Resumo
Desde a criação da Revista Fitos (RF) na modalidade eletrônica em 2014, metas de fluxo contínuo (qualidade, indexação, profissionalização e internacionalização) norteiam o desenvolvimento do periódico e orientam a definição do foco de trabalho a cada ano.
A RF também acompanha os movimentos da Fiocruz relacionados à comunicação científica e, nesse sentido, o ano de 2018 foi marcado por um amplo debate em torno da Ciência Aberta, definida aqui como: “[...] a atividade científica praticada de modo aberto, colaborativo e transparente, em todos os domínios do conhecimento, desde as ciências fundamentais até às ciências sociais e humanidades” [1].
O paradigma da abertura, cujo terreno fértil para o seu desenvolvimento foi a evolução das tecnologias da informação e comunicação (TICs), coloca no foco da discussão os processos colaborativos, de compartilhamento e de reutilização na produção científica. Na concepção de Albagli[2], Ciência Aberta tem um conceito abrangente, semelhante a um guarda-chuva, que se baseia em diversos pilares e inclui múltiplas dimensões, a saber: Acesso Aberto; Dados Abertos, Pesquisa e Inovação Aberta, Ciência Cidadã, Código Aberto, Caderno Aberto de Laboratório, Recursos Educacionais Abertos, Redes Sociais Científica, etc.
Destaca-se, nesse contexto, o Acesso Aberto (AA), em que se incluem as publicações científicas (Via Dourada) e o auto arquivamento/depósito das publicações em repositórios institucionais (Via Verde), cuja definição, segundo o documento da Iniciativa de Budapest sobre Acesso Aberto (BOAI-Budapest Open Access Initiative) é:
Acesso Aberto à literatura científica revisada por pares significa a disponibilidade livre na Internet, permitindo a qualquer usuário ler, fazer
download, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses artigos, recolhê-los para indexação, introduzi-los como dados em
software, ou usá-los para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas que não sejam inseparáveis ao próprio acesso a uma conexão Internet. As únicas restrições de reprodução ou distribuição e o único papel para o
direito autoral neste domínio é dar aos autores o controle sobre a integridade do seu trabalho e o direito de ser, devidamente, reconhecido e citado
[3].
No que se refere aos periódicos científicos, propriamente ditos, a emergência das revistas eletrônicas em AA no início deste século, prometia o rompimento com a tradicional estrutura de validação e controle do conhecimento científico, abrigando a esperança da democratização deste conhecimento, ampliando o acesso não apenas aos cientistas, mas à sociedade em geral e transformando a estrutura do sistema de comunicação científica. Outro fator que em muito estimulou o acesso aberto foi a crise dos periódicos (década de 1980) que levou a comunidade científica a buscar alternativas para disponibilizar o conhecimento produzido, minimizando custos. Instalou-se, entretanto, um jogo político-econômico revelador da tensão entre pesquisadores e academia e os grandes publishers, no que se refere ao poder sobre o conhecimento científico produzido.
Os periódicos eletrônicos, no entanto, em adaptação à nova realidade tecnológica, fizeram a transposição de suas práticas editoriais tradicionais para o ambiente online, sem levar em conta a especificidade da web, com a diferença de serem acessíveis sem pagamento.
Passado esse tempo, muitas mudanças ocorreram, muitos serviços editoriais evoluíram tecnologicamente e várias adaptações foram necessárias para acompanhar o novo panorama da comunicação científica internacional, tais como a publicação de manuscritos em servidores de preprints e posprints, as novas opções da revisão por pares e o papel geral dos periódicos em garantir qualidade e agregar valor aos manuscritos.
Spinak[4] alerta que essa onda de inovações está mudando o papel dos periódicos, o processo de arbitragem, a edição em geral e apresenta um desafio para as revistas sem fins lucrativos dos países emergentes e em desenvolvimento.
São esses desafios que estão motivando a equipe editorial da Revista Fitos a mergulhar na temática do AA em total consonância com as políticas e encaminhamentos da Fiocruz.
Assim como a maioria dos periódicos, a passagem da RF para o modelo eletrônico, fundamental para a caracterização de acesso aberto, tomou por base o modelo tradicional de publicação, transpondo-o do impresso para o eletrônico. Na atualidade, então, adequações estão em andamento para que, cada vez mais, a RF possa atender aos critérios da temática do AA, com vistas a difundir o conhecimento científico sobre pesquisa, desenvolvimento e inovação em medicamentos da diversidade vegetal.
Nesse contexto, busca-se: a melhoria na página de publicação da revista, priorizando o conteúdo e a usabilidade; a motivação para que o autor seja parceiro da revista na divulgação de seu trabalho; o estabelecimento de critérios mais rígidos de revisão dos manuscritos, visando à qualidade do conteúdo; a exigência dos objetos digitais que facilitam a identificação da obra e do autor (DOI, ORCID), a submissão do periódico à avaliação em bases voltadas para o AA (Redalyc, DOAJ, etc.), a disponibilização dos documentos e orientações editoriais também em Inglês, o uso de mídias alternativas para divulgação (Facebook, Twitter, etc.), entre outros.
Diante disso, formula-se o convite a todos os envolvidos com o desenvolvimento da RF para assumirem, como sendo de sua responsabilidade, os desafios que se apresentam para o AA e, consequentemente, da Ciência Aberta.
Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu
Editora Executiva