina ( 3 e 4 ). Todos os compostos exibiram atividade antileishmania in vitro contra formas promastigotas de L. braziliensis.
Aspidosperma ramiflorum Müll.Arg. (Apocynaceae Juss.) Leishmaniose O extrato alcalóide de A. ramiflorum foi muito mais eficaz contra L. (L.) amazonensis (DL50 <47 µg / ml) do que L. (V.) braziliensis.
Própolis brasileira e Própolis da Bulgária Doença de Chagas Apesar da diferença na composição dos extratos etanólicos de própolis do Brasil, os principais compostos bioativos são ácidos fenólicos, terpenóides específicos e derivados prenilados e da Bulgária (rico em flavonoides e derivados do ácido caféico), os dois extratos foram ativos contra T. cruzi.
Própolis de Burgas (sudeste da Bulgária) e de Lovetech (oeste da Bulgária) Doença de Chagas Os extratos etanólicos do propólis coletados do sudeste e oeste da Bulgária apresentaram composição semelhante, com alto teor de flavonóides, e forte atividade inibitória contra os epimastigotas proliferativos do T. cruzi.
Kielmeyera albopunctata Saddi (Calophyllaceae J.Agardh) Doença de Chagas Tanto o extrato de CH2Cl2 da casca do caule de K. albopunctata, quanto dois compostos cumarínicos isolados (1 e 3) mostraram atividade tripanocida significativa quando testados a 500 μg / mL, matando 99, 100 e 98% dos parasitas, respectivamente.
Própolis Doença de Chagas Os compostos fenólicos isolados foram ativos contra T. cruzi, contra quatro espécies de bactérias e induziram efeito relaxante em traquéias isoladas de cobaias. Mais investigações são necessárias, incluindo estudos fitoquímicos e biológicos, a fim de esclarecer a origem da própolis brasileira (fontes vegetais) e suas atividades farmacológicas.
Fonte: autores.

Apesar da estratégia de busca utilizada nesta pesquisa, estar limitada aos termos descritos no QUADRO 1 da metodologia deste trabalho, os resultados encontrados apontam para crescimento da produção cientifica do tema. Todavia, vale destacar que ainda existem muitos desafios impostos as instituições brasileiras que atuam em P&D de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas. Nos últimos anos, convive-se no Brasil com um declínio do investimento público nacional em ciência e tecnologia[25]. Em P&D voltadas para doenças negligenciadas, um estudo recente revelou a falta de correlação entre o número de publicações, o financiamento e a carga de doenças para doenças negligenciadas prioritárias no Brasil[26]. E, especificamente, na área de desenvolvimento de medicamentos derivados da biodiversidade brasileira, há um reconhecido atraso tecnológico nacional[5]. Questões relacionadas a regulamentação do acesso e da repartição de benefícios advindos dos recursos da biodiversidade têm sido apontadas como desencorajadoras para a P&D de novos produtos da biodiversidade brasileira[6].

Conclusão

Nas últimas duas décadas houve um aumento na produção de conhecimento sobre desenvolvimento de novos derivados de plantas medicinais para doenças negligenciadas, com relevante participação de autores, instituições e financiamentos públicos brasileiros, incluindo a contribuição da Fiocruz.

Embora os resultados apontem para crescimento da produção cientifica do tema, é relevante observar que a despeito da concentração de esforços em P&D de novos medicamentos para doenças negligenciadas, a lacuna entre a carga dessas doenças no mundo e o desenvolvimento de novos medicamentos persiste, e poucos novos agentes terapêuticos tornaram-se de fato disponíveis nos últimos anos.

É imperativo a implementação de estratégias futuras de pesquisa e de financiamento que promovam maior produção científica e que propiciem a tradução da pesquisa básica para a prática clínica. Sugere-se, entre outras ações, a promoção das políticas de acesso aberto e compartilhamento irrestrito de informações em pesquisa, o fortalecimento do financiamento global da P&D para doenças negligenciadas e o fomento a parcerias entre instituições de pesquisa, universidades e empresas privadas como partes da construção de uma solução rumo ao desenvolvimento de novos medicamentos para doenças negligenciadas. Especificamente no Brasil, é urgente a reversão do declínio do investimento público nacional em ciência e tecnologia e a construção de um ambiente regulatório capaz de estimular P&D de derivados da biodiversidade.

Os novos derivados de plantas medicinais mostrados neste estudo possuem potencial para compor um novo arsenal terapêutico no combate as doenças negligenciadas e, embora exista a possibilidade de nenhuma delas de fato se tornar um medicamento, o investimento em P&D de derivados da biodiversidade pode impulsionar o desenvolvimento das capacidades tecnológicas e aumentar a possibilidade de se encontrar fármacos inovadores no futuro.

Sabemos que o desenvolvimento de novas ferramentas terapêuticas é apenas um dos desafios a serem enfrentados para eliminação de doenças negligenciadas no mundo, contudo a pesquisa de descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos para doenças negligenciadas possibilita encontrar soluções que no futuro evitarão a dor de tantos brasileiros que sofrem e morrem devido a essas doenças.

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