RELATO DE EXPERIÊNCIA
Utilização das plantas medicinais e fitoterápicos na prática clínica de profissionais da saúde de Foz do Iguaçu, Paraná
Utilization of medicinal and herbal plants in the clinical practice of health professionals in Foz do Iguaçu, Paraná
Resumo
Interesse pela fitoterapia como opção terapêutica ocupa cada vez mais espaço na área da saúde. Para implantação de projetos referentes ao tema nos municípios, conhecimento sobre sua aplicação por parte dos profissionais da saúde é fundamental. Com objetivo de analisar a utilização e a intenção do uso das drogas vegetais ou dos fitoterápicos, como prescrição na prática clínica dos profissionais nas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família de Foz do Iguaçu-PR, foi feita a presente pesquisa. Após análise das entrevistas, os resultados demonstraram que 99% dos profissionais acreditam que drogas vegetais e fitoterápicos possuem ação terapêutica, e 49% os prescrevem na sua prática clínica. Dos que não prescrevem, 79% têm interesse em prescrever, e todos que utilizam já obtiveram resultados. Profissionais relataram boa aceitação dos pacientes e uso por conta própria. A maioria dos profissionais de saúde utiliza a fitoterapia ou tem interesse em prescrevê-la. Os usuários têm boa aceitação quanto à utilização das plantas medicinais, e a capacitação dos profissionais é uma necessidade para prescrição e melhor orientação aos pacientes sobre uso adequado da fitoterapia, garantindo mais efetividade e segurança nessa prática.
- Palavras-chave:
- Fitoterapia.
- Terapia herbal.
- Prescrição.
- Saúde Pública.
- Saúde Comunitária.
- Tratamento.
- Unidade de Saúde.
Abstract
The interest in phytotherapy as a therapeutic option occupies more and more space in the health area. For implementation of projects related to the theme in the cities, knowledge about its application by health professionals is fundamental. With the objective of analyzing the utilization and intention on the use of plant drugs or phytotherapics as a prescription in the clinical practice of professionals in the Basic Health Units and Family Health Units in Foz do Iguaçu-PR, the present research was done. After analysis, the interviews results showed that 99% of the professionals believe that phytoteraphics and plant drugs have therapeutic action, and 49% prescribe them in their clinical practice. On those who do not prescribe, 79% have an interest in prescribing, and everyone who uses them has already achieved results. Among the main reasons for non-prescription, it was highlighted the lack of technical knowledge. Most health professionals use phytotherapy or have an interest in prescribing it. The users have a good acceptance regarding the use of medicinal plants, and the professional training is a necessity for prescription and better orientation to the patients about the proper use of herbal medicine, guaranteeing more effectiveness and safety in this practice.
- Keywords:
- Phytotherapy.
- Herbal Therapy.
- Prescription.
- Public Health.
- Community Health.
- Tratamento.
- Health Unit.
Introdução
A fitoterapia utiliza plantas e seus derivados para tratamento de doenças, e por ser considerada pela população como um tratamento natural, é comum que muitos a considerem como isenta de riscos para a saúde, utilizando-a sem os rigores de um medicamento[1]. Veiga Júnior et al.[2] citaram que a toxicidade de plantas medicinais e de fitoterápicos, comparada com a dos medicamentos sintéticos, pode parecer trivial, mas pode causar graves problema de saúde pública. Segundo estes autores, é comum a ocorrência de efeitos adversos dos medicamentos à base de plantas, adulterações, toxicidade e interações adversas com medicamentos sintéticos.
Para o uso adequado das plantas medicinais, é fundamental o papel dos profissionais de saúde, por serem capacitados para conhecimento da posologia, da forma de preparo, dos benefícios e dos riscos à saúde dos medicamentos[3]. Outro fator que exige a atuação do profissional da saúde, é que boa parte das pessoas que utilizam plantas medicinais ou fitoterápicos, faz o uso concomitante com medicamentos sintéticos, sem comunicar ao profissional. A não comunicação em muitos casos se deve, além da crença por parte do paciente de que produtos naturais não apresentam riscos e podem complementar o tratamento, ao medo de represálias.
Apesar da necessidade de profissionais com atribuições específicas para a prescrição de plantas medicinais ou fitoterápicos, Bruning et al.[1] observaram que os profissionais estão pouco informados e preparados para lidar com estes medicamentos. Os autores, no mesmo trabalho, recomendam que os conhecimentos necessários para o trabalho com medicamentos naturais já deveriam estar inclusos durante a sua graduação.
Nesse contexto, uma pesquisa qualitativa no formato de relato de experiencia é relevante para investigações aprofundadas e contextuais, permitindo que os pesquisadores capturarem a complexidade inerente das experiências dos profissionais e perspectivas de vida dos participantes. Portanto, os relatos de experiência são uma importante fonte de dados qualitativos, que podem enriquecer os resultados da pesquisa com novas informações, insights que somente o sujeito da pesquisa pode fornecer[4].
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi analisar a utilização e a intenção de uso de plantas medicinais, drogas vegetais ou dos fitoterápicos na prática clínica dos profissionais que atuam nas unidades de saúde do município de Foz do Iguaçu-PR.
Metodologia
Aspectos éticos
A pesquisa foi aprovada pela coordenação de atenção básica de Foz do Iguaçu e pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Taubaté UNITAU - CAAE:53260116.3.0000.5501.
Tipo de estudo
Foi realizada pesquisa qualitativa com a utilização de um questionário semiestruturado, o qual foi encaminhado para os 188 profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos e nutricionistas) que trabalham nas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família do município de Foz do Iguaçu - PR durante os meses de maio e junho de 2016.
Procedimento metodológicos
Os questionários foram entregues aos profissionais com o apoio de supervisores dos cinco distritos sanitários em que é dividida a cidade. O questionário consistiu em um instrumento autoexplicativo com perguntas abertas e fechadas, sem necessidade de identificação do participante. Todos os profissionais que aceitaram responder o questionário, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram abordadas questões referentes à prescrição ou intenção de uso das drogas vegetais ou fitoterápicos, percepção do profissional quanto ao efeito terapêutico das mesmas, principais fitoterápicos e plantas medicinais prescritas e utilizadas popularmente pelos usuários, bem como sua aceitação como terapêutica e ainda principais reações adversas verificadas.
Cenário do estudo
Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família do município de Foz do Iguaçu – PR.
Análise dos dados
Os resultados encontrados foram tabulados em planilha do Microsoft Office Excel® e expressos na forma de gráficos e tabelas. Todos os resultados foram discutidos e comparados com artigos indexados nas bases de dados Google acadêmico, SciElo, Medline e PubMed. Neste trabalho, os nomes de plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos, foram mantidos como citados nas respostas dos questionários, tendo em vista que o principal objetivo era verificar a aceitação da fitoterapia para prescrições de medicamentos.
Resultados e Discussão
Dos questionários enviados, responderam 68 (36%) profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Foz do Iguaçu. Destes, 23 (32%) médicos, 26 (49%) enfermeiros, 13 (32%) dentistas, 4 (80%) nutricionistas e 2 (40%) farmacêuticos. As justificativas de não participação foram nos meses da pesquisa alguns profissionais já não trabalhavam mais nas unidades de saúde e outros alegaram não ter tempo ou interesse de participar da pesquisa.
Quando os participantes foram questionados se prescreviam drogas vegetais ou fitoterápicos em sua prática clínica, foram obtidos os seguintes resultados: 83% dos médicos participantes da pesquisa declaram prescrever plantas medicinais, drogas vegetais ou fitoterápicos em sua prática, 100% das nutricionistas e 54% dos dentistas também prescrevem. Quanto aos enfermeiros e farmacêuticos, 88% e 100%, respectivamente, não têm a prescrição na sua rotina de trabalho.
Em relação à prescrição médica, as plantas medicinais mais citadas foram: passiflora (47%), capim-limão (26%), hortelã (21%), camomila (21%), valeriana (21%) e espinheira-santa (21%). Alguns não citaram as plantas, mas para quais tratamentos mais utilizavam, tais como: ansiedade (21%), cicatrização (16%), climatério (11%), digestivo (11%), doenças gastrointestinais (11%) e insônia (11%).
Quanto aos dentistas, as plantas mais citadas foram tanchagem (71%), melissa (71%) e malva (43%), e os tratamentos mais citados foram anti-inflamatórios (29%) e bochechos (29%). As plantas mais citadas pelas nutricionistas foram camomila (75%), carqueja (75%) e passiflora (75%) e os tratamentos foram digestão (50%) e diabetes (50%). Poucos enfermeiros relataram prescrever as plantas medicinais e as citadas foram calêndula, guaco, mel, própolis, erva-doce, camomila (33%), e os tratamentos cicatrização, anti-inflamatório, tosse e ansiedade (33%).
Na TABELA 1 estão descritos os motivos pelos quais os profissionais não prescrevem as plantas medicinais, drogas vegetais ou fitoterápicos na sua prática clínica.
Profissional | Motivos | Número | Porcentagem |
---|---|---|---|
Médico | Falta de conhecimento científico para assegurar a prescrição | 4 | 100 |
Ser estrangeiro (Cuba) e precisa se atualizar sobre os nomes locais das plantas | 1 | 25 | |
Falta de hábito | 1 | 25 | |
Enfermeiro | Sem capacitação para prescrever | 8 | 35 |
Sem autorização para prescrição | 4 | 17 | |
Falta de protocolo para prescrição | 2 | 9 | |
Falta de adesão dos pacientes | 1 | 4 | |
Habilitação para prescrição, porém, faz orientações quanto ao uso de chás caseiros | 1 | 4 | |
Desconhecimento | 1 | 4 | |
Farmacêutico | Não faz prescrição, apenas dispensação de medicamentos | 1 | 50 |
Falta de protocolo para prescrição | 1 | 50 | |
Dentista | Não tem maior acesso aos fitoterápicos | 2 | 40 |
Sem capacitação | 1 | 20 | |
Falta de conhecimento científico para assegurar a prescrição e preconceito dos pacientes | 1 | 20 | |
Uso de medicamentos alopáticos | 1 | 20 | |
Fonte: autor, 2016. |
De acordo com a TABELA 1, é possível observar que seis médicos descreveram o motivo para a não prescrição, mas na pergunta anterior apenas 4 relataram não prescrever. Isso ocorreu devido a um médico utilizar as plantas medicinais no seu país (Cuba) com frequência, mas no Brasil não faz a prescrição, pois não conhece as plantas disponíveis. Outro médico, apesar de declarar que prescreve, colocou os motivos de não prescrever, o que indica já ter utilizado em sua prática clínica, mas no momento não prescreve. O número de enfermeiros que descreveram os motivos é menor que os que relataram não prescrever, pois alguns não responderam a pergunta.
Dentre os principais motivos que os médicos não prescrevem as plantas medicinais, destaca-se a falta de conhecimento científico para assegurar a prescrição (100%). Para os enfermeiros, não ter capacitação (35%) para prescrição e não ter autorização (17%) foram os mais mencionados. Para os dentistas, não ter mais acesso aos fitoterápicos (40%) foi o mais relatado. Farmacêuticos relataram não ter protocolo para prescrição (50%) e que atuam apenas na dispensação de medicamentos (50%).
Os profissionais puderam descrever alguns dos resultados obtidos com as plantas medicinais e estão descritos na TABELA 2.
Profissional | Utilização | Número | Porcentagem |
---|---|---|---|
Médico | Melhora da ansiedade | 7 | 37 |
Doenças digestivas | 5 | 26 | |
Tratamento de doenças respiratórias | 3 | 16 | |
Sintomas de menopausa | 3 | 16 | |
Cicatrização | 2 | 11 | |
Dor | 2 | 11 | |
Efeito diurético | 2 | 11 | |
Redução de lipidemias | 2 | 11 | |
Diminuição da insônia | 2 | 11 | |
Faringite | 2 | 11 | |
Cura de infecções urinárias | 1 | 5 | |
Amigdalites | 1 | 5 | |
Sintomas depressivos | 1 | 5 | |
Dermatite | 1 | 5 | |
Calmante | 1 | 5 | |
Efeito anti-inflamatório | 1 | 5 | |
Melhora da imunidade | 1 | 5 | |
Diminuição de edema circulatório | 1 | 5 | |
Diminuição de cólicas abdominais | 1 | 5 | |
Constipação intestinal | 1 | 5 | |
Controle glicêmico de DM2 | 1 | 5 | |
Melhora das varizes | 1 | 5 | |
Melhora e boa manutenção de gastrite | 1 | 5 | |
Anti-inflamatório em lesões odontológicas | 1 | 5 | |
Antibacteriano | 1 | 5 | |
Farmacêutico | Efeito diurético | 1 | 50 |
Dor de estômago | 1 | 50 | |
Dentista | Infecção bucal | 3 | 30 |
Diminuição de dor e edema | 3 | 30 | |
Melhora de gengivites | 2 | 20 | |
Melhor pós-operatório | 2 | 20 | |
Diminuição da cárie | 1 | 10 | |
Redução de abcessos | 1 | 10 | |
Melhora e/ou resolução de patologias bucais | 1 | 10 | |
Redução de mau hálito | 1 | 10 | |
Enfermeiro | Tosse | 5 | 42 |
Cicatrização de feridas | 3 | 25 | |
Dor de estômago | 1 | 8 | |
Problemas urinários | 1 | 8 | |
Perda de peso | 1 | 8 | |
Constipação intestinal | 1 | 8 | |
Diarreia | 1 | 8 | |
Tabagismo | 1 | 8 | |
Nutricionista | Melhora na digestão | 3 | 75 |
Melhora na ansiedade | 2 | 50 | |
Melhora da insônia | 1 | 25 | |
Melhora da gastrite | 1 | 25 | |
Diurético | 1 | 25 | |
Calmante | 1 | 25 | |
Fonte: autor, 2016. |
Os principais resultados obtidos através do uso das plantas medicinais estão relacionados com os fitoterápicos mais utilizados, entre os médicos 37% citaram a melhora da ansiedade e 26% doenças digestivas, entre os dentistas 30% citaram infecção bucal e diminuição de dor e edema, os enfermeiros relataram tosse (42%) e cicatrização de feridas (25%), outros resultados estão relacionados com a utilização pessoal tanto para os enfermeiros quanto para os farmacêuticos. Para os nutricionistas os resultados mais citados foram melhora da digestão (75%) e melhora da ansiedade (50%). Os profissionais que relataram utilizar as plantas medicinais já obtiveram resultados terapêuticos.
A primeira pergunta do questionário questionava se os profissionais acreditam que as drogas vegetais ou fitoterápicos, possuem ação terapêutica. Para os médicos, 96% responderam que sim e os demais profissionais responderam 100% afirmativamente. Estes resultados destacam que o profissional de saúde do município de Foz do Iguaçu confia na efetividade da fitoterapia, o que demonstra seu interesse para a prescrição.
Almeida et al.[5], ao pesquisarem o uso de plantas medicinais em uma unidade de saúde da família no município de Juazeiro-BA, verificaram que 66,7% dos profissionais costumam indicar plantas medicinais. No entanto, nesta pesquisa não foram especificadas as modalidades dos profissionais
O modo como os envolvidos nos serviços enxergam determinada prática em saúde é fundamental para a aplicação de ações em saúde, como observaram Fontenele et al.[6], em seu estudo com gestores, médicos, enfermeiros e dentistas das unidades de saúde da família de Teresina-PI.
Uma das justificativas da não prescrição por parte dos enfermeiros, é que a resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), nº 197, de 19 de março de 1997, que dispõe sobre o estabelecimento e reconhecimento de Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional de enfermagem, foi revogada pela resolução COFEN nº 0500/2015, restringindo a prescrição de plantas medicinais ou seus derivados pelo enfermeiro. Nas unidades de saúde do município de Foz do Iguaçu, o farmacêutico se restringe a dispensação de medicamentos nas farmácias das unidades e não se encaixam como prescritores no protocolo de fitoterapia.
Parte significativa dos profissionais entrevistados prescreve as plantas medicinais em sua prática clínica. Esta prática estimula que mais pessoas utilizem essa terapia tradicional e usufruam de suas vantagens. Esta observação é corroborada pela pesquisa de Varela e Azevedo[7], os quais pesquisaram as vantagens e facilidades encontradas por médicos e enfermeiros da Estratégia Saúde da Família de Caicó, Rio Grande do Norte, no uso da fitoterapia na Atenção Básica. Os profissionais concluíram que esta terapia proporciona um bom resultado terapêutico, além de ocasionar menores efeitos adversos, tem menor custo e maior facilidade de acesso, comparado com o tratamento com medicamentos sintéticos. Além de aproximar o profissional e o usuário, devido à união do saber científico e do saber popular.
Grande parte das plantas citadas pelos profissionais no estudo é disponibilizada pelo programa de Fitoterapia do município e estão na forma de droga vegetal, uma pequena parcela é prescrita em outras formas farmacêuticas.
Muitos dos médicos que participaram da pesquisa fazem parte do programa "Mais Médicos", são cubanos e têm o hábito de prescrever plantas medicinais em seu país. Alguns relataram a dificuldade de utilizá-las no Brasil por não conhecerem os nomes.
Quanto às indicações farmacológicas das plantas medicinais, Almeida et al.[5], após levantamento em unidade de saúde da família no município de Juazeiro-BA, verificaram o uso para dor e inflamação, dor de cabeça, sedativo e calmante, bronquite, febre, tosse, gripe, resfriado, hipertensão, doenças ginecológicas, cicatrizante, úlcera, gastrite e infecção urinária.
No presente trabalho, dentre as plantas mais citadas, se destacaram as plantas que atuam na ansiedade e possuem efeitos calmantes, como passiflora, camomila, valeriana e capim-limão. A ansiedade está entre os transtornos mais comuns e os tratamentos convencionais causam vários efeitos adversos e as práticas integrativas e complementares estão em evidência. Souza et al.[8], em revisão bibliográfica sobre a eficácia de plantas medicinais utilizadas na produção de fitoterápicos para tratar transtornos de ansiedade, observaram que a Matricaria recutita L. (camomila), Passiflora incarnata L. (maracujá), Valeriana officinalis L.(valeriana), Melissa officinalis L.(melissa) e Erythrina mulungu Mart. ex Benth (mulungu) demonstraram ser boas opções como tratamento para transtornos da ansiedade possuindo, ainda, efeitos adversos toleráveis e boa segurança para o uso.
A falta de conhecimento ou capacitação sobre as plantas medicinais é um dos maiores obstáculos para a prescrição. Lopes et al.[9], em sua pesquisa com médicos e enfermeiros de uma unidade básica de saúde, concluíram que boa parte dos participantes prescreve as plantas, no entanto, a maioria não teve contato com o assunto na graduação e por falta de conhecimento a respeito das plantas ficam com receio de prescrevê-las.
Fontenele et al.[6], apontaram que para que ocorra o fortalecimento da fitoterapia, tanto no âmbito da gestão de atenção básica quanto para o exercício profissional, é necessária uma maior discussão sobre a fitoterapia entre os atores envolvidos e a capacitação dos profissionais de saúde.
Os profissionais foram questionados se já obtiveram resultados positivos com o uso das plantas medicinais, fitoterápicos ou drogas vegetais. Dos profissionais participantes, 69% já obtiveram resultados com a utilização das plantas medicinais, é possível verificar que 83% dos médicos, 46% dos enfermeiros, 100% dos farmacêuticos e nutricionistas, e 77% dos dentistas, tiveram respostas positivas.
Alguns profissionais que relataram não prescrever as plantas medicinais na sua rotina, responderam à pergunta, afirmando que esses resultados foram a partir da utilização pessoal. Outro fato importante é que os que relataram não ter tido resultados foram os que não utilizam essa terapia na sua prática clínica. Na pesquisa de Varela e Azevedo[7], os profissionais entrevistados relataram que tanto as plantas medicinais quanto os fitoterápicos apresentam bons resultados terapêuticos e são boas opções de tratamento a serem utilizados na atenção básica.
Outro ponto importante é que tanto para os médicos quanto para os nutricionistas os resultados mais citados estão relacionados com ansiedade e problemas digestivos, problemas frequentes nas unidades de saúde. Para o serviço de nutrição é comum serem encaminhados pacientes com sobrepeso/obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, nos distritos onde tem o profissional nutricionista ocorrem grupos de emagrecimento onde são utilizados os fitoterápicos e a maioria desses pacientes relatam ser ansiosos.
Ludwig et al.[10] em sua pesquisa sobre ansiedade, depressão e estresse em pacientes com síndrome metabólica, verificaram que dos 38 participantes, 47,4% apresentaram sintomas mínimos de ansiedade e 86,8% apresentaram grande probabilidade de desenvolver doenças relacionadas ao estresse. Cunha et al.[11] caracterizaram a população atendida pela Clínica Escola de Nutrição da Faculdade de Minas e verificaram que a maioria das mulheres adultas apresentaram obesidade e grande parte das mulheres idosas e homens apresentaram sobrepeso.
Os profissionais foram questionados se os pacientes aceitavam o tratamento com drogas vegetais ou fitoterápicos. A maioria (66%) dos profissionais respondeu que os pacientes aceitam o tratamento com drogas vegetais. Considerando cada modalidade de profissional, foram 83% para os médicos, 42% para os enfermeiros, 50% para os farmacêuticos, 77% dos dentistas e 100% dos nutricionistas.
Esse achado pode ser confirmado por vários estudos que avaliaram a utilização de plantas medicinais pela população, como no estudo de Cantarelli[12], que analisou a utilização de plantas medicinais pelos usuários do SUS e as práticas dos profissionais de saúde de Doutor Maurício Cardoso em relação à fitoterapia. O autor verificou que 86% dos usuários utilizam a fitoterapia e 97% têm interesse em fazer um tratamento com medicamentos fitoterápicos.
Lima et al.[13] verificaram o conhecimento e uso de plantas medicinais por usuários de duas unidades básicas de saúde e concluíram que 92,3% afirmaram que as utilizam como terapia alternativa, e citaram 77 plantas de uso habitual para o tratamento de diversas doenças. Maravai et al.[14] pesquisaram a utilização da fitoterapia pelos usuários da Estratégia Saúde da Família e dos entrevistados, 69% utilizam plantas medicinais, principalmente, para problemas nos sistemas digestório, nervoso e respiratório.
Os profissionais que não prescrevem plantas medicinais, fitoterápicos ou drogas vegetais foram questionados sobre o interesse em prescrever. Dos profissionais que não prescrevem as drogas vegetais ou fitoterápicos, 79% têm interesse em prescrever. Destes, 100% dos médicos e dos farmacêuticos, 65% dos enfermeiros e 60% dos dentistas.
Lopes et al.[9] identificaram o grau de conhecimento e interesse em relação à utilização de plantas medicinais como forma de tratamento por parte dos prescritores da Unidade Básica de Saúde Pinheiros. Verificaram que a maioria não teve contato com fitoterapia na formação e tem interesse em aprender mais sobre plantas medicinais, apesar de grande parte prescrever/indicá-las, poderiam aumentar a prescrição.
Fontenele et al.[6] relataram que para um estreitamento entre o conhecimento popular e o científico é necessário uma participação ativa dos profissionais da atenção básica em relação a fitoterapia. O interesse dos profissionais para a prescrição é essencial para que ocorra essa aproximação.
Em relação aos enfermeiros grande parte relatou interesse em prescrever. No momento esses profissionais não têm legislação para tal, mas é essencial que tenham conhecimento sobre o preparo, ações, interações, contraindicações das plantas medicinais, pois é comum os pacientes utilizá-las por conta própria e muitas vezes relatam para os enfermeiros e precisam ser orientados para o uso adequado. Sampaio et al.[15] buscaram conhecer a percepção dos enfermeiros sobre o uso da fitoterapia na Estratégia Saúde da Família e verificaram que o conhecimento dos entrevistados na maioria das vezes é restrito e informal e encontram dificuldades como a não valorização por parte da gestão e do restante da equipe de saúde em relação a fitoterapia, concluindo assim que o desenvolvimento de estratégias que colaborem com a inserção segura e eficiente da fitoterapia na assistência e a valorização da cultura local são essenciais.
Quanto aos questionamentos se os participantes já observaram reações adversas como utilização das plantas medicinais, alguns profissionais (10%) observaram reações adversas com o uso das plantas medicinais. Dos entrevistados que observaram estas reações, foram 13% dos médicos, enfermeiros 4% e 50% dos farmacêuticos e nutricionistas. No total foram poucas as reações observadas.
A cultura de que as plantas medicinais são "naturais" e podem ser utilizadas livremente ainda está presente na população. Muitos não relacionam sintomas de possíveis reações adversas às plantas medicinais e na maioria das vezes não são questionadas pelos profissionais durante as consultas. É necessário que essas reações adversas apareçam e sejam notificadas.
Lima et al.[16] buscaram, em seu estudo, identificar o perfil geral das notificações dos produtos à base de vegetais notificados como medicamento no Sistema Nacional para Vigilância Sanitária de 2008 a 2012 e concluíram que a farmacovigilância em fitoterapia ainda está incipiente em relação aos demais medicamentos e teve prevalência de notificações incompletas e, ainda, relataram que para a prática da fitoterapia a capacitação deve estar ligada ao aprimoramento de estudos de avaliação de efeitos tóxicos das plantas, conscientização de que o que é "natural" não faz mal, estímulo aos profissionais e população de que o uso de produtos à base de espécies vegetais deve ser questionado e/ou informado nas consultas e que a prática da farmacovigilância, bem como as notificações devem ser realizadas.
Os médicos relataram reações alérgicas (33%), aumento de peso (33%), intolerância gástrica (33%) e mal-estar (33%). Os enfermeiros citaram náusea e vômito devido ao uso inadequado de confrei (100%). Hepatite medicamentosa pelo uso abusivo de vários chás digestivos para emagrecimento (100%) foi relatado pelos farmacêuticos e as nutricionistas listaram sonolência ou queda da pressão arterial com o uso do capim-limão (50%) e tontura (50%).
Gonçalves et al.[17], afim de subsidiar a implantação da fitoterapia na rede pública de saúde do município de Volta Redonda/RJ, obtiveram dados sobre o conhecimento e uso de plantas medicinais pela população do município e verificaram que apenas 3% dos entrevistados apresentaram reações indesejadas, como diarreia, dor estomacal, queda da pressão arterial, refluxo, sonolência, afonia, cólica intestinal intensa, diurese aumentada, flebite e palpitação.
Os profissionais também foram questionados se os pacientes utilizam plantas medicinais, fitoterápicos ou drogas vegetais por conta própria. A maioria dos profissionais relatou que os pacientes utilizam drogas vegetais ou fitoterápicos por conta própria. No presente trabalho, 84% relataram que sim. Com relação à modalidade da profissão, disseram sim todos os farmacêuticos e nutricionistas, 83% dos médicos, 85% dos enfermeiros e 77% dos dentistas.
As drogas vegetais ou fitoterápicos mais utilizados pelos pacientes sem prescrição do profissional de saúde foram, passiflora (21%), capim-limão (16%) e hortelã (16%) relatados pelos médicos, os mais citados pelos enfermeiros foram boldo (36%), capim-limão (27%) e camomila (23%), pelos dentistas, malva (50%), penicilina (40%) e folha de batata doce (30%), para os nutricionistas camomila (75%), capim-limão (50%), gengibre (50%), carqueja (50%) e erva-doce (50%) e os farmacêuticos citaram camomila (50%), erva-doce (50%) e boldo (50%).
Outros estudos também avaliaram as plantas mais utilizadas por usuários da atenção básica. Gonçalves et al.[17] em sua pesquisa com a população de Volta Redonda-RJ, verificaram que as plantas mais utilizadas pelos participantes (52,2%) foram boldo, erva-cidreira, hortelã, guaco e camomila. Araújo et al.[18] avaliaram a utilização de plantas medicinais em usuários de uma Unidade de Saúde da Família em Campina Grande/PB, avaliaram 420 usuários e encontraram que 79% fazem o uso de plantas medicinais e a mais prevalente foi o boldo (21,02%). Maravai et al.[14] em seu estudo para reconhecer a utilização da fitoterapia pelos usuários da Estratégia Saúde da Família de Criciúma/SC, avaliaram 672 usuários e verificaram que as plantas medicinais mais citadas foram boldo, hortelã e camomila. A maioria das plantas citadas também foi relatada pelos profissionais no presente estudo.
Como visto até o presente momento a capacitação dos profissionais é essencial para uma prescrição e/ou orientação adequada. Os participantes foram questionados se tem especialização em fitoterapia e se caso não tivessem se tinham interesse em realizar. Dos participantes, 91% não têm especialização em fitoterapia. Apenas 9% dos médicos, 4% dos enfermeiros, 8% dos dentistas e 50% dos nutricionistas possuem essa especialização. Em relação ao interesse em fazer uma especialização na área, entre os médicos 67% relataram interesse, enfermeiros 60%, dentistas 50% e nutricionistas 100%.
Um fato que pode ser observado é que grande parte dos participantes que não prescrevem as plantas medicinais tem interesse em prescrever e muitos citaram a falta de conhecimento científico para utilizar essa terapia um motivo para a não prescrição, no entanto, alguns desses profissionais relataram não ter interesse em fazer uma especialização na área. Uma hipótese seria que no momento tem interesse em se especializar em outra área dentro da sua profissão, ou ainda, preferem cursos de curta duração para se atualizarem quanto a fitoterapia. No entanto, o que está claro é que a capacitação dos profissionais para melhor orientar os usuários da atenção básica é fundamental, seja através de cursos, especialização ou conteúdo de fitoterapia durante a graduação. Lima et al.[13] concluíram em seu estudo que é necessário investir em ações que integrem o uso de plantas medicinais dentro dos programas das Unidades de Saúde da Família. Uma destas ações, de acordo com os autores, é a capacitação dos profissionais, por meio da incorporação de conteúdos de fitoterapia nos cursos de graduação.
A capacitação dos profissionais de saúde de forma contínua é essencial, pois poderão se sentir mais seguros para fazer prescrições, mas também é necessário interesse por parte do profissional. Em pesquisa com médicos do Programa Saúde na Família (PSF), Rosa et al. [19] verificaram que a maior intenção de uso dessa terapia foi entre aqueles que detinham maior conhecimento sobre o assunto. Ainda destacaram uma preocupação desses profissionais em relação à validade científica de uso da fitoterapia, que pode ser amenizada através do desenvolvimento de estudos pré-clínicos e clínicos com as plantas medicinais.
Embora haja resistência e/ou receio por muitos profissionais para prescrição, é necessário que estes encarem esse desafio, pois a população utiliza continuamente a fitoterapia e de forma inadequada na maioria das vezes, mas como educadores os profissionais de saúde devem estar capacitados para orientá-los. Araújo et al.[18] realizaram uma pesquisa com objetivo de avaliar o uso de plantas medicinais por usuários de uma Unidade de Saúde da Família (USF), e constataram que 79% dos entrevistados faziam uso dessa terapia, mas 97% não receberam orientação sobre fitoterapia dos profissionais da USF, e ainda, 51% pensavam que as plantas medicinais não causavam danos à saúde, o que demonstra que existe a necessidade da sensibilização e capacitação desses profissionais.
Lopes et al.[9] verificaram que boa parte dos profissionais da saúde que entrevistaram prescreve plantas medicinais, mas muitos ficam com receio de prescrevê-las. E concluem que o ideal é que os profissionais sejam capacitados a respeito do assunto para que possam prescrever mais plantas medicinais.
Como uma prática integrativa e complementar do Sistema Único de Saúde (SUS), a Fitoterapia tem sido mais pesquisada. Na literatura são encontrados estudos com o objetivo de conhecer a percepção dos profissionais de saúde sobre o tema. Como na pesquisa de Fontenele et al.[6], em que entrevistaram enfermeiros, médicos, odontólogos e gestores em saúde. Verificaram que os profissionais aceitaram a institucionalização da fitoterapia e fazem uso pessoal principalmente do conhecimento popular, mas a técnica e conhecimento de políticas sobre o tema são deficientes.
Sampaio et al.[15] encontraram em seu estudo que o conhecimento dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família (ESF), na maioria das vezes, é restrito e informal, e ainda, devido a não valorização da gestão e da equipe de saúde, os profissionais encontram dificuldades para implementação dessa prática. Isso demonstra que o apoio e a sensibilização de toda a equipe são necessários para que o profissional se sinta amparado e possa utilizar essa terapia. O vínculo com o paciente e apoio de toda a equipe faz com que o tratamento proposto tenha mais efeito.
Outra pesquisa é a de Varela e Azevedo[20], que encontraram como dificuldades para a aplicabilidade de plantas medicinais e fitoterápicos na ESF a resistência cultural da população, o pouco conhecimento dos profissionais de saúde sobre as Práticas Integrativas e Complementares (PIC) no geral, ausência de insumos e a fragilidade do saber popular. O que demonstra que mais investimentos nesta área, como capacitações e formação de recursos humanos e suporte físico e estrutural devem ser realizados.
Conclusão
Por meio dos resultados pode-se observar que a maioria dos participantes da pesquisa acredita que as drogas vegetais ou fitoterápicos possuem ação terapêutica e grande parte dos profissionais que estão aptos a prescrevê-los os utilizam na sua prática clínica. Dos que relataram não prescrever, uma boa parcela relatou interesse em utilizar essa terapia.
Em relação à capacitação, como a maioria não tem especialização na área, se justifica a necessidade de serem capacitados para a prescrição e melhor orientação aos pacientes sobre o uso adequado da fitoterapia.
Como citado pelos entrevistados, muitos pacientes já utilizam as plantas medicinais por conta própria, por isso, o papel do profissional de saúde na orientação da correta utilização e a identificação e notificação de possíveis reações adversas é essencial. O enfermeiro, que embora não esteja habilitado para a prescrição, também tem um papel fundamental nessa orientação e precisa ser capacitado e o processo de legislação para a prescrição precisa ser revisto.
Fontes de Financiamento
Nenhuma.
Conflito de Interesses
Não há conflito de interesses.
Agradecimentos
Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, Paraná.
Colaboradores
Concepção do estudo: MRF
Curadoria dos dados: EMA
Coleta de dados: DNM
Análise dos dados: RMGC; JARSN
Redação do manuscrito original: MLGP; CDR
Redação da revisão e edição: MRF.
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