Fri, 30 Jun 2023 in Revista Fitos
Desenvolvimento de formulações de uso tópico contendo extrato brutode Tabernaemontana catharinensis A.DC.(Apocynaceae)
Resumo
Este estudo teve como objetivo o desenvolvimento e a avaliação da estabilidade dediferentes bases farmacêuticas contendo o extrato bruto deTabernaemontana catharinensis A.DC. (Apocynaceae). Omaterial vegetal foi cadastrado no Sistema Nacional de Gestão do PatrimônioGenético e do Conhecimento Tradicional Associado, cadastro AB06FBA. Aestabilidade física e química de duas bases distintas de pomadas foi estudadaatravés de testes de características organolépticas, ciclo gelo-degelo,determinação de pH, determinação do tamanho de partícula e determinação daespalhabilidade. Na análise das características organolépticas ambas pomadasapresentaram algumas modificações, porém aceitáveis, ao fim do ciclo gelo-degeloa pomada vaselinada com extrato apresentou uma pequena separação de fases, já apomada iônica hidrofílica com extrato permaneceu estável. Nas análises de pHocorreram oscilações nos valores, no entanto ambas permaneceram dentro dasfaixas indicadas. A análise granulométrica foi estável durante o período doestudo, assim como o teste da espalhabilidade, principalmente em relação apomada iônica hidrofílica com extrato. Frente aos resultados, percebeu-se que apomada iônica hidrofílica com extrato se mostra promissora para novos estudos,por outro lado, deve-se repensar na formulação da pomada vaselinada comextrato.
Main Text
Introdução
A grande biodiversidade da flora brasileira tem colocado em discussão a relevância eo uso do ponto de vista econômico e social das plantas medicinais brasileiras. Oconhecimento científico aponta o seu potencial para originar novos elementosterapeuticamente ativos e promissores para o desenvolvimento tecnológico de produtosfitoterápicos[1]. O aumentodo interesse por produtos naturais pode ser explicado pelas pesquisas científicasque comprovam a segurança e a eficácia desses produtos e, também, o fato de que, pormuito tempo, a população mundial utilizou-os exclusivamente como agentesterapêuticos[2].
As plantas medicinais são utilizadas atualmente na indústria farmacêutica comomatérias-primas para a extração de precursores ou princípios ativos, basicamentepara a produção de xaropes, chás, tinturas, extratos secos e fluidos, sendo muitocogitados como recursos terapêuticos[2].
A Tabernaemontana catharinensis A.DC. (Apocynaceae) é conhecidapopularmente como pele de cobra, cobrina, jasmim ou leiteira de dois irmãos epertence à família Apocynaceae. Há relatos de cerca de 99 espécies diferentes deTabernaemontana, onde, 44 ocorrem no Brasil, Paraguai, Uruguaie Argentina, sendo bem conhecidas pela presença de alcaloides triterpenoidespentacíclicos e indólicos, flavonoides e fenóis totais. Esses compostos sãoresponsáveis por diversas atividades farmacológicas, dentre elas, atividadeantibacteriana, hipoglicêmica, analgésica e cardiotônica[3].
Popularmente a T. catharinensis é utilizada em forma de infusão ouchá como antídoto para picadas de cobra, vermífugo, para alívio de dores de dente,eliminação de verrugas e também como anti-inflamatório[4]. Na Argentina é usada popularmente para a cura deinfecções dos olhos, garganta, desinfecção de feridas, bem como, diarreia causadapor parasitas[5].
Estudos realizados com o extrato hidroalcóolico de T. catharinensisem feridas cutâneas em ratos, demonstraram uma melhora na proliferação vascular eendotelial, indicando um potencial ação cicatrizante conferida ao extrato[6].
O processo de cicatrização se dá devido a uma série de eventos moleculares ecelulares, os quais agem em conjunto para reconstituir o tecido lesado, sendo que ouso de plantas como um tratamento complementar ou alternativo para a cicatrização deferidas vem crescendo continuadamente[5].
Para o desenvolvimento de novas formulações é necessário o conhecimento em relação àsparticularidades químicas, biológicas, físicas e físico-químicas de todas assubstâncias que serão utilizadas na preparação[7]. Requer a realização de diversos ensaios para assegurar aprodução de um produto com qualidade, eficácia e segurança, sendo principalmente osensaios de estabilidade da formulação, os quais podem ser variados conforme o seuperíodo de duração[8,9].
São diversos os fatores que podem afetar a estabilidade de um produto, podem serclassificados intrínsecos, quando são ocasionados por fatores da própria formulação,como, incompatibilidades químicas, incompatibilidades físicas, ou extrínsecos, como,temperatura, umidade, luz, oxigênio, microrganismos, as embalagens e a vibraçãodurante os transportes[10].
Assim, partindo-se do pressuposto de que os estudos de estabilidade representam umaimportante ferramenta para o desenvolvimento de novas formulações, aliado aosconhecimentos sobre a planta T. catharinensis, com suas diversaspropriedades terapêuticas já comprovadas e, por ser amplamente cultivada na regiãosul do Brasil, tornando-a de fácil acesso, buscou-se o desenvolvimento e avaliaçãoda estabilidade do extrato bruto de T. catharinensis em diferentesbases farmacêuticas.
Materiais e Métodos
Material vegetal, reagentes e adjuvantes farmacêuticos
Como material vegetal foram utilizadas as folhas de T.catharinensis, as quais foram coletadas no município de Santa Rosa- Rio Grande do Sul. O material vegetal foi identificado pelo Biólogo RenatoZacchia através de uma exsicata e o material testemunho foi depositado noherbário do Departamento de Biologia da UFSM sob o registro SMDB 19.500.
O material vegetal foi cadastrado no Sistema Nacional de Gestão do PatrimônioGenético e do Conhecimento Tradicional Associado (SISGEN), cadastro nºAB06FBA.
Os reagentes e demais adjuvantes necessários para o desenvolvimento do trabalhoforam: lauril sulfato de sódio, propilenoglicol, álcool cetoestearílico,vaselina sólida, metilparabeno, propilparabeno, butilhidroxitolueno (BHT) evaselina líquida disponíveis do laboratório de farmacotécnica daUniversidade.
Obtenção do extrato bruto
As folhas de T. catharinensis foram secas e trituradasmanualmente, logo após, os extratos foram obtidos por maceração hidroalcóolica,empregando etanol a 70% em diferentes recipientes fechados, os quais foramsubmetidos a agitações manuais diárias, pelo período de um mês. Ao final desseperíodo, o conteúdo foi filtrado em algodão, e colocado em evaporador rotatóriopara eliminação do etanol, com posterior secagem em estufa em temperaturasinferiores a 40ºC.
Identificação de metabólitos secundários
Realizou-se a identificação de flavonoides pela Reação de Shinoda, a qualconsiste em medir 2 mL do extrato hidroalcóolico, transferir para um tubo deensaio, adicionando em torno de 6 fragmentos de magnésio metálico, logo emseguida, adiciona-se 1 mL de HCl concentrado e observa-se a coloração rósea -avermelhada[13].
A identificação de compostos fenólicos foi realizada pela Reação de Folin-Denisonde se colocou 2,5 mL de extrato em tubo de ensaio, secou-se em banho-maria, e,logo após, adicionou-se ao resíduo 1 ml do reagente de Folin-Denis e, por fim,adicionou-se 8 mL de carbonato de sódio 20%. Neste ensaio, em caso positivo paracompostos fenólicos observa-se coloração azul[13].
Já para a identificação de alcaloides foi aquecido à fervura 20 mL de extratohidroalcóolico + 20 mL de ácido clorídrico 1% até evaporação do etanol, edeixou-se esfriar em temperatura ambiente. Logo após, alcalinizou-se o meio comamônio diluída (hidróxido de amônio 320 mL para água purificada q.s.p 1000 mL),verificando-se o pH, devendo estar 8,0 e 9,0. Em seguida, colocou-se o filtradoem funil de separação, acrescentou-se cerca de 20 mL de clorofórmio, agitou-se eabriu-se a torneira para a saída de gases. Separou-se então a fração contendoclorofórmio, a qual contém alcaloides, e acrescentou-se 5 mL de ácido clorídrico1% e agitou-se. A fração aquosa ácida foi colocada em tubo de ensaio eadicionada 3 gotas de reagente de Dragendorff em cada tubo de ensaio. Deve-seobservar a presença de turvação e/ou precipitação com alteração da cor paravermelho - tijolo[13].
Para a identificação de saponinas transferiu-se 100 mg do extrato bruto seco deT. catharinensis para um tubo de ensaio, colocou-se 10 mLde água purificada, agitou-se por 15 segundos e deixou-se o tubo em repouso por15 minutos. Em caso de positivo para saponinas deve-se observar a presença deespuma permanente[14].
Produção das bases farmacêuticas
Camponogara e colaboradores[16]desenvolveram um gel com extrato bruto de T. catharinensis naconcentração 3%, onde realizaram estudos de estabilidade, os quais se mostraramestáveis. Diante disso, escolheu-se a concentração 3% para incorporação nasbases farmacêuticas.
Para a produção da pomada base iônica hidrofílica aqueceu-se a fase aquosa(propilenoglicol, metilparabeno, álcool cetoestearílico, lauril sulfato de sódioe água purificada) a 70ºC e fase oleosa (BHT, vaselina sólida e propilparabeno)a 65ºC. Após, verteu-se a fase aquosa sobre a fase oleosa sob constanteagitação. O extrato bruto de T. catharinensis foi dissolvido em15 mL de propilenoglicol e incorporado à formulação.
Para a produção da pomada vaselinada primeiramente dissolveu-se o BHT em pequenaquantidade de vaselina líquida, logo após, adicionou-se a vaselina sólida e, porfim, o restante da vaselina líquida, sob constante agitação até a formação dapomada. O extrato bruto de T. catharinensis foi dissolvido em15 mL de propilenoglicol e incorporado à formulação.
Antes de iniciar o estudo das formulações, as amostras foram submetidas ao testede centrifugação, onde foram centrifugadas a 3000 rpm durante 30minutos[10].
Características Organolépticas
Ciclo gelo-degelo
Neste ensaio, as amostras foram submetidas a condições extremas de temperatura deforma alternada.
As amostras foram colocadas em estufa (40 ± 2 ºC), por sete dias, e, após,mantidas em geladeira (5 ± 2 ºC), pelo mesmo tempo. Após esse período, voltaramnovamente à estufa (40 ± 2 ºC) e permaneceram por mais sete dias, completando umciclo de 21 dias. No final deste período, as amostras foram submetidas à ação decentrifuga (Centribio® 80-2B) a 3.000 rpm por 30 minutos[17].
Foram considerados os seguintes critérios:
- Sem separação de fases;
- Leve separação de fases;
- Produto com 50% de separação;
- Produto com mais de 50% de separação.
Determinação do pH
A avaliação do pH foi realizada diretamente nas pomadas nos períodos det24h, t7d, t14d e t21d,utilizando potenciômetro (Digimed® Dm -22) previamente calibrado comsolução tampão pH 4,0 e 7,0[18]. Utilizou-se as análises de variância (ANOVA) paracalcular as variâncias entre os resultados obtidos.
Determinação do tamanho de partícula
Empregou-se o teste de análise granulométrica utilizando microscópio ópticoequipado com micrômetro ocular, em aumento de 100 vezes, no qual cada divisãocorresponde a 1,0 µm, usou-se o diâmetro de Feret como parâmetro de medição(mede a distância entre duas tangentes dispostas em lados opostos da partícula,paralelas em relação a uma determinada direção, ou seja, permite a medida docomprimento das partículas). As amostras foram diluídas em uma soluçãoconstituída por água e propilenoglicol (1:1), na proporção 1:30, analisando-se,no mínimo 100 gotículas/partículas[19-21].
O diâmetro médio aritmético das partículas determinado para cada uma das análisesfeitas com as formulações de pomada iônica hidrofílica com extrato foi feitorelacionando a frequência absoluta das partículas em cada faixa de tamanhoconforme a equação (1). Onde: d = diâmetro (µm); n = número departículas em cada faixa de diâmetro; p = índice relacionado aotamanho de determinada partícula; f = frequência em que umapartícula ocorre em determinada faixa de tamanho. Emprega-se p=1 e f = 0 quandoo diâmetro é obtido usando-se comprimento e a frequência por número departículas, respectivamente.
diâmetro médio=(∑ndp+f∑ndf)1/p
(1)
Determinação da espalhabilidade
Esse ensaio foi realizado nas amostras nos períodos do ciclo gelo-degelo(t24h, t7d, t14d e t21d). Ométodo consiste em colocar uma placa de vidro (20 cm x 20 cm) sobre um papelmilimetrado; e, acima deste emprega-se uma placa molde com um orifício ao meiopara introduzir a amostra, nivelando com a ajuda de uma espátula. Após a placamolde é retirada e, sobre a amostra, é adicionada uma placa com peso (g)conhecido. A superfície compreendida é calculada após 60 segundos, através dodiâmetro formado. A espalhabilidade é considerada como o ponto onde a adição depeso não altera nos valores dos diâmetros.
A espalhabilidade foi calculada segundo a equação 1, onde: Ei = espalhabilidadeda amostra para peso i (mm2) e d = diâmetro médio (mm)[22]:
Ei=d2xπ4
(1)
Resultados e Discussão
Identificação de metabólitos secundários e produção das basesfarmacêuticas
É fundamental para o desenvolvimento de produtos fitoterápicos que o materialvegetal tenha sua autenticidade comprovada, o que pode ser feito por meio deensaios de verificação da descrição da planta e por ensaios físicos equímicos.
Desse modo, após realizada a identificação botânica da planta, iniciou-se aobtenção do extrato bruto, e posterior identificação de alguns metabólitossecundários; alcaloides, compostos fenólicos, flavonoides e saponinas, seguindoas literaturas descritas. Todos os resultados foram positivos, indicando apresença destes componentes no extrato bruto de
T. catharinensis
Boligon e colaboradores[23]quantificaram grandes quantidades de alcaloides no extrato bruto das folhas deT. catharinensis, assim como, quantidades significativas deflavonoides e ácidos fenólicos. Outros estudos realizados por Camponogara ecolaboradores[24]mostraram a presença desses mesmos compostos fitoquímicos e a associação com suaatividade anti-inflamatória.
Os flavonoides representam grande parte das substâncias com atividadesfarmacológicas nas plantas, atuam com papel importante na cicatrização deferidas, agindo como antioxidantes e anti-inflamatórios, elevando a eficácia dareparação tecidual[25,26]. Janning e colaboradores[6] realizaram estudosde cicatrização com o extrato hidroalcóolico de T.catharinensis em feridas cutâneas em ratos, mediante análisesmicroscópicas e macroscópicas, onde seus resultados apontam que o extratohidroalcóolico pode possuir ação sobre a proliferação endotelial e vascular,sugerindo propriedades cicatrizantes.
As saponinas em soluções aquosas sob agitação formam uma espuma abundante epersistente, devido a sua estrutura apresentar uma parte hidrofílica formada porum ou mais açúcares e uma parte lipofílica chamada de sapogenina ouaglicona[27].
Portanto, após a identificação da planta e de alguns dos seus metabólitossecundários, produziu-se as pomadas e fez-se o teste de centrifugaçãoanteriormente ao início das demais análises, onde, após os 30 minutos decentrifugação ambas as pomadas permaneceram intactas.
Características Organolépticas
Ao finalizar a produção das amostras (t0), as mesmas encontravam-sebrilhantes, consistentes, com odor característico da planta e cores esverdeadas,própria dos extratos produzidos a partir de folhas.
Após as análises realizadas pelo período de 21 dias com alternadas temperaturas,percebe-se que a pomada vaselinada com extrato em ambos os dias que estavam emestufa (t07d e t21d) apresentaram mudanças na suaaparência com uma pequena perda na sua consistência. Do mesmo modo, not21d duas das suas amostras controle apresentaram pequenaturvação no seu aspecto.
A vaselina possui baixo ponto de fusão, o que explica a perda de consistência emudança no aspecto nos dias em que as amostras foram mantidas em temperaturasmais elevadas[22].
Já a pomada iônica hidrofílica com extrato apresentou mudanças na sua aparênciaem apenas uma das suas amostras (t21d), onde houve uma ligeiraseparação das fases, por outro lado, o seu controle permaneceu inalteradodurante todo o processo de análise.
Quanto ao odor percebeu-se mudança apenas na pomada iônica hidrofílica comextrato no t14d e t21d, as quais tiveram uma pequena perdado odor original, o qual era característico da planta.
Referente a cor, todas as amostras de ambas as pomadas e seus controlespermaneceram inalterados por todo o período do estudo. A pomada iônicahidrofílica com extrato possuía uma cor verde abacate, devido a cor da pomadasem a presença do extrato ser branca, a qual neutralizou a cor do mesmo, já apomada vaselinada por ser mais transparente, com a incorporação do extrato ficouverde escuro, cor característica do extrato da planta.
As características organolépticas ajudam a determinar a aceitação do produto peloconsumidor. Sabe-se que em baixas temperaturas as amostras podem sofrer algumasalterações físicas como, precipitação e cristalização. Já em temperaturas maiselevadas podem ocorrer reações físico-químicas ocasionando mudanças quanto àcor, odor e aspecto do produto. Outra explicação para problemas gerados embaixas ou altas temperaturas podem ser por não-conformidades na fabricação ouarmazenamento do produto[10].
Segundo o Guia da Estabilidade de Produtos Cosméticos[10], pequenas mudanças na cor e odor sãoaceitáveis em temperaturas elevadas, da mesma maneira, sob condições extremas detemperatura são toleráveis pequenas alterações no aspecto do produto.
Ciclo gelo-degelo
Após o término do ciclo gelo-degelo as amostras foram colocadas em tubosFalcon® e submetidas ao teste de centrifugação à 3.000 rpm peloperíodo de 30 min.
Ao final do teste observou-se que nas amostras de pomada iônica hidrofílica comextrato não apresentou separação de fases, mas em contrapartida houve umapequena formação de espuma, a qual pode ser explicada pela presença de saponinasno extrato bruto da planta, conforme se percebeu no ensaio de verificação dessemetabólito secundário. Já as amostras da pomada iônica hidrofílica controle nãoapresentaram alterações, mantendo a estabilidade física.
Por outro lado, o mesmo não se aplicou a pomada vaselinada com extrato, ondeocorreu uma leve separação de fases, já seu controle manteve-se inalterado.
Para Firmino e colaboradores[28], o teste de centrifugação permite analisar a estabilidadefísica das amostras, indicando se após condições extremas de acondicionamentohaverá ou não uma tendência à separação dos componentes.
Em caso de positividade é indicado repensar na formulação, pois a separação defases é um indício de uma instabilidade entre os componentes. A instabilidadepode se apresentar de diversas formas, sendo elas, floculação, coalescência,inversão de fase e cremagem[10].
Diante disso, percebe-se que a pomada vaselinada com extrato teve umainstabilidade antecipada, com uma leve separação de fases prejudicando assim aqualidade final do produto.
Determinação do pH
Os resultados das análises de pH das amostras de pomadas com extrato vegetal eseus controles encontram-se na TABELA4.
As análises de variância (ANOVA) dos resultados obtidos após as análises de pHdemonstraram variâncias significativas (P < 0,05) em ambas as amostras. Noentanto, pode-se perceber que nas amostras que continham o extrato bruto a médiados valores de pH ficaram na faixa de valores de 5,0 ao 6,0.
Em estudos realizados por Camponogara e colaboradores[16], com o gel contendo o extrato bruto deT. catharinensis, apresentaram valores próximos aosencontrados neste estudo, os quais permaneceram na faixa de pH de 5,0 a 6,0, nummesmo período de duração.
Pode-se ressaltar que os resultados encontrados no início e ao final do estudo seassemelham e que o fato de apenas as amostras da pomada vaselinada com extrato eseu controle apresentarem ligeiras mudanças no aspecto das pomadas, pode ser umindício de que houve algum problema em relação ao aparelho utilizado para asanálises.
A verificação dos valores de pH nas formulações possibilita avaliar alteraçõesnas amostras que nem sempre são percebidas visualmente, podendo indicar algumproblema na estabilidade dos componentes da formulação, ou algum problemaoriundo da fabricação, os quais poderão acarretar em problemas futuros naqualidade, eficácia e segurança do produto[10].
Os valores de pH das formulações cosméticas para uso tópico devem ser próximos aoda pele humana, entre 4,5 e 6, o qual pode variar dependendo de vários fatorescomo, o local do corpo humano e a idade do paciente[29,30].Através dos valores encontrados pode-se ver que ambas as amostras contendo oextrato bruto estão com o pH na faixa indicada, podendo ser aplicadas sobre apele.
Determinação do tamanho de partícula
A análise granulométrica foi empregada para monitorar o tamanho e adistribuição de tamanho de gotículas e/ou partículas, o que permiteverificar possíveis variações de estabilidade durante o período deestudo.
Em função da natureza da formulação da pomada vaselinada, com e sem extrato, serbastante lipofílica, esse ensaio só foi realizado nas amostras de pomada iônicahidrofílica, que apesar de ser uma pomada, apresenta em sua composiçãoadjuvantes com capacidade emulsificante, ocasionando a formação degotículas.
Durante o período do estudo as amostras analisadas de pomada iônica hidrofílicacom e sem extrato mostraram-se estáveis, com as gotículas no intervalo de 0,5µm, ou seja, todas as gotículas apresentavam diâmetro menor que 1 µm.
Nas mesmas amostras analisou-se a presença de partículas sólidas. Uma dasvantagens da medida do diâmetro particular por microscopia é que este permiteobservar o formato e o tamanho das partículas, observando a presença de cristaise possíveis alterações polimórficas.
A FIGURA 1 apresenta adistribuição percentual das partículas analisadas por faixas de tamanhos. Épossível perceber que a maior parte das partículas durante todo o período deestudo permaneceu na faixa de 1,5 a 3,5 µm. Estas apresentavam aspectocristalino com formato retangular com as bordas arredondadas. Percebendo-se aspartículas somente na amostra com o extrato, pode-se supor que restarampartículas sólidas do extrato após o processo de secagem em estufa eressuspensão em propilenoglicol.
Os resultados para os diâmetros médios (dmédio), calculado para asamostras analisadas foram: t24h = 2,65 µm, t07d = 3 µm,t14d = 2,65 µm e t21d = 4,31 µm. Esses númerosdemonstram uma pequena variação, mas com uma tendência de aumento do diâmetro, oque é condizente com as alterações também observadas na avaliação dascaracterísticas organolépticas que demonstraram tendência de alterações no finaldo ensaio. No entanto, na análise desses dados, em conjunto com os demaisensaios, observou-se que o valores de pH mantiveram-se próximos, bem como ociclo gelo-degelo e espalhabilidade que tiveram resultados satisfatórios.
Determinação da espalhabilidade
Os resultados das análises de espalhabilidade encontram-se nos GRÁFICOS 1, 2, 3 e 4.
A espalhabilidade é uma das características importantes a se considerar para queum paciente tenha melhor adesão ao tratamento. Associada à outras análisespermite comparar diferentes formulações. Assim, ao observar-se os GRÁFICOS 1 e 2percebe-se que a espalhabilidade da pomada iônica hidrofílica com o extrato émenor que o seu controle. Porém, nota-se também que durante o período do estudoa pomada iônica hidrofílica com o extrato manteve os seus valores próximos,principalmente no primeiro dia (t24h) e último dia de estudo(t21d), apresentando, então, resultados satisfatórios, e menorvariação comparado ao controle.
Da mesma maneira, comparando os dados obtidos da pomada vaselinada com extrato(GRÁFICO 4) e seucontrole (GRÁFICO 3),percebe-se que a espalhabilidade da pomada vaselinada com extrato é menor queseu controle. Por outro lado, constata-se que ocorreu uma diminuição naespalhabilidade durante o estudo, comparando os dados iniciais (t24h)com os finais (t21d), observando-se a relação entre o armazenamento ea redução dos valores de espalhabilidade.
A espalhabilidade pode ser definida como a competência da formulação de seespalhar sob uma superfície com aplicação de uma força. É um fator essencialpara as formulações farmacêuticas de uso tópico, estando relacionada com aaplicação no local de ação[22]. Bons resultados para essa análise levam a uma melhoraceitação pelo consumidor, visto que, será mais fácil a aplicação do produto napele lesionada[31].
Diante disto, analisando-se os resultados obtidos para a espalhabilidade dasformulações percebe-se que a pomada iônica hidrofílica com extrato apresenta umresultado melhor para a espalhabilidade do que a pomada vaselinada comextrato.
Conclusão
A obtenção do extrato bruto se deu de forma positiva, assim como a identificação dosmetabólitos secundários, os quais já eram esperados, conferindo então, diversasações farmacológicas ao extrato.
Frente aos resultados obtidos nas análises de estabilidade percebe-se, que a pomadavaselinada com extrato bruto de T. catharinensis apresentoupequenas alterações na estabilidade física, como uma pequena perda na suaconsistência, leve separação de fases no teste de centrifugação, mostrando que énecessário se repensar na formulação, não sendo promissora para continuação deestudos.
Por outro lado, a pomada iônica hidrofílica com extrato bruto de T.catharinensis apresentou bons resultados nos estudos de estabilidade,visto que, as características organolépticas permaneceram dentro do aceitável paraas condições do teste; não houve separação de fases no teste de centrifugação (ciclogelo-degelo); os valores de pH são compatíveis com o pH cutâneo; na análisegranulométrica observou-se uma pequena variação, com uma tendência ao aumento dodiâmetro das partículas. A análise da espalhabilidade foi considerada satisfatória.Sendo assim, apresenta-se como uma fórmula promissora para novos estudos, podendo serepensar em ajustes nas quantidades de alguns componentes da formulação. Do mesmomodo, se torna promissora por suas diversas atividades terapêuticas, uma vez que érica em metabólitos secundários com propriedades cicatrizantes, o que permite suautilização em feridas diabéticas não cicatrizadas.
Resumo
Main Text
Introdução
Materiais e Métodos
Material vegetal, reagentes e adjuvantes farmacêuticos
Obtenção do extrato bruto
Identificação de metabólitos secundários
Produção das bases farmacêuticas
Características Organolépticas
Ciclo gelo-degelo
Determinação do pH
Determinação do tamanho de partícula
Determinação da espalhabilidade
Resultados e Discussão
Identificação de metabólitos secundários e produção das basesfarmacêuticas
T. catharinensis
Características Organolépticas
Ciclo gelo-degelo
Determinação do pH
Determinação do tamanho de partícula
Determinação da espalhabilidade
Conclusão