Resumo
Em Editorial publicado no Número 1 do Volume 13 de 2019, trazíamos a discussão sobre os desafios do Acesso Aberto (AA) e da Ciência Aberta (CA), evidenciando que estava em curso um novo modo de produzir e comunicar ciência. Por sua vez, seguimos o movimento da Fiocruz no que se refere à Política de Acesso Aberto e Ciência Aberta, buscando caminhar conjuntamente com os demais periódicos científicos da instituição, participando de discussões e eventos sobre o assunto.
Passado esse tempo, retornamos ao tema neste primeiro editorial de 2022, visando trazer algumas reflexões desenvolvidas a partir de nossa prática editorial, reafirmando o nosso compromisso com CA.
Apesar da temática da CA ter se desenvolvido, especialmente, na Europa e nos USA, no Brasil ela vem avançando gradativamente, até porque a ciência brasileira trava uma luta pelo seu reconhecimento internacional e, atualmente, também nacional. No que se refere às políticas públicas para a publicação científica brasileira, também se observa um descompasso com a urgência do mundo atual. Apesar do quadro nefasto, não se pode paralisar, mas buscar saídas para investir na melhoria da produção e comunicação científica brasileira.
Segundo Sales e Shintaku[1], a CA apresenta-se como uma força que poderá permitir avanço científico como nunca já visto. Por sua vez, concordamos com Albagli[2] quando diz que essa temática provoca forte tensão entre a socialização do conhecimento, da informação e da cultura e sua privatização, remexendo com as relações entre saber e poder, que tanto impactam os processos sócio-econômico-culturais.
A definição de Ciência Aberta[2] é abrangente, pois engloba vários movimentos que visam a abertura de todo o processo de pesquisa, visando compartilhar qualquer tipo de resultado, recursos, métodos ou ferramentas empregadas no processo de investigação. Dessa forma, está inserido na CA, o acesso aberto a publicações, os dados abertos de pesquisa, os softwares de código aberto, a colaboração aberta, a revisão por pares aberta, os cadernos abertos de anotações, os recursos educacionais abertos, as monografias abertas, a ciência cidadã ou crowdfunding de pesquisa. Enfim, trata-se de um novo paradigma já em curso, um novo modo de fazer ciência que se baseia em três princípios: a ciência deve ser aberta, colaborativa e feita com e para a sociedade.
O fato de a Revista Fitos ter como foco e escopo a publicação de trabalhos científicos que contribuam para: o pensamento crítico em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em Biodiversidade e Saúde; de ser uma publicação inter e transdisciplinar das áreas do conhecimento (saúde, humanas e tecnológicas); estar online e em acesso aberto desde 2014; que busca ampliar a compreensão das complexas interrelações entre biodiversidade e saúde humana; que estimula a colaboração entre os setores para um desenvolvimento sustentável; que adota a concepção de inovação como um processo social, dinâmico e em rede, exige que se adote o modelo de comunicação científica que leva em conta a ética, integridade na pesquisa e investigação e inovação responsáveis.
As duas primeiras categorias – ética e integridade - são destacadas por Inácio e Amante[3] como aquelas que sempre foram fundamentais para a ciência. No entanto, as autoras advertem que a novidade está na categoria investigação e a inovação responsáveis, pois diferente das outras duas que são do âmbito dos valores, essa última categoria está no âmbito do comportamento. A propósito, destacam:
As características do novo modelo de fazer e comunicar ciência serão, assim, as que estão preconizadas no âmbito da investigação responsável com vistas à inovação, a saber: abertura, transparência, diversidades, inclusão, responsividade, adaptação, antecipação e reflexão.
Dessa forma, como sinalizou Albagli[2], tensões emergem no campo do domínio do conhecimento, da descoberta, já que práticas como: abertura e transparência de dados, colaboração e parceria, liberdade de pensamento, inclusão e igualdade de oportunidades constituem o novo modelo de produção e comunicação científica, mas são conflitantes com o modelo tradicional vigente nas últimas décadas do século XX. Este modelo caracterizava-se, principalmente, pela obsessão à propriedade intelectual, levando pesquisadores e autores, ou seja, aqueles arraigados a esse modelo a ter resistências à CA.
É certo que o desenvolvimento das tecnologias digitais contribuiu, em muito, para a disseminação dos resultados das pesquisas pelos periódicos científicos que utilizam a modalidade online de publicação, mas observou-se que a maioria dos periódicos levou para esta modalidade o mesmo tipo de gestão editorial realizado nas revistas físicas.
Nessa linha, Santos e Calò[4] complementaram que, apesar de boa parte dos pesquisadores seguir publicando seus trabalhos de forma conservadora, o atual panorama da comunicação científica é extremamente dinâmico e tem sido, em grande medida, impactado e modificado pelo uso de ferramentas de gestão das atividades e do fluxo de pesquisa da CA.
Procurando, portanto, absorver o novo modelo de comunicação científica e avançando cuidadosamente nas práticas editoriais para a CA, a Revista Fitos vem implementando algumas ações, baseadas nos princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, and Reusable) que possibilita aos dados e metadados dos artigos publicados serem facilmente encontrados e acessíveis, usando os identificadores disponíveis, assim como publicando em sistemas que possibilitem a interoperabilidade. Ainda não foi possível implementar alguma prática para atender ao princípio de reuso de dados, mas está previsto para um futuro próximo.
A Revista Fitos adota hoje as seguintes práticas no processo de submissão dos artigos: precisão à afiliação e à citação; aplicação do Digital Object Identifier (DOI) em todos as suas publicações, exigência de cadastro dos autores Open Researcher and Contributor ID – ORCID, e apresentação dos Termos de Sessão de Direitos Autorais de todos os autores e coautores. Além disso, a revista adota a publicação dos artigos em PDF, HTML e XML para garantir a interoperabilidade entre os demais sistemas de informação; publica os artigos avaliados e aprovados em ahead of print, dando visibilidade imediata para citação; mantém um fluxo dinâmico e contínuo de submissão que pode ser realizada a qualquer momento; busca divulgar suas publicações em diferentes ferramentas de comunicação (Facebook, Blog, Instagram), procurando dar visibilidade e garantir as métricas alternativas, além das bases indexadoras às quais a revista está inserida.
Em nossa prática cotidiana, percebemos que os autores desconhecem a importância de ações simples, mas extremamente relevantes para a visibilidade de seu trabalho e, consequentemente, da revista. Uma delas é o preenchimento correto e completo dos dados pessoais e de afiliação e dos identificadores pessoais. Por sua vez, observa-se que os autores também não se envolvem na divulgação do seu artigo publicado, esperando pela divulgação da revista, desconhecendo que existe um espaço que precisa ser assumido por eles, produzindo textos de fácil compreensão de sua pesquisa e resultados para divulgação em outros meios utilizados pela revista. Também precisam divulgar seu artigo em suas redes sociais individuais e profissionais para que seu artigo atinja um público ainda maior.
É nessa perspectiva, portanto, que trazemos como meta para 2022 intensificar a discussão sobre CA e suas práticas, visando a implementação de forma gradativa e cuidadosa de novos formatos de avaliação e de apresentação no periódico.
Nessa linha, convidamos editores, avaliadores, autores e leitores a participarem desse processo, visando uma construção colaborativa, com responsabilidade e clareza.
Drª Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
Editora Executiva