Desafios do acesso aberto

Rosane de Albuquerque dos S. Abreu
OrcID

    Rosane de Albuquerque dos S. Abreu

    Fundação Oswaldo Cruz - Farmanguinhos, Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde, Rio de Janeiro, Brasil

    OrcID http://orcid.org/0000-0002-1644-906X

    Doutora em Psicologia, PUC/RJ. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa (CNPQ) Políticas e Gestão do Desenvolvimento de Fitomedicamentos no Brasil; Núcleo de Estudos sobre Tecnologia e Subjetividade (NETS) do Departamento de Psicologia da PUC/RJ; na área da Informática Aplicada à Educação, ênfase nas reações humanas (cognitivas, subjetivas). Coordenadora da Divisão de Rede de Conhecimento e Inovação em Medicamentos da Biodiversidade - REDESFITO, NGBS, Farmanguinhos/FIOCRUZ. Docente da disciplina Gestão em Rede do Curso de Especialização em Gestão da Inovação em Medicamentos da Biodiversidade, Editora Executiva da Revista Fitos. Gestão em rede de inovação em medicamentos da biodiversidade; docência e pesquisa em saúde, educação, psicologia, tecnologias da informação e comunicação, EAD.

Resumo

Desde a criação da Revista Fitos (RF) na modalidade eletrônica em 2014, metas de fluxo contínuo (qualidade, indexação, profissionalização e internacionalização) norteiam o desenvolvimento do periódico e orientam a definição do foco de trabalho a cada ano.

A RF também acompanha os movimentos da Fiocruz relacionados à comunicação científica e, nesse sentido, o ano de 2018 foi marcado por um amplo debate em torno da Ciência Aberta, definida aqui como: “[...] a atividade científica praticada de modo aberto, colaborativo e transparente, em todos os domínios do conhecimento, desde as ciências fundamentais até às ciências sociais e humanidades” [1].

O paradigma da abertura, cujo terreno fértil para o seu desenvolvimento foi a evolução das tecnologias da informação e comunicação (TICs), coloca no foco da discussão os processos colaborativos, de compartilhamento e de reutilização na produção científica. Na concepção de Albagli[2], Ciência Aberta tem um conceito abrangente, semelhante a um guarda-chuva, que se baseia em diversos pilares e inclui múltiplas dimensões, a saber: Acesso Aberto; Dados Abertos, Pesquisa e Inovação Aberta, Ciência Cidadã, Código Aberto, Caderno Aberto de Laboratório, Recursos Educacionais Abertos, Redes Sociais Científica, etc.

Destaca-se, nesse contexto, o Acesso Aberto (AA), em que se incluem as publicações científicas (Via Dourada) e o auto arquivamento/depósito das publicações em repositórios institucionais (Via Verde), cuja definição, segundo o documento da Iniciativa de Budapest sobre Acesso Aberto (BOAI-Budapest Open Access Initiative) é:

Acesso Aberto à literatura científica revisada por pares significa a disponibilidade livre na Internet, permitindo a qualquer usuário ler, fazer download, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses artigos, recolhê-los para indexação, introduzi-los como dados em software, ou usá-los para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas que não sejam inseparáveis ao próprio acesso a uma conexão  Internet. As únicas restrições de reprodução ou distribuição e o único papel para o direito autoral neste domínio é dar aos autores o controle sobre a integridade do seu trabalho e o direito de ser, devidamente, reconhecido e citado[3].

No que se refere aos periódicos científicos, propriamente ditos, a emergência das revistas eletrônicas em AA no início deste século, prometia o rompimento com a tradicional estrutura de validação e controle do conhecimento científico, abrigando a esperança da democratização deste conhecimento, ampliando o acesso não apenas aos cientistas, mas à sociedade em geral e transformando a estrutura do sistema de comunicação científica. Outro fator que em muito estimulou o acesso aberto foi a crise dos periódicos (década de 1980) que levou a comunidade científica a buscar alternativas para disponibilizar o conhecimento produzido, minimizando custos. Instalou-se, entretanto, um jogo político-econômico revelador da tensão entre pesquisadores e academia e os grandes publishers, no que se refere ao poder sobre o conhecimento científico produzido.

Os periódicos eletrônicos, no entanto, em adaptação à nova realidade tecnológica, fizeram a transposição de suas práticas editoriais tradicionais para o ambiente online, sem levar em conta a especificidade da web, com a diferença de serem acessíveis sem pagamento.

Passado esse tempo, muitas mudanças ocorreram, muitos serviços editoriais evoluíram tecnologicamente e várias adaptações foram necessárias para acompanhar o novo panorama da comunicação científica internacional, tais como a publicação de manuscritos em servidores de preprints e posprints, as novas opções da revisão por pares e o papel geral dos periódicos em garantir qualidade e agregar valor aos manuscritos.

Spinak[4] alerta que essa onda de inovações está mudando o papel dos periódicos, o processo de arbitragem, a edição em geral e apresenta um desafio para as revistas sem fins lucrativos dos países emergentes e em desenvolvimento.

São esses desafios que estão motivando a equipe editorial da Revista Fitos a mergulhar na temática do AA em total consonância com as políticas e encaminhamentos da Fiocruz.

Assim como a maioria dos periódicos, a passagem da RF para o modelo eletrônico, fundamental para a caracterização de acesso aberto, tomou por base o modelo tradicional de publicação, transpondo-o do impresso para o eletrônico. Na atualidade, então, adequações estão em andamento para que, cada vez mais, a RF possa atender aos critérios da temática do AA, com vistas a difundir o conhecimento científico sobre pesquisa, desenvolvimento e inovação em medicamentos da diversidade vegetal.

Nesse contexto, busca-se: a melhoria na página de publicação da revista, priorizando o conteúdo e a usabilidade; a motivação para que o autor seja parceiro da revista na divulgação de seu trabalho; o estabelecimento de critérios mais rígidos de revisão dos manuscritos, visando à qualidade do conteúdo; a exigência dos objetos digitais que facilitam a identificação da obra e do autor (DOI, ORCID), a submissão do periódico à avaliação em bases voltadas para o AA (Redalyc, DOAJ, etc.), a disponibilização dos documentos e orientações editoriais também em Inglês, o uso de mídias alternativas para divulgação (Facebook, Twitter, etc.), entre outros.

Diante disso, formula-se o convite a todos os envolvidos com o desenvolvimento da RF para assumirem, como sendo de sua responsabilidade, os desafios que se apresentam para o AA e, consequentemente, da Ciência Aberta.

Rosane de Albuquerque dos Santos Abreu

Editora Executiva

Referências

  1. Fiocruz - Campus Virtual, Curso de Introdução à Ciência Aberta (online). 2018. [Link].
  2. Albagli, S. Ciência Aberta em questão. In: Seminário internacional ciência aberta, questões abertas, Rio de Janeiro, 2014. Trabalho apresentado: Liinc. IBICT. OKF. UNIRIO. Rio de Janeiro. 2014. Disponível em: [Link]. Acesso em: 1 set 2014.
  3. BOAI - Budapest Open Access Initiative. A Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste 10 anos depois (Tradução realizada pelo Gabinete de Projetos Open Access dos Serviços de Documentação da Universidade do Minho). 2011. [Link].
  4. Spinak E. Innovaciones en publicaciones centíficas: el futuro de la revisión por pares y las revistas. SciELO en Perspectiva. 30 jan 2019. [Link].

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Como Citar

1.
Desafios do acesso aberto. Rev Fitos [Internet]. 5º de abril de 2019 [citado 19º de abril de 2024];13(1):6-8. Disponível em: https://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/774

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