Glauco de Kruse Villas Bôas

Glauco de Kruse Villas Bôas
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Abstract

Professor, quando regressei a Fiocruz após um período trabalhando na universidade, há mais de vinte anos, o senhor foi a primeira pessoa que procurei. Porque já o conhecia de nome ligado aos produtos naturais que era um campo onde eu também atuava. Parecia impossível transpor barreiras e conseguir uma transferência, mas consegui e senti que, naquele momento, a minha trajetória estaria para sempre ligada às plantas medicinais e à biodiversidade brasileiras. Gradativamente fui tomando conhecimento do desenho da unidade de pesquisa voltada para o conhecimento das plantas medicinais que o senhor projetou. Me lembro que naquela época, Farmanguinhos tinha a maioria dos projetos de desenvolvimento da Fiocruz, focados em medicamentos de origem vegetal. Gradativamente também fui conhecendo sua trajetória enquanto pesquisador, enquanto cientista. Sempre que podia ia conversar, ia escutá-lo e fosse qual fosse o assunto eu sempre ficava impactado pelo seu conhecimento, sua sabedoria, sua ética e firmeza de propósitos. O senhor não era apenas um pesquisador sênior, era um farol para todos nós. Sim, um guia, um grande mestre. Hoje não vim falar dos seus inúmeros feitos acadêmicos e em campanhas de saúde pública, mas, agradecer por ter sido nosso professor e, ao mesmo tempo, nosso colega de trabalho. Com um ânimo juvenil. Me lembro de episódios: de quando atravessamos o plano piloto de Brasília a pé do Ministério da Saúde até a sede da EMBRAPA porque estávamos atrasados para uma reunião. Cheguei com a língua de fora e o senhor bem tranquilo; lembro da história da corrida e de pular cercas para pegar um avião já com motores ligados para escapar a chuva numa unidade do exército na fronteira com a Colômbia, acima de São Gabriel; Rubens me contava como o senhor vivia cercado de indígenas e ribeirinhos no barco atravessando o Rio Negro. Vim te agradecer, hoje, por termos nos tornado amigos. Com o tempo, muitas perguntas que eu fazia, já transcendiam a química, buscando respostas na sua vivência. Histórias que me contava da sua infância, dos tempos de guerra, dos tempos de paz, histórias de vida, de paciência, de perseverança. Sempre admirei sua paciência em escutar, debater, defender pontos de vista muitas vezes divergentes. Mas ficava extasiado quando conversávamos sobre a origem da vida, a combinação de átomos que estão no ar que respiramos. As comparações científicas entre estruturas cósmicas e a saúde. Bons momentos, e ao final dos quais o senhor reafirmava sua fé.

Só posso comentar velho companheiro, neste momento um misto de emoções. De um lado a tristeza que a sua ausência nos trará, mas de outro, a certeza de que todos estes momentos vividos e convividos estarão para sempre presentes em nossas mentes e corações. E que esta despedida não representa um adeus, mas, um até breve professor!


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1.
Glauco de Kruse Villas Bôas. Rev Fitos [Internet]. 2024 Mar. 7 [cited 2024 Nov. 25];18(Suppl. 4):7-8. Available from: https://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/1676
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