Maria Bherens

Abstract

Foi-se o último cavaleiro do apocalipse, como era conhecido, por ser a última relíquia do histórico Instituto de Química Agrícola. Ben Gilbert nos deixa, então, afinal, tendo cumprido sua missão de também revelar a riqueza da biodiversidade brasileira pelo estudo das plantas medicinais através da moderna química de produtos naturais.

Embora exista uma percepção negativa associada aos cavaleiros no apocalipse bíblico, esta passagem dos evangelhos tem um caráter de anunciação do encerramento de um ciclo, que prenuncia o futuro prometido pelo Salvador. Os cavaleiros, por esta perspectiva, cumprem um papel de efetivar a transição para tempos melhores. Rever a vida do nosso querido Dr. Gilbert é reconhecer a sua batalha pessoal para que o desejado futuro do emprego dos insumos bioativos vegetais se tornasse realidade na ampliação das opções terapêuticas.

Graças ao seu afã por conhecer a flora brasileira medicinal, o vimos, em seus primeiros tempos em Farmanguinhos, ocupando uma bancada do laboratório de Síntese, na Vice-Diretoria de Pesquisa, para estudos fitoquímicos. Dr. Gilbert atuou, assim, ativamente na implantação do Departamento de Produtos Naturais em Farmanguinhos, em 1994. Era a missão de atender à demanda de validação de plantas medicinais, em sintonia com as respectivas políticas públicas do SUS e da OMS, então em fase de internalização pelo Brasil.

No seu dia-a-dia, testemunhamos a ansiedade em transformar as espécies mais promissoras em produtos para o SUS. Tal anseio ele o canalizava estimulando o desenvolvimento de IFAs da biodiversidade brasileira para reduzir a dependência e os custos de importação de fármacos e medicamentos. Suas preocupações com a elaboração de monografias para subsidiar a Anvisa o acompanharam até o fim. Até as suas últimas energias, ainda o encontramos atarefado na elaboração e atualização permanente de listas e compilações de plantas medicinais. Meticulosamente, ele as organizava por doenças e sistemas do organismo (respiratório, digestório, circulatório etc.), enfatizando uma lógica coerente, que prioriza a necessidade de saúde e não a espécie vegetal em si.

Pesquisador emérito da Fiocruz, deixa-nos, seus discípulos, e todos que têm clorofila no sangue, o compromisso de levar essa missão adiante, empenhando-nos em validar espécies vegetais de interesse medicinal e desenvolver produtos para ampliação e consolidação da fitoterapia na saúde pública. Nossa gratidão por seu legado, sua dedicação, disciplina, parceria, companheirismo e amizade.