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Wed, 05 Feb 2025 in Revista Fitos
Caracterização fitoquímica e avaliação da atividade antioxidante deDipteryx alata Vogel (Fabaceae)
Resumo
Estudos têm demonstrado algumas propriedades biológicas associadas aDipteryx alata Vogel (Fabaceae), espécie típica do cerrado.Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi caracterizar os constituintesfitoquímicos e analisar a atividade antioxidante do extrato etanólico das folhase polpa do Baru. As folhas e frutos foram coletados aleatoriamente de 10indivíduos, no município de Arinos (MG). Os compostos químicos do extratoetanólico foram analisados por meio de reações químicas descritas em protocoloespecífico. O teor de compostos fenólicos foi quantificado, por meio deespectrofotometria. Além disso, foi utilizado o método de redução do DPPH paraavaliação da atividade antioxidante. Os resultados revelaram alta atividadeantioxidante e elevado teor de compostos fenólicos nas folhas do Baru, enquantona polpa os valores foram mais baixos. O resultado obtido com o extrato da folhado Baru indica um grande potencial antioxidante, e estudos adicionais podem serrealizados a fim de isolar os compostos responsáveis por essa atividade naplanta.
Main Text
Introdução
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, com uma área de 2.036.448km2, que ocupa cerca de 22% do território nacional. É considerado umdos hotspots mundiais de biodiversidade e reconhecido como a savanamais rica do mundo, pois abriga 12.070 espécies de Angiospermas nativas[1]. Além dos aspectos ambientais, ocerrado tem grande importância social, uma vez que muitas populações sobrevivem deseus recursos naturais[2]. O estudoda sua biodiversidade pode auxiliar na seleção e preservação de espécies de elevadovalor nutritivo e contribuir para a garantia da segurança alimentar e nutricional,por meio da promoção do consumo de alimentos regionais[3].
Dentre as diversas espécies do bioma Cerrado encontra-se Dipteryxalata Vogel, popularmente conhecida como Baru. A referida espéciepertence à família Fabaceae (Leguminosae), subfamília Faboideae. É nativa, mas nãoendêmica do Brasil, ocorrendo no norte, nordeste e sudeste do Brasil, além de paísesvizinhos como Paraguai, Peru e Bolívia. Apresenta altura média de 15 metros, comtronco de cor cinza clara ou creme, que pode ser liso ou apresentar placas deformato irregular. As folhas são alternas, compostas pinadas, pecioladas, semestípulas e raque alada, que originou o nome da espécie[4]. O fruto é do tipo legume drupóide, monospérmico,indeiscente, geralmente ovoide e fibroso[5].
O Baru é tradicionalmente utilizado no combate à bronquite, diarreia, disenteria, dorde garganta, picada de cobra e como cicatrizante[6]. Utiliza-se também a entrecasca, folha e a semente do Barucomo tônico e em tratamentos de gripe, tosse, artrose, gastrite e anemia[7]. A amêndoa apresenta alto valornutritivo e é apreciada como aperitivo ou em inúmeras receitas na forma depé-de-moleque, paçoca, rapaduras, etc.[4].
As propriedades medicinais das plantas estão associadas ao papel ecológicodesempenhado pelos metabólitos secundários na interação da planta com o ambiente,como proteção contra o ataque de herbívoros, microrganismos, ação alelopática, alémde agir como atrativos para animais polinizadores[8].
As substâncias fenólicas são reconhecidamente detentoras de pronunciada atividadeantioxidante, atuando como sequestradoras de radicais livres e como quelantes demetais, despertando, assim, interesse face à possibilidade de serem utilizadas notratamento de várias doenças degenerativas, bem como envelhecimento precoce,processos inflamatórios, cicatrização, câncer, entre outras[9]. Estes compostos também estãoenvolvidos em tratamentos de pigmentação que resultam em hiperpigmentação ouhipopigmentação cutânea[10].
Sendo assim, este trabalho objetivou caracterizar os constituintes fitoquímicos,quantificar o teor de compostos fenólicos e analisar a atividade antioxidante doextrato etanólico das folhas e polpa do Baru.
Material e Método
Coleta do material botânico
As folhas e os frutos do Baru (D. alata Vogel) foram coletadosaleatoriamente de 10 indivíduos, durante os meses de agosto e setembro de 2018,no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Arinos,localizado na região noroeste do estado de Minas Gerais.
Preparo de extrato etanólico
A polpa (mesocarpo e endocarpo) do fruto do Baru foi retirada com auxílio defaca. As folhas coletadas e a polpa do fruto foram submetidas à secagem emestufa à temperatura de 40ºC (±0,5) por 3 dias. As folhas e as polpas foramtrituradas separadamente. Os extratos foram preparados a partir de 100 g do pódas folhas e polpa dos frutos. A extração ocorreu por maceração em 500 mL desolução etanólica 95% durante 7 dias. Após este período os concentrados de folhae polpa foram filtrados com bomba a vácuo. Os filtrados foram concentrados emestufa por 7 dias a 50ºC[11].Com auxílio de uma espátula, raspou-se o concentrado obtido da polpa e folha earmazenou-se cada extrato, em geladeira, até o momento da utilização.
Prospecção fitoquímica
Os concentrados obtidos, na extração da polpa e da folha, foram submetidos a umasérie de reações de caracterização fitoquímica, conforme Barbosa[12] e SBFgnosia[13], descritos a seguir:
1) Teste de alcaloides
Ferveu-se 5 g do concentrado da folha em 30 mL de Ácido clorídrico 2N.Filtrou-se em algodão e dividiu-se o filtrado obtido em 3 tubos de ensaio.Ao 1º tubo acrescentou-se 3 gotas do reativo de Dragendorf e ao 2º o reativode Bouchardat. O 3º tubo foi o branco. Repetiu-se o mesmo procedimento parao concentrado obtido da polpa. O chá-verde foi utilizado como controle.Observou-se a formação de turvação nos tubos.
2) Teste de Ácidos orgânicos
Dissolveu-se 1 g dos concentrados da polpa e folha em 10 mL de água destiladae filtrou-se. Adicionou-se 5 gotas do reativo de Pascová sobre os extratosda polpa, folha e controle (ácido lático) e observou-se a reação. 3)Teste de açúcares redutores
Dissolveu-se 1 g dos concentrados da polpa e folha em 10 mL de água destiladae filtrou-se. Para identificação da presença de açúcares redutores foiutilizado o reativo de Fehling. Utilizou-se frutose como controle. Os tubosforam colocados em banho-maria fervente por 1 minuto. A formação deprecipitado vermelho tijolo indicou a presença de açúcares redutores.
4) Teste de amido
Dissolveu 1g dos concentrados da polpa e folha em 10 mL de água destilada efiltrou-se. Utilizou-se amido solúvel 1% como controle e água destilada comobranco. Sobre 1 mL de cada amostra adicionou-se 4 gotas de solução de Lugol.A mudança de coloração da solução para azul ou preto indicou a presença deamido.
5) Teste de Flavonoides
Dissolveu-se 1 g de cada concentrado obtido a partir da polpa e da folha em10 mL de solução etanólica 70% e ferveu-se por 2 min. Posteriormenterealizou-se a filtragem das soluções, com algodão. Em seguida, colocou-se 2mL de cada solução em tubos de ensaio e acrescentou-se aos tubos algumasraspas de Magnésio metálico e 1 mL de HCl. A presença de flavonoides foiindicada pela coloração rósea a vermelha.
Quantificação de Compostos Fenólicos
A quantificação do conteúdo de compostos fenólicos, no extrato etanólico da polpae folha do Baru, baseouse no método colorimétrico deFolin-Ciocalteu[14]. O reagente de Folin-Ciocalteu, decoloração amarelo, forma um complexo de coloração azul na presença de agentesredutores, no caso de compostos fenólicos.
Diluiu-se o concentrado da folha em água destilada até a obtenção de uma solução2 mg/mL. A polpa foi diluída a uma concentração de 20 mg/mL, também em águadestilada. Adicionou-se, a cada 0,5 mL de amostra, 0,5 mL do reagente deFolin-Ciocalteu 2 N e 1,0 mL de água. Após um período de 5 minutos, foiacrescentado aos tubos 0,5 mL de carbonato de sódio(Na2CO3) 10%. Após 1 hora de incubação à temperaturaambiente, a absorbância foi mensurada em espectrofotômetro a 760 nm, usando águadestilada como branco. Para elaboração da curva padrão utilizou-se Ácido gálico(5 a 30 μg/mL), dissolvido em água destilada a partir de solução estoque de 100μg/mL. As análises foram realizadas em triplicata e os valores de fenóis totaisforam expressos como equivalentes de ácido gálico (mg de ácido gálico/g deamostra).
Avaliação da Atividade Antioxidante
A atividade antioxidante da polpa e folha foi analisada através do método dosequestro do radical livre 2,2difenil-1-picril-hidrazila (DPPH) [15].
Os extratos secos foram solubilizados em etanol 95%, para obtenção desoluções-estoque de 1 µg/µL. Alíquotas das soluções-estoque da polpa e da folhaforam adicionadas a 3 mL de solução de DPPH 40μg/mL, diluída em etanol,obtendo-se concentrações finais de 1,7 a 16,7 μg/mL. Utilizou-se, comosubstância de referência, ácido gálico, testado em cinco concentraçõesdiferentes (0,3 a 1,6 μg/mL). As amostras foram guardadas ao abrigo da luz por30 minutos, posteriormente realizou-se a leitura das absorbâncias emespectrofotômetro a 515 nm. A solução etanólica de DPPH 40 μg/mL (sem adição deantioxidante) foi utilizada como controle, e como branco utilizou-se etanolabsoluto. Os valores de absorbância em todas as concentrações testadas foramconvertidos em porcentagem de atividade antioxidante (AA%), determinada pelaequação:
%AA=[(Abscontrole-Absamostra)/Abscontrole]x100
Onde: Abscontrole= absorvância da solução etanólicade DPPH 40μg/mL; Absamostra = absorvância da mistura reacional (DPPH+ amostra).
Para a análise dos dados utilizou-se o sistema estatístico SISVAR®, eas médias foram comparadas com teste de Tukey a 5% de probabilidade[16].
O parâmetro utilizado para avaliar a capacidade antioxidante foi o valor de CE50(Concentração Eficiente), que indica a concentração necessária para reduzir 50%do radical livre DPPH. Para determinar a CE50 de cada extrato testado foramconstruídas curvas de regressão (Excel), com porcentagem de atividadeantioxidante (eixo Y) em função da concentração µg/mL (eixo X).
Resultados e Discussão
Prospecção Fitoquímica
Dentre os testes realizados, as folhas de Baru apresentaram resultado positivoapenas para flavonoides, enquanto a polpa apresentou somente açúcaresredutores.
As espécies de Fabaceae são particularmente ricas em flavonoides e compostosrelacionados, como rotenoides e isoflavonoides[17]. Mas os compostos ativos presentes em cadaplanta podem variar de acordo com o método de extração e a época da coleta.Estímulos decorrentes do ambiente em que a planta se encontra, podemredirecionar a rota metabólica, ocasionando a síntese de diferentes compostos,modificando assim as características qualitativas e quantitativas doextrato[18]. Dessaforma, a quantidade e a natureza dos constituintes ativos não são constantesdurante o ano. Fatores como temperatura, disponibilidade hídrica, radiaçãoultravioleta, nutrientes, altitude, poluição atmosférica, entre outros, podemafetar o conteúdo final de metabólitos secundários em plantasmedicinais[19].
Quantificação de fenóis totais
Os resultados da quantificação do conteúdo de compostos fenólicos dos extratos dafolha e polpa do Baru foram obtidos a partir da curva padrão de ácido gálico(FIGURA 1).Observou-se um maior teor de compostos fenólicos no extrato da folha (409,5mgEAG/g), sendo que este foi mais de 2 vezes maior que o observado no extrato dapolpa do fruto (194,5 mgEAG/g). Um dos fatores que pode ter contribuído paraesta grande diferença observada entre os extratos, pode ser a presença deflavonoides nas folhas do Baru, que não foi detectada na polpa.
O teor de fenóis totais detectado nas folhas do Baru foi quase 4 vezes maior quea concentração obtida para a mesma espécie por Silvério et al.[10]: 112,3 mgEAG/g. Também foisuperior ao observado por Martins[20] com extrato etanólico de folhas e cascas de Ingalaurina (Sw.) Willd. (Fabaceae) (127,7 e 384,5 mgEAG/g,respectivamente). Variáveis como o preparo do extrato, época e local de coletapodem ser os responsáveis por tal diferença.
Idioblastos fenólicos são considerados de ocorrência generalizada emFabaceae[21]. Testeshistoquímicos revelaram a presença de compostos fenólicos impregnados na parededas células corticais e floemáticas da raiz, bem como no pecíolo e nervuracentral da folha de Hymenaea martiana Hayne(Fabaceae)[22].
Os compostos fenólicos englobam desde moléculas simples até outras com alto graude polimerização[23]. Estãopresentes nos vegetais na forma livre ou ligados a glicosídeos eproteínas[24]. Essaclasse de compostos tem revelado inúmeros benefícios para a saúde por suasatividades antioxidante, anticarcinogênica, antienvelhecimento,anti-inflamatória, antimicrobiana, efeito cardioprotetor e atividade inibitóriada melanogênese[10,25-27].
Atividade antioxidante
O resultado da análise da atividade antioxidante pelo método do DPPH demostroudiferença entre polpa e folha, conforme TABELA 1. Em todas as concentrações, a atividadeantioxidante da folha foi superior à da polpa. O resultado da análise daatividade antioxidante da substância de referência (ácido gálico) encontraseexpresso na TABELA 2.
Os gráficos das FIGURAS 3 e 4foram utilizados para a obtenção da CE50 do extrato da folha e do ácido gálico,respectivamente. A CE50 da substância de referência (ácido gálico) foi 1,13μg/mL, enquanto a CE50 da folha foi 9,02 μg/mL. Este resultado revela que énecessária uma concentração de 9,02 μg/mL do extrato da folha de Baru paradecrescer a concentração inicial de DPPH em 50%. Não foi calculada a CE50 dapolpa, uma vez que sua atividade antioxidante foi muito baixa.
Roesler et al.[28], ao analisara atividade antioxidante de frutos do cerrado, apresentaram como melhoresresultados os valores de CE50 9,44 e 17,98 µg/mL para os extrato aquoso eetanólico de casca de pequi (Caryocar brasiliense Cambess.,Caryocaraceae), respectivamente. E a substância de referência (ácido gálico)apresentou CE50 (1,38 µg/mL), semelhante ao resultado obtido neste trabalho.
O resultado obtido com o extrato da folha do Baru indica um grande potencialantioxidante. Como observado na determinação dos compostos fenólicos, as folhasapresentaram alto conteúdo destes compostos, que podem, portanto, estarrelacionados a sua elevada atividade antioxidante. Estudos adicionais podem serrealizados a fim de isolar os compostos responsáveis por essa atividade.
Conforme Roesler et al.[28], acorrelação entre fenóis totais e atividade antioxidante relatada na literatura écontraditória. Enquanto alguns autores observaram uma alta correlação, outrosnão observaram correlação direta. Essa correlação pode depender do métodoempregado, das características hidrofóbicas ou hidrofílicas do sistema teste, edos antioxidantes testados.
Os antioxidantes inibem a oxidação de substratos, por meio de dois mecanismos:inibição da formação ou eliminação dos radicais livres, por meio da doação deátomos de hidrogênio a estas moléculas. Antioxidantes fenólicos podem agir nosdois mecanismos[29].
Nos últimos anos, os radicais livres vêm sendo discutidos devido a sua capacidadede desestabilizar biomoléculas como carboidratos, lipídios, proteínas e DNA,causando doenças degenerativas, artrite, inflamação, envelhecimento precoce,câncer e problemas cardiovasculares[30]. Apesar do elevado potencial antioxidante apresentadopor testes in vitro, Soares[29] ressalta que é de extrema importância oestudo da ação dos compostos fenólicos in vivo, pois em suarevisão não foram encontrados dados a respeito da absorção, biodisponibilidadeem condições fisiológicas, e concentração plasmática ideal para a atividade deproteção dos fenóis contra os radicais livres e doenças associadas.
Conclusão
As análises realizadas neste trabalho revelaram a presença de flavonoides e elevadoteor de compostos fenólicos nas folhas do Baru. Uma correlação positiva entre teorde fenóis totais e atividade antioxidante foram observadas, comparando-se osresultados da polpa e da folha. Destaca-se dessa forma, o grande potencialantioxidante evidenciado no extrato da folha. Como apontamentos de direções futurasrecomenda-se estudos in vivo dos compostos fenólicos e o isolamentodos compostos responsáveis pela atividade antioxidante nas folhas do Baru.
Resumo
Main Text
Introdução
Material e Método
Coleta do material botânico
Preparo de extrato etanólico
Prospecção fitoquímica
1) Teste de alcaloides
2) Teste de Ácidos orgânicos
4) Teste de amido
5) Teste de Flavonoides
Quantificação de Compostos Fenólicos
Avaliação da Atividade Antioxidante
Resultados e Discussão
Prospecção Fitoquímica
Quantificação de fenóis totais
Atividade antioxidante
Conclusão