Abstract
No Brasil, o ano de 2016 vem se caracterizando como um ano difícil. Crises sócio-econômico-políticas têm provocado a paralização de investimentos para a inovação, assim como afetado drasticamente as áreas da ciência e tecnologia. Por sua vez, a premência da resolução destes problemas se estabelece.
A Revista Fitos, em seu Volume 10, número 2, traz contribuições para o debate em pauta.
O texto da seção perspectiva, intitulado “Contribuição ao debate sobre o papel da inovação em medicamentos a partir da biodiversidade”, de Glauco Villas Bôas e Cristiane Gilon, relata a contribuição de uma rede de inovação em medicamentos da biodiversidade - RedesFito, cujas inovações nascem nos espaços de Arranjos Eco-Produtivos Locais, situados nos principais biomas brasileiros. Neste texto, os autores propõem saídas para que o Brasil e os países em desenvolvimento que possuem uma grande biodiversidade possam dar um salto tecnológico na produção de medicamentos.
Na mesma linha de discussão política, segue o artigo de Ana Cláudia Dias e Cristina Ropke, “Os dez anos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e os principais entraves da cadeia produtiva de extratos vegetais e medicamentos fitoterápicos no Brasil”, no qual relatam os entraves persistentes e os avanços alcançados, apresentando um diagnóstico do atual estágio da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
Os artigos de Farmacologia, por sua vez, estão em uma direção mais propositiva na geração de produtos advindos da biodiversidade.
Carlos Pereira Martins, Magali Maria Tagliari Graf e Maria Benta Cassetari Rodrigues, em sua pesquisa, caracterizam os marcadores químicos presentes na tintura obtidos da planta popularmente chamada Fedegoso (Heliotropium indicum L.), avaliando o potencial antimicrobiano desta espécie. Relatam seus achados no artigo “Identificação dos bioativos do Heliotropium indicum (L.) como proposta de formulação de uma pomada antimicrobiana fitoterápica para o combate de patologias dermatológicas humanas (micose)”.
Já Felipe Marino Rosa e Juliana Machado, tendo presente que ainda existem lacunas sobre dosagens e efeitos colaterais da Garcinia cambogia no tratamento da obesidade, realizaram uma revisão de literatura com vistas a coletar dados sobre “O efeito anti-obesidade da Garcinia cambogia em humanos”. O estudo revelou que há uma tendência de efeito positivo sobre o controle da obesidade e comorbidades, com pouca possibilidade de efeitos colaterais, porém, ainda não existe consenso sobre esse efeito, dosagem e efeitos colaterais.
A área de Etnobotânica, neste número, contribui com 2 revisões bibliográficas e um estudo fitoquímico de determinada planta medicinal.
No levantamento bibliográfico-documental intitulado “Análise das publicações etnobotânicas sobre plantas medicinais da Mata Atlântica na Região Sul do Estado da Bahia, Brasil”, Marcella Gomez, Emerson Antônio Rocha e Estélio Gomberg, identificam a produção científica relacionada aos conhecimentos tradicionais, sobre o uso de plantas medicinais da Mata Atlântica no atendimento primário à saúde na região estudada. O resultado da pesquisa contribui, ainda, para a valorização cultural associada ao desenvolvimento educacional e científico, destacando o conhecimento empírico de populações tradicionais.
Outra pesquisa bibliográfica realizada por Rebeca Rocha e Gabriele Marisco, aqui registrada sob o título “Estudos Etnobotânicos em Comunidades Indígenas no Brasil”, revelou que nos trinta artigos analisados, foram contabilizados 1541 informantes indígenas, citando aproximadamente 2000 plantas, cujas principais formas de uso dessas plantas foram o chá e a infusão. Os dados indicaram, ainda, que as doenças do aparelho digestivo foram as mais tratadas com plantas medicinais. As autoras sugerem a necessidade de mais estudos etnobotânicos com comunidades indígenas, visando: manter e preservar o conhecimento indígena; conhecer a biodiversidade das plantas usadas; bem como intensificar a pesquisa de produtos de origem natural com aplicação medicinal.
Adrielle Bezerra, Ricardo de Oliveira e Rosa Helena Mourão, tendo como pressuposto que a planta Psittacanthus plagiophyllus (Loranthaceae) é uma das espécies utilizadas no distrito de Alter do Chão, Santarém - PA, para o tratamento de gastrite, investigaram o possível efeito gastroprotetor dos extratos aquoso e hidroalcólico das folhas desta planta contra lesões gástricas induzidas por etanol em ratos, além de sua toxicidade aguda e de seu perfil fitoquímico.
Por fim, o artigo “Evaluation of bioactive extracts of Parapiptadenia rigida and Piptadenia gonoacantha using supercritical CO2” de Bruna Moura, Francisco Catunda Junior e Marisa Mendes, apresenta os resultados da pesquisa sobre a composição do perfil de extratos das folhas de Parapiptadenia rigida e Piptadenia gonoacantha, usando CO2 supercrítico em diferentes condições de temperatura (40, 60, 80ºC) e pressão (100, 150, 200 bar). Verificou-se que a melhor pressão para extração foi de 200 bar. A melhor temperatura de extração para a primeira espécie foi de 60ºC (0,73%) e, para a segunda (1,13%), foi de 80ºC. Uma característica interessante foi observada nos extratos que se refere à atividade antifúngica contra patógenos de plantas.
Ao leitor, esperamos que este número possa contribuir com conhecimentos e subsidiar discussões sobre o potencial da biodiversidade brasileira para inovação em medicamentos, assim como das condições políticas, para que estas inovações se traduzam em produtos que contribuam para a melhoria da saúde dos brasileiros.
Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
Editora Executiva